Questões de Concurso Sobre morfologia em português

Foram encontradas 20.227 questões

Q2087482 Português

Releia o trecho a seguir.

“[...] inclusive tirou uma foto enquanto a administrava, conforme revelou o veículo especializado Technology Review.”

A palavra destacada, nesse contexto, é classificada como:

Alternativas
Q2087481 Português

Releia o trecho a seguir.

“O documento científico da Radvac adverte que a vacina não tem nenhuma eficácia demonstrada, não foi aprovada pelas autoridades e pode causar efeitos secundários, embora não descreva uma forma de controlar as reações adversas.”


A conjunção destacada confere ao trecho uma ideia:

Alternativas
Q2087476 Português

Releio o trecho a seguir.


"[...] minando essa confiança com uma narrativa antissistema."


Assinale a alternativa a seguir em que a palavra destacada possui o mesmo processo de formação da palavra destacada no trecho anterior.

Alternativas
Q2087345 Português

Festa íntima

    Nem todos têm a fortuna de comemorar o décimo aniversário de seu automóvel. Os que têm não se podem furtar ao prazer de uma festa íntima, com recordações amáveis e o elogio do aniversariante.

    O nosso encontro deu-se numa pequena e adorável cidade da Holanda. Pela avenida principal, vejo-lhe ainda as árvores, o vento que descia os degraus dourados do sol. Muitos adolescentes a caminho da escola. Um ritmo de alegria matinal, simples e comunicativo.

    O automóvel resplandecia na perfeição intacta da sua recente fabricação. O vendedor fitava-o com orgulho, amava- -o com um amor de especialista, grave e sincero. Nós o amávamos timidamente, ainda, contemplando-lhe linhas, esmaltes, metais, forro... – mas o vendedor proclamava, acima de tudo, a excelência da máquina. Era um homem sensível e engenhoso. Até nos queria vender um dispositivo especial que fazia descer uma leve cortina d’água para lavar o vidro da frente.

    Partimos emocionados. O vendedor dizia-nos adeus com bondade. Recomendava-nos certo óleo, moderação na rodagem... E quando nos voltamos, na derradeira despedida, continuava a acompanhar o carro com olhos de pai despedindo- -se de um filho.

    Ele aprendeu a rodar pela terra da Holanda, e seu padrinho foi um holandês. Entre as nuvens de bicicletas daquelas encantadoras cidades, sua presença era um pouco escandalosa.

    Em cada posto de gasolina, todos o vinham observar por dentro e por fora. Os entendidos em máquinas caíam em êxtase. Era um assombro, o que viam e o que adivinhavam.

    E assim foi ele vivendo a sua infância pelos campos floridos da Bélgica, fazendo levantar os olhos aos belos cavalos brancos que pasciam; e conheceu os castelos do Loire e a luz formosa do sul da França; e deslumbrou as donzelinhas espanholas que passavam pela tarde, abraçadas e risonhas, e deslizou pelas estradas de Portugal.

    E assim chegou ao Brasil, viu as paisagens cariocas, fluminenses, mineiras e paulistas. Talvez estranhasse, às vezes, o clima (ah! os patrões obrigam a tanto)!

     Mas logo as distâncias o seduziam e atirava-se por elas feliz e leve como se fosse voar.

    Carro tão sensato jamais houve: não cometeu nunca a menor infração e até se desvia a tempo para que os outros não as cometam. Com o tempo, tem tido suas pequenas crises: mas os mecânicos continuam a amá-lo tanto quanto seu vendedor, e tratam-no com o carinho de um médico devotado por um paciente precioso.

    E eis que agora cumpre dez anos. E jamais nos ocorreria trocá-lo por outro mais novo, fosse qual fosse a atração do modelo. Nós o amamos como a uma pessoa viva, a um amigo fiel, a um companheiro impecável. Faz parte da família. Vence todos os obstáculos das estradas e das ruas, resiste a todas as gasolinas; quando enguiça é porque as adversidades são enormes. Outros, quebravam-se. Ele para, espera que o ajudem, e logo recupera seu alento, sua coragem, sua vontade de bem servir. Mesmo entre as criaturas humanas, poucos se lhe podem comparar.

    Eis porque festejamos com ternura este aniversário. Que lhe podemos oferecer de presente? Uma boa lubrificação, um bom passeio por uma bela estrada, ao longo da qual se possa expandir seu coração trabalhador. E buzinaremos a nossa alegria por onde passarmos, celebrando as suas virtudes e proclamando-lhe a nossa gratidão.

(Cecília Meireles. Literatura Comentada. Inéditos, 1968. Editora Abril.)

Assinale a alternativa INADEQUADA quanto à classificação semântica das palavras destacadas.
Alternativas
Q2087339 Português

Festa íntima

    Nem todos têm a fortuna de comemorar o décimo aniversário de seu automóvel. Os que têm não se podem furtar ao prazer de uma festa íntima, com recordações amáveis e o elogio do aniversariante.

    O nosso encontro deu-se numa pequena e adorável cidade da Holanda. Pela avenida principal, vejo-lhe ainda as árvores, o vento que descia os degraus dourados do sol. Muitos adolescentes a caminho da escola. Um ritmo de alegria matinal, simples e comunicativo.

    O automóvel resplandecia na perfeição intacta da sua recente fabricação. O vendedor fitava-o com orgulho, amava- -o com um amor de especialista, grave e sincero. Nós o amávamos timidamente, ainda, contemplando-lhe linhas, esmaltes, metais, forro... – mas o vendedor proclamava, acima de tudo, a excelência da máquina. Era um homem sensível e engenhoso. Até nos queria vender um dispositivo especial que fazia descer uma leve cortina d’água para lavar o vidro da frente.

    Partimos emocionados. O vendedor dizia-nos adeus com bondade. Recomendava-nos certo óleo, moderação na rodagem... E quando nos voltamos, na derradeira despedida, continuava a acompanhar o carro com olhos de pai despedindo- -se de um filho.

    Ele aprendeu a rodar pela terra da Holanda, e seu padrinho foi um holandês. Entre as nuvens de bicicletas daquelas encantadoras cidades, sua presença era um pouco escandalosa.

    Em cada posto de gasolina, todos o vinham observar por dentro e por fora. Os entendidos em máquinas caíam em êxtase. Era um assombro, o que viam e o que adivinhavam.

    E assim foi ele vivendo a sua infância pelos campos floridos da Bélgica, fazendo levantar os olhos aos belos cavalos brancos que pasciam; e conheceu os castelos do Loire e a luz formosa do sul da França; e deslumbrou as donzelinhas espanholas que passavam pela tarde, abraçadas e risonhas, e deslizou pelas estradas de Portugal.

    E assim chegou ao Brasil, viu as paisagens cariocas, fluminenses, mineiras e paulistas. Talvez estranhasse, às vezes, o clima (ah! os patrões obrigam a tanto)!

     Mas logo as distâncias o seduziam e atirava-se por elas feliz e leve como se fosse voar.

    Carro tão sensato jamais houve: não cometeu nunca a menor infração e até se desvia a tempo para que os outros não as cometam. Com o tempo, tem tido suas pequenas crises: mas os mecânicos continuam a amá-lo tanto quanto seu vendedor, e tratam-no com o carinho de um médico devotado por um paciente precioso.

    E eis que agora cumpre dez anos. E jamais nos ocorreria trocá-lo por outro mais novo, fosse qual fosse a atração do modelo. Nós o amamos como a uma pessoa viva, a um amigo fiel, a um companheiro impecável. Faz parte da família. Vence todos os obstáculos das estradas e das ruas, resiste a todas as gasolinas; quando enguiça é porque as adversidades são enormes. Outros, quebravam-se. Ele para, espera que o ajudem, e logo recupera seu alento, sua coragem, sua vontade de bem servir. Mesmo entre as criaturas humanas, poucos se lhe podem comparar.

    Eis porque festejamos com ternura este aniversário. Que lhe podemos oferecer de presente? Uma boa lubrificação, um bom passeio por uma bela estrada, ao longo da qual se possa expandir seu coração trabalhador. E buzinaremos a nossa alegria por onde passarmos, celebrando as suas virtudes e proclamando-lhe a nossa gratidão.

(Cecília Meireles. Literatura Comentada. Inéditos, 1968. Editora Abril.)

Assinale a alternativa em que o termo destacado NÃO pertence à classe gramatical dos demais. 
Alternativas
Q2087123 Português

Desmatamento e caça ilegal podem causar novas epidemias no Brasil, diz estudo da Fiocruz

(Lucas Rocha, da CNN em São Paulo.)


    Conhecido por sua grande biodiversidade de animais e vegetais, o Brasil também abriga uma variedade significativa de agentes capazes de causar doenças, tecnicamente chamados de “patógenos”, como vírus e parasitas.

    Antes mesmo da emergência do coronavírus no final de 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) tem alertado sobre os riscos do surgimento de doenças com potencial de se espalhar pelo mundo e afetar grandes populações em todos os países.

    Ao levantarem essa possibilidade, cientistas brasileiros investigaram características do país que podem favorecer o contato dos seres humanos com microrganismos que podem apresentar riscos para a saúde.

    Um estudo liderado por pesquisadoras do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), no Rio de Janeiro, aponta recentes aumentos nas vulnerabilidades sociais e ecológicas do país, amplificados pelos atuais cenários políticos e econômicos.

    Os achados, publicados na revista científica Science Advances, indicam uma propensão dessa megadiversidade atuar como incubadora de possível pandemia provocada por doenças infecciosas de circulação animal que podem ser transmitidas para os seres humanos – as chamadas zoonoses.

    “A partir de um modelo de avaliação que identifica diferentes interações entre os elementos que investigamos, conseguimos observar mais amplamente os processos que moldam o surgimento de zoonoses em cada estado brasileiro”, aponta Gisele Winck, primeira autora do artigo e pesquisadora do Laboratório de Biologia e Parasitologia de Mamíferos Silvestres Reservatórios do IOC, em comunicado.

    De acordo com os especialistas, três principais componentes de risco estão em foco na avaliação: vulnerabilidade, exposição e capacidade de enfrentamento.

    Dentro dos grupos principais, são observadas variáveis mais específicas como a quantidade de espécies de mamíferos silvestres, perda de vegetação natural, mudanças nos padrões de uso da terra, bem-estar social, conectividade geográfica de cidades e aspectos econômicos.

    De acordo com o estudo, os resultados colocam em evidência o desmatamento e a caça de animais silvestres como fatores de grande relevância para o aparecimento de novas e antigas infecções.

    O estudo aponta, ainda, que todo o território brasileiro está suscetível a emergências ocasionadas por zoonoses, com uma maior probabilidade em áreas sob influência da Floresta Amazônica.

     Na análise, os especialistas traçam um comparativo entre os estados do Maranhão e do Ceará, na região Nordeste. 

    O Maranhão, que possui cerca de 34% do seu território coberto pela floresta tropical, é classificado como área com alto risco para surtos de zoonose. Enquanto o Ceará, estado vizinho, onde a Caatinga prevalece, apresenta baixo risco no surgimento de novas doenças.

    “A Floresta Amazônica é uma região com alta diversidade de mamíferos selvagens e que vem sofrendo grande perda da cobertura florestal. Muitas espécies estão ficando sem habitat devido ao desmatamento, gerando desequilíbrio na dinâmica local”, diz Cecília Siliansky de Andreazzi, uma das autoras do artigo e, também, pesquisadora do Laboratório de Biologia e Parasitologia de Mamíferos Silvestres Reservatórios.

    Risco de “transbordamento”

     O contágio por infecções de origem animal acontece por meio de um fenômeno conhecido como “spillover”. O “transbordamento”, em tradução literal, é quando os agentes causadores de doença que circulavam restritamente em um grupo animal “saltam” e passam a infectar outras espécies, incluindo humanos. 

    A expansão das atividades humanas para regiões de matas e florestas, naturalmente habitadas por animais silvestres, é um aspecto que favorece ainda mais esse cenário, de acordo com as pesquisadoras. 

    No entanto, o estudo ressalta que para uma zoonose se tornar epidêmica é necessário o alinhamento de diferentes fatores ecológicos, epidemiológicos e comportamentais, incluindo a mobilidade humana como um fator de importância. 

    No Brasil, a dependência socioeconômica de cidades menores com capitais e grandes metrópoles aumenta o potencial epidêmico das zoonoses, uma vez que habitantes de regiões interioranas precisam realizar deslocamentos frequentes em busca de bens e serviços. 

    “O fluxo humano é crucial no espalhamento de zoonoses, principalmente em infecções cuja transmissão ocorre de pessoa para pessoa após o salto de espécies, como é o caso da Covid-19. A partir do momento em que esses patógenos alcançam cidades super espalhadoras, como São Paulo e Manaus, a transmissão é amplificada e exportada para diversas outras regiões”, diz Cecília.

    A carne de caça é outra via crítica para o “transbordamento” de doenças. Em uma análise de rede, foram relacionadas espécies que são frequentemente caçadas de modo ilegal no Brasil com agentes que potencialmente causariam danos graves à saúde pública. Como resultado, foram encontrados 63 mamíferos que interagem com 173 parasitas propícios a causar pelo menos 76 diferentes doenças.

    “A infecção pode ocorrer em diversas etapas: ao adentrar a floresta, quando o caçador fica exposto a mosquitos, carrapatos e diversos outros vetores de patógenos; no ato da caça, ao sofrer um corte ou arranhão que entre em contato com fluidos animais; no preparo da carne, quando há o contato direto com vísceras, que também são comumente oferecidas como alimentos crus para cães e gatos de estimação; e no consumo final da carne, caso não seja bem armazenada ou cozida”, explica Gisele.

    Como a atividade ainda é essencial para populações tradicionais que utilizam a carne de caça para subsistência, os especialistas fazem um recorte de situação no artigo e recomendam a implementação de ações pontuais de garantia da segurança sanitária nesses grupos.

    “É algo que precisa ser bastante discutido e avaliado. A caça é autorizada apenas para os povos tradicionais, porém ela continua ocorrendo fora desses grupos e serve como fator de interação entre pessoas e animais silvestres reservatórios de patógenos. Infelizmente, todos acabam sendo tratados erroneamente como iguais. É preciso diferenciar populações que dependem desse consumo como fonte de proteína daqueles que atuam no tráfico de animal silvestre ou caça esportiva”, lembrou Cecília.

    Vigilância

    O estudo aponta o investimento em ações do Sistema Único de Saúde (SUS) como a principal forma de mitigar os efeitos do surgimento de uma zoonose.

     De acordo com o artigo, a contenção de zoonoses ocorrerá efetivamente com a promoção de políticas públicas de saúde que apoiem abordagens preditivas e preventivas que sigam o conceito de Saúde Única (One Health), que considera a saúde humana, animal e ambiental para a manutenção do bem-estar no planeta.

    Entre as ações preconizadas, estão a implementação de sistemas de monitoramento eficazes integrados com vigilância epidemiológica de potenciais doenças zoonóticas, políticas mais amplas e inovadoras que mitiguem a degradação ambiental, fiscalização do tráfico de animais silvestres e novas abordagens para a conservação da biodiversidade.

    “O que define se o surgimento de uma zoonose será um surto local, epidemia ou pandemia é como iremos lidar com a situação. Temos que pensar em como faremos um monitoramento eficiente de um país grande e diverso como o nosso”, afirma Gisele.

    Lições da Covid-19

    O estudo teve origem em uma carta publicada em setembro de 2020 na revista The Lancet. Na época, os autores do texto apontavam retrocessos em políticas sociais e ambientais do Brasil, que podiam contribuir para a ocorrência de infecções causadas por microrganismos de origem animal. Os especialistas defendiam, ainda, a criação de um sistema integrado de vigilância de doenças silvestres.


    “Após a publicação da carta, iniciamos uma reflexão mais aprofundada e detalhada sobre o potencial risco de emergências de zoonoses no Brasil. Esse artigo é fruto de muita pesquisa e discussão entre os pesquisadores desse grupo, visto que são assuntos complexos e que demandam uma busca por informação em variadas fontes”, disse Gisele.

    A pesquisa foi realizada por um grupo de especialistas composto por profissionais de diferentes áreas, que atuam em saúde pública e conservação do meio ambiente. A publicação faz parte do projeto SinBiose do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

    Participam do trabalho pesquisadores da Vice-Presidência de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, do Laboratório de Virologia Comparada e Ambiental do IOC, da Fiocruz Ceará, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e da Universidade Estadual do Ceará (UECE). O estudo também contou com a colaboração de especialistas da Faculdade Maurício de Nassau, da União Internacional para a Conservação da Natureza, da Universidade de Aveiro e da Universidade de Coimbra.


(CNN. Desmatamento e caça ilegal podem causar novas epidemias no Brasil, diz estudo da Fiocruz. 29/06/2022. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/. Acesso em: 04/01/2023.)

Considerando a norma culta da língua portuguesa, analise as afirmativas a seguir.
I. Em “O estudo aponta, ainda, que todo o território brasileiro está suscetível a emergências ocasionadas por zoonoses, com uma maior probabilidade em áreas sob influência da Floresta Amazônica.” (10º§), o termo suscetível pode ser substituído por propenso, sem que haja alteração substancial de sentido. II. Autoriza-se a caça apenas para os povos tradicionais é uma reescrita que não acarreta alteração substancial de sentido da sentença “A caça é autorizada apenas para os povos tradicionais, [...]” (22º§). III. Em “Na época, os autores do texto apontavam retrocessos em políticas sociais e ambientais do Brasil, que podiam contribuir para a ocorrência de infecções causadas por microrganismos de origem animal.” (27º§), a palavra microrganismos está incorretamente grafada. IV. Em “No Brasil, a dependência socioeconômica de cidades menores com capitais e grandes metrópoles aumenta o potencial epidêmico das zoonoses, uma vez que habitantes de regiões interioranas precisam realizar deslocamentos frequentes em busca de bens e serviços.” (17º§), a conjunção uma vez que tem o mesmo valor semântico de porquanto.
Está correto o que se afirma apenas em
Alternativas
Q2087119 Português

Desmatamento e caça ilegal podem causar novas epidemias no Brasil, diz estudo da Fiocruz

(Lucas Rocha, da CNN em São Paulo.)


    Conhecido por sua grande biodiversidade de animais e vegetais, o Brasil também abriga uma variedade significativa de agentes capazes de causar doenças, tecnicamente chamados de “patógenos”, como vírus e parasitas.

    Antes mesmo da emergência do coronavírus no final de 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) tem alertado sobre os riscos do surgimento de doenças com potencial de se espalhar pelo mundo e afetar grandes populações em todos os países.

    Ao levantarem essa possibilidade, cientistas brasileiros investigaram características do país que podem favorecer o contato dos seres humanos com microrganismos que podem apresentar riscos para a saúde.

    Um estudo liderado por pesquisadoras do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), no Rio de Janeiro, aponta recentes aumentos nas vulnerabilidades sociais e ecológicas do país, amplificados pelos atuais cenários políticos e econômicos.

    Os achados, publicados na revista científica Science Advances, indicam uma propensão dessa megadiversidade atuar como incubadora de possível pandemia provocada por doenças infecciosas de circulação animal que podem ser transmitidas para os seres humanos – as chamadas zoonoses.

    “A partir de um modelo de avaliação que identifica diferentes interações entre os elementos que investigamos, conseguimos observar mais amplamente os processos que moldam o surgimento de zoonoses em cada estado brasileiro”, aponta Gisele Winck, primeira autora do artigo e pesquisadora do Laboratório de Biologia e Parasitologia de Mamíferos Silvestres Reservatórios do IOC, em comunicado.

    De acordo com os especialistas, três principais componentes de risco estão em foco na avaliação: vulnerabilidade, exposição e capacidade de enfrentamento.

    Dentro dos grupos principais, são observadas variáveis mais específicas como a quantidade de espécies de mamíferos silvestres, perda de vegetação natural, mudanças nos padrões de uso da terra, bem-estar social, conectividade geográfica de cidades e aspectos econômicos.

    De acordo com o estudo, os resultados colocam em evidência o desmatamento e a caça de animais silvestres como fatores de grande relevância para o aparecimento de novas e antigas infecções.

    O estudo aponta, ainda, que todo o território brasileiro está suscetível a emergências ocasionadas por zoonoses, com uma maior probabilidade em áreas sob influência da Floresta Amazônica.

     Na análise, os especialistas traçam um comparativo entre os estados do Maranhão e do Ceará, na região Nordeste. 

    O Maranhão, que possui cerca de 34% do seu território coberto pela floresta tropical, é classificado como área com alto risco para surtos de zoonose. Enquanto o Ceará, estado vizinho, onde a Caatinga prevalece, apresenta baixo risco no surgimento de novas doenças.

    “A Floresta Amazônica é uma região com alta diversidade de mamíferos selvagens e que vem sofrendo grande perda da cobertura florestal. Muitas espécies estão ficando sem habitat devido ao desmatamento, gerando desequilíbrio na dinâmica local”, diz Cecília Siliansky de Andreazzi, uma das autoras do artigo e, também, pesquisadora do Laboratório de Biologia e Parasitologia de Mamíferos Silvestres Reservatórios.

    Risco de “transbordamento”

     O contágio por infecções de origem animal acontece por meio de um fenômeno conhecido como “spillover”. O “transbordamento”, em tradução literal, é quando os agentes causadores de doença que circulavam restritamente em um grupo animal “saltam” e passam a infectar outras espécies, incluindo humanos. 

    A expansão das atividades humanas para regiões de matas e florestas, naturalmente habitadas por animais silvestres, é um aspecto que favorece ainda mais esse cenário, de acordo com as pesquisadoras. 

    No entanto, o estudo ressalta que para uma zoonose se tornar epidêmica é necessário o alinhamento de diferentes fatores ecológicos, epidemiológicos e comportamentais, incluindo a mobilidade humana como um fator de importância. 

    No Brasil, a dependência socioeconômica de cidades menores com capitais e grandes metrópoles aumenta o potencial epidêmico das zoonoses, uma vez que habitantes de regiões interioranas precisam realizar deslocamentos frequentes em busca de bens e serviços. 

    “O fluxo humano é crucial no espalhamento de zoonoses, principalmente em infecções cuja transmissão ocorre de pessoa para pessoa após o salto de espécies, como é o caso da Covid-19. A partir do momento em que esses patógenos alcançam cidades super espalhadoras, como São Paulo e Manaus, a transmissão é amplificada e exportada para diversas outras regiões”, diz Cecília.

    A carne de caça é outra via crítica para o “transbordamento” de doenças. Em uma análise de rede, foram relacionadas espécies que são frequentemente caçadas de modo ilegal no Brasil com agentes que potencialmente causariam danos graves à saúde pública. Como resultado, foram encontrados 63 mamíferos que interagem com 173 parasitas propícios a causar pelo menos 76 diferentes doenças.

    “A infecção pode ocorrer em diversas etapas: ao adentrar a floresta, quando o caçador fica exposto a mosquitos, carrapatos e diversos outros vetores de patógenos; no ato da caça, ao sofrer um corte ou arranhão que entre em contato com fluidos animais; no preparo da carne, quando há o contato direto com vísceras, que também são comumente oferecidas como alimentos crus para cães e gatos de estimação; e no consumo final da carne, caso não seja bem armazenada ou cozida”, explica Gisele.

    Como a atividade ainda é essencial para populações tradicionais que utilizam a carne de caça para subsistência, os especialistas fazem um recorte de situação no artigo e recomendam a implementação de ações pontuais de garantia da segurança sanitária nesses grupos.

    “É algo que precisa ser bastante discutido e avaliado. A caça é autorizada apenas para os povos tradicionais, porém ela continua ocorrendo fora desses grupos e serve como fator de interação entre pessoas e animais silvestres reservatórios de patógenos. Infelizmente, todos acabam sendo tratados erroneamente como iguais. É preciso diferenciar populações que dependem desse consumo como fonte de proteína daqueles que atuam no tráfico de animal silvestre ou caça esportiva”, lembrou Cecília.

    Vigilância

    O estudo aponta o investimento em ações do Sistema Único de Saúde (SUS) como a principal forma de mitigar os efeitos do surgimento de uma zoonose.

     De acordo com o artigo, a contenção de zoonoses ocorrerá efetivamente com a promoção de políticas públicas de saúde que apoiem abordagens preditivas e preventivas que sigam o conceito de Saúde Única (One Health), que considera a saúde humana, animal e ambiental para a manutenção do bem-estar no planeta.

    Entre as ações preconizadas, estão a implementação de sistemas de monitoramento eficazes integrados com vigilância epidemiológica de potenciais doenças zoonóticas, políticas mais amplas e inovadoras que mitiguem a degradação ambiental, fiscalização do tráfico de animais silvestres e novas abordagens para a conservação da biodiversidade.

    “O que define se o surgimento de uma zoonose será um surto local, epidemia ou pandemia é como iremos lidar com a situação. Temos que pensar em como faremos um monitoramento eficiente de um país grande e diverso como o nosso”, afirma Gisele.

    Lições da Covid-19

    O estudo teve origem em uma carta publicada em setembro de 2020 na revista The Lancet. Na época, os autores do texto apontavam retrocessos em políticas sociais e ambientais do Brasil, que podiam contribuir para a ocorrência de infecções causadas por microrganismos de origem animal. Os especialistas defendiam, ainda, a criação de um sistema integrado de vigilância de doenças silvestres.


    “Após a publicação da carta, iniciamos uma reflexão mais aprofundada e detalhada sobre o potencial risco de emergências de zoonoses no Brasil. Esse artigo é fruto de muita pesquisa e discussão entre os pesquisadores desse grupo, visto que são assuntos complexos e que demandam uma busca por informação em variadas fontes”, disse Gisele.

    A pesquisa foi realizada por um grupo de especialistas composto por profissionais de diferentes áreas, que atuam em saúde pública e conservação do meio ambiente. A publicação faz parte do projeto SinBiose do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

    Participam do trabalho pesquisadores da Vice-Presidência de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, do Laboratório de Virologia Comparada e Ambiental do IOC, da Fiocruz Ceará, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e da Universidade Estadual do Ceará (UECE). O estudo também contou com a colaboração de especialistas da Faculdade Maurício de Nassau, da União Internacional para a Conservação da Natureza, da Universidade de Aveiro e da Universidade de Coimbra.


(CNN. Desmatamento e caça ilegal podem causar novas epidemias no Brasil, diz estudo da Fiocruz. 29/06/2022. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/. Acesso em: 04/01/2023.)

Em “Como a atividade ainda é essencial para populações tradicionais que utilizam a carne de caça para subsistência, os especialistas fazem um recorte de situação no artigo [...]” (21º§), a conjunção destacada estabelece com a terceira oração do período uma relação semântica de
Alternativas
Q2087118 Português

Desmatamento e caça ilegal podem causar novas epidemias no Brasil, diz estudo da Fiocruz

(Lucas Rocha, da CNN em São Paulo.)


    Conhecido por sua grande biodiversidade de animais e vegetais, o Brasil também abriga uma variedade significativa de agentes capazes de causar doenças, tecnicamente chamados de “patógenos”, como vírus e parasitas.

    Antes mesmo da emergência do coronavírus no final de 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) tem alertado sobre os riscos do surgimento de doenças com potencial de se espalhar pelo mundo e afetar grandes populações em todos os países.

    Ao levantarem essa possibilidade, cientistas brasileiros investigaram características do país que podem favorecer o contato dos seres humanos com microrganismos que podem apresentar riscos para a saúde.

    Um estudo liderado por pesquisadoras do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), no Rio de Janeiro, aponta recentes aumentos nas vulnerabilidades sociais e ecológicas do país, amplificados pelos atuais cenários políticos e econômicos.

    Os achados, publicados na revista científica Science Advances, indicam uma propensão dessa megadiversidade atuar como incubadora de possível pandemia provocada por doenças infecciosas de circulação animal que podem ser transmitidas para os seres humanos – as chamadas zoonoses.

    “A partir de um modelo de avaliação que identifica diferentes interações entre os elementos que investigamos, conseguimos observar mais amplamente os processos que moldam o surgimento de zoonoses em cada estado brasileiro”, aponta Gisele Winck, primeira autora do artigo e pesquisadora do Laboratório de Biologia e Parasitologia de Mamíferos Silvestres Reservatórios do IOC, em comunicado.

    De acordo com os especialistas, três principais componentes de risco estão em foco na avaliação: vulnerabilidade, exposição e capacidade de enfrentamento.

    Dentro dos grupos principais, são observadas variáveis mais específicas como a quantidade de espécies de mamíferos silvestres, perda de vegetação natural, mudanças nos padrões de uso da terra, bem-estar social, conectividade geográfica de cidades e aspectos econômicos.

    De acordo com o estudo, os resultados colocam em evidência o desmatamento e a caça de animais silvestres como fatores de grande relevância para o aparecimento de novas e antigas infecções.

    O estudo aponta, ainda, que todo o território brasileiro está suscetível a emergências ocasionadas por zoonoses, com uma maior probabilidade em áreas sob influência da Floresta Amazônica.

     Na análise, os especialistas traçam um comparativo entre os estados do Maranhão e do Ceará, na região Nordeste. 

    O Maranhão, que possui cerca de 34% do seu território coberto pela floresta tropical, é classificado como área com alto risco para surtos de zoonose. Enquanto o Ceará, estado vizinho, onde a Caatinga prevalece, apresenta baixo risco no surgimento de novas doenças.

    “A Floresta Amazônica é uma região com alta diversidade de mamíferos selvagens e que vem sofrendo grande perda da cobertura florestal. Muitas espécies estão ficando sem habitat devido ao desmatamento, gerando desequilíbrio na dinâmica local”, diz Cecília Siliansky de Andreazzi, uma das autoras do artigo e, também, pesquisadora do Laboratório de Biologia e Parasitologia de Mamíferos Silvestres Reservatórios.

    Risco de “transbordamento”

     O contágio por infecções de origem animal acontece por meio de um fenômeno conhecido como “spillover”. O “transbordamento”, em tradução literal, é quando os agentes causadores de doença que circulavam restritamente em um grupo animal “saltam” e passam a infectar outras espécies, incluindo humanos. 

    A expansão das atividades humanas para regiões de matas e florestas, naturalmente habitadas por animais silvestres, é um aspecto que favorece ainda mais esse cenário, de acordo com as pesquisadoras. 

    No entanto, o estudo ressalta que para uma zoonose se tornar epidêmica é necessário o alinhamento de diferentes fatores ecológicos, epidemiológicos e comportamentais, incluindo a mobilidade humana como um fator de importância. 

    No Brasil, a dependência socioeconômica de cidades menores com capitais e grandes metrópoles aumenta o potencial epidêmico das zoonoses, uma vez que habitantes de regiões interioranas precisam realizar deslocamentos frequentes em busca de bens e serviços. 

    “O fluxo humano é crucial no espalhamento de zoonoses, principalmente em infecções cuja transmissão ocorre de pessoa para pessoa após o salto de espécies, como é o caso da Covid-19. A partir do momento em que esses patógenos alcançam cidades super espalhadoras, como São Paulo e Manaus, a transmissão é amplificada e exportada para diversas outras regiões”, diz Cecília.

    A carne de caça é outra via crítica para o “transbordamento” de doenças. Em uma análise de rede, foram relacionadas espécies que são frequentemente caçadas de modo ilegal no Brasil com agentes que potencialmente causariam danos graves à saúde pública. Como resultado, foram encontrados 63 mamíferos que interagem com 173 parasitas propícios a causar pelo menos 76 diferentes doenças.

    “A infecção pode ocorrer em diversas etapas: ao adentrar a floresta, quando o caçador fica exposto a mosquitos, carrapatos e diversos outros vetores de patógenos; no ato da caça, ao sofrer um corte ou arranhão que entre em contato com fluidos animais; no preparo da carne, quando há o contato direto com vísceras, que também são comumente oferecidas como alimentos crus para cães e gatos de estimação; e no consumo final da carne, caso não seja bem armazenada ou cozida”, explica Gisele.

    Como a atividade ainda é essencial para populações tradicionais que utilizam a carne de caça para subsistência, os especialistas fazem um recorte de situação no artigo e recomendam a implementação de ações pontuais de garantia da segurança sanitária nesses grupos.

    “É algo que precisa ser bastante discutido e avaliado. A caça é autorizada apenas para os povos tradicionais, porém ela continua ocorrendo fora desses grupos e serve como fator de interação entre pessoas e animais silvestres reservatórios de patógenos. Infelizmente, todos acabam sendo tratados erroneamente como iguais. É preciso diferenciar populações que dependem desse consumo como fonte de proteína daqueles que atuam no tráfico de animal silvestre ou caça esportiva”, lembrou Cecília.

    Vigilância

    O estudo aponta o investimento em ações do Sistema Único de Saúde (SUS) como a principal forma de mitigar os efeitos do surgimento de uma zoonose.

     De acordo com o artigo, a contenção de zoonoses ocorrerá efetivamente com a promoção de políticas públicas de saúde que apoiem abordagens preditivas e preventivas que sigam o conceito de Saúde Única (One Health), que considera a saúde humana, animal e ambiental para a manutenção do bem-estar no planeta.

    Entre as ações preconizadas, estão a implementação de sistemas de monitoramento eficazes integrados com vigilância epidemiológica de potenciais doenças zoonóticas, políticas mais amplas e inovadoras que mitiguem a degradação ambiental, fiscalização do tráfico de animais silvestres e novas abordagens para a conservação da biodiversidade.

    “O que define se o surgimento de uma zoonose será um surto local, epidemia ou pandemia é como iremos lidar com a situação. Temos que pensar em como faremos um monitoramento eficiente de um país grande e diverso como o nosso”, afirma Gisele.

    Lições da Covid-19

    O estudo teve origem em uma carta publicada em setembro de 2020 na revista The Lancet. Na época, os autores do texto apontavam retrocessos em políticas sociais e ambientais do Brasil, que podiam contribuir para a ocorrência de infecções causadas por microrganismos de origem animal. Os especialistas defendiam, ainda, a criação de um sistema integrado de vigilância de doenças silvestres.


    “Após a publicação da carta, iniciamos uma reflexão mais aprofundada e detalhada sobre o potencial risco de emergências de zoonoses no Brasil. Esse artigo é fruto de muita pesquisa e discussão entre os pesquisadores desse grupo, visto que são assuntos complexos e que demandam uma busca por informação em variadas fontes”, disse Gisele.

    A pesquisa foi realizada por um grupo de especialistas composto por profissionais de diferentes áreas, que atuam em saúde pública e conservação do meio ambiente. A publicação faz parte do projeto SinBiose do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

    Participam do trabalho pesquisadores da Vice-Presidência de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, do Laboratório de Virologia Comparada e Ambiental do IOC, da Fiocruz Ceará, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e da Universidade Estadual do Ceará (UECE). O estudo também contou com a colaboração de especialistas da Faculdade Maurício de Nassau, da União Internacional para a Conservação da Natureza, da Universidade de Aveiro e da Universidade de Coimbra.


(CNN. Desmatamento e caça ilegal podem causar novas epidemias no Brasil, diz estudo da Fiocruz. 29/06/2022. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/. Acesso em: 04/01/2023.)

Segundo os linguistas José de Nicola e Ernani Terra, “a norma culta da língua portuguesa declara expressamente que a preposição não contrai quando encontra um pronome pessoal ou um determinante que inicia uma oração com um verbo no infinitivo”. Assinale a alternativa que, dentre trechos do texto, está em desacordo com essa regra.
Alternativas
Q2087116 Português

Desmatamento e caça ilegal podem causar novas epidemias no Brasil, diz estudo da Fiocruz

(Lucas Rocha, da CNN em São Paulo.)


    Conhecido por sua grande biodiversidade de animais e vegetais, o Brasil também abriga uma variedade significativa de agentes capazes de causar doenças, tecnicamente chamados de “patógenos”, como vírus e parasitas.

    Antes mesmo da emergência do coronavírus no final de 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) tem alertado sobre os riscos do surgimento de doenças com potencial de se espalhar pelo mundo e afetar grandes populações em todos os países.

    Ao levantarem essa possibilidade, cientistas brasileiros investigaram características do país que podem favorecer o contato dos seres humanos com microrganismos que podem apresentar riscos para a saúde.

    Um estudo liderado por pesquisadoras do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), no Rio de Janeiro, aponta recentes aumentos nas vulnerabilidades sociais e ecológicas do país, amplificados pelos atuais cenários políticos e econômicos.

    Os achados, publicados na revista científica Science Advances, indicam uma propensão dessa megadiversidade atuar como incubadora de possível pandemia provocada por doenças infecciosas de circulação animal que podem ser transmitidas para os seres humanos – as chamadas zoonoses.

    “A partir de um modelo de avaliação que identifica diferentes interações entre os elementos que investigamos, conseguimos observar mais amplamente os processos que moldam o surgimento de zoonoses em cada estado brasileiro”, aponta Gisele Winck, primeira autora do artigo e pesquisadora do Laboratório de Biologia e Parasitologia de Mamíferos Silvestres Reservatórios do IOC, em comunicado.

    De acordo com os especialistas, três principais componentes de risco estão em foco na avaliação: vulnerabilidade, exposição e capacidade de enfrentamento.

    Dentro dos grupos principais, são observadas variáveis mais específicas como a quantidade de espécies de mamíferos silvestres, perda de vegetação natural, mudanças nos padrões de uso da terra, bem-estar social, conectividade geográfica de cidades e aspectos econômicos.

    De acordo com o estudo, os resultados colocam em evidência o desmatamento e a caça de animais silvestres como fatores de grande relevância para o aparecimento de novas e antigas infecções.

    O estudo aponta, ainda, que todo o território brasileiro está suscetível a emergências ocasionadas por zoonoses, com uma maior probabilidade em áreas sob influência da Floresta Amazônica.

     Na análise, os especialistas traçam um comparativo entre os estados do Maranhão e do Ceará, na região Nordeste. 

    O Maranhão, que possui cerca de 34% do seu território coberto pela floresta tropical, é classificado como área com alto risco para surtos de zoonose. Enquanto o Ceará, estado vizinho, onde a Caatinga prevalece, apresenta baixo risco no surgimento de novas doenças.

    “A Floresta Amazônica é uma região com alta diversidade de mamíferos selvagens e que vem sofrendo grande perda da cobertura florestal. Muitas espécies estão ficando sem habitat devido ao desmatamento, gerando desequilíbrio na dinâmica local”, diz Cecília Siliansky de Andreazzi, uma das autoras do artigo e, também, pesquisadora do Laboratório de Biologia e Parasitologia de Mamíferos Silvestres Reservatórios.

    Risco de “transbordamento”

     O contágio por infecções de origem animal acontece por meio de um fenômeno conhecido como “spillover”. O “transbordamento”, em tradução literal, é quando os agentes causadores de doença que circulavam restritamente em um grupo animal “saltam” e passam a infectar outras espécies, incluindo humanos. 

    A expansão das atividades humanas para regiões de matas e florestas, naturalmente habitadas por animais silvestres, é um aspecto que favorece ainda mais esse cenário, de acordo com as pesquisadoras. 

    No entanto, o estudo ressalta que para uma zoonose se tornar epidêmica é necessário o alinhamento de diferentes fatores ecológicos, epidemiológicos e comportamentais, incluindo a mobilidade humana como um fator de importância. 

    No Brasil, a dependência socioeconômica de cidades menores com capitais e grandes metrópoles aumenta o potencial epidêmico das zoonoses, uma vez que habitantes de regiões interioranas precisam realizar deslocamentos frequentes em busca de bens e serviços. 

    “O fluxo humano é crucial no espalhamento de zoonoses, principalmente em infecções cuja transmissão ocorre de pessoa para pessoa após o salto de espécies, como é o caso da Covid-19. A partir do momento em que esses patógenos alcançam cidades super espalhadoras, como São Paulo e Manaus, a transmissão é amplificada e exportada para diversas outras regiões”, diz Cecília.

    A carne de caça é outra via crítica para o “transbordamento” de doenças. Em uma análise de rede, foram relacionadas espécies que são frequentemente caçadas de modo ilegal no Brasil com agentes que potencialmente causariam danos graves à saúde pública. Como resultado, foram encontrados 63 mamíferos que interagem com 173 parasitas propícios a causar pelo menos 76 diferentes doenças.

    “A infecção pode ocorrer em diversas etapas: ao adentrar a floresta, quando o caçador fica exposto a mosquitos, carrapatos e diversos outros vetores de patógenos; no ato da caça, ao sofrer um corte ou arranhão que entre em contato com fluidos animais; no preparo da carne, quando há o contato direto com vísceras, que também são comumente oferecidas como alimentos crus para cães e gatos de estimação; e no consumo final da carne, caso não seja bem armazenada ou cozida”, explica Gisele.

    Como a atividade ainda é essencial para populações tradicionais que utilizam a carne de caça para subsistência, os especialistas fazem um recorte de situação no artigo e recomendam a implementação de ações pontuais de garantia da segurança sanitária nesses grupos.

    “É algo que precisa ser bastante discutido e avaliado. A caça é autorizada apenas para os povos tradicionais, porém ela continua ocorrendo fora desses grupos e serve como fator de interação entre pessoas e animais silvestres reservatórios de patógenos. Infelizmente, todos acabam sendo tratados erroneamente como iguais. É preciso diferenciar populações que dependem desse consumo como fonte de proteína daqueles que atuam no tráfico de animal silvestre ou caça esportiva”, lembrou Cecília.

    Vigilância

    O estudo aponta o investimento em ações do Sistema Único de Saúde (SUS) como a principal forma de mitigar os efeitos do surgimento de uma zoonose.

     De acordo com o artigo, a contenção de zoonoses ocorrerá efetivamente com a promoção de políticas públicas de saúde que apoiem abordagens preditivas e preventivas que sigam o conceito de Saúde Única (One Health), que considera a saúde humana, animal e ambiental para a manutenção do bem-estar no planeta.

    Entre as ações preconizadas, estão a implementação de sistemas de monitoramento eficazes integrados com vigilância epidemiológica de potenciais doenças zoonóticas, políticas mais amplas e inovadoras que mitiguem a degradação ambiental, fiscalização do tráfico de animais silvestres e novas abordagens para a conservação da biodiversidade.

    “O que define se o surgimento de uma zoonose será um surto local, epidemia ou pandemia é como iremos lidar com a situação. Temos que pensar em como faremos um monitoramento eficiente de um país grande e diverso como o nosso”, afirma Gisele.

    Lições da Covid-19

    O estudo teve origem em uma carta publicada em setembro de 2020 na revista The Lancet. Na época, os autores do texto apontavam retrocessos em políticas sociais e ambientais do Brasil, que podiam contribuir para a ocorrência de infecções causadas por microrganismos de origem animal. Os especialistas defendiam, ainda, a criação de um sistema integrado de vigilância de doenças silvestres.


    “Após a publicação da carta, iniciamos uma reflexão mais aprofundada e detalhada sobre o potencial risco de emergências de zoonoses no Brasil. Esse artigo é fruto de muita pesquisa e discussão entre os pesquisadores desse grupo, visto que são assuntos complexos e que demandam uma busca por informação em variadas fontes”, disse Gisele.

    A pesquisa foi realizada por um grupo de especialistas composto por profissionais de diferentes áreas, que atuam em saúde pública e conservação do meio ambiente. A publicação faz parte do projeto SinBiose do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

    Participam do trabalho pesquisadores da Vice-Presidência de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, do Laboratório de Virologia Comparada e Ambiental do IOC, da Fiocruz Ceará, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e da Universidade Estadual do Ceará (UECE). O estudo também contou com a colaboração de especialistas da Faculdade Maurício de Nassau, da União Internacional para a Conservação da Natureza, da Universidade de Aveiro e da Universidade de Coimbra.


(CNN. Desmatamento e caça ilegal podem causar novas epidemias no Brasil, diz estudo da Fiocruz. 29/06/2022. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/. Acesso em: 04/01/2023.)

Em “Ao levantarem essa possibilidade, cientistas brasileiros investigaram características do país que podem favorecer o contato dos seres humanos com microrganismos que podem apresentar riscos para a saúde.” (3º§), as palavras destacadas equivalem, morfologicamente, a
Alternativas
Q2087081 Português
Cenoura, ovo ou café

    Uma filha se queixou a seu pai sobre sua vida e de como as coisas estavam tão difíceis para ela. Ela já não sabia mais o que fazer e queria desistir. Estava cansada de lutar e combater. Parecia que assim que um problema estava resolvido um outro surgia. 

    Seu pai, um “chef”, levou‐a até a cozinha. Encheu três panelas com água e colocou cada uma delas em fogo alto.

    Logo as panelas começaram a ferver.

    Em uma ele colocou cenouras, em outra colocou ovos e, na última, pó de café.

    Deixou que tudo fervesse, sem dizer uma palavra.

    A filha deu um suspiro e esperou impacientemente, imaginando o que ele estaria fazendo.

    Cerca de vinte minutos depois, ele apagou as bocas de gás. Pescou as cenouras e as colocou em uma tigela. Retirou os ovos e os colocou em uma tigela. Então pegou o café com uma concha e o colocou igualmente em uma tigela.

    Virando‐se para ela, perguntou “Querida, o que você está vendo?” “Cenouras, ovos e café”, ela respondeu.

    Ele a trouxe para mais perto e pediu‐lhe para experimentar as cenouras. Ela obedeceu e notou que as cenouras estavam macias.

    Ele, então, pediu‐lhe que pegasse um ovo e o quebrasse. Ela obedeceu e depois de retirar a casca verificou que o ovo endurecera com a fervura.

    Finalmente, ele lhe pediu que tomasse um gole do café.

     Ela sorriu ao provar seu aroma delicioso.

      Ela perguntou humildemente: “O que isto significa, pai?”

    Ele explicou que cada um deles havia enfrentado a mesma adversidade, água fervendo, mas que cada um reagira de maneira diferente.

     A cenoura entrara forte, firme e inflexível. Mas depois de ter sido submetida à água fervendo, ela amolecera e se tornara frágil.

    Os ovos eram frágeis. Sua casca fina havia protegido o líquido interior. Mas depois de terem sido colocados na água fervendo, seu interior se tornou mais rígido.

    O pó de café, contudo, era incomparável. Depois que fora colocado na água fervente, ele havia mudado a água. “Qual deles é você?” ele perguntou a sua filha. “– Quando a adversidade bate a sua porta, como você responde? Você é uma cenoura, um ovo ou pó de café?”

    E você?

   Você é como a cenoura que parece forte, mas com a dor e a adversidade você murcha e se torna frágil e perde sua força? 

    Será que você é como o ovo, que começa com um coração maleável? Você teria um espírito maleável, mas depois de alguma morte, uma falência, um divórcio ou uma demissão, você se tornou mais difícil e duro? Sua casca parece a mesma, mas você está mais amargo e obstinado, com o coração e o espírito inflexíveis?
 
    Ou será que você é como o pó de café? Ele muda a água fervente, a coisa que está trazendo a dor, para conseguir o máximo de seu sabor, a cem graus centígrados. Quanto mais quente estiver a água, mais gostoso se torna o café. Se você é como o pó de café, quando as coisas se tornam piores, você se torna melhor e faz com que as coisas em torno de você também se tornem melhores.

    Como você lida com a adversidade?
 
     Você é uma cenoura, um ovo ou café?

(Retirado do livro “Às vezes você ganha, às vezes você aprende” – John C. Maxwell. Disponível em: https://pensebem.blog/2020/03/30/fabulacenouras-ovos-cafe-e-adversidades/. Em: 03/2020.)
No trecho “O pó de café, contudo, era incomparável.” (17º§), a expressão destacada tem função: 
Alternativas
Q2087077 Português
Cenoura, ovo ou café

    Uma filha se queixou a seu pai sobre sua vida e de como as coisas estavam tão difíceis para ela. Ela já não sabia mais o que fazer e queria desistir. Estava cansada de lutar e combater. Parecia que assim que um problema estava resolvido um outro surgia. 

    Seu pai, um “chef”, levou‐a até a cozinha. Encheu três panelas com água e colocou cada uma delas em fogo alto.

    Logo as panelas começaram a ferver.

    Em uma ele colocou cenouras, em outra colocou ovos e, na última, pó de café.

    Deixou que tudo fervesse, sem dizer uma palavra.

    A filha deu um suspiro e esperou impacientemente, imaginando o que ele estaria fazendo.

    Cerca de vinte minutos depois, ele apagou as bocas de gás. Pescou as cenouras e as colocou em uma tigela. Retirou os ovos e os colocou em uma tigela. Então pegou o café com uma concha e o colocou igualmente em uma tigela.

    Virando‐se para ela, perguntou “Querida, o que você está vendo?” “Cenouras, ovos e café”, ela respondeu.

    Ele a trouxe para mais perto e pediu‐lhe para experimentar as cenouras. Ela obedeceu e notou que as cenouras estavam macias.

    Ele, então, pediu‐lhe que pegasse um ovo e o quebrasse. Ela obedeceu e depois de retirar a casca verificou que o ovo endurecera com a fervura.

    Finalmente, ele lhe pediu que tomasse um gole do café.

     Ela sorriu ao provar seu aroma delicioso.

      Ela perguntou humildemente: “O que isto significa, pai?”

    Ele explicou que cada um deles havia enfrentado a mesma adversidade, água fervendo, mas que cada um reagira de maneira diferente.

     A cenoura entrara forte, firme e inflexível. Mas depois de ter sido submetida à água fervendo, ela amolecera e se tornara frágil.

    Os ovos eram frágeis. Sua casca fina havia protegido o líquido interior. Mas depois de terem sido colocados na água fervendo, seu interior se tornou mais rígido.

    O pó de café, contudo, era incomparável. Depois que fora colocado na água fervente, ele havia mudado a água. “Qual deles é você?” ele perguntou a sua filha. “– Quando a adversidade bate a sua porta, como você responde? Você é uma cenoura, um ovo ou pó de café?”

    E você?

   Você é como a cenoura que parece forte, mas com a dor e a adversidade você murcha e se torna frágil e perde sua força? 

    Será que você é como o ovo, que começa com um coração maleável? Você teria um espírito maleável, mas depois de alguma morte, uma falência, um divórcio ou uma demissão, você se tornou mais difícil e duro? Sua casca parece a mesma, mas você está mais amargo e obstinado, com o coração e o espírito inflexíveis?
 
    Ou será que você é como o pó de café? Ele muda a água fervente, a coisa que está trazendo a dor, para conseguir o máximo de seu sabor, a cem graus centígrados. Quanto mais quente estiver a água, mais gostoso se torna o café. Se você é como o pó de café, quando as coisas se tornam piores, você se torna melhor e faz com que as coisas em torno de você também se tornem melhores.

    Como você lida com a adversidade?
 
     Você é uma cenoura, um ovo ou café?

(Retirado do livro “Às vezes você ganha, às vezes você aprende” – John C. Maxwell. Disponível em: https://pensebem.blog/2020/03/30/fabulacenouras-ovos-cafe-e-adversidades/. Em: 03/2020.)
Quanto à classificação gramatical, assinale a associação INCORRETA.
Alternativas
Q2086593 Português

Como a guerra de palavras molda as notícias

“Lutar com palavras

é a luta mais vã.

Entanto lutamos

mal rompe a manhã.

São muitas, eu pouco.” 


    Assim começa o poema “O Lutador” de Carlos Drummond de Andrade, a meu ver, um dos mais belos poemas sobre o ofício de escrever. Sobre a quase que impossibilidade de definir, seja lá o que (ou quem) for, com vocábulos, o que se pretende dizer ou expressar. Do alto de sua sabedoria infantil, Marcelo, o inesquecível personagem de “Marcelo, Martelo, Marmelo” (Ed. Salamandra), de Ruth Rocha, outra das nossas grandes autoras, já definiu bem a grande dúvida que ronda a origem das palavras, sejam elas em que língua forem:

“– Papai, por que mesa chama mesa?

– Ah, Marcelo, vem do latim.

– Puxa, papai, do latim? E latim é língua de cachorro?

– Não, Marcelo, latim é uma língua muito antiga.

– E por que é que esse tal de latim não botou na mesa nome de cadeira, na cadeira nome de parede, e na parede nome de bacalhau?”

    O pai de Marcelo, é claro, não soube responder à pergunta do garoto. E nós, tal como ele, muitas vezes nos pomos a perguntar por que uma pessoa usou tal palavra e não outra (ou outras) para comunicar alguma coisa, definir um conceito, contar uma história. E se perguntarmos a ela, muito provavelmente essa pessoa usará mais tantas outras para justificar a escolha daquela e assim,nos convencer que fez o melhor uso para descrever o que desejava. Longe de mim querer dar conta de explicar um fenômeno tão complexo como a linguagem nas poucas linhas deste artigo. Minha reflexão aqui é sobre como as palavras importam para moldar e explicar a nossa realidade. Nietzsche, um dos maiores filósofos de todos os tempos, disse que as palavras são pontes iridescentes que ligam coisas separadas. Faço um complemento à sua fala: e quando elas se juntam, são capazes de produzir sentido, a chave para que sigamos vivos, em ação, transformando o mundo em que vivemos. As palavras dão sentido à nossa experiência, ao que acontece ao nosso redor e ao que se passa com e em cada um de nós.

    Há mais de 30 dias vivemos uma experiência das mais complexas em diferentes sentidos com a guerra na Ucrânia. E como ela se dá para além dos tiros, bombas, das mortes brutais, e está acontecendo “em tempo real” nas mídias, nos relatos “ao vivo” de quem filma e/ou fotografa o inenarrável sofrimento humano e posta nas redes sociais, assistimos à tão falada “guerra das narrativas” na qual desenrola-se uma escolha cuidadosa de palavras que tentam dar conta de explicar os fatos que se desenrolam, minuto a minuto. Por que uns usam o termo “invasão” e outros “guerra”? E qual a razão de outros insistirem em dizer que se trata de “exercícios militares”, ou ainda de um “conflito” ou então de uma “ocupação”? É que quando você escolhe o termo guerra versus invasão, você selecionou um ponto de vista para explicar os fatos que conseguiu perceber – e, esperamos! – verificar.

    “Entendo que para contar é necessário primeiramente construir um mundo”, dizia um dos maiores semiólogos e linguistas do nosso tempo, o escritor italiano Umberto Eco. “Que leitor modelo eu queria, quando estava escrevendo? Um cúmplice, claro, que entrasse no meu jogo. (...) Um texto quer ser uma experiência de transformação para o próprio leitor”. Estar consciente desse jogo, conhecer as regras da construção das mensagens é uma das grandes habilidades a serem conquistadas pelos cidadãos dessa Era da (Des)Informação, e um dos pilares da Educação para as Mídias. É fundamental que o leitor (re)conheça que cada notícia é composta por um conjunto de palavras, de termos, que contam uma determinada história, sob um ponto de vista específico, que interessa a um certo grupo de pessoas e/ou instituições. Faz tempo que o mito da objetividade jornalística caiu por terra, por isso, para se formar um leitor crítico, há que prepará-lo para desenvolver uma certa dose de ceticismo saudável, aliado a uma investigação constante dos muitos porquês que envolvem a construção de uma mensagem.

    A chamada grande mídia vem sendo profundamente abalada pelo advento das redes sociais, onde todos e qualquer um é jornalista. Daí a importância de se frisar que se a objetividade jornalística é uma quimera, a objetividade, em si, é um método, não um ponto de vista. E o bom jornalismo faz uso dela quando estabelece critérios claros (e bem expostos em sua política editorial) para publicar um conteúdo, pesquisando o contexto no qual ele se desenrola, conhecendo os mais diversos e diferentes pontos de vista sobre o que se está contando, analisando todas as informações coletadas, fazendo perguntas – tantas quantas forem necessárias para trazer mais clareza ao fato – e escolhendo palavras que sejam molduras o mais próximas possível do que se quer retratar. “As palavras são imprecisas. Elas nunca capturam totalmente o que está acontecendo. Há uma diferença qualitativa entre um jornalista que usa palavras de forma imprudente e um que está lutando, revisando e atualizando sua linguagem à medida que sabe mais (...) as palavras também têm um significado público quando absorvidas pela mídia. As palavras têm definições, mas também conotações e significados culturais, dependendo do contexto em que são usadas. E tudo isso está em jogo nas notícias”, afirma o jornalista e articulista do periódico digital Medium, Jeremy Littau.

    A afirmação do jornalista americano explica de maneira bastante simples porque cada um lê a notícia do jeito que lhe interessa, afinal, cada termo selecionado se encaixa na moldura que o leitor tem, aquela que lhe possibilita ver e compreender o mundo em que vive. Nesse sentido, nunca é demais lembrar que o poder está, de fato, na mão do leitor. Em uma sociedade letrada como a nossa, a leitura (e aqui me refiro a ela como a possibilidade de ler/ver/ouvir em quaisquer suportes) é um instrumento precioso para que interpretemos a realidade e então, possamos devolver a nossa percepção dela para a nossa comunidade e com isso, construirmos a nossa história. O exercício da leitura nos dá a possibilidade de questionar e elaborar as nossas perguntas e respostas a partir da nossa experiência. O leitor crítico quer acessar as notícias, mas sobretudo quer entendê-las e encontrar sentido nelas e para elas. Aquecimento global ou mudança climática? Protesto ou motim? Combate ou luta? Você escolhe como explicar ou compreender, meu caro leitor.

(ALVES, Januária Cristina. Como a guerra de palavras molda as notícias. Jornal Nexo. Disponível em: https://www.nexojornal.com.br/colunistas/ 2022/Como-a-guerra-de-palavras-molda-as-not%C3%ADcias. Acesso em: 05/04/2022. Adaptado.)

Assinale a alternativa em que a mudança de posição do termo destacado alterará sensivelmente o sentido do texto. 
Alternativas
Q2086592 Português

Como a guerra de palavras molda as notícias

“Lutar com palavras

é a luta mais vã.

Entanto lutamos

mal rompe a manhã.

São muitas, eu pouco.” 


    Assim começa o poema “O Lutador” de Carlos Drummond de Andrade, a meu ver, um dos mais belos poemas sobre o ofício de escrever. Sobre a quase que impossibilidade de definir, seja lá o que (ou quem) for, com vocábulos, o que se pretende dizer ou expressar. Do alto de sua sabedoria infantil, Marcelo, o inesquecível personagem de “Marcelo, Martelo, Marmelo” (Ed. Salamandra), de Ruth Rocha, outra das nossas grandes autoras, já definiu bem a grande dúvida que ronda a origem das palavras, sejam elas em que língua forem:

“– Papai, por que mesa chama mesa?

– Ah, Marcelo, vem do latim.

– Puxa, papai, do latim? E latim é língua de cachorro?

– Não, Marcelo, latim é uma língua muito antiga.

– E por que é que esse tal de latim não botou na mesa nome de cadeira, na cadeira nome de parede, e na parede nome de bacalhau?”

    O pai de Marcelo, é claro, não soube responder à pergunta do garoto. E nós, tal como ele, muitas vezes nos pomos a perguntar por que uma pessoa usou tal palavra e não outra (ou outras) para comunicar alguma coisa, definir um conceito, contar uma história. E se perguntarmos a ela, muito provavelmente essa pessoa usará mais tantas outras para justificar a escolha daquela e assim,nos convencer que fez o melhor uso para descrever o que desejava. Longe de mim querer dar conta de explicar um fenômeno tão complexo como a linguagem nas poucas linhas deste artigo. Minha reflexão aqui é sobre como as palavras importam para moldar e explicar a nossa realidade. Nietzsche, um dos maiores filósofos de todos os tempos, disse que as palavras são pontes iridescentes que ligam coisas separadas. Faço um complemento à sua fala: e quando elas se juntam, são capazes de produzir sentido, a chave para que sigamos vivos, em ação, transformando o mundo em que vivemos. As palavras dão sentido à nossa experiência, ao que acontece ao nosso redor e ao que se passa com e em cada um de nós.

    Há mais de 30 dias vivemos uma experiência das mais complexas em diferentes sentidos com a guerra na Ucrânia. E como ela se dá para além dos tiros, bombas, das mortes brutais, e está acontecendo “em tempo real” nas mídias, nos relatos “ao vivo” de quem filma e/ou fotografa o inenarrável sofrimento humano e posta nas redes sociais, assistimos à tão falada “guerra das narrativas” na qual desenrola-se uma escolha cuidadosa de palavras que tentam dar conta de explicar os fatos que se desenrolam, minuto a minuto. Por que uns usam o termo “invasão” e outros “guerra”? E qual a razão de outros insistirem em dizer que se trata de “exercícios militares”, ou ainda de um “conflito” ou então de uma “ocupação”? É que quando você escolhe o termo guerra versus invasão, você selecionou um ponto de vista para explicar os fatos que conseguiu perceber – e, esperamos! – verificar.

    “Entendo que para contar é necessário primeiramente construir um mundo”, dizia um dos maiores semiólogos e linguistas do nosso tempo, o escritor italiano Umberto Eco. “Que leitor modelo eu queria, quando estava escrevendo? Um cúmplice, claro, que entrasse no meu jogo. (...) Um texto quer ser uma experiência de transformação para o próprio leitor”. Estar consciente desse jogo, conhecer as regras da construção das mensagens é uma das grandes habilidades a serem conquistadas pelos cidadãos dessa Era da (Des)Informação, e um dos pilares da Educação para as Mídias. É fundamental que o leitor (re)conheça que cada notícia é composta por um conjunto de palavras, de termos, que contam uma determinada história, sob um ponto de vista específico, que interessa a um certo grupo de pessoas e/ou instituições. Faz tempo que o mito da objetividade jornalística caiu por terra, por isso, para se formar um leitor crítico, há que prepará-lo para desenvolver uma certa dose de ceticismo saudável, aliado a uma investigação constante dos muitos porquês que envolvem a construção de uma mensagem.

    A chamada grande mídia vem sendo profundamente abalada pelo advento das redes sociais, onde todos e qualquer um é jornalista. Daí a importância de se frisar que se a objetividade jornalística é uma quimera, a objetividade, em si, é um método, não um ponto de vista. E o bom jornalismo faz uso dela quando estabelece critérios claros (e bem expostos em sua política editorial) para publicar um conteúdo, pesquisando o contexto no qual ele se desenrola, conhecendo os mais diversos e diferentes pontos de vista sobre o que se está contando, analisando todas as informações coletadas, fazendo perguntas – tantas quantas forem necessárias para trazer mais clareza ao fato – e escolhendo palavras que sejam molduras o mais próximas possível do que se quer retratar. “As palavras são imprecisas. Elas nunca capturam totalmente o que está acontecendo. Há uma diferença qualitativa entre um jornalista que usa palavras de forma imprudente e um que está lutando, revisando e atualizando sua linguagem à medida que sabe mais (...) as palavras também têm um significado público quando absorvidas pela mídia. As palavras têm definições, mas também conotações e significados culturais, dependendo do contexto em que são usadas. E tudo isso está em jogo nas notícias”, afirma o jornalista e articulista do periódico digital Medium, Jeremy Littau.

    A afirmação do jornalista americano explica de maneira bastante simples porque cada um lê a notícia do jeito que lhe interessa, afinal, cada termo selecionado se encaixa na moldura que o leitor tem, aquela que lhe possibilita ver e compreender o mundo em que vive. Nesse sentido, nunca é demais lembrar que o poder está, de fato, na mão do leitor. Em uma sociedade letrada como a nossa, a leitura (e aqui me refiro a ela como a possibilidade de ler/ver/ouvir em quaisquer suportes) é um instrumento precioso para que interpretemos a realidade e então, possamos devolver a nossa percepção dela para a nossa comunidade e com isso, construirmos a nossa história. O exercício da leitura nos dá a possibilidade de questionar e elaborar as nossas perguntas e respostas a partir da nossa experiência. O leitor crítico quer acessar as notícias, mas sobretudo quer entendê-las e encontrar sentido nelas e para elas. Aquecimento global ou mudança climática? Protesto ou motim? Combate ou luta? Você escolhe como explicar ou compreender, meu caro leitor.

(ALVES, Januária Cristina. Como a guerra de palavras molda as notícias. Jornal Nexo. Disponível em: https://www.nexojornal.com.br/colunistas/ 2022/Como-a-guerra-de-palavras-molda-as-not%C3%ADcias. Acesso em: 05/04/2022. Adaptado.)

Releia esta passagem: “Estar consciente desse jogo, conhecer as regras da construção das mensagens é uma das grandes habilidades a serem conquistadas pelos cidadãos dessa Era da (Des)Informação, e um dos pilares da Educação para as Mídias. É fundamental que o leitor (re)conheça que cada notícia é composta por um conjunto de palavras...”. Os parênteses podem apresentar, nos textos, variadas funções discursivas. No caso do fragmento destacado, os parênteses isolaram os morfemas re- e des- com a finalidade de sinalizar:
Alternativas
Q2086552 Português

Aquilo por que vivi


    Três paixões, simples, mas irresistivelmente fortes, governaram-me a vida: o anseio de amor, a busca do conhecimento e a dolorosa piedade pelo sofrimento da humanidade. Tais paixões, como grandes vendavais, impeliram-me para aqui e acolá, em curso instável, por sobre profundo oceano de angústia, chegando às raias do desespero. 

     Busquei, primeiro, o amor, porque ele produz êxtase – um êxtase tão grande que, não raro, eu sacrificava todo o resto da minha vida por umas poucas horas dessa alegria. Ambicionava-o, ainda, porque o amor nos liberta da solidão – essa solidão terrível através da qual a nossa trêmula percepção observa, além dos limites do mundo, esse abismo frio e exânime.

    Com paixão igual, busquei o conhecimento. Eu queria compreender o coração dos homens. Gostaria de saber por que cintilam as estrelas. E procurei apreender a força pitagórica pela qual o número permanece acima do fluxo dos acontecimentos. Um pouco disto, mas não muito, eu o consegui. 

    Amor e conhecimento, até ao ponto em que são possíveis, conduzem para o alto, rumo ao céu. Mas a piedade sempre me trazia de volta a terra. Ecos de gritos de dor ecoavam em meu coração. Crianças famintas, vítimas torturadas por opressores, velhos desvalidos a constituir um fardo para seus filhos, e todo o mundo de solidão, pobreza e sofrimentos, convertem numa irrisão o que deveria de ser a vida humana. Anseio por aliviar o mal, mas não posso, e também sofro. 

    Eis o que tem sido a minha vida. Tenho-a considerado digna de ser vivida e, de bom grado, tornaria a vivê-la, se me fosse dada tal oportunidade.


(Bertrand Russel. Autobiografia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1967. Adaptado.)


No excerto “Três paixões, simples, mas irresistivelmente fortes, governaram-me a vida: o anseio de amor, a busca do conhecimento e a dolorosa piedade pelo sofrimento da humanidade.” (1º§), a expressão assinalada denota ideia de: 
Alternativas
Q2086335 Português
A mente aceita só aquilo em que acredita, dizem cientistas

     Narciso acha feio o que não é espelho, canta Caetano Veloso em Sampa. Contudo, não foi em São Paulo, mas em Londres, na década de 1960, que o psicólogo Peter Wason deu o nome de “viés de confirmação” para o mecanismo que induz a mente a aceitar as informações que sustentam as próprias crenças, em vez de questionar e ter abertura para analisar outros tipos de informação.
    A ideia de uma mente racional, a serviço de apreender a realidade tal qual ela é, seguiu sendo desacreditada na década seguinte. Em 1979, foi realizado um estudo na Universidade Stanford, nos Estados Unidos, com estudantes universitários que tinham opiniões opostas sobre a pena de morte. Com base em dois artigos falsos – um que argumentava a favor e outro contra a pena de morte –, os estudantes apoiaram justamente aquele artigo que confirmava sua crença original. O estudo mostrou que ter as certezas contestadas serviu apenas como reforço para as próprias convicções.
     “Cada vez mais o monitor do nosso computador é uma espécie de espelho que reflete nossos próprios interesses, baseando-se na análise de nossos cliques feita por observadores algorítmicos”, escreve o ativista Eli Pariser no livro “O Filtro Invisível: O Que a Internet Está Escondendo de Você”.
     Ao mapear as preferências do usuário, o algoritmo forma as chamadas bolhas, delimitando as respostas de acordo com seus gostos. Isso gera uma autossatisfação viciante que pode isolar o indivíduo num sistema de conhecimento unilateral, reforçando sua visão em vez de expandi-la, assim como acontece com o viés de confirmação.
     Mais do que as bolhas, existem ainda as câmaras de eco, que recebem a contribuição dos usuários para manter o alinhamento das crenças. “Quando recebe algum posicionamento diferente, além de ser ferrenhamente contrário a ele, o usuário exclui pessoas e conteúdos que divergem de si”, explica Sérgio. “Não é apenas o algoritmo que está criando a bolha, mas os usuários ativamente estão construindo esses espaços fechados.” O constante reforço da própria opinião, evitando ter valores e crenças questionados, é abertura para a desinformação e para as fake news.
     “O mundo é extremamente complexo hoje em dia. Nós temos muita dificuldade de enxergar e compreender a dimensão das várias camadas das coisas que acontecem e, de certo modo, na câmara de eco há uma simplificação do mundo a partir do que previamente eu já entendo, compreendo e creio. Eu faço o mundo caber na minha crença”, considera Sérgio.
     A neurocientista Claudia Feitosa-Santana traz um contraponto, lembrando que fazemos parte de grupos diversos, como veganos ou petlovers. “Nós não estamos todos exatamente dentro das mesmas bolhas. Nós temos muitos grupos e é isso que confere estabilidade para a nossa sociedade.” 
     A falta de tempo, de conhecimento e de fontes confiáveis para filtrar a enxurrada de informações que recebemos pode colocar também a ciência no balaio do descrédito. Amanda Moura de Sousa, pesquisadora na Universidade Federal do Rio de Janeiro, vem estudando a desinformação na área da saúde e a infodemia, o enorme fluxo de informações que invade a internet, diante da pandemia de Covid-19. “Para economizar o esforço de tentar lidar com algum fato, às vezes a gente precisa recorrer às nossas crenças, só que essas crenças podem levar para um caminho não muito saudável, que é eliminar a dúvida e se focar na certeza que você já tem”, diz a especialista em ciência da informação.
     Ela lembra de mensagens que circulavam no início da pandemia, dizendo que os laboratórios não tinham avançado suficientemente em seus estudos e usavam as pessoas como cobaias na aplicação de vacinas. Mais de 71% das mensagens falsas naquele período circulavam pelo WhatsApp, segundo análise do aplicativo “Eu Fiscalizo”, desenvolvido por pesquisadoras da Fiocruz. “Pela relação de desconfiança que as pessoas muitas vezes têm com os cientistas ou com o próprio fazer da ciência, que às vezes escapa à compreensão delas, elas acabam aderindo à desinformação sem buscar outra fonte”, afirma Amanda. Segundo a autora, é tendência da mente enfatizar um pequeno risco, fortalecendo, assim, as próprias crenças. “Recusar-se a vacinar uma criança é um exemplo disso: aqueles que têm medo da imunização exageram o pequeno risco de um efeito colateral e subestimam a devastação que ocorre durante uma epidemia de sarampo ou apenas o quão letal a coqueluche pode ser”, escreve.
     Se a ciência é vista muitas vezes de forma distorcida, o próprio fazer científico não está imune ao viés de confirmação – simplesmente porque cientistas são também humanos. O antídoto para o problema seria, segundo os próprios cientistas, ter uma boa formação acadêmica, buscar fontes diversificadas, manter o espírito aberto para pontos de vista diferentes, desenvolver o pensamento crítico e a criatividade.
     Charles Peirce, filósofo e pedagogo americano nascido em 1839, afirmava que só a dúvida leva ao conhecimento e, para chegar a ele, passamos por uma alternância entre o desconforto da dúvida e a segurança da crença. Os métodos de fixação da crença listados por Peirce incluem apego, imposição, gostos e também, mas não apenas, o método científico.
     Apesar das bolhas, grupos, e algoritmos, não há o que unifique a experiência humana. “A maneira como nos sentimos nunca se repete no tempo e jamais é igual à forma como outra pessoa se sente”, escreve Claudia Feitosa-Santana no livro “Eu Controlo Como Me Sinto”. “E os filósofos já sabiam disso havia muito tempo. Na Grécia Antiga, Heráclito, um dos pensadores mais antigos que conhecemos, afirmou o seguinte: ‘Não podemos nos banhar no mesmo rio duas vezes’.”
(ZANON, Sibélia. A mente aceita só aquilo em que acredita, dizem cientistas. Estadão, 2023. Disponível em: https://www.estadao.com.br/alias/a-mente-aceita-so-aquilo-em-queacredita-dizem-cientistas/ Acesso em: 25/01/2023. Adaptado.)  
Em “[...] às vezes a gente precisa recorrer às nossas crenças, só que essas crenças podem levar para um caminho não muito saudável [...]” (8º§). Assinale a afirmativa em que o conector destacado apresenta o mesmo valor lógico-semântico do termo sublinhado na passagem anterior.
Alternativas
Q2085989 Português

    Visões e reminiscências iam assim comendo o tempo e o espaço ao conselheiro Aires, a ponto de lhe fazerem esquecer o pedido de Natividade; mas não o esqueceu de todo, e as palavras trocadas há pouco surdiam-lhe das pedras da rua. Considerou que não perdia muito em estudar os rapazes. Chegou a apanhar uma hipótese, espécie de andorinha, que avoaça entre árvores, abaixo e acima, pousa aqui, pousa ali, arranca de novo um surto e toda se despeja em movimentos. Tal foi a hipótese vaga e colorida, a saber, que se os gêmeos tivessem nascido dele talvez não divergissem tanto nem nada, graças ao equilíbrio do seu espírito. A alma do velho entrou a ramalhar não sei que desejos retrospectivos, e a rever essa hipótese, ele pai, estes meninos seus, toda a andorinha que se dispersava num farfalhar calado de gestos.


(Adaptado de: ASSIS, Machado de. Esaú e Jacó. São Paulo: Companhia das Letras, 2012)

Um vocábulo também pode ser formado quando passa de uma classe gramatical a outra, sem a modificação de sua forma. É o que se denomina derivação imprópria. Constitui exemplo de derivação imprópria o termo sublinhado em: 
Alternativas
Q2084703 Português
Quem está “on”?



Martha Medeiros. In: NSC Total. Acesso em:https://www.nsctotal.com.br/colunistas/martha-medeiros/quem-esta-on , 14 out., 2022.

"Não sou louca de desconsiderar.” (linha 7)

A palavra sublinhada foi formada pelo processo de

Alternativas
Q2084503 Português

Texto 19 de maio. Belém. Durante a noite o Pedro I portou em Salinas pra emprestar um tapejara que nos guiasse através da foz traiçoeira do Amazonas e quando nos levantamos no dia de hoje bem cedinho já estávamos nela. Que posso falar dessa foz tão literária e que comove tanto quando assuntada no mapa?... A imensidão das águas é tão vasta, as ilhas imensas por demais ficam tão no longe fraco que a gente não encontra nada que encante. A foz do Amazonas é uma dessas grandezas tão grandiosas que ultrapassam as percepções fisiológicas do homem. Nós só podemos monumentalizá-las na inteligência. O que a retina bota na consciência é apenas um mundo de águas sujas e um matinho sempre igual no longe mal percebido das ilhas. O Amazonas prova decisivamente que a monotonia é um dos elementos mais grandiosos do sublime. É incontestável que Dante e o Amazonas são igualmente monótonos. Pra gente gozar um bocado e perceber a variedade que tem nessas monotonias do sublime carece limitar em molduras mirins a sensação. Então acha uma lindeza os barcos veleiros coloridos e acha cotuba a morte dos pretendentes, se prende ao horizonte plantado de árvores que a refração apara do firme das ilhas e ao livro de Jó. A foz do Amazonas é tão ingente que blefa a grandeza. Wordsworth, o quarteirão dos cinemas no Rio, “I Juca-Pirama ” são muito mais grandiosos.

Mas quando Belém principia diminuindo a vista larga a boniteza surge outra vez. Chegamos lá antes da chuva e o calor era tanto que vinha dos mercados um cheiro de carne-seca. Os barcos veleiros sentados no cais do Ver-o-peso sacudiam as velas roseadas azuis negras se abanando com lerdeza. Nos esperavam oficialmente no cais dois automóveis da Presidência prontinhos pra batalha de flores. Pra cada uma das companheiras do poeta um buquê famoso, fomos. Então passamos revista a todos os desperdícios da chegada. Só de noite nos reunimos pra janta excelente. Belém andara indagando dos nossos gostos e mantinha na esquina de boreste do hotel, um cinema. Fomos ver William Fairbanks em Não percas tempo, filme horrível. A noite dormiu feliz.


ANDRADE, Mário de. O turista aprendiz / Mário de Andrade ; edição de texto apurado, anotada e acrescida de documentos por Telê Ancona Lopez, Tatiana Longo Figueiredo ; Leandro Raniero Fernandes, colaborador. – Brasília, DF: Iphan, 2015. P. 68 – 70

Em relação ao processo de formação de palavras, há exemplo, assinalado, de derivação sufixal em:
Alternativas
Q2084502 Português

Texto 19 de maio. Belém. Durante a noite o Pedro I portou em Salinas pra emprestar um tapejara que nos guiasse através da foz traiçoeira do Amazonas e quando nos levantamos no dia de hoje bem cedinho já estávamos nela. Que posso falar dessa foz tão literária e que comove tanto quando assuntada no mapa?... A imensidão das águas é tão vasta, as ilhas imensas por demais ficam tão no longe fraco que a gente não encontra nada que encante. A foz do Amazonas é uma dessas grandezas tão grandiosas que ultrapassam as percepções fisiológicas do homem. Nós só podemos monumentalizá-las na inteligência. O que a retina bota na consciência é apenas um mundo de águas sujas e um matinho sempre igual no longe mal percebido das ilhas. O Amazonas prova decisivamente que a monotonia é um dos elementos mais grandiosos do sublime. É incontestável que Dante e o Amazonas são igualmente monótonos. Pra gente gozar um bocado e perceber a variedade que tem nessas monotonias do sublime carece limitar em molduras mirins a sensação. Então acha uma lindeza os barcos veleiros coloridos e acha cotuba a morte dos pretendentes, se prende ao horizonte plantado de árvores que a refração apara do firme das ilhas e ao livro de Jó. A foz do Amazonas é tão ingente que blefa a grandeza. Wordsworth, o quarteirão dos cinemas no Rio, “I Juca-Pirama ” são muito mais grandiosos.

Mas quando Belém principia diminuindo a vista larga a boniteza surge outra vez. Chegamos lá antes da chuva e o calor era tanto que vinha dos mercados um cheiro de carne-seca. Os barcos veleiros sentados no cais do Ver-o-peso sacudiam as velas roseadas azuis negras se abanando com lerdeza. Nos esperavam oficialmente no cais dois automóveis da Presidência prontinhos pra batalha de flores. Pra cada uma das companheiras do poeta um buquê famoso, fomos. Então passamos revista a todos os desperdícios da chegada. Só de noite nos reunimos pra janta excelente. Belém andara indagando dos nossos gostos e mantinha na esquina de boreste do hotel, um cinema. Fomos ver William Fairbanks em Não percas tempo, filme horrível. A noite dormiu feliz.


ANDRADE, Mário de. O turista aprendiz / Mário de Andrade ; edição de texto apurado, anotada e acrescida de documentos por Telê Ancona Lopez, Tatiana Longo Figueiredo ; Leandro Raniero Fernandes, colaborador. – Brasília, DF: Iphan, 2015. P. 68 – 70

Há palavra que estabelece coesão entre os elementos do texto classificada como conjunção integrante em: 
Alternativas
Q2084068 Português
10_.png (798×288) Fonte: Disponível em: br.pinterest.com/pin/551691023085012475/ Acesso em 9 fev. 2022.

Com relação à tirinha, assinale a alternativa cujas palavras completam corretamente os espaços em branco.
A interjeição ____________ é usada para tentar diminuir o medo que Dom Quixote tem de dragões, e o apelo _____________introduz a prova que Sancho Pança dá ao cavaleiro. O emprego do operador ________ busca diminuir a ansiedade de Dom Quixote, enquanto o modal ______________ indica uma necessidade. 
Alternativas
Respostas
6741: D
6742: A
6743: A
6744: A
6745: A
6746: D
6747: A
6748: C
6749: A
6750: C
6751: A
6752: A
6753: C
6754: C
6755: B
6756: A
6757: C
6758: A
6759: A
6760: C