Questões de Português - Morfologia para Concurso

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Q2350348 Português
Texto:


Crescimento Zero


Alex Grijelmo


     Parece difícil que nos resignemos a não crescer. O crescimento de qualquer de nossas posses forma parte das ideias positivas. Hão de crescer as crianças, os músculos, os seios, nossos negócios e, obviamente, também a economia. Este caso é, porém, o mais transcendental, porque mesmo quando a economia não cresce, dizemos que cresceu: porque “cresceu zero”.

     O eufemismo que está presente em “crescimento zero” consegue unir um conceito positivo (crescimento) com outro negativo (o não-crescimento), para neutralizar o efeito deste (e, além disso, se apela a um número que não é exatamente negativo: o zero).

     Os economistas e os políticos empregam muito bem esses vocábulos para contentar-nos, mesmo quando a economia decresce, porque então falam de “crescimento negativo”.

     Vejamos o lado bom da coisa, porque devemos agradecer o fato de que as pessoas das ciências tenham sabido escolher muito bem as palavras, ainda que seja para esconder os números.
Na frase “Os economistas e os políticos empregam muito bem esses vocábulos para contentar-nos”, a preposição “para” tem o mesmo valor que em:
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Q2350276 Português


MEC discute política de valorização de educadoras infantis


      O Ministério da Educação (MEC) participou, na última sexta-feira, 8 de dezembro, na Câmara dos Deputados, do Seminário Gênero, Raça, Cuidado e Educação: valorização das educadoras infantis. A Pasta foi representada pela Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização de Jovens e Adultos, Diversidade e Inclusão (Secadi), por meio da coordenadora-geral de Formação Continuada para Relações Étnico-Raciais e Educação Escolar Quilombola, Valquíria Santos Silva. Na ocasião, ela destacou a pauta de direitos das mulheres negras.

      “Nós temos um cenário na educação com educadoras majoritariamente mulheres e pretas. Isso reforça muito o diálogo interseccional e que precisa ser considerado um aspecto importante na política pública educacional”, apontou Valquíria. Para a coordenadora-geral, uma educação mais comprometida e democrática ocorre quando se consegue analisar e identificar o contexto no qual uma escola é constituída por todos os trabalhadores que integram uma comunidade escolar.

      Ao longo do evento, os participantes defenderam a aprovação do Projeto de Lei n. 2387/23, que está em análise na Câmara e prevê a inclusão dos professores de educação infantil na carreira do magistério público da educação básica. O objetivo é beneficiá-los com o piso salarial nacional estabelecido na Lei n. 11.738/08. Esse Projeto foi aprovado na Comissão de Educação da Câmara, mas ainda será analisado pela Comissão de Constituição e Justiça.

    No debate, os especialistas alertaram para o processo de empobrecimento de mulheres que trabalham no ensino infantil. Atualmente, esse ofício, com crianças de 0 a 3 anos, é exercido quase exclusivamente por mulheres e tem o pagamento do piso salarial vinculado à decisão administrativa local.

      Participantes – Também participaram do Seminário Fernanda Pereira Barbosa, procuradora do Ministério Público do Trabalho (MPT); Rosane da Silva, secretária de Autonomia Econômica e Políticas de Cuidados do Ministério das Mulheres; Carlos Giannazi, deputado estadual de São Paulo e professor; Alípio dos Santos Neto, coordenador de Ações de Controle da Unidade de Auditoria Especializada em Educação, Cultura, Esporte e Direitos Humanos do Tribunal de Contas da União; Berta Lima, representante do Movimento Somos Todas Professoras; Lucas Carneiro, promotor de Justiça e coordenador do Núcleo de Defesa da Educação do Ministério Público do Estado de Alagoas; e Tânia Dornellas, assessora de Advocacy da Campanha Nacional pelo Direito à Educação.

      O Seminário foi promovido pelas Comissões de Educação; de Administração e Serviço Público; de Defesa dos Direitos da Mulher; e de Trabalho.


Fonte:https://www.gov.br/mec/pt-

br/assuntos/noticias/2023/dezembro/mec-discute-politica-

de-valorizacao-de-educadoras-infantis(adaptado).

O vocábulo “empobrecimento” é um exemplo de palavra formada por:
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Q2350107 Português
Leia o texto a seguir.

Quem nunca usou a expressão “ele é magro de ruim”? O "grande mistério" sobre pessoas que se mantêm magras mesmo comendo o mesmo que pessoas que acumulam peso começa a ser desvendado. Um estudo publicado no periódico PLOS Genetics foi na contramão do que normalmente se procura: enquanto a maioria dos estudos vai em busca dos genes responsáveis pelo acúmulo de peso e obesidade, este teve como foco identificar genes nas pessoas magras. E a pesquisa aponta que podemos mudar a expressão para “ele é magro por sorte”, porque o estudo sugere que não acumular peso estaria mais ligado à sorte de herdar os genes que levam a esse processo do que com uma dieta e estilo de vida saudáveis.  

Disponível em: <https://abeso.org.br/magro-de-ruim-o-que-os-genes-dizemsobre-as-pessoas-muito-magras/>. Acesso em: 24 ago. 2023.


No trecho “ele é magro de ruim”, o adjetivo destacado é
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Q2350102 Português
Texto 2


           A cantora Ivete Sangalo se emocionou ao ver uma propaganda do filme 'Besouro Azul', em que a atriz brasileira Bruna Marquezine participa, nas ruas de Nova Iorque. Vídeo foi publicado através das redes sociais nesta terça-feira (1º).
        Animada, a cantora exaltou a participação de Bruna em uma produção internacional. "Bru, olha onde você está aqui em Nova Iorque! Que orgulho! Linda!", comemorou a artista. 


Disponível em: <https://www.ibahia.com/nem-te-conto/ivete-sangalo-exaltamarquezine-ao-ver-banner-de-besouro-azul-300163>. Acesso em: 24
ago. 2023. 

Na última frase do texto, a palavra “artista” é um
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Q2350000 Português

Texto 1


      Uma nuvem gigante de poeira encobriu várias cidades em Goiás na manhã deste sábado (19). O fenômeno é provocado por causa do longo período de estiagem no estado e com a aproximação de uma frente fria, como explica o gerente do Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas de Goiás (Cimehgo), André Amorim. [...]

     Algumas regiões em Goiás estão sem chuva há mais de 100 dias, com isso, o solo começa a desagregar. [...]

      A chefe do Instituto Nacional de Meteorologia do Brasil (Inmet) em Goiás, Elisabeth Alves Ferreira, explica que o ambiente deve ficar instável até a segunda-feira (21), e que a poeira vai se dissipando aos poucos.



Disponível em: <https://opopular.com.br/cidades/nuvem-de-poeira-entendafenomeno-que-encobriu-cidades-em-goias-1.3058354>. Acesso em: 19 ago.2023. [Adaptado].


Em relação às classes gramaticais, no primeiro parágrafo do Texto 1, o termo “gigante” trata-se de um(a)
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Q2349999 Português

Texto 1


      Uma nuvem gigante de poeira encobriu várias cidades em Goiás na manhã deste sábado (19). O fenômeno é provocado por causa do longo período de estiagem no estado e com a aproximação de uma frente fria, como explica o gerente do Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas de Goiás (Cimehgo), André Amorim. [...]

     Algumas regiões em Goiás estão sem chuva há mais de 100 dias, com isso, o solo começa a desagregar. [...]

      A chefe do Instituto Nacional de Meteorologia do Brasil (Inmet) em Goiás, Elisabeth Alves Ferreira, explica que o ambiente deve ficar instável até a segunda-feira (21), e que a poeira vai se dissipando aos poucos.



Disponível em: <https://opopular.com.br/cidades/nuvem-de-poeira-entendafenomeno-que-encobriu-cidades-em-goias-1.3058354>. Acesso em: 19 ago.2023. [Adaptado].


Em relação às sílabas tônicas, o substantivo “sábado”, usado na primeira frase do texto, é uma palavra considerada como
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Q2349859 Português
Texto 1


A alienação do trabalhador na era industrial



           Assim que as indústrias passaram a dominar o processo de produção, notamos que a tecnologia empregada não só determinava a redução dos custos e a ampliação dos lucros da empresa. Cada vez que novas máquinas eram criadas, milhares de trabalhadores eram dispensados das fábricas e aqueles que permaneciam eram designados a realizar uma mesma ação cada vez mais específica do processo de produção.
         Vivenciando a rotina de uma função que poderia ser exercida por qualquer outra pessoa e percebendo a existência de vários desempregados interessados em exercer aquela mesma função, o operário concordava em receber um baixo salário pelo seu trabalho. Além disso, devemos destacar que esse operário não tinha mais ciência de todas as etapas que envolviam a riqueza que ele produzia. Na verdade, ele nem mesmo sabia quantificar quantas mercadorias ou qual o valor dos bens que produziu em uma jornada de trabalho.
        É nessa situação específica que a alienação dos trabalhadores passou a ser reconhecida por aqueles que estudam o desenvolvimento da sociedade industrial. O trabalhador não está alienado ao valor da riqueza que produz devido a uma opção própria. Na verdade, ele se submete a essa situação por não mais ter acesso aos meios de produção (no caso, as máquinas) e também por exercer uma tarefa tão específica que não consegue mais projetar o preciso valor da riqueza que ele ajuda a criar. 


SOUSA, Rainer Gonçalves. A alienação do trabalhador na Era Industrial.
Disponível em: <https://mundoeducacao.uol.com.br/historiageral/aalienacao-trabalhador-na-era-industrial.htm>. Acesso em: 19 ago. 2023.
[Adaptado].
No segundo parágrafo do texto, a expressão “além disso” contribui para  
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Q2349815 Português
Gal, Gracinha, Tropical, Fatal  
O canto de Gal esteve por toda parte desde os anos 60,
escutá-la nos faz acreditar no que é lindo

Pedro Duarte

      Imensa, Gal nos deixa muito. Nelson Motta chamou a atenção para como, já no começo de sua trajetória, havia a voz de veludo e a voz de cristal, com afinação impressionante, mas também a voz de labaredas. No disco de estreia, Domingo, de 1967, junto com Caetano, a voz de veludo vinha da Bossa Nova. “João bateu em mim como um destino”, ela dizia. Na participação no Tropicalismo, como em “Mamãe coragem”, era a voz cristalina, lírica. E depois aparece a voz de labaredas em “Divino maravilhoso”. Era novembro de 1968, em um festival da canção televisionado. Gal subiu ao palco, e a garota tímida que era não subiu junto. Os arranjos de Gil, a extravagância na roupa e um cabelo black power ressaltavam os agudos e berros. Ruído na música. Expansiva, desafiadora e dionisíaca, Gal se impôs ao público dividido entre aplausos e vaias. Ela conta que aprendeu a defender o que fazia, olhando direto e firme para quem a atacava. “É preciso estar atento e forte, não temos tempo de temer a morte”, canta o refrão que pede atenção: tudo é divino e maravilhoso, tudo é perigoso. Gracinha, Maria das Graças, como foi conhecida no início, mudava. Seu nome agora seria Gal. Ela devorou antropofagicamente o rock e Janis Joplin. Depois que Caetano e Gil foram presos e exilados, Gal ficou no Brasil e se tornou uma representante dessa geração.


Disponível em:<https://www.quatrocincoum.com.br/br/artigos/musica/gal-
gracinha-tropical-fatal>. Acesso em: 14 nov. 2023. 
A resenha crítica, um gênero textual que tem por função não só levar informação ao leitor, mas conduzi-lo a uma reflexão sobre a obra que se quer analisar, explora determinadas classes de palavras que funcionam como modalizadores do gênero. O texto destacado explora
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Q2349809 Português

Para compreender a “Améfrica” e o “pretuguês”

Em texto de 1980, mas surpreendentemente atual, historiadora expõe contradição central na vida brasileira: mulheres negras são reduzidas a “mulatas, domésticas ou mães pretas”; mas sua presença deu forma e sentido ao país


         Foi então que uns brancos muito legais convidaram a gente prá uma festa deles, dizendo que era prá gente também. Negócio de livro sobre a gente, a gente foi muito bem recebido e tratado com toda consideração. Chamaram até prá sentar na mesa onde eles tavam sentados, fazendo discurso bonito, dizendo que a gente era oprimido, discriminado, explorado. Eram todos gente fina, educada, viajada por esse mundo de Deus. Sabiam das coisas. E a gente foi sentar lá na mesa. Só que tava cheia de gente que não deu prá gente sentar junto com eles. Mas a gente se arrumou muito bem, procurando umas cadeiras e sentando bem atrás deles. Eles tavam tão ocupados, ensinando um monte de coisa pro crioléu da plateia, que nem repararam que se apertasse um pouco até que dava prá abrir um espaçozinho e todo mundo sentar junto na mesa. Mas a festa foi eles que fizeram, e a gente não podia bagunçar com essa de chega prá cá, chega prá lá. A gente tinha que ser educado. E era discurso e mais discurso, tudo com muito aplauso. Foi aí que a neguinha que tava sentada com a gente, deu uma de atrevida. Tinham chamado ela prá responder uma pergunta. Ela se levantou, foi lá na mesa prá falar no microfone e começou a reclamar por causa de certas coisas que tavam acontecendo na festa. Tava armada a quizumba. A negrada parecia que tava esperando por isso prá bagunçar tudo. E era um tal de falar alto, gritar, vaiar, que nem dava prá ouvir discurso nenhum. Tá na cara que os brancos ficaram brancos de raiva e com razão. Tinham chamado a gente prá festa de um livro que falava da gente e a gente se comportava daquele jeito, catimbando a discurseira deles. Onde já se viu? Se eles sabiam da gente mais do que a gente mesmo? Se tavam ali, na maior boa vontade, ensinando uma porção de coisa prá gente da gente? Teve uma hora que não deu prá aguentar aquela zoada toda da negrada ignorante e mal educada. Era demais. Foi aí que um branco enfezado partiu prá cima de um crioulo que tinha pegado no microfone prá falar contra os brancos. E a festa acabou em briga… Agora, aqui prá nós, quem teve a culpa? Aquela neguinha atrevida, ora. Se não tivesse dado com a língua nos dentes… Agora tá queimada entre os brancos. Malham ela até hoje. Também quem mandou não saber se comportar? Não é a toa que eles vivem dizendo que “preto quando não caga na entrada, caga na saída”. 


GONZALEZ, Lélia. Racismo e sexismo na cultura brasileira. Disponível em: <https://outraspalavras.net/eurocentrismoemxeque/para-compreender-a-

amefrica-e-o-pretugues/>. Acesso em: 10 nov. 2023. [Adaptado].

Ainda no texto, ‘quizumba’ e ‘catimbando’ são exemplos de palavras de origem africana que foram incorporadas ao vocabulário da língua portuguesa. Qual é o processo linguístico que estuda e explica historicamente essa incorporação ao nosso vocabulário?
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Q2349704 Português

Instrução: Leia o texto a seguir e responda à questão.


Grupo Flor Ribeirinha embarca nesta quinta-feira para Oriente Médio

No período de 21 a 28 de janeiro, o grupo representará o Brasil e o continente da América em Omã


           O Grupo Folclórico Flor Ribeirinha de São Gonçalo Beira Rio seguirá para o Sultanato de Omã, um país árabe que faz fronteira com a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos. Próximo de completar 30 anos de existência, o Flor Ribeirinha deixará sua marca em mais um continente do mundo. No período de 21 a 28 de janeiro, o grupo representará o Brasil e o continente da América em Omã.

        O grupo foi convidado pela Federação de Festivais Internacionais de Dança-FIDAF, devido a sua qualidade artística e por representar a pluralidade da cultura, levando em seu repertório de danças, quadros alusivos às regiões brasileiras. O convite se concretizou graças à atuação e sua conquista de tricampeão no ano passado na Bulgária.

           Com o espetáculo Mato Grosso Dançando Brasil, o grupo já conquistou três prêmios mundiais, sendo o primeiro no Festival Internacional de Arte e Cultura, realizado em 2017 na Turquia. O segundo em 2020 no Festival da Polônia e o terceiro em 2021, no Festival Internacional da Bulgária.

           Durante a permanência em Omã, o grupo se apresentará no Royal Ópera Muscat, um dos renomados locais da cultura daquele país.

       O gestor cultural e diretor artístico do grupo, Avinner Brandão, frisa que, em seu repertório, o Flor Ribeirinha destacará as cores e a força do Siriri, a dança típica mato-grossense que reflete o multiculturismo e traz ritmo contagiante com a viola de cocho, o mocho e o ganzá.

        O presidente do Setor América e representante nacional da Federação de Festivais Internacionais de Dança-FIDAF, Regis Bastian, informou que o Flor Ribeirinha vai se apresentar nos dias 26 e 27 de janeiro, ao lado de grupos de outros países, como Romênia, Filipinas e Omã. Ele destacou que foram escolhidos os grupos de grande importância artística.

       Regis reforçou, ainda, que esta será a primeira vez que um grupo brasileiro atuará naquele país do Oriente Médio e numa casa de espetáculos do padrão do Royal Ópera Muscat. O Flor Ribeirinha estará ao lado de quatro companhias de ponta, como a Companhia Nacional das Filipinas e o Ensamble Nacional Transilvânia da Romênia e a Delegação Nacional de Omã.


(Disponível em: https://primeirapagina.com.br/cultura/grupo-flor-ribeirinha-embarca-nesta-quinta-feira-para-oriente-medio/. Acesso em: 19/01/23. Adaptado.)

Assinale a afirmativa que apresenta correta análise linguística de palavras empregadas no texto.
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Q2349701 Português
Instrução: Leia atentamente o texto a seguir e responda à questão.


Ano novo


“Feliz ano novo”, ele ouvira isso uma vida inteira. Entre estradas sinuosas e quedas abruptas, sempre tentava se renovar. Rastejava solitário e deixava seus restos por onde passava. E felicidade mesmo, esta andava rara. Desde criança, as velhas felicitações de “feliz ano novo” sempre lhe trouxeram mau agouro. Reprovações no colégio, surras de colegas e bicicletas roubadas – a lista era longa.
Mesmo depois de adulto, nada mudara. Por exemplo, em certo ano, uma semana depois de ouvir a felicitação, fora abandonado pela noiva. Um mês depois, perdera o emprego.
Após tantos infortúnios, costumava dizer que só sorrira verdadeiramente quando era um bebê e sua mãe lhe fazia carinhosas cócegas.
Por isso, no início de cada novo ano, ele fugia das pessoas. Temia ouvir o “feliz ano novo”, a maldita frase que carregava mau agouro e previsões de tragédias.
No entanto, no último ano, não pode evitar a ex-noiva em um encontro casual. A mesma, com ódio e mágoas aflorando pela pele, lançou-lhe uma praga:
– Espero que sofra. Irônica, ainda arrematou: – Infeliz ano novo!
Naquele ano, ele encontrou o grande amor de sua vida, teve uma linda filha, foi promovido e sorriu verdadeiramente, como não fazia desde que recebia cócegas de sua mãe enquanto ainda era um pequeno bebê.

(MARTINZ, J. Disponível em: http://corrosiva.com.br/cronicas/anonovo. Acesso em: 26/08/23.)
Tome a oração: Desde criança, as velhas felicitações de “feliz ano novo” sempre lhe trouxeram mau agouro. A palavra mau não raras vezes é confundida com mal, principalmente na escrita. Em relação a essa palavra na oração dada, assinale a afirmativa correta.
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Q2349391 Português
No lugar do outro

   Estamos vivendo uma crise intensa: a das relações humanas. Todos os dias testemunhamos ou protagonizamos, tanto na vida presencial quanto na virtual, comportamentos e atitudes que vão do ódio declarado ou sutil ao desdém em relação ao outro. As relações humanas, sempre tão complexas, exigem, no entanto, delicadeza, atenção e compromisso social. Tem sido difícil manter a saúde mental e a qualidade de vida no contexto atual.

   Crianças e adolescentes já dão sinais claros de que têm aprendido muito com nossa dificuldade em conviver com as diferenças e de respeitá-las, de tentar colocar-se no lugar do outro para compreender suas posições e atitudes; de ter compaixão; de conflitar em vez de confrontar, de agir com doçura, por exemplo. Conseguir fazer isso é ter empatia com o outro.

  Pais e professores têm reclamado de comportamentos provocativos desrespeitosos, desafiadores e desobedientes dos mais novos. Entretanto, se pudéssemos nos dedicar por alguns momentos à auto-observação, constataríamos essas características também em nós, adultos. 

  Mas são os mais novos que levam a pior nessa história: Crianças e adolescentes que desobedecem, desafiam e têm comportamentos considerados agressivos, como os nossos, podem receber diagnósticos e orientação para tratamento. Conheço famílias com filhos diagnosticados com “Transtorno Desafiador Opositivo”, porque têm comportamentos típicos da idade. Há uma grande preocupação global com a nossa atual falta de empatia. Um sinal disso foi a inauguração, em Londres, do primeiro Museu da Empatia.

  Nele, os visitantes são convocados a experimentar/enxergar o mundo pelo olhar de um outro – não próximo ou conhecido, mas um outro com quem eles não têm qualquer relação. A expressão que deu sentido ao museu é a expressão inglesa “in your shoes” (em seus sapatos), que em língua portuguesa significa “em seu lugar”. Os visitantes se deparam, na entrada, com uma caixa com diferentes pares de sapatos usados. Escolhem um de seu número para calçar e recebem um áudio que conta uma parte da história da pessoa que foi dona daquele par.

   Desenvolver a empatia é uma condição absolutamente necessária para ensiná-la aos mais novos.

   Aliás, eles podem tê-la mais facilmente do que nós. Um pai me contou, comovido, que conversava com um amigo a respeito da situação de muitos refugiados de países em guerra e que comentou que não adiantava a busca por outro local, já que a crise de empregos era mundial. Seu filho, de sete anos, que estava por perto, perguntou de imediato: “Pai, se tivesse guerra aqui, você preferiria que eu morresse?”. Ele mudou de ideia.

   Estacionar o carro em vaga de idosos, grávidas e portadores de deficiência é mais do que contravenção: é falta de empatia. Reclamar da lentidão dos velhos é mais do que desrespeito: é falta de empatia. Agredir ostensivamente o outro por suas posições é mais do que dificuldade em lidar com as diferenças: é falta de empatia. Do mesmo modo, reclamar do comportamento dos mais novos é falta de empatia.

   A empatia pode provocar uma grande mudança social, diz Roman Krznari, estudioso do tema. Vamos desenvolvê-la para ensiná-la? 

(SAYÃO, Rosely. Folha de S. Paulo. Em: 22 de setembro de 2015.) 

Em “Mas são os mais novos que levam a pior nessa história.” (4º§) O conectivo “mas”, que introduz a oração, permite a mesma compreensão e coesão textual adequada quanto ao sentido visto em seu emprego em: 
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Q2349033 Português
Na varanda 


   Já faz parte do anedotário lírico brasileiro aquele episódio (autêntico) de Murilo Mendes caminhando por uma rua, nem sei mais se de Minas ou do Rio. De repente vê uma moça debruçada na janela. Há tanto que não presenciava cena semelhante, comum no interior e em tempos idos, mas praticamente extinta na vida urbana, que, invocado e cheio de entusiasmo, ajoelhou-se e começou a exclamar aos berros, gesticulando com excitação:

   – Mulher na janela, que beleza! Mulher na janela, meus parabéns!

  A moça deve ter fugido assustada, provavelmente sem entender o que aquele homem alto e ossudo saudava com tamanha efusão. Como explicar-lhe que, com certeiro instinto, Murilo identificara e estava fixando para sempre, da maneira espontânea e exuberante que lhe era própria, um flagrante poético perfeito, o milagre que ela própria, sem perceber, corporizava? Moça que, em plena cidade e infensa à agitação a seu redor, dispunha ainda de lazer e prazer para pôr-se à janela e contemplar a rua, os transeuntes, a tarde, as nuvens. Mulher na janela...

  Pois a mim também, há pouco, me foi concedido o privilégio de captar um momento desses, tão impregnados de passado que dir-se-iam irreais nos dias de hoje – coisa de outra civilização. Eram quase duas horas de uma quarta-feira e buscávamos, meu amigo e eu, um lugar tranquilo para almoçar. Apesar do mau tempo, ou por causa dele, todos os restaurantes do Leblon, com mesinhas na calçada, estavam repletos. Numa esquina de Ipanema encontramos um, semivazio, onde se costuma comer uma boa massa, e para lá nos dirigimos às carreiras, impulsionados pela fome e pela chuva. De repente, estacamos diante de um sobradinho, desses que vão se tornando raridade no Rio. Não fizemos o menor comentário, mas ali permanecemos alguns minutos, imóveis, perplexos, enquanto a água ia caindo. A casa estava rodeada por um mínimo jardim e tinha à frente um alpendre também pequenino, protegido da chuva. Nele, um casal de velhinhos conversava. 

  – Velhinhos na varanda! – gritei dentro de mim mesma, deslumbrada. – Que coisa mais linda, velhinhos na varanda! Os dois nem repararam em nossa presença curiosa, ou, se o fizeram, acharam-na corriqueira. Talvez estivessem acostumados a despertar a atenção dos que passavam, pois, ao vê-los, tive imediatamente a certeza de que sentar-se na varanda à hora da sesta era um ritual que ambos executavam regularmente. As cadeiras eram de vime, colocadas uma ao lado da outra; não havia mesa entre elas, só vasos com plantas e flores pelos cantos. Junto à porta aberta, um capacho. Os dois se olhavam, falavam sem pressa, quase sem gestos, e sorriam de leve. Tudo muito devagar, como se nada urgisse, e aquele colóquio, diante da chuva, tivesse a importância natural das coisas mais simples.

  Velhinhos na varanda.... Nem eram assim tão velhos – meu amigo e eu comentamos depois. O diminutivo surgia instintivamente, como demonstração de ternura, e me lembrei do que outro poeta, o Bandeira, explicava a respeito do Aleijadinho, cujo apelido refletia apenas a solidariedade e o carinho que a doença daquele mulato robusto e de boa altura despertava no povo da Vila Rica. Velhos na varanda – não, isso não expressa o que vimos. Eram um velhinho e uma velhinha, numa varanda de Ipanema (ou seria em Mariana?), conversando tranquilamente depois do almoço. Como não confiar na vida, depois desse flash apenas entrevisto, mas tão bonito, tão comovedor, que imediatamente se cristalizou em nós? Em janeiro de 1980, quando a cidade se desequilibra entre a inflação e a violência, quando o mundo assiste, aflito e impotente, aos desvarios que ameaçam dilacerá-lo, quando...

  Um casal de velhinhos se senta na varanda, num começo de tarde chuvosa, e conversa. Sobre quê? Sobre tudo, sobre nada – não interessa. Estão sentados e conversam. Ela nem sequer faz algum trabalho manual, uma blusinha de crochê para a neta, um paninho para colocar debaixo da fruteira da sala; ele não tem nenhum jornal ou livro no colo. Estão ali exclusivamente para conversar um com o outro. Olham a rua distraidamente. O fundamental são eles mesmos, conversando (pouco), sentados nas cadeiras de vime, num dia de semana como qualquer outro.

   É, nem tudo está perdido, pelo contrário, se ainda resta gente que pode e quer cultivar essas delicadas flores do espírito, comentando isso e aquilo, o namoro da empregada, a nova receita de bolo, o último capítulo da novela, o preço da alcatra – esquecida de tudo que é triste e feio e ruim, de tudo que não cabe naquele alpendre úmido. Velhinhos na varanda...

   Enquanto almoçamos, fico imaginando que não há de faltar muito para cumprirem as bodas de ouro; que os filhos se casaram; que devem reunir-se todos no sobrado, para o ajantarado de domingo, gente madura, jovens, meninos, bebês e babás, em torno dos dois velhinhos. Talvez tenham perdido uma filha ainda adolescente, vítima de alguma doença estranha que os médicos não souberam diagnosticar. Talvez tenham feito uma longa viagem à Europa depois que ele se aposentou, ou passado uma temporada nos Estados Unidos quando o caçula esteve completando o PhD. Talvez nada disso. Fico imaginando, mas nenhuma dessas histórias me seduz. Gostei mesmo é do que vi: o casal de velhinhos conversando na varanda.

  Comemos quase em silêncio, meu amigo e eu, sem reparar se a massa estava gostosa. À saída passamos diante do sobradinho, em cujo alpendre não havia mais ninguém.


(Coleção Melhores Crônicas: Maria Julieta Drummond de Andrade. Seleção e prefácio de Marcos Pasche. Global, 2012, pp.187-190. Publicada no livroUm buquê de alcachofras, 1980.)
A autora, ao referir-se ao casal que avistou quando procurava onde almoçar, usa o termo “velhinhos”, recusando-se a chamá-los apenas de “velhos”. Isso se explica no trecho: “O diminutivo surgia instintivamente, como demonstração de ternura, e me lembrei do que outro poeta, o Bandeira, explicava a respeito do Aleijadinho, cujo apelido refletia apenas a solidariedade e o carinho que a doença daquele mulato robusto e de boa altura despertava no povo da Vila Rica. Velhos na varanda – não, isso não expressa o que vimos. Eram um velhinho e uma velhinha, numa varanda de Ipanema [...]” (7º§). Assinale a alternativa que corretamente demonstra um uso da flexão vocabular no grau diminutivo de mesmo propósito que o usado pela autora.
Alternativas
Q2349029 Português
Na varanda 


   Já faz parte do anedotário lírico brasileiro aquele episódio (autêntico) de Murilo Mendes caminhando por uma rua, nem sei mais se de Minas ou do Rio. De repente vê uma moça debruçada na janela. Há tanto que não presenciava cena semelhante, comum no interior e em tempos idos, mas praticamente extinta na vida urbana, que, invocado e cheio de entusiasmo, ajoelhou-se e começou a exclamar aos berros, gesticulando com excitação:

   – Mulher na janela, que beleza! Mulher na janela, meus parabéns!

  A moça deve ter fugido assustada, provavelmente sem entender o que aquele homem alto e ossudo saudava com tamanha efusão. Como explicar-lhe que, com certeiro instinto, Murilo identificara e estava fixando para sempre, da maneira espontânea e exuberante que lhe era própria, um flagrante poético perfeito, o milagre que ela própria, sem perceber, corporizava? Moça que, em plena cidade e infensa à agitação a seu redor, dispunha ainda de lazer e prazer para pôr-se à janela e contemplar a rua, os transeuntes, a tarde, as nuvens. Mulher na janela...

  Pois a mim também, há pouco, me foi concedido o privilégio de captar um momento desses, tão impregnados de passado que dir-se-iam irreais nos dias de hoje – coisa de outra civilização. Eram quase duas horas de uma quarta-feira e buscávamos, meu amigo e eu, um lugar tranquilo para almoçar. Apesar do mau tempo, ou por causa dele, todos os restaurantes do Leblon, com mesinhas na calçada, estavam repletos. Numa esquina de Ipanema encontramos um, semivazio, onde se costuma comer uma boa massa, e para lá nos dirigimos às carreiras, impulsionados pela fome e pela chuva. De repente, estacamos diante de um sobradinho, desses que vão se tornando raridade no Rio. Não fizemos o menor comentário, mas ali permanecemos alguns minutos, imóveis, perplexos, enquanto a água ia caindo. A casa estava rodeada por um mínimo jardim e tinha à frente um alpendre também pequenino, protegido da chuva. Nele, um casal de velhinhos conversava. 

  – Velhinhos na varanda! – gritei dentro de mim mesma, deslumbrada. – Que coisa mais linda, velhinhos na varanda! Os dois nem repararam em nossa presença curiosa, ou, se o fizeram, acharam-na corriqueira. Talvez estivessem acostumados a despertar a atenção dos que passavam, pois, ao vê-los, tive imediatamente a certeza de que sentar-se na varanda à hora da sesta era um ritual que ambos executavam regularmente. As cadeiras eram de vime, colocadas uma ao lado da outra; não havia mesa entre elas, só vasos com plantas e flores pelos cantos. Junto à porta aberta, um capacho. Os dois se olhavam, falavam sem pressa, quase sem gestos, e sorriam de leve. Tudo muito devagar, como se nada urgisse, e aquele colóquio, diante da chuva, tivesse a importância natural das coisas mais simples.

  Velhinhos na varanda.... Nem eram assim tão velhos – meu amigo e eu comentamos depois. O diminutivo surgia instintivamente, como demonstração de ternura, e me lembrei do que outro poeta, o Bandeira, explicava a respeito do Aleijadinho, cujo apelido refletia apenas a solidariedade e o carinho que a doença daquele mulato robusto e de boa altura despertava no povo da Vila Rica. Velhos na varanda – não, isso não expressa o que vimos. Eram um velhinho e uma velhinha, numa varanda de Ipanema (ou seria em Mariana?), conversando tranquilamente depois do almoço. Como não confiar na vida, depois desse flash apenas entrevisto, mas tão bonito, tão comovedor, que imediatamente se cristalizou em nós? Em janeiro de 1980, quando a cidade se desequilibra entre a inflação e a violência, quando o mundo assiste, aflito e impotente, aos desvarios que ameaçam dilacerá-lo, quando...

  Um casal de velhinhos se senta na varanda, num começo de tarde chuvosa, e conversa. Sobre quê? Sobre tudo, sobre nada – não interessa. Estão sentados e conversam. Ela nem sequer faz algum trabalho manual, uma blusinha de crochê para a neta, um paninho para colocar debaixo da fruteira da sala; ele não tem nenhum jornal ou livro no colo. Estão ali exclusivamente para conversar um com o outro. Olham a rua distraidamente. O fundamental são eles mesmos, conversando (pouco), sentados nas cadeiras de vime, num dia de semana como qualquer outro.

   É, nem tudo está perdido, pelo contrário, se ainda resta gente que pode e quer cultivar essas delicadas flores do espírito, comentando isso e aquilo, o namoro da empregada, a nova receita de bolo, o último capítulo da novela, o preço da alcatra – esquecida de tudo que é triste e feio e ruim, de tudo que não cabe naquele alpendre úmido. Velhinhos na varanda...

   Enquanto almoçamos, fico imaginando que não há de faltar muito para cumprirem as bodas de ouro; que os filhos se casaram; que devem reunir-se todos no sobrado, para o ajantarado de domingo, gente madura, jovens, meninos, bebês e babás, em torno dos dois velhinhos. Talvez tenham perdido uma filha ainda adolescente, vítima de alguma doença estranha que os médicos não souberam diagnosticar. Talvez tenham feito uma longa viagem à Europa depois que ele se aposentou, ou passado uma temporada nos Estados Unidos quando o caçula esteve completando o PhD. Talvez nada disso. Fico imaginando, mas nenhuma dessas histórias me seduz. Gostei mesmo é do que vi: o casal de velhinhos conversando na varanda.

  Comemos quase em silêncio, meu amigo e eu, sem reparar se a massa estava gostosa. À saída passamos diante do sobradinho, em cujo alpendre não havia mais ninguém.


(Coleção Melhores Crônicas: Maria Julieta Drummond de Andrade. Seleção e prefácio de Marcos Pasche. Global, 2012, pp.187-190. Publicada no livroUm buquê de alcachofras, 1980.)
Na língua portuguesa, as palavras são divididas em classes morfológicas, de forma a ensejar as devidas concordâncias nominais e verbais na estruturação de um texto harmônico e coerente. No trecho “[...] gente madura, jovens, meninos, [...]” (10º§), por exemplo, elencam-se termos que partilham a mesma classe morfológica, EXCETO:
Alternativas
Q2349027 Português
Na varanda 


   Já faz parte do anedotário lírico brasileiro aquele episódio (autêntico) de Murilo Mendes caminhando por uma rua, nem sei mais se de Minas ou do Rio. De repente vê uma moça debruçada na janela. Há tanto que não presenciava cena semelhante, comum no interior e em tempos idos, mas praticamente extinta na vida urbana, que, invocado e cheio de entusiasmo, ajoelhou-se e começou a exclamar aos berros, gesticulando com excitação:

   – Mulher na janela, que beleza! Mulher na janela, meus parabéns!

  A moça deve ter fugido assustada, provavelmente sem entender o que aquele homem alto e ossudo saudava com tamanha efusão. Como explicar-lhe que, com certeiro instinto, Murilo identificara e estava fixando para sempre, da maneira espontânea e exuberante que lhe era própria, um flagrante poético perfeito, o milagre que ela própria, sem perceber, corporizava? Moça que, em plena cidade e infensa à agitação a seu redor, dispunha ainda de lazer e prazer para pôr-se à janela e contemplar a rua, os transeuntes, a tarde, as nuvens. Mulher na janela...

  Pois a mim também, há pouco, me foi concedido o privilégio de captar um momento desses, tão impregnados de passado que dir-se-iam irreais nos dias de hoje – coisa de outra civilização. Eram quase duas horas de uma quarta-feira e buscávamos, meu amigo e eu, um lugar tranquilo para almoçar. Apesar do mau tempo, ou por causa dele, todos os restaurantes do Leblon, com mesinhas na calçada, estavam repletos. Numa esquina de Ipanema encontramos um, semivazio, onde se costuma comer uma boa massa, e para lá nos dirigimos às carreiras, impulsionados pela fome e pela chuva. De repente, estacamos diante de um sobradinho, desses que vão se tornando raridade no Rio. Não fizemos o menor comentário, mas ali permanecemos alguns minutos, imóveis, perplexos, enquanto a água ia caindo. A casa estava rodeada por um mínimo jardim e tinha à frente um alpendre também pequenino, protegido da chuva. Nele, um casal de velhinhos conversava. 

  – Velhinhos na varanda! – gritei dentro de mim mesma, deslumbrada. – Que coisa mais linda, velhinhos na varanda! Os dois nem repararam em nossa presença curiosa, ou, se o fizeram, acharam-na corriqueira. Talvez estivessem acostumados a despertar a atenção dos que passavam, pois, ao vê-los, tive imediatamente a certeza de que sentar-se na varanda à hora da sesta era um ritual que ambos executavam regularmente. As cadeiras eram de vime, colocadas uma ao lado da outra; não havia mesa entre elas, só vasos com plantas e flores pelos cantos. Junto à porta aberta, um capacho. Os dois se olhavam, falavam sem pressa, quase sem gestos, e sorriam de leve. Tudo muito devagar, como se nada urgisse, e aquele colóquio, diante da chuva, tivesse a importância natural das coisas mais simples.

  Velhinhos na varanda.... Nem eram assim tão velhos – meu amigo e eu comentamos depois. O diminutivo surgia instintivamente, como demonstração de ternura, e me lembrei do que outro poeta, o Bandeira, explicava a respeito do Aleijadinho, cujo apelido refletia apenas a solidariedade e o carinho que a doença daquele mulato robusto e de boa altura despertava no povo da Vila Rica. Velhos na varanda – não, isso não expressa o que vimos. Eram um velhinho e uma velhinha, numa varanda de Ipanema (ou seria em Mariana?), conversando tranquilamente depois do almoço. Como não confiar na vida, depois desse flash apenas entrevisto, mas tão bonito, tão comovedor, que imediatamente se cristalizou em nós? Em janeiro de 1980, quando a cidade se desequilibra entre a inflação e a violência, quando o mundo assiste, aflito e impotente, aos desvarios que ameaçam dilacerá-lo, quando...

  Um casal de velhinhos se senta na varanda, num começo de tarde chuvosa, e conversa. Sobre quê? Sobre tudo, sobre nada – não interessa. Estão sentados e conversam. Ela nem sequer faz algum trabalho manual, uma blusinha de crochê para a neta, um paninho para colocar debaixo da fruteira da sala; ele não tem nenhum jornal ou livro no colo. Estão ali exclusivamente para conversar um com o outro. Olham a rua distraidamente. O fundamental são eles mesmos, conversando (pouco), sentados nas cadeiras de vime, num dia de semana como qualquer outro.

   É, nem tudo está perdido, pelo contrário, se ainda resta gente que pode e quer cultivar essas delicadas flores do espírito, comentando isso e aquilo, o namoro da empregada, a nova receita de bolo, o último capítulo da novela, o preço da alcatra – esquecida de tudo que é triste e feio e ruim, de tudo que não cabe naquele alpendre úmido. Velhinhos na varanda...

   Enquanto almoçamos, fico imaginando que não há de faltar muito para cumprirem as bodas de ouro; que os filhos se casaram; que devem reunir-se todos no sobrado, para o ajantarado de domingo, gente madura, jovens, meninos, bebês e babás, em torno dos dois velhinhos. Talvez tenham perdido uma filha ainda adolescente, vítima de alguma doença estranha que os médicos não souberam diagnosticar. Talvez tenham feito uma longa viagem à Europa depois que ele se aposentou, ou passado uma temporada nos Estados Unidos quando o caçula esteve completando o PhD. Talvez nada disso. Fico imaginando, mas nenhuma dessas histórias me seduz. Gostei mesmo é do que vi: o casal de velhinhos conversando na varanda.

  Comemos quase em silêncio, meu amigo e eu, sem reparar se a massa estava gostosa. À saída passamos diante do sobradinho, em cujo alpendre não havia mais ninguém.


(Coleção Melhores Crônicas: Maria Julieta Drummond de Andrade. Seleção e prefácio de Marcos Pasche. Global, 2012, pp.187-190. Publicada no livroUm buquê de alcachofras, 1980.)
A etimologia é um campo essencial nos estudos linguísticos, uma vez que possibilita o conhecimento dos processos de formação de palavras, o que colabora para a construção e a decodificação de significados, a expressão comunicacional mais eficiente e adequada e, por conseguinte, a expansão do léxico. Considere, portanto, o trecho: “Numa esquina de Ipanema encontramos um, semivazio, onde se costuma comer uma boa massa, e para lá nos dirigimos às carreiras, impulsionados pela fome e pela chuva.” (4º§). É correto afirmar que o vocábulo do primeiro aposto referente ao restaurante de que a autora fala no trecho é um exemplo de vocábulo formado por derivação:
Alternativas
Q2349024 Português
Na varanda 


   Já faz parte do anedotário lírico brasileiro aquele episódio (autêntico) de Murilo Mendes caminhando por uma rua, nem sei mais se de Minas ou do Rio. De repente vê uma moça debruçada na janela. Há tanto que não presenciava cena semelhante, comum no interior e em tempos idos, mas praticamente extinta na vida urbana, que, invocado e cheio de entusiasmo, ajoelhou-se e começou a exclamar aos berros, gesticulando com excitação:

   – Mulher na janela, que beleza! Mulher na janela, meus parabéns!

  A moça deve ter fugido assustada, provavelmente sem entender o que aquele homem alto e ossudo saudava com tamanha efusão. Como explicar-lhe que, com certeiro instinto, Murilo identificara e estava fixando para sempre, da maneira espontânea e exuberante que lhe era própria, um flagrante poético perfeito, o milagre que ela própria, sem perceber, corporizava? Moça que, em plena cidade e infensa à agitação a seu redor, dispunha ainda de lazer e prazer para pôr-se à janela e contemplar a rua, os transeuntes, a tarde, as nuvens. Mulher na janela...

  Pois a mim também, há pouco, me foi concedido o privilégio de captar um momento desses, tão impregnados de passado que dir-se-iam irreais nos dias de hoje – coisa de outra civilização. Eram quase duas horas de uma quarta-feira e buscávamos, meu amigo e eu, um lugar tranquilo para almoçar. Apesar do mau tempo, ou por causa dele, todos os restaurantes do Leblon, com mesinhas na calçada, estavam repletos. Numa esquina de Ipanema encontramos um, semivazio, onde se costuma comer uma boa massa, e para lá nos dirigimos às carreiras, impulsionados pela fome e pela chuva. De repente, estacamos diante de um sobradinho, desses que vão se tornando raridade no Rio. Não fizemos o menor comentário, mas ali permanecemos alguns minutos, imóveis, perplexos, enquanto a água ia caindo. A casa estava rodeada por um mínimo jardim e tinha à frente um alpendre também pequenino, protegido da chuva. Nele, um casal de velhinhos conversava. 

  – Velhinhos na varanda! – gritei dentro de mim mesma, deslumbrada. – Que coisa mais linda, velhinhos na varanda! Os dois nem repararam em nossa presença curiosa, ou, se o fizeram, acharam-na corriqueira. Talvez estivessem acostumados a despertar a atenção dos que passavam, pois, ao vê-los, tive imediatamente a certeza de que sentar-se na varanda à hora da sesta era um ritual que ambos executavam regularmente. As cadeiras eram de vime, colocadas uma ao lado da outra; não havia mesa entre elas, só vasos com plantas e flores pelos cantos. Junto à porta aberta, um capacho. Os dois se olhavam, falavam sem pressa, quase sem gestos, e sorriam de leve. Tudo muito devagar, como se nada urgisse, e aquele colóquio, diante da chuva, tivesse a importância natural das coisas mais simples.

  Velhinhos na varanda.... Nem eram assim tão velhos – meu amigo e eu comentamos depois. O diminutivo surgia instintivamente, como demonstração de ternura, e me lembrei do que outro poeta, o Bandeira, explicava a respeito do Aleijadinho, cujo apelido refletia apenas a solidariedade e o carinho que a doença daquele mulato robusto e de boa altura despertava no povo da Vila Rica. Velhos na varanda – não, isso não expressa o que vimos. Eram um velhinho e uma velhinha, numa varanda de Ipanema (ou seria em Mariana?), conversando tranquilamente depois do almoço. Como não confiar na vida, depois desse flash apenas entrevisto, mas tão bonito, tão comovedor, que imediatamente se cristalizou em nós? Em janeiro de 1980, quando a cidade se desequilibra entre a inflação e a violência, quando o mundo assiste, aflito e impotente, aos desvarios que ameaçam dilacerá-lo, quando...

  Um casal de velhinhos se senta na varanda, num começo de tarde chuvosa, e conversa. Sobre quê? Sobre tudo, sobre nada – não interessa. Estão sentados e conversam. Ela nem sequer faz algum trabalho manual, uma blusinha de crochê para a neta, um paninho para colocar debaixo da fruteira da sala; ele não tem nenhum jornal ou livro no colo. Estão ali exclusivamente para conversar um com o outro. Olham a rua distraidamente. O fundamental são eles mesmos, conversando (pouco), sentados nas cadeiras de vime, num dia de semana como qualquer outro.

   É, nem tudo está perdido, pelo contrário, se ainda resta gente que pode e quer cultivar essas delicadas flores do espírito, comentando isso e aquilo, o namoro da empregada, a nova receita de bolo, o último capítulo da novela, o preço da alcatra – esquecida de tudo que é triste e feio e ruim, de tudo que não cabe naquele alpendre úmido. Velhinhos na varanda...

   Enquanto almoçamos, fico imaginando que não há de faltar muito para cumprirem as bodas de ouro; que os filhos se casaram; que devem reunir-se todos no sobrado, para o ajantarado de domingo, gente madura, jovens, meninos, bebês e babás, em torno dos dois velhinhos. Talvez tenham perdido uma filha ainda adolescente, vítima de alguma doença estranha que os médicos não souberam diagnosticar. Talvez tenham feito uma longa viagem à Europa depois que ele se aposentou, ou passado uma temporada nos Estados Unidos quando o caçula esteve completando o PhD. Talvez nada disso. Fico imaginando, mas nenhuma dessas histórias me seduz. Gostei mesmo é do que vi: o casal de velhinhos conversando na varanda.

  Comemos quase em silêncio, meu amigo e eu, sem reparar se a massa estava gostosa. À saída passamos diante do sobradinho, em cujo alpendre não havia mais ninguém.


(Coleção Melhores Crônicas: Maria Julieta Drummond de Andrade. Seleção e prefácio de Marcos Pasche. Global, 2012, pp.187-190. Publicada no livroUm buquê de alcachofras, 1980.)
Considere o trecho: “Como não confiar na vida, depois desse flash apenas entrevisto, mas tão bonito, tão comovedor, que imediatamente se cristalizou em nós?” (7º§). O termo sublinhado “flash” constitui um exemplo de empréstimo linguístico advindo de outro idioma e incorporado a um contexto de língua portuguesa. A esse processo dá-se o nome de:
Alternativas
Q2348829 Português
Assinale a frase que mostra uma quantidade definida. 
Alternativas
Q2348691 Português
Entre as frases abaixo, assinale aquela em que houve a rescrita da frase com a retirada do advérbio “não”, mantendo-se o sentido original da frase, de forma inadequada.
Alternativas
Q2348689 Português
Assinale a frase em que a conjunção E tem valor adversativo.
Alternativas
Q2348688 Português
Assinale a frase em que a preposição até mostra valor semântico diferente dos demais. 
Alternativas
Respostas
3101: D
3102: A
3103: C
3104: D
3105: C
3106: D
3107: A
3108: B
3109: D
3110: A
3111: D
3112: D
3113: D
3114: C
3115: B
3116: D
3117: C
3118: B
3119: A
3120: A