Questões de Português - Morfologia para Concurso

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Q2351552 Português
Identifique o adjetivo na seguinte frase: "O céu de Ouro Preto brilhava e estava radiante." 
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Q2351216 Português
Assinale a frase abaixo em que o termo sublinhado funciona como advérbio e não como modalização.
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Q2351017 Português
ABRIL | MÊS DE CONSCIENTIZAÇÃO DO AUTISMO


Comemorado no dia 02 de abril, a conscientização sobre o autismo é crucial para promover a inclusão e a compreensão das pessoas com autismo na sociedade. O autismo é um transtorno neurológico que afeta a comunicação, o comportamento social e a interação com o mundo. Infelizmente, ainda existem muitos estereótipos e mitos sobre o autismo que podem levar a preconceitos e exclusão social. 

Para aumentar a conscientização sobre o autismo, é importante divulgar informações precisas e atualizadas sobre o transtorno, suas características e desafios. Também é importante incentivar a inclusão e a aceitação das pessoas com autismo em todos os aspectos da sociedade. Isso pode incluir a criação de ambientes inclusivos em escolas e locais de trabalho, a promoção de atividades de lazer e esportes acessíveis para pessoas com autismo, e a oferta de serviços de apoio para pessoas com necessidades especiais.

Além disso, é fundamental lembrar que cada pessoa com autismo é única, com suas próprias habilidades, interesses e desafios. Portanto, é importante evitar estereótipos e julgamentos e em vez disso, tentar entender e apreciar a perspectiva única das pessoas com autismo.


FONTE:
https://www.americodecampos.sp.gov.br/portal/noticias/0/3/1932/abril—
mes-de-conscientizacao-do-autismo/. Adaptado
Mais do que identificar superficialmente estruturas gramaticais do texto, sua análise linguística pode revelar padrões antes não compreendidos pelo educando e que merecem também atenção nas relações de ensinoaprendizagem, segundo as mais aceitas teorias vigentes na área de educação. Tendo isso em mente, a análise morfossemântica de alguns vocábulos do texto pode ser muito proveitosa em sala de aula. Tomando-se, então, os vocábulos “conscientização”, “interação”, “aceitação” e “criação”, o professor pode conduzir o aluno à compreensão de que:
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Q2350659 Português
      Minha empregada, Mme. Thérèse, que já ia se conformando em ser chamada de dona Teresa, caiu doente. Mandou-me um bilhete com a letra meio trêmula, falando em reumatismo. Dias depois apareceu, mas magra, mais pálida e menor; explicou-me que tudo fora consequência de uma corrente de ar. Que meu apartamento tem um courant d’air terrível, de tal modo que,__________ , chegando em casa, nem teve coragem de tirar a roupa, caiu na cama. “Dói-me o corpo inteiro, senhor; o corpo inteiro.”

      O mesmo caso, ajuntou, houve cerca de 15 anos atrás, quando trabalhava em um apartamento que tinha uma corrente de ar exatamente igual _______essa de que hoje sou sublocatário. Fez uma pausa. Fungou. Contou o dinheiro que eu lhe entregava, agradeceu _____dispensa do troco. Foi lá dentro apanhar umas pobres coisas que deixara. Entregou-me a chave, fez qualquer observação sobre o aquecedor ______ gás – e depois, no lugar de sair_____ rua, deixou-se ficar imóvel e calada, de pé, em minha frente.


(Rubem Braga, “Dona Teresa”. 200 crônicas escolhidas. Adaptado)
Assinale a alternativa em que o primeiro termo destacado é um pronome com valor possessivo, e o segundo, um adjetivo.
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Q2350348 Português
Texto:


Crescimento Zero


Alex Grijelmo


     Parece difícil que nos resignemos a não crescer. O crescimento de qualquer de nossas posses forma parte das ideias positivas. Hão de crescer as crianças, os músculos, os seios, nossos negócios e, obviamente, também a economia. Este caso é, porém, o mais transcendental, porque mesmo quando a economia não cresce, dizemos que cresceu: porque “cresceu zero”.

     O eufemismo que está presente em “crescimento zero” consegue unir um conceito positivo (crescimento) com outro negativo (o não-crescimento), para neutralizar o efeito deste (e, além disso, se apela a um número que não é exatamente negativo: o zero).

     Os economistas e os políticos empregam muito bem esses vocábulos para contentar-nos, mesmo quando a economia decresce, porque então falam de “crescimento negativo”.

     Vejamos o lado bom da coisa, porque devemos agradecer o fato de que as pessoas das ciências tenham sabido escolher muito bem as palavras, ainda que seja para esconder os números.
Na frase “Os economistas e os políticos empregam muito bem esses vocábulos para contentar-nos”, a preposição “para” tem o mesmo valor que em:
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Q2350102 Português
Texto 2


           A cantora Ivete Sangalo se emocionou ao ver uma propaganda do filme 'Besouro Azul', em que a atriz brasileira Bruna Marquezine participa, nas ruas de Nova Iorque. Vídeo foi publicado através das redes sociais nesta terça-feira (1º).
        Animada, a cantora exaltou a participação de Bruna em uma produção internacional. "Bru, olha onde você está aqui em Nova Iorque! Que orgulho! Linda!", comemorou a artista. 


Disponível em: <https://www.ibahia.com/nem-te-conto/ivete-sangalo-exaltamarquezine-ao-ver-banner-de-besouro-azul-300163>. Acesso em: 24
ago. 2023. 

Na última frase do texto, a palavra “artista” é um
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Q2350000 Português

Texto 1


      Uma nuvem gigante de poeira encobriu várias cidades em Goiás na manhã deste sábado (19). O fenômeno é provocado por causa do longo período de estiagem no estado e com a aproximação de uma frente fria, como explica o gerente do Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas de Goiás (Cimehgo), André Amorim. [...]

     Algumas regiões em Goiás estão sem chuva há mais de 100 dias, com isso, o solo começa a desagregar. [...]

      A chefe do Instituto Nacional de Meteorologia do Brasil (Inmet) em Goiás, Elisabeth Alves Ferreira, explica que o ambiente deve ficar instável até a segunda-feira (21), e que a poeira vai se dissipando aos poucos.



Disponível em: <https://opopular.com.br/cidades/nuvem-de-poeira-entendafenomeno-que-encobriu-cidades-em-goias-1.3058354>. Acesso em: 19 ago.2023. [Adaptado].


Em relação às classes gramaticais, no primeiro parágrafo do Texto 1, o termo “gigante” trata-se de um(a)
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Q2349999 Português

Texto 1


      Uma nuvem gigante de poeira encobriu várias cidades em Goiás na manhã deste sábado (19). O fenômeno é provocado por causa do longo período de estiagem no estado e com a aproximação de uma frente fria, como explica o gerente do Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas de Goiás (Cimehgo), André Amorim. [...]

     Algumas regiões em Goiás estão sem chuva há mais de 100 dias, com isso, o solo começa a desagregar. [...]

      A chefe do Instituto Nacional de Meteorologia do Brasil (Inmet) em Goiás, Elisabeth Alves Ferreira, explica que o ambiente deve ficar instável até a segunda-feira (21), e que a poeira vai se dissipando aos poucos.



Disponível em: <https://opopular.com.br/cidades/nuvem-de-poeira-entendafenomeno-que-encobriu-cidades-em-goias-1.3058354>. Acesso em: 19 ago.2023. [Adaptado].


Em relação às sílabas tônicas, o substantivo “sábado”, usado na primeira frase do texto, é uma palavra considerada como
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Q2349859 Português
Texto 1


A alienação do trabalhador na era industrial



           Assim que as indústrias passaram a dominar o processo de produção, notamos que a tecnologia empregada não só determinava a redução dos custos e a ampliação dos lucros da empresa. Cada vez que novas máquinas eram criadas, milhares de trabalhadores eram dispensados das fábricas e aqueles que permaneciam eram designados a realizar uma mesma ação cada vez mais específica do processo de produção.
         Vivenciando a rotina de uma função que poderia ser exercida por qualquer outra pessoa e percebendo a existência de vários desempregados interessados em exercer aquela mesma função, o operário concordava em receber um baixo salário pelo seu trabalho. Além disso, devemos destacar que esse operário não tinha mais ciência de todas as etapas que envolviam a riqueza que ele produzia. Na verdade, ele nem mesmo sabia quantificar quantas mercadorias ou qual o valor dos bens que produziu em uma jornada de trabalho.
        É nessa situação específica que a alienação dos trabalhadores passou a ser reconhecida por aqueles que estudam o desenvolvimento da sociedade industrial. O trabalhador não está alienado ao valor da riqueza que produz devido a uma opção própria. Na verdade, ele se submete a essa situação por não mais ter acesso aos meios de produção (no caso, as máquinas) e também por exercer uma tarefa tão específica que não consegue mais projetar o preciso valor da riqueza que ele ajuda a criar. 


SOUSA, Rainer Gonçalves. A alienação do trabalhador na Era Industrial.
Disponível em: <https://mundoeducacao.uol.com.br/historiageral/aalienacao-trabalhador-na-era-industrial.htm>. Acesso em: 19 ago. 2023.
[Adaptado].
No segundo parágrafo do texto, a expressão “além disso” contribui para  
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Q2349704 Português

Instrução: Leia o texto a seguir e responda à questão.


Grupo Flor Ribeirinha embarca nesta quinta-feira para Oriente Médio

No período de 21 a 28 de janeiro, o grupo representará o Brasil e o continente da América em Omã


           O Grupo Folclórico Flor Ribeirinha de São Gonçalo Beira Rio seguirá para o Sultanato de Omã, um país árabe que faz fronteira com a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos. Próximo de completar 30 anos de existência, o Flor Ribeirinha deixará sua marca em mais um continente do mundo. No período de 21 a 28 de janeiro, o grupo representará o Brasil e o continente da América em Omã.

        O grupo foi convidado pela Federação de Festivais Internacionais de Dança-FIDAF, devido a sua qualidade artística e por representar a pluralidade da cultura, levando em seu repertório de danças, quadros alusivos às regiões brasileiras. O convite se concretizou graças à atuação e sua conquista de tricampeão no ano passado na Bulgária.

           Com o espetáculo Mato Grosso Dançando Brasil, o grupo já conquistou três prêmios mundiais, sendo o primeiro no Festival Internacional de Arte e Cultura, realizado em 2017 na Turquia. O segundo em 2020 no Festival da Polônia e o terceiro em 2021, no Festival Internacional da Bulgária.

           Durante a permanência em Omã, o grupo se apresentará no Royal Ópera Muscat, um dos renomados locais da cultura daquele país.

       O gestor cultural e diretor artístico do grupo, Avinner Brandão, frisa que, em seu repertório, o Flor Ribeirinha destacará as cores e a força do Siriri, a dança típica mato-grossense que reflete o multiculturismo e traz ritmo contagiante com a viola de cocho, o mocho e o ganzá.

        O presidente do Setor América e representante nacional da Federação de Festivais Internacionais de Dança-FIDAF, Regis Bastian, informou que o Flor Ribeirinha vai se apresentar nos dias 26 e 27 de janeiro, ao lado de grupos de outros países, como Romênia, Filipinas e Omã. Ele destacou que foram escolhidos os grupos de grande importância artística.

       Regis reforçou, ainda, que esta será a primeira vez que um grupo brasileiro atuará naquele país do Oriente Médio e numa casa de espetáculos do padrão do Royal Ópera Muscat. O Flor Ribeirinha estará ao lado de quatro companhias de ponta, como a Companhia Nacional das Filipinas e o Ensamble Nacional Transilvânia da Romênia e a Delegação Nacional de Omã.


(Disponível em: https://primeirapagina.com.br/cultura/grupo-flor-ribeirinha-embarca-nesta-quinta-feira-para-oriente-medio/. Acesso em: 19/01/23. Adaptado.)

Assinale a afirmativa que apresenta correta análise linguística de palavras empregadas no texto.
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Q2349391 Português
No lugar do outro

   Estamos vivendo uma crise intensa: a das relações humanas. Todos os dias testemunhamos ou protagonizamos, tanto na vida presencial quanto na virtual, comportamentos e atitudes que vão do ódio declarado ou sutil ao desdém em relação ao outro. As relações humanas, sempre tão complexas, exigem, no entanto, delicadeza, atenção e compromisso social. Tem sido difícil manter a saúde mental e a qualidade de vida no contexto atual.

   Crianças e adolescentes já dão sinais claros de que têm aprendido muito com nossa dificuldade em conviver com as diferenças e de respeitá-las, de tentar colocar-se no lugar do outro para compreender suas posições e atitudes; de ter compaixão; de conflitar em vez de confrontar, de agir com doçura, por exemplo. Conseguir fazer isso é ter empatia com o outro.

  Pais e professores têm reclamado de comportamentos provocativos desrespeitosos, desafiadores e desobedientes dos mais novos. Entretanto, se pudéssemos nos dedicar por alguns momentos à auto-observação, constataríamos essas características também em nós, adultos. 

  Mas são os mais novos que levam a pior nessa história: Crianças e adolescentes que desobedecem, desafiam e têm comportamentos considerados agressivos, como os nossos, podem receber diagnósticos e orientação para tratamento. Conheço famílias com filhos diagnosticados com “Transtorno Desafiador Opositivo”, porque têm comportamentos típicos da idade. Há uma grande preocupação global com a nossa atual falta de empatia. Um sinal disso foi a inauguração, em Londres, do primeiro Museu da Empatia.

  Nele, os visitantes são convocados a experimentar/enxergar o mundo pelo olhar de um outro – não próximo ou conhecido, mas um outro com quem eles não têm qualquer relação. A expressão que deu sentido ao museu é a expressão inglesa “in your shoes” (em seus sapatos), que em língua portuguesa significa “em seu lugar”. Os visitantes se deparam, na entrada, com uma caixa com diferentes pares de sapatos usados. Escolhem um de seu número para calçar e recebem um áudio que conta uma parte da história da pessoa que foi dona daquele par.

   Desenvolver a empatia é uma condição absolutamente necessária para ensiná-la aos mais novos.

   Aliás, eles podem tê-la mais facilmente do que nós. Um pai me contou, comovido, que conversava com um amigo a respeito da situação de muitos refugiados de países em guerra e que comentou que não adiantava a busca por outro local, já que a crise de empregos era mundial. Seu filho, de sete anos, que estava por perto, perguntou de imediato: “Pai, se tivesse guerra aqui, você preferiria que eu morresse?”. Ele mudou de ideia.

   Estacionar o carro em vaga de idosos, grávidas e portadores de deficiência é mais do que contravenção: é falta de empatia. Reclamar da lentidão dos velhos é mais do que desrespeito: é falta de empatia. Agredir ostensivamente o outro por suas posições é mais do que dificuldade em lidar com as diferenças: é falta de empatia. Do mesmo modo, reclamar do comportamento dos mais novos é falta de empatia.

   A empatia pode provocar uma grande mudança social, diz Roman Krznari, estudioso do tema. Vamos desenvolvê-la para ensiná-la? 

(SAYÃO, Rosely. Folha de S. Paulo. Em: 22 de setembro de 2015.) 

Em “Mas são os mais novos que levam a pior nessa história.” (4º§) O conectivo “mas”, que introduz a oração, permite a mesma compreensão e coesão textual adequada quanto ao sentido visto em seu emprego em: 
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Q2349033 Português
Na varanda 


   Já faz parte do anedotário lírico brasileiro aquele episódio (autêntico) de Murilo Mendes caminhando por uma rua, nem sei mais se de Minas ou do Rio. De repente vê uma moça debruçada na janela. Há tanto que não presenciava cena semelhante, comum no interior e em tempos idos, mas praticamente extinta na vida urbana, que, invocado e cheio de entusiasmo, ajoelhou-se e começou a exclamar aos berros, gesticulando com excitação:

   – Mulher na janela, que beleza! Mulher na janela, meus parabéns!

  A moça deve ter fugido assustada, provavelmente sem entender o que aquele homem alto e ossudo saudava com tamanha efusão. Como explicar-lhe que, com certeiro instinto, Murilo identificara e estava fixando para sempre, da maneira espontânea e exuberante que lhe era própria, um flagrante poético perfeito, o milagre que ela própria, sem perceber, corporizava? Moça que, em plena cidade e infensa à agitação a seu redor, dispunha ainda de lazer e prazer para pôr-se à janela e contemplar a rua, os transeuntes, a tarde, as nuvens. Mulher na janela...

  Pois a mim também, há pouco, me foi concedido o privilégio de captar um momento desses, tão impregnados de passado que dir-se-iam irreais nos dias de hoje – coisa de outra civilização. Eram quase duas horas de uma quarta-feira e buscávamos, meu amigo e eu, um lugar tranquilo para almoçar. Apesar do mau tempo, ou por causa dele, todos os restaurantes do Leblon, com mesinhas na calçada, estavam repletos. Numa esquina de Ipanema encontramos um, semivazio, onde se costuma comer uma boa massa, e para lá nos dirigimos às carreiras, impulsionados pela fome e pela chuva. De repente, estacamos diante de um sobradinho, desses que vão se tornando raridade no Rio. Não fizemos o menor comentário, mas ali permanecemos alguns minutos, imóveis, perplexos, enquanto a água ia caindo. A casa estava rodeada por um mínimo jardim e tinha à frente um alpendre também pequenino, protegido da chuva. Nele, um casal de velhinhos conversava. 

  – Velhinhos na varanda! – gritei dentro de mim mesma, deslumbrada. – Que coisa mais linda, velhinhos na varanda! Os dois nem repararam em nossa presença curiosa, ou, se o fizeram, acharam-na corriqueira. Talvez estivessem acostumados a despertar a atenção dos que passavam, pois, ao vê-los, tive imediatamente a certeza de que sentar-se na varanda à hora da sesta era um ritual que ambos executavam regularmente. As cadeiras eram de vime, colocadas uma ao lado da outra; não havia mesa entre elas, só vasos com plantas e flores pelos cantos. Junto à porta aberta, um capacho. Os dois se olhavam, falavam sem pressa, quase sem gestos, e sorriam de leve. Tudo muito devagar, como se nada urgisse, e aquele colóquio, diante da chuva, tivesse a importância natural das coisas mais simples.

  Velhinhos na varanda.... Nem eram assim tão velhos – meu amigo e eu comentamos depois. O diminutivo surgia instintivamente, como demonstração de ternura, e me lembrei do que outro poeta, o Bandeira, explicava a respeito do Aleijadinho, cujo apelido refletia apenas a solidariedade e o carinho que a doença daquele mulato robusto e de boa altura despertava no povo da Vila Rica. Velhos na varanda – não, isso não expressa o que vimos. Eram um velhinho e uma velhinha, numa varanda de Ipanema (ou seria em Mariana?), conversando tranquilamente depois do almoço. Como não confiar na vida, depois desse flash apenas entrevisto, mas tão bonito, tão comovedor, que imediatamente se cristalizou em nós? Em janeiro de 1980, quando a cidade se desequilibra entre a inflação e a violência, quando o mundo assiste, aflito e impotente, aos desvarios que ameaçam dilacerá-lo, quando...

  Um casal de velhinhos se senta na varanda, num começo de tarde chuvosa, e conversa. Sobre quê? Sobre tudo, sobre nada – não interessa. Estão sentados e conversam. Ela nem sequer faz algum trabalho manual, uma blusinha de crochê para a neta, um paninho para colocar debaixo da fruteira da sala; ele não tem nenhum jornal ou livro no colo. Estão ali exclusivamente para conversar um com o outro. Olham a rua distraidamente. O fundamental são eles mesmos, conversando (pouco), sentados nas cadeiras de vime, num dia de semana como qualquer outro.

   É, nem tudo está perdido, pelo contrário, se ainda resta gente que pode e quer cultivar essas delicadas flores do espírito, comentando isso e aquilo, o namoro da empregada, a nova receita de bolo, o último capítulo da novela, o preço da alcatra – esquecida de tudo que é triste e feio e ruim, de tudo que não cabe naquele alpendre úmido. Velhinhos na varanda...

   Enquanto almoçamos, fico imaginando que não há de faltar muito para cumprirem as bodas de ouro; que os filhos se casaram; que devem reunir-se todos no sobrado, para o ajantarado de domingo, gente madura, jovens, meninos, bebês e babás, em torno dos dois velhinhos. Talvez tenham perdido uma filha ainda adolescente, vítima de alguma doença estranha que os médicos não souberam diagnosticar. Talvez tenham feito uma longa viagem à Europa depois que ele se aposentou, ou passado uma temporada nos Estados Unidos quando o caçula esteve completando o PhD. Talvez nada disso. Fico imaginando, mas nenhuma dessas histórias me seduz. Gostei mesmo é do que vi: o casal de velhinhos conversando na varanda.

  Comemos quase em silêncio, meu amigo e eu, sem reparar se a massa estava gostosa. À saída passamos diante do sobradinho, em cujo alpendre não havia mais ninguém.


(Coleção Melhores Crônicas: Maria Julieta Drummond de Andrade. Seleção e prefácio de Marcos Pasche. Global, 2012, pp.187-190. Publicada no livroUm buquê de alcachofras, 1980.)
A autora, ao referir-se ao casal que avistou quando procurava onde almoçar, usa o termo “velhinhos”, recusando-se a chamá-los apenas de “velhos”. Isso se explica no trecho: “O diminutivo surgia instintivamente, como demonstração de ternura, e me lembrei do que outro poeta, o Bandeira, explicava a respeito do Aleijadinho, cujo apelido refletia apenas a solidariedade e o carinho que a doença daquele mulato robusto e de boa altura despertava no povo da Vila Rica. Velhos na varanda – não, isso não expressa o que vimos. Eram um velhinho e uma velhinha, numa varanda de Ipanema [...]” (7º§). Assinale a alternativa que corretamente demonstra um uso da flexão vocabular no grau diminutivo de mesmo propósito que o usado pela autora.
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Q2349029 Português
Na varanda 


   Já faz parte do anedotário lírico brasileiro aquele episódio (autêntico) de Murilo Mendes caminhando por uma rua, nem sei mais se de Minas ou do Rio. De repente vê uma moça debruçada na janela. Há tanto que não presenciava cena semelhante, comum no interior e em tempos idos, mas praticamente extinta na vida urbana, que, invocado e cheio de entusiasmo, ajoelhou-se e começou a exclamar aos berros, gesticulando com excitação:

   – Mulher na janela, que beleza! Mulher na janela, meus parabéns!

  A moça deve ter fugido assustada, provavelmente sem entender o que aquele homem alto e ossudo saudava com tamanha efusão. Como explicar-lhe que, com certeiro instinto, Murilo identificara e estava fixando para sempre, da maneira espontânea e exuberante que lhe era própria, um flagrante poético perfeito, o milagre que ela própria, sem perceber, corporizava? Moça que, em plena cidade e infensa à agitação a seu redor, dispunha ainda de lazer e prazer para pôr-se à janela e contemplar a rua, os transeuntes, a tarde, as nuvens. Mulher na janela...

  Pois a mim também, há pouco, me foi concedido o privilégio de captar um momento desses, tão impregnados de passado que dir-se-iam irreais nos dias de hoje – coisa de outra civilização. Eram quase duas horas de uma quarta-feira e buscávamos, meu amigo e eu, um lugar tranquilo para almoçar. Apesar do mau tempo, ou por causa dele, todos os restaurantes do Leblon, com mesinhas na calçada, estavam repletos. Numa esquina de Ipanema encontramos um, semivazio, onde se costuma comer uma boa massa, e para lá nos dirigimos às carreiras, impulsionados pela fome e pela chuva. De repente, estacamos diante de um sobradinho, desses que vão se tornando raridade no Rio. Não fizemos o menor comentário, mas ali permanecemos alguns minutos, imóveis, perplexos, enquanto a água ia caindo. A casa estava rodeada por um mínimo jardim e tinha à frente um alpendre também pequenino, protegido da chuva. Nele, um casal de velhinhos conversava. 

  – Velhinhos na varanda! – gritei dentro de mim mesma, deslumbrada. – Que coisa mais linda, velhinhos na varanda! Os dois nem repararam em nossa presença curiosa, ou, se o fizeram, acharam-na corriqueira. Talvez estivessem acostumados a despertar a atenção dos que passavam, pois, ao vê-los, tive imediatamente a certeza de que sentar-se na varanda à hora da sesta era um ritual que ambos executavam regularmente. As cadeiras eram de vime, colocadas uma ao lado da outra; não havia mesa entre elas, só vasos com plantas e flores pelos cantos. Junto à porta aberta, um capacho. Os dois se olhavam, falavam sem pressa, quase sem gestos, e sorriam de leve. Tudo muito devagar, como se nada urgisse, e aquele colóquio, diante da chuva, tivesse a importância natural das coisas mais simples.

  Velhinhos na varanda.... Nem eram assim tão velhos – meu amigo e eu comentamos depois. O diminutivo surgia instintivamente, como demonstração de ternura, e me lembrei do que outro poeta, o Bandeira, explicava a respeito do Aleijadinho, cujo apelido refletia apenas a solidariedade e o carinho que a doença daquele mulato robusto e de boa altura despertava no povo da Vila Rica. Velhos na varanda – não, isso não expressa o que vimos. Eram um velhinho e uma velhinha, numa varanda de Ipanema (ou seria em Mariana?), conversando tranquilamente depois do almoço. Como não confiar na vida, depois desse flash apenas entrevisto, mas tão bonito, tão comovedor, que imediatamente se cristalizou em nós? Em janeiro de 1980, quando a cidade se desequilibra entre a inflação e a violência, quando o mundo assiste, aflito e impotente, aos desvarios que ameaçam dilacerá-lo, quando...

  Um casal de velhinhos se senta na varanda, num começo de tarde chuvosa, e conversa. Sobre quê? Sobre tudo, sobre nada – não interessa. Estão sentados e conversam. Ela nem sequer faz algum trabalho manual, uma blusinha de crochê para a neta, um paninho para colocar debaixo da fruteira da sala; ele não tem nenhum jornal ou livro no colo. Estão ali exclusivamente para conversar um com o outro. Olham a rua distraidamente. O fundamental são eles mesmos, conversando (pouco), sentados nas cadeiras de vime, num dia de semana como qualquer outro.

   É, nem tudo está perdido, pelo contrário, se ainda resta gente que pode e quer cultivar essas delicadas flores do espírito, comentando isso e aquilo, o namoro da empregada, a nova receita de bolo, o último capítulo da novela, o preço da alcatra – esquecida de tudo que é triste e feio e ruim, de tudo que não cabe naquele alpendre úmido. Velhinhos na varanda...

   Enquanto almoçamos, fico imaginando que não há de faltar muito para cumprirem as bodas de ouro; que os filhos se casaram; que devem reunir-se todos no sobrado, para o ajantarado de domingo, gente madura, jovens, meninos, bebês e babás, em torno dos dois velhinhos. Talvez tenham perdido uma filha ainda adolescente, vítima de alguma doença estranha que os médicos não souberam diagnosticar. Talvez tenham feito uma longa viagem à Europa depois que ele se aposentou, ou passado uma temporada nos Estados Unidos quando o caçula esteve completando o PhD. Talvez nada disso. Fico imaginando, mas nenhuma dessas histórias me seduz. Gostei mesmo é do que vi: o casal de velhinhos conversando na varanda.

  Comemos quase em silêncio, meu amigo e eu, sem reparar se a massa estava gostosa. À saída passamos diante do sobradinho, em cujo alpendre não havia mais ninguém.


(Coleção Melhores Crônicas: Maria Julieta Drummond de Andrade. Seleção e prefácio de Marcos Pasche. Global, 2012, pp.187-190. Publicada no livroUm buquê de alcachofras, 1980.)
Na língua portuguesa, as palavras são divididas em classes morfológicas, de forma a ensejar as devidas concordâncias nominais e verbais na estruturação de um texto harmônico e coerente. No trecho “[...] gente madura, jovens, meninos, [...]” (10º§), por exemplo, elencam-se termos que partilham a mesma classe morfológica, EXCETO:
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Q2349027 Português
Na varanda 


   Já faz parte do anedotário lírico brasileiro aquele episódio (autêntico) de Murilo Mendes caminhando por uma rua, nem sei mais se de Minas ou do Rio. De repente vê uma moça debruçada na janela. Há tanto que não presenciava cena semelhante, comum no interior e em tempos idos, mas praticamente extinta na vida urbana, que, invocado e cheio de entusiasmo, ajoelhou-se e começou a exclamar aos berros, gesticulando com excitação:

   – Mulher na janela, que beleza! Mulher na janela, meus parabéns!

  A moça deve ter fugido assustada, provavelmente sem entender o que aquele homem alto e ossudo saudava com tamanha efusão. Como explicar-lhe que, com certeiro instinto, Murilo identificara e estava fixando para sempre, da maneira espontânea e exuberante que lhe era própria, um flagrante poético perfeito, o milagre que ela própria, sem perceber, corporizava? Moça que, em plena cidade e infensa à agitação a seu redor, dispunha ainda de lazer e prazer para pôr-se à janela e contemplar a rua, os transeuntes, a tarde, as nuvens. Mulher na janela...

  Pois a mim também, há pouco, me foi concedido o privilégio de captar um momento desses, tão impregnados de passado que dir-se-iam irreais nos dias de hoje – coisa de outra civilização. Eram quase duas horas de uma quarta-feira e buscávamos, meu amigo e eu, um lugar tranquilo para almoçar. Apesar do mau tempo, ou por causa dele, todos os restaurantes do Leblon, com mesinhas na calçada, estavam repletos. Numa esquina de Ipanema encontramos um, semivazio, onde se costuma comer uma boa massa, e para lá nos dirigimos às carreiras, impulsionados pela fome e pela chuva. De repente, estacamos diante de um sobradinho, desses que vão se tornando raridade no Rio. Não fizemos o menor comentário, mas ali permanecemos alguns minutos, imóveis, perplexos, enquanto a água ia caindo. A casa estava rodeada por um mínimo jardim e tinha à frente um alpendre também pequenino, protegido da chuva. Nele, um casal de velhinhos conversava. 

  – Velhinhos na varanda! – gritei dentro de mim mesma, deslumbrada. – Que coisa mais linda, velhinhos na varanda! Os dois nem repararam em nossa presença curiosa, ou, se o fizeram, acharam-na corriqueira. Talvez estivessem acostumados a despertar a atenção dos que passavam, pois, ao vê-los, tive imediatamente a certeza de que sentar-se na varanda à hora da sesta era um ritual que ambos executavam regularmente. As cadeiras eram de vime, colocadas uma ao lado da outra; não havia mesa entre elas, só vasos com plantas e flores pelos cantos. Junto à porta aberta, um capacho. Os dois se olhavam, falavam sem pressa, quase sem gestos, e sorriam de leve. Tudo muito devagar, como se nada urgisse, e aquele colóquio, diante da chuva, tivesse a importância natural das coisas mais simples.

  Velhinhos na varanda.... Nem eram assim tão velhos – meu amigo e eu comentamos depois. O diminutivo surgia instintivamente, como demonstração de ternura, e me lembrei do que outro poeta, o Bandeira, explicava a respeito do Aleijadinho, cujo apelido refletia apenas a solidariedade e o carinho que a doença daquele mulato robusto e de boa altura despertava no povo da Vila Rica. Velhos na varanda – não, isso não expressa o que vimos. Eram um velhinho e uma velhinha, numa varanda de Ipanema (ou seria em Mariana?), conversando tranquilamente depois do almoço. Como não confiar na vida, depois desse flash apenas entrevisto, mas tão bonito, tão comovedor, que imediatamente se cristalizou em nós? Em janeiro de 1980, quando a cidade se desequilibra entre a inflação e a violência, quando o mundo assiste, aflito e impotente, aos desvarios que ameaçam dilacerá-lo, quando...

  Um casal de velhinhos se senta na varanda, num começo de tarde chuvosa, e conversa. Sobre quê? Sobre tudo, sobre nada – não interessa. Estão sentados e conversam. Ela nem sequer faz algum trabalho manual, uma blusinha de crochê para a neta, um paninho para colocar debaixo da fruteira da sala; ele não tem nenhum jornal ou livro no colo. Estão ali exclusivamente para conversar um com o outro. Olham a rua distraidamente. O fundamental são eles mesmos, conversando (pouco), sentados nas cadeiras de vime, num dia de semana como qualquer outro.

   É, nem tudo está perdido, pelo contrário, se ainda resta gente que pode e quer cultivar essas delicadas flores do espírito, comentando isso e aquilo, o namoro da empregada, a nova receita de bolo, o último capítulo da novela, o preço da alcatra – esquecida de tudo que é triste e feio e ruim, de tudo que não cabe naquele alpendre úmido. Velhinhos na varanda...

   Enquanto almoçamos, fico imaginando que não há de faltar muito para cumprirem as bodas de ouro; que os filhos se casaram; que devem reunir-se todos no sobrado, para o ajantarado de domingo, gente madura, jovens, meninos, bebês e babás, em torno dos dois velhinhos. Talvez tenham perdido uma filha ainda adolescente, vítima de alguma doença estranha que os médicos não souberam diagnosticar. Talvez tenham feito uma longa viagem à Europa depois que ele se aposentou, ou passado uma temporada nos Estados Unidos quando o caçula esteve completando o PhD. Talvez nada disso. Fico imaginando, mas nenhuma dessas histórias me seduz. Gostei mesmo é do que vi: o casal de velhinhos conversando na varanda.

  Comemos quase em silêncio, meu amigo e eu, sem reparar se a massa estava gostosa. À saída passamos diante do sobradinho, em cujo alpendre não havia mais ninguém.


(Coleção Melhores Crônicas: Maria Julieta Drummond de Andrade. Seleção e prefácio de Marcos Pasche. Global, 2012, pp.187-190. Publicada no livroUm buquê de alcachofras, 1980.)
A etimologia é um campo essencial nos estudos linguísticos, uma vez que possibilita o conhecimento dos processos de formação de palavras, o que colabora para a construção e a decodificação de significados, a expressão comunicacional mais eficiente e adequada e, por conseguinte, a expansão do léxico. Considere, portanto, o trecho: “Numa esquina de Ipanema encontramos um, semivazio, onde se costuma comer uma boa massa, e para lá nos dirigimos às carreiras, impulsionados pela fome e pela chuva.” (4º§). É correto afirmar que o vocábulo do primeiro aposto referente ao restaurante de que a autora fala no trecho é um exemplo de vocábulo formado por derivação:
Alternativas
Q2349024 Português
Na varanda 


   Já faz parte do anedotário lírico brasileiro aquele episódio (autêntico) de Murilo Mendes caminhando por uma rua, nem sei mais se de Minas ou do Rio. De repente vê uma moça debruçada na janela. Há tanto que não presenciava cena semelhante, comum no interior e em tempos idos, mas praticamente extinta na vida urbana, que, invocado e cheio de entusiasmo, ajoelhou-se e começou a exclamar aos berros, gesticulando com excitação:

   – Mulher na janela, que beleza! Mulher na janela, meus parabéns!

  A moça deve ter fugido assustada, provavelmente sem entender o que aquele homem alto e ossudo saudava com tamanha efusão. Como explicar-lhe que, com certeiro instinto, Murilo identificara e estava fixando para sempre, da maneira espontânea e exuberante que lhe era própria, um flagrante poético perfeito, o milagre que ela própria, sem perceber, corporizava? Moça que, em plena cidade e infensa à agitação a seu redor, dispunha ainda de lazer e prazer para pôr-se à janela e contemplar a rua, os transeuntes, a tarde, as nuvens. Mulher na janela...

  Pois a mim também, há pouco, me foi concedido o privilégio de captar um momento desses, tão impregnados de passado que dir-se-iam irreais nos dias de hoje – coisa de outra civilização. Eram quase duas horas de uma quarta-feira e buscávamos, meu amigo e eu, um lugar tranquilo para almoçar. Apesar do mau tempo, ou por causa dele, todos os restaurantes do Leblon, com mesinhas na calçada, estavam repletos. Numa esquina de Ipanema encontramos um, semivazio, onde se costuma comer uma boa massa, e para lá nos dirigimos às carreiras, impulsionados pela fome e pela chuva. De repente, estacamos diante de um sobradinho, desses que vão se tornando raridade no Rio. Não fizemos o menor comentário, mas ali permanecemos alguns minutos, imóveis, perplexos, enquanto a água ia caindo. A casa estava rodeada por um mínimo jardim e tinha à frente um alpendre também pequenino, protegido da chuva. Nele, um casal de velhinhos conversava. 

  – Velhinhos na varanda! – gritei dentro de mim mesma, deslumbrada. – Que coisa mais linda, velhinhos na varanda! Os dois nem repararam em nossa presença curiosa, ou, se o fizeram, acharam-na corriqueira. Talvez estivessem acostumados a despertar a atenção dos que passavam, pois, ao vê-los, tive imediatamente a certeza de que sentar-se na varanda à hora da sesta era um ritual que ambos executavam regularmente. As cadeiras eram de vime, colocadas uma ao lado da outra; não havia mesa entre elas, só vasos com plantas e flores pelos cantos. Junto à porta aberta, um capacho. Os dois se olhavam, falavam sem pressa, quase sem gestos, e sorriam de leve. Tudo muito devagar, como se nada urgisse, e aquele colóquio, diante da chuva, tivesse a importância natural das coisas mais simples.

  Velhinhos na varanda.... Nem eram assim tão velhos – meu amigo e eu comentamos depois. O diminutivo surgia instintivamente, como demonstração de ternura, e me lembrei do que outro poeta, o Bandeira, explicava a respeito do Aleijadinho, cujo apelido refletia apenas a solidariedade e o carinho que a doença daquele mulato robusto e de boa altura despertava no povo da Vila Rica. Velhos na varanda – não, isso não expressa o que vimos. Eram um velhinho e uma velhinha, numa varanda de Ipanema (ou seria em Mariana?), conversando tranquilamente depois do almoço. Como não confiar na vida, depois desse flash apenas entrevisto, mas tão bonito, tão comovedor, que imediatamente se cristalizou em nós? Em janeiro de 1980, quando a cidade se desequilibra entre a inflação e a violência, quando o mundo assiste, aflito e impotente, aos desvarios que ameaçam dilacerá-lo, quando...

  Um casal de velhinhos se senta na varanda, num começo de tarde chuvosa, e conversa. Sobre quê? Sobre tudo, sobre nada – não interessa. Estão sentados e conversam. Ela nem sequer faz algum trabalho manual, uma blusinha de crochê para a neta, um paninho para colocar debaixo da fruteira da sala; ele não tem nenhum jornal ou livro no colo. Estão ali exclusivamente para conversar um com o outro. Olham a rua distraidamente. O fundamental são eles mesmos, conversando (pouco), sentados nas cadeiras de vime, num dia de semana como qualquer outro.

   É, nem tudo está perdido, pelo contrário, se ainda resta gente que pode e quer cultivar essas delicadas flores do espírito, comentando isso e aquilo, o namoro da empregada, a nova receita de bolo, o último capítulo da novela, o preço da alcatra – esquecida de tudo que é triste e feio e ruim, de tudo que não cabe naquele alpendre úmido. Velhinhos na varanda...

   Enquanto almoçamos, fico imaginando que não há de faltar muito para cumprirem as bodas de ouro; que os filhos se casaram; que devem reunir-se todos no sobrado, para o ajantarado de domingo, gente madura, jovens, meninos, bebês e babás, em torno dos dois velhinhos. Talvez tenham perdido uma filha ainda adolescente, vítima de alguma doença estranha que os médicos não souberam diagnosticar. Talvez tenham feito uma longa viagem à Europa depois que ele se aposentou, ou passado uma temporada nos Estados Unidos quando o caçula esteve completando o PhD. Talvez nada disso. Fico imaginando, mas nenhuma dessas histórias me seduz. Gostei mesmo é do que vi: o casal de velhinhos conversando na varanda.

  Comemos quase em silêncio, meu amigo e eu, sem reparar se a massa estava gostosa. À saída passamos diante do sobradinho, em cujo alpendre não havia mais ninguém.


(Coleção Melhores Crônicas: Maria Julieta Drummond de Andrade. Seleção e prefácio de Marcos Pasche. Global, 2012, pp.187-190. Publicada no livroUm buquê de alcachofras, 1980.)
Considere o trecho: “Como não confiar na vida, depois desse flash apenas entrevisto, mas tão bonito, tão comovedor, que imediatamente se cristalizou em nós?” (7º§). O termo sublinhado “flash” constitui um exemplo de empréstimo linguístico advindo de outro idioma e incorporado a um contexto de língua portuguesa. A esse processo dá-se o nome de:
Alternativas
Q2348829 Português
Assinale a frase que mostra uma quantidade definida. 
Alternativas
Q2348691 Português
Entre as frases abaixo, assinale aquela em que houve a rescrita da frase com a retirada do advérbio “não”, mantendo-se o sentido original da frase, de forma inadequada.
Alternativas
Q2348689 Português
Assinale a frase em que a conjunção E tem valor adversativo.
Alternativas
Q2348688 Português
Assinale a frase em que a preposição até mostra valor semântico diferente dos demais. 
Alternativas
Q2348687 Português
Assinale a opção em que o termo sublinhado funciona como adjunto adnominal (preposição nocional) e não complemento nominal (preposição gramatical).
Alternativas
Respostas
1161: D
1162: E
1163: D
1164: D
1165: D
1166: D
1167: C
1168: D
1169: A
1170: A
1171: D
1172: D
1173: C
1174: B
1175: D
1176: C
1177: B
1178: A
1179: A
1180: C