Questões de Português - Flexão verbal de tempo (presente, pretérito, futuro) para Concurso
Foram encontradas 1.131 questões
Em algum lugar perto do deserto
Pintando as figurinhas de barro que trouxe da Provença para o meu presépio, o Rei mouro me traz outras lembranças. E no atelier branco acima do mar sou outra vez menina em Roma, morando com minha avó e meu tio, naqueles anos de imediato pós-guerra.
O cinema começava a renascer e meu tio, cenógrafo e figurinista, havia sido chamado para fazer um filme de época, cujo título não recordo, que se passava em algum país árabe, perto do deserto. Esqueci os detalhes porque não me interessavam, meu interesse tendo sido sequestrado pela surpreendente decisão familiar de empreitar os figurinos. Nada semelhante havia acontecido antes naquela casa, nem voltaria a acontecer. Mas os tempos justificavam o inesperado.
Em questão de semanas, o grande apartamento antigo se viu invadido por costureiras e peças de tecido. A cômoda do século XVII desaparecia debaixo do brocado, as poltronas bordadas em petit-point serviam de cabide para túnicas e mantos, no sofá capitonê se alinhavam turbantes. E os panos cheios de dourado, as gazes, os linhos, os véus coloridos esvoaçavam por toda a parte.
Nesse festival de tessituras coube-me ser modelo para os figurinos das crianças. De pé sobre a mesa vestia uma roupa depois da outra, de menina ou de menino, de diversos tamanhos. E obedecendo às ordens das costureiras levantava um braço, suspendia o cabelo, girava lentamente para o controle das bainhas, rezando em silêncio para esconjurar alfinetadas. Aquilo que parecia obediência era pura felicidade.
Assim mesmo, merecia prêmio. E o prêmio, fui informada um dia, era ir com meu tio à Cinecittá, ver filmar a cena do mercado.
Manhã de outono, um enorme galpão plantado no parque dos estúdios. Abre-se uma porta, entramos, maquinárias, cabos, ossaturas de madeira, reverso do cenário. Mas bastam alguns passos para que o galpão desapareça aos meus olhos levando reverso, máquinas e outono. E eis que estamos em uma ruela, entrando na grande praça onde as fachadas brancas se desdobram em arcadas, abrigando lojas uma ao lado da outra, numa festa de toldos coloridos, de cestos, frutas, ânforas e tapetes. Entro e saio das lojas. A farmácia é cheia de frascos, vidros, caixinhas, um almofariz, balanças, e pouco importa que tudo seja falso, se é tão verdadeiro para mim. Na loja de animais, as araras gritam, os macacos me olham desconfiados, o grande gato persa espia por entre as grades da gaiola e tudo é verdadeiro embora não à venda.
Os extras esperam entediados, árabes conversando em dialeto romano, comendo sanduíches, fumando. Alguns cochilam encostados às paredes. A praça está parada. Até o bater da claquete.
Luz!, grita uma voz no megafone. E um súbito sol calcina as fachadas. Som! Grilos e cigarras abrem seu canto, meu olhar se volta para as palmeiras que agora farfalham habitadas por pássaros. Ação! A festa se põe em movimento. Todos apregoam, falam, gesticulam, a multidão ondeja, escorre, há um engolidor de fogo, um jogral com malabares, mulheres passam com cântaros na cabeça, um homem traz dois galgos na coleira, um cameleiro atravessa a cena com seus camelos. E as crianças correm, se metem no meio das pessoas, mexem nas mercadorias, gritam, brincam, vestidas todas com as roupas que provei.
Naquela manhã estive em algum lugar perto do deserto. Talvez fosse próximo daquele em que nasceu o menino cuja manjedoura acabei de pintar. E lembrando o mercado da praça, percebo agora que ao meu presépio falta um camelo.
Fonte: COLASANTI, Marina. Em algum lugar perto do deserto. In: Os últimos
lírios no estojo de seda. Belo Horizonte: Editora Leitura, 2006. (adaptado).
Antropologia reversa
É sempre tarefa difícil – no limite, impossível – compreender o outro não a partir de nós mesmos, ou seja, de nossas categorias e preocupações, mas de sua própria perspectiva e visão de mundo. “Quando os antropólogos chegam”, diz um provérbio haitiano, “os deuses vão embora”.
Os invasores coloniais europeus, com raras exceções, consideravam os povos autóctones do Novo Mundo como crianças amorais ou boçais supersticiosos – matéria escravizável. Mas como deveriam parecer aos olhos deles aqueles europeus? “Onde quer que os homens civilizados surgissem pela primeira vez”, resume o filósofo romeno Emil Cioran, “eles eram vistos pelos nativos como
demônios, como fantasmas ou espectros, nunca como homens vivos! Eis uma intuição inigualável, um insight profético, se existe um”.
O líder ianomâmi Davi Kopenawa, porta-voz de um povo milenar situado no norte da Amazônia e ameaçado de extinção, oferece um raro e penetrante registro contra-antropológico do mundo branco com o qual tem convivido: “As mercadorias deixam os brancos eufóricos e esfumaçam todo o resto em suas mentes [...] Seu pensamento está tão preso a elas, são de fato apaixonados por elas! Dormem pensando nelas, como quem dorme com a lembrança saudosa de uma bela mulher. Elas ocupam seu pensamento por muito tempo, até vir o sono. Os brancos não sonham tão longe quanto nós. Dormem muito, mas só sonham consigo mesmos”.
(Adaptado de GIANETTI, Eduardo. Trópicos utópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 2016, p. 118-119)
Redes pessoais e vulnerabilidade social
Redes sociais têm sido cada vez mais consideradas como elementos importantes na construção de uma grande variedade de processos, desde a mobilização política em movimentos sociais ou partidos políticos, até as ações e a estrutura de relações formais e informais entre as elites políticas e econômicas ou na estruturação de áreas de políticas públicas, entre muitos outros temas. Número significativo de estudos tem examinado as redes pessoais, aquelas que cercam os indivíduos em particular. Essas análises visam a estudar os efeitos da sociabilidade de diversos grupos sociais, para compreender como os laços sociais são construídos e transformados e suas consequências para fenômenos como integração social, imigração e apoio social.
No caso específico da pobreza, a literatura tem estabelecido de forma cada vez mais eloquente como tais redes medeiam o acesso a recursos materiais e imateriais e, ao fazê-lo, contribuem de forma destacada para a reprodução das condições de privação e das desigualdades sociais. A integração das redes ao estudo da pobreza pode permitir a construção de análises que escapem dos polos analíticos da responsabilização individual dos pobres por sua pobreza (e seus atributos), assim como de análises sistêmicas que foquem apenas os macroprocessos e constrangimentos estruturais que cercam o fenômeno.
A literatura brasileira sobre o tema tem sido marcada por uma oposição entre enfoques centrados nesses dois campos, embora os últimos anos tenham assistido a uma clara hegemonia dos estudos baseados em atributos e ações individuais para a explicação da pobreza. Parece-nos evidente que tanto constrangimentos e processos supraindividuais (incluindo os econômicos) quanto estratégias e credenciais dos indivíduos importam para a constituição e a reprodução de situações de pobreza. Entretanto, essas devem ser analisadas no cotidiano dos indivíduos, de maneira que compreendamos de que forma medeiam o seu acesso a mercados, ao Estado e às trocas sociais que provêm bem-estar.
(Eduardo Marques, Gabriela Castello e Renata M. Bichir. Revista USP, n° 92, 2011-2012. Adaptado)
(I) A literatura brasileira sobre o tema tem sido marcada por uma oposição entre enfoques centrados nesses dois campos, (II) embora os últimos anos tenham assistido (III) a uma clara hegemonia dos estudos baseados em atributos e ações individuais (IV) para a explicação da pobreza.
A expressão verbal “tem sido marcada” exprime a noção de ação
Gente para todo lado
O processo de progressiva domesticação da mata amazônica teria ganhado impulso a partir de uns quatro mil anos atrás e, com o tempo, encheu a região com uma população respeitável.
Os pesquisadores calculam que a Amazônia pré-cabralina teria abrigado ao menos 8 milhões de habitantes, um número que só seria alcançado pelo Brasil "branco" (somando os moradores de todas as regiões do país) no fim do século 19, segundo dados do IBGE.
A presença de toda essa gente está sinalizada por indícios arqueológicos espalhados de leste a oeste e de norte a sul do território amazônico. Perto da fronteira com o cerrado, a região do Xingu guarda restos de amplas estradas, diques e paliçadas defensivas e manejo intensivo dos rios para a captura de peixes em larga escala.
Para gerações mais antigas de arqueólogos, tudo isso teria sido considerado impossível, por uma razão simples: o solo amazônico seria pobre demais para garantir a produção agrícola indispensável ao sustento de uma população densa. As descobertas mais recentes têm mostrado que esse cenário é simplista, diz Wenceslau Teixeira, pesquisador da Embrapa Solos e coautor da pesquisa.
"Um dos grandes problemas da agricultura tropical é a falta de uma reserva de nutrientes no solo. Chove muito e esses nutrientes são lavados, os efeitos da adubação não duram. Acontece que os caras [antigos habitantes da Amazônia] conseguiram criar um solo fértil nesse ambiente", resume Teixeira.
(Adaptado de: Idem, ibidem)
Atente para as frases abaixo.
I. Os colchetes (último parágrafo) acrescentam uma explicação do autor do texto internamente à fala do pesquisador.
II. O uso do verbo “seria” (4° parágrafo), no futuro do pretérito, serve para enfatizar a opinião do autor do texto, semelhante à dos arqueólogos.
III. Os parênteses (2° parágrafo) podem ser corretamente substituídos por travessões.
Está correto o que se afirma em
Disseminação da violência
A violência não se administra nem admite negociação: é da sua natureza impor a força como método. Sua lógica final é a adoção da barbárie. As instituições humanas existem para regulamentar nossos ímpetos, disciplinar nossas ações, impedir que se chegue à supremacia da violência. São chamados justamente de “supremacistas” (um neologismo, para atender a uma necessidade de nossos tempos violentos) aqueles que querem se impor pela força bruta, alcançar um poder hegemônico. Apoiam-se eles em ideologias que cantam a superioridade de uma etnia, de uma cultura, de uma classe social, de uma seita religiosa. Acabam por fazer de sua brutalidade primitiva uma “instituição” organizada pelo princípio brutal da lei do mais forte.
Talvez em nenhuma outra época foi tão premente a necessidade de se fortalecerem as instituições que de fato trabalham a favor do homem, da coletividade, do interesse público. A profusão e a difusão das chamadas redes sociais puseram a nu a violência que está em muitos e que já não se envergonha de si mesma, antes se proclama e se propaga com inaudito cinismo. Estamos todos diante de um grande espelho público e anônimo, onde se projeta o que se é ou o que se quer ser. Admirável como conquista tecnológica, a expansão da internet ainda não encontrou os meios necessários para canalizar acima de tudo os impulsos mais generosos, que devem reger nossa difícil caminhada civilizatória.
(Aníbal Tolentino, inédito)
Estação de águas
Esta poética designação – estação de águas – nada tem a ver, como eu imaginava quando menino, com alguma estação de trem onde chovesse muito e tudo se inundasse. Em criança a gente tende a entender tudo meio que literalmente. “Estação de águas”, soube depois, indica aqui a época, a temporada ou mesmo a estância em que as pessoas se dispõem a um lazer imperturbado ou a algum tratamento de saúde baseado nas específicas qualidades medicinais das águas de uma região. Água para se beber ou para se banhar, conforme o caso. Tais estâncias associam-se, por isso mesmo, a lugares atrativos, ao turismo de quem procura, além de melhor saúde, a tranquilidade e o repouso que via de regra elas oferecem a quem as visita ou nelas se hospeda.
Em meio ao turbilhão da vida moderna ainda se encontra nessas paragens um oásis de sossego e descompromisso com o tempo. O desafio pode estar, justamente, em saber o que fazer com um longo dia de ócio, em despovoar a cabeça das imagens tumultuosas trazidas da cidade grande. Nessas pequenas estâncias, o relógio da matriz opera num ritmo lerdo e preguiçoso, em apoio à calmaria daquele mundo instituído para que nada de grave ou agitado aconteça. Os visitantes velhinhos dormitam no banco da praça, as velhinhas vão atrás de algum artesanato, os jovens se entediam, os turistas adultos se dividem entre absorver a paz reinante e planejar as tarefas da volta.
Não se sabe quanto tempo ainda durará essa rara oportunidade de paz. As informações do mundo de hoje circulam o tempo todo pelos nervosos celulares, a velocidade da vida digital é implacável e não tolera espaços de vazio ou tempos vazios. Mas enquanto não morrer de todo o interesse de se cultuar a vida interior, experiência possível nessas estâncias sossegadas, não convém desprezar a sensação acolhedora de pertencer a um mundo sem pressa.
(Péricles Moura e Silva, inédito)
A mensagem desejada
Brigaram muitas vezes e muitas vezes se reconciliaram, mas depois de uma discussão particularmente azeda, ele decidiu: o rompimento agora seria definitivo. Um anúncio que a deixou desesperada: vamos tentar mais uma vez, só uma vez, implorou, em prantos. Ele, porém, se mostrou irredutível: entre eles estava tudo acabado.
Se pensava que tal declaração encerrava o assunto, estava enganado. Ela voltou à carga. E o fez, naturalmente, através do e-mail. Naturalmente, porque através do e-mail se tinham conhecido, através do e-mail tinham namorado. Ela agora confiava no poder do correio eletrônico para demovê-lo de seus propósitos. Assim, quando ele viu, estava com a caixa de entrada entupida de ardentes mensagens de amor.
O que o deixou furioso. Consultando um amigo, contudo, descobriu que era possível bloquear as mensagens de remetentes incômodos. Com uns poucos cliques resolveu o assunto.
Naquela mesma noite o telefone tocou e era ela. Nem se dignou a ouvi-la: desligou imediatamente. Ela ainda repetiu a manobra umas três ou quatro vezes.
Esgotada a fase eletrônica, começaram as cartas. Três ou quatro por dia, em grossos envelopes. Que ele nem abria. Esperava juntar vinte, trinta, colocava todas em um envelope e mandava de volta para ela.
Mas se pensou que ela tinha desistido, estava enganado. Uma manhã acordou com batidinhas na janela do apartamento. Era um pombo-correio, trazendo numa das patas uma mensagem.
Não teve dúvidas: agarrou-o, aparou-lhe as asas. Pombo, sim. Correio, não mais.
E pronto, não havia mais opções para a coitada. Aparentemente chegara o momento de gozar seu triunfo; mas então, e para seu espanto, notou que sentia falta dela. Mandou-lhe um e-mail, e depois outro, e outro: ela não respondeu. E não atendia ao telefone. E devolveu as cartas dele.
Agora ele passa os dias na janela, contemplando a distância o bairro onde ela mora. Espera que dali venha algum tipo de mensagem. Sinais de fumaça, talvez.
(Adaptado de: SCLIAR, Moacyr. O imaginário cotidiano. São Paulo: Global, 2013, p. 71-72)
Volta às aulas para pais e filhos
A socióloga Annette Lareau afirma que, nos Estados Unidos, a classe social das famílias tem uma influência decisiva sobre a trajetória escolar de seus filhos, mesmo ao comparar somente alunos da rede pública.
Em suas pesquisas, Lareau constatou que, embora a educação seja valorizada por todos, as medidas tomadas para buscar o sucesso acadêmico dos filhos variam de acordo com a renda familiar.
Enquanto na classe média era incentivado o debate em casa, além da inclusão de atividades extracurriculares e vivências que cultivassem habilidades e um olhar crítico, os pais das classes mais baixas tendiam a valorizar mais a obediência, a convivência com a família e o livre brincar. Embora essas atividades cultivem a autonomia e a criatividade, são menos valorizadas nas escolas.
A relação entre os pais e o colégio também diferia bastante. Os de classe média acreditavam ser de sua responsabilidade administrar a vida estudantil dos filhos, intervindo quando necessário junto à instituição.
Já as famílias com menor renda atribuíam à escola esse papel. Segundo Lareau, ainda que razoável, essa atitude não é vantajosa, pois os professores muitas vezes interpretavam a ausência dos pais como sinal de descaso.
Famílias das camadas mais pobres tendem a conhecer pouco o funcionamento da escola - e seus esforços, em alguns casos, tornam-se invisíveis no universo escolar. Já os colégios e seus agentes sentem-se ignorados pelas famílias.
Na sociedade do conhecimento, a troca de informações entre escola e família é fundamental. Um primeiro passo é facilitar a comunicação entre pais e professores, algo que pode ser feito por grupos de redes sociais e aplicativos de celular.
Ao convidar os pais para conversar, a escola transmite informações importantes, como explicações sobre o processo de aprendizagem, quais os resultados esperados e como a família pode apoiar os alunos em casa. Escolas que adotaram esses exemplos demonstram bons resultados.
À medida que assumem que a responsabilidade pela educação é compartilhada, pais e escola estabelecem uma relação de apoio mútuo que favorece a todos.
(M aria Alice Setúbal. https://www1 .folha.uol.com.br. Adaptado)
No quarto parágrafo, a autora empregou o verbo intervir: - ... intervindo quando necessário junto à instituição.
Assinale a alternativa em que esse verbo está corretamente empregado.
Excerto 1
“[...] Desde a década de 1980, circula nos meios escolares e acadêmicos a discussão sobre a conveniência ou não do ensino-aprendizagem da gramática. Há várias razões para ensinar gramática. A primeira delas é política. O estudo da gramática normativa é um dos meios de conhecer a norma culta e a língua padrão. Esse conhecimento é a principal forma de toda a população ter acesso ao dialeto valorizado em diversas situações formais públicas, como, por exemplo, entrevistas de trabalho. Enquanto o preconceito linguístico ainda for grande fator de exclusão, aprender a dominar a norma culta é um direito que deve ser garantido a todos, para que possam interagir em qualquer evento sem sofrer discriminação. [...]”
SARMENTO, Leila Lauar e TUFANO, Douglas. Português: Literatura-Gramática-Produção de Textos. Vol. 2. São Paulo: Moderna, 2010. [fragmento]
Acerca dos sentidos e dos aspectos gramaticais do texto precedente, julgue o seguinte item.
Os sentidos originais do trecho “Tentar deter o mar era inútil”
(l.15) seriam mantidos caso a forma verbal “era” fosse
substituída por seria.
O item a seguir apresenta propostas de reescrita do trecho “Contudo — Florence era Florence —, mesmo acamada, continuou trabalhando intensamente. Colaborou com a comissão governamental sobre saúde dos militares, fundou uma escola para treinamento de enfermeiras, escreveu um livro sobre esse treinamento.” (ℓ. 39 a 43) do texto CG2A1AAA. Julgue-o quanto à correção gramatical.
Mesmo assim, acamada, Florence era forte e continuou
seu trabalho de forma intensa, tendo colaborado em
estudos do governo sobre a saúde dos militares e fundou
uma escola para treinamento de enfermeiras quando
escreveu um livro contando como se deu tal acontecimento.
“Oscar tinha um sítio. Um dia Oscar resolveu levar na camioneta um pouco de esterco do sítio, que era no interior de Minas, para o jardim de sua casa na capital. Na barreira foi interpelado pelo guarda: - O que é que o senhor está levando aí nesse saco? - Esterco – respondeu Oscar, farejando aborrecimento: - Por quê? Não lhe cheira bem? - O senhor tem a guia? – o guarda perguntou, imperturbável. - Guia? - É preciso de uma guia, o senhor não sabia disso?” Fernando Sabino, A mulher do vizinho
Considerando-se que um texto narrativo supõe a sequência cronológica de ações ou acontecimentos, as formas verbais que documentam uma sequência temporal são
Apelo
Amanhã faz um mês que a Senhora está longe de casa. Primeiros dias, para dizer a verdade, não senti falta, bom chegar tarde, esquecido na conversa de esquina. Não foi ausência por uma semana: o batom ainda no lenço, o prato na mesa por engano, a imagem de relance no espelho. Com os dias, Senhora, o leite primeira vez coalhou. A notícia de sua perda veio aos poucos: a pilha de jornais ali no chão, ninguém os guardou debaixo da escada. Toda a casa era um corredor deserto, e até o canário ficou mudo. Para não dar parte de fraco, ah, Senhora, fui beber com os amigos. Uma hora da noite eles se iam e eu ficava só, sem o perdão de sua presença a todas as aflições do dia, como a última luz na varanda.
E comecei a sentir falta das pequenas brigas por causa do tempero na salada - o meu jeito de querer bem. Acaso é saudade, Senhora? Às suas violetas na janela, não lhes poupei água e elas murcham. Não tenho botão na camisa, calço a meia furada. Que fim levou o saca-rolhas? Nenhum de nós sabe, sem a Senhora, conversar com os outros: bocas raivosas mastigando. Venha para casa, Senhora, por favor. (Dalton Trevisan)
TEXTO: Ecologia integral
A ecologia integral parte de uma nova visão da Terra. É a visão inaugurada pelos astronautas a partir dos anos 60 quando se lançaram os primeiros foguetes tripulados. Eles veem a Terra de fora da Terra. De lá, de sua nave espacial ou da Lua, como testemunharam vários deles, a Terra aparece como resplandecente planeta azul e branco que cabe na palma da mão e que pode ser escondido pelo polegar humano.
Daquela perspectiva, Terra e seres humanos emergem como uma única entidade. O ser humano é a própria Terra enquanto sente, pensa, ama, chora e venera. A Terra emerge como o terceiro planeta de um Sol que é apenas um entre 100 bilhões de outros de nossa galáxia, que, por sua vez, é uma entre 100 bilhões de outras do universo, universo que, possivelmente, é apenas um entre outros milhões paralelos e diversos do nosso. E tudo caminhou com tal calibragem que permitiu a nossa existência aqui e agora. Caso contrário não estaríamos aqui. Os cosmólogos, vindos da astrofísica, da física quântica, da biologia molecular, numa palavra, das ciências da Terra, nos advertem de que o inteiro universo se encontra em cosmogênese. Isto significa: ele está em gênese, se constituindo e nascendo, formando um sistema aberto, sempre capaz de novas aquisições e novas expressões. Portanto ninguém está pronto. Por isso, temos que ter paciência com o processo global, uns com os outros e também conosco mesmo, pois nós, humanos, estamos igualmente em processo de antropogênese, de constituição e de nascimento.
Três grandes emergências ocorrem na cosmogênese e antropogênese: (1) a complexidade/diferenciação, (2) a auto-organização/consciência e (3) a religação/ relação de tudo com tudo. A partir de seu primeiro momento, após o Big-Bang, a evolução está criando mais e mais seres diferentes e complexos (1). Quanto mais complexos mais se auto-organizam, mais mostram interioridade e possuem mais e mais níveis de consciência (2) até chegarem à consciência reflexa no ser humano. O universo, pois, como um todo possui uma profundidade espiritual. Para estar no ser humano, o espírito estava antes no universo. Agora ele emerge em nós na forma da consciência reflexa e da amorização. E, quanto mais complexo e consciente, mais se relaciona e se religa (3) com todas as coisas, fazendo com que o universo seja realmente uni-verso, uma totalidade orgânica, dinâmica, diversa, tensa e harmônica, um cosmos e não um caos.
As quatro interações existentes, a gravitacional, a eletromagnética e a nuclear fraca e forte constituem os princípios diretores do universo, de todos os seres, também dos seres humanos. A galáxia mais distante se encontra sob a ação destas quatro energias primordiais, bem como a formiga que caminha sobre minha mesa e os neurônios do cérebro humano com os quais faço estas reflexões. Tudo se mantém religado num equilíbrio dinâmico, aberto, passando pelo caos que é sempre generativo, pois propicia um novo equilíbrio mais alto e complexo, desembocando numa ordem rica de novas potencialidades.
Leonardo Boff - adaptado http://leonardoboff.com/site/lboff.htm - acesso em 09/04/2013
TEXTO 3
Todos os diversos campos da atividade humana estão ligados ao uso da linguagem. Compreende-se perfeitamente que o caráter e as formas desse uso sejam tão multiformes quanto os campos da atividade humana, o que, é claro, não contradiz a unidade nacional de uma língua. O emprego da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos) concretos e únicos, proferidos pelos integrantes desse ou daquele campo da atividade humana. Esses enunciados refletem as condições específicas e as finalidades de cada referido campo não só por seu conteúdo (temático) e pelo estilo da linguagem, ou seja, pela seleção dos recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais da língua, mas, acima de tudo, por sua construção composicional. Todos esses três elementos – o conteúdo temático, o estilo, a construção composicional – estão indissoluvelmente ligados no todo do enunciado e são igualmente determinados pela especificidade de um determinado campo da comunicação. Evidentemente, cada enunciado particular é individual, mas cada campo de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados, os quais são denominados gêneros do discurso.
(BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In:______. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003, p.261-262)
Texto: Por que a Rio+20 foi um sucesso?
É muito fácil dizer que a Rio+20 foi um fracasso. Basta analisar o texto final das negociações oficiais travadas pelos governos no Riocentro e avaliar se houve avanço. Não havendo, declara-se o fiasco. É uma avaliação correta, mas limitada, de um evento que foi muito mais amplo do que uma busca de acordos ou documentos oficiais. Não dá para afirmar que o texto final assinado pelos representantes dos países foi uma decepção ou que ficou aquém das expectativas. Essas expectativas já eram baixas. Os desafios presentes muito antes do início da Rio+20 já deixavam claro que não havia muita margem para avanço oficial. Mas, felizmente o progresso rumo a uma economia verde depende cada vez menos dos governos.
Um passeio pelas centenas de eventos paralelos à reunião oficial no Riocentro mostrava um quadro encorajador. Foi o maior encontro de empresas, ONGs e representantes de governos federais, estaduais e municipais rumo ao desenvolvimento sustentável. Eles tinham boas histórias para contar e ótimos acordos para travar.
[...]
Bandeiras que há décadas eram agitadas apenas por pesquisadores e ativistas mais ousados agora entraram na linguagem consensual. Há 20 anos, na ECO 92, pensadores propunham acabar com os subsídios para os combustíveis fósseis e eram desdenhados por empresas e governos. Durante a Rio+20, enquanto os ativistas estendiam faixa em Copacabana pedindo o fim do apoio à energia suja, a mesma proposta rolava em mesas de discussão promovidas pelo Fundo Monetário Internacional (o antigo terror dos ativistas).
Durante a Rio+20, o que se viu foi uma convergência de visões que superou as expectativas. A necessidade de se adequar aos limites naturais já é aceita como uma realidade. Enfrentar as mudanças climáticas é uma premissa básica. Se a ECO 92 foi um grande encontro para conscientização e alerta, a Rio+20 foi uma convenção para combinar os caminhos a seguir.
(Alexandre Mansur – Blog do planeta – adaptado. Disponível em: http://
colunas. revistaepoca.globo.com/planeta/2012/06/23/por-que-ario20-foi-um-sucesso/)
Um passeio pelas centenas de eventos paralelos à reunião oficial no Riocentro mostrava um quadro encorajador.
Nessa frase, a flexão do verbo no pretérito imperfeito do modo indicativo designa fato passado e é
empregada para: