Questões de Português - Orações coordenadas sindéticas: Aditivas, Adversativas, Alternativas, Conclusivas... para Concurso
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TEMPOS MODERNOS
Não tendo assistido à inauguração dos bonds elétricos, deixei de falar neles. Nem sequer entrei em algum, mais tarde, para receber as impressões da nova tração e contá-las. Daí o meu silêncio da outra semana. Anteontem, porém, indo pela Praia da Lapa, em um bond comum, encontrei um dos elétricos, que descia. Era o primeiro que estes meus olhos viam andar. (...)
De repente ouvi vozes estranhas, pareceu-me que eram burros que conversavam, inclinei-me (ia no banco da frente); eram eles mesmos. Como eu conheço um pouco a língua dos Houyhnhnms, pelo que dela conta o famoso Gulliver, não me foi difícil apanhar o diálogo. Bem sei que cavalo não é burro, mas reconheci que a língua era a mesma. O burro fala menos, decerto, é talvez o trapista daquela grande divisão animal, mas fala. Fiquei inclinado e escutei:
- Tens e não tens razão, respondia o da direita ao da esquerda.
O da esquerda:
- Desde que a tração elétrica se estenda a todos os bonds, estamos livres, parece claro.
- Claro parece, mas entre parecer e ser, a diferença é grande. (...) O bond elétrico apenas nos fará mudar de senhor.
- De que modo?
- Nós somos bens da companhia. Quando tudo andar por arames, não somos já precisos, vendem-nos. Passamos naturalmente às carroças.
- Pela burra de Balaão! exclamou o burro da esquerda. Nenhuma aposentadoria? Nenhum prêmio? Nenhum sinal de gratificação? Oh, mas onde está a justiça deste mundo?
- Passaremos às carroças – continuou o outro pacificamente – onde a nossa vida será um pouco melhor; não que nos falte pancada, mas o dono de um burro sabe mais o que ele lhe custou. Um dia, a velhice, a lazeira, qualquer cousa que nos torne incapaz restituir-nos-á a liberdade...
- Enfim!
- Ficaremos soltos na rua, por pouco tempo, arrancando alguma erva que aí deixem crescer para recreio da vista. Mas que valem duas dentadas de erva, que nem sempre é viçosa? Enfraqueceremos, a idade ou a lazeira ir-nos-á matando, até que, para usar esta metáfora humana – esticaremos a canela. Então teremos a liberdade de apodrecer. Ao fim de três dias, a vizinhança começa a notar que o burro cheira mal; conversação e queixumes. No quarto dia, um vizinho, mais atrevido, corre aos jornais, conta o fato e pede uma reclamação. No quinto dia sai a reclamação impressa. No sexto dia, aparece um agente, verifica a exatidão da notícia; no sétimo, chega uma carroça, puxada por outro burro, e leva o cadáver.
Seguiu-se uma pausa.
- Tu és lúgubre, disse o burro da esquerda, não conheces a língua da esperança.
- Pode ser, meu colega; mas a esperança é própria das espécies fracas, como o homem e o gafanhoto; o burro distingue-se pela fortaleza sem par. A nossa raça é essencialmente filosófica. Ao homem que anda sobre dois pés, e provavelmente a águia, que voa alto, cabe a ciência da astronomia. Nós nunca seremos astrônomos. Mas a filosofia é nossa. Todas as tentativas humanas a este respeito são perfeitas quimeras.
(Machado de Assis, Crônica de 16 de outubro de 1892)
Trapista: relativo à ordem religiosa da Trapa, ramo beneditino dos cistercienses, fundada em 1140.
A partir da leitura atenta da propaganda apresentada e da gramática normativa, analise as afirmativas abaixo e assinale a alternativa correta.
I. O gênero publicitário, como exemplifica a propaganda apresentada, sempre tem a intenção de vender um produto, convencer um consumidor a comprá-lo.
II. O verbo “matar” está conjugado no modo Imperativo.
III. A oração “Se você tiver febre alta com dor de cabeça” é uma Oração Coordenada Explicativa
IV. No trecho “Mobilize sua família e seus vizinhos” o termo destacado, sintaticamente, é um verbo transitivo direto.
Texto 2
Trecho de entrevista da revista ISTOÉ com o filósofo Mario Sergio Cortella
Quais são os temas mais recorrentes em suas palestras atualmente?
Os temas mais demandados são a ética na convivência no âmbito da política pública, mas também no campo privado. Em segundo lugar, o campo da gestão do conhecimento, das pessoas estarem sempre com a necessidade de estar de prontidão para uma formação. Como lidar com cenários turbulentos é outro tema recorrente. A pessoa precisa ter clareza de que a vida é sempre um processo de mudança, de que aquilo que muda substitui aquilo que antes vinha. Mas há muita coisa que é antiga e que deve ser levada adiante. E tem muita coisa que é velha, ultrapassada. Uma sociedade que tem uma tecnologia avançada, às vezes, descuida do antigo e fica só em busca de novidades.
É possível falar em ética hoje no Brasil?
Falar sobre ética não é falar sobre alguém. É falar sobre nós. Ética são princípios e valores que usamos em nossa conduta. No Brasil, nós não temos a falta de ética, temos a falta de uma determinada ética. Há uma conduta hoje que está faltando.
As pessoas também estão mais ansiosas para ler sobre a felicidade?
As pessoas dizem “eu queria muito ser feliz”, “um dia eu vou ser feliz” como uma lamentação e não como um projeto de vida. Felicidade não é um estado contínuo, é um estado eventual. Só se percebe a importância da felicidade porque ela se ausenta. A real felicidade está na partilha. É por isso que hoje há uma obsessão com as redes sociais.
As redes sociais e o mundo virtual colaboram para isso em que medida?
O mundo digital é uma ocasião inestimável. Todo mundo junto e ninguém perto. A sucessão de imagem, o contato o tempo todo leva ao esgotamento. O prazer da água está em ter sede. As redes sociais saturam. Não gosto da palavra seguidor, por exemplo. Refere aos profetas, algo dogmático.
Disponível em: https://istoe.com.br/mario-sergio-cortella-vivemos-num-momento-incomodo-que-pode-levar-reinvencao/. Acesso em 14/ago/2019. [Adaptado]
Texto 1
Edificação da integridade coletiva
Somos um animal que não nasce pronto; temos de ser formados. Essa formação pode nos levar [.....] vida como benefício ou [......] vida como malefício, da pessoa que é capaz de produzir benefício ou da que é capaz de produzir malefício. Todos e todas somos capazes de ambas as coisas. Afinal de contas, ética está ligada [.....] ideia de liberdade. Ética é como eu decido a minha conduta. E a palavra “decido” é marcante porque sinaliza quais são os critérios e valores que eu uso para me conduzir na vida coletiva.
Não existe ética individual. Os séculos XVIII e XIX, com a industrialização e depois com a mecanização, são calcados na anulação da natureza como o outro. A percepção da natureza como o outro começa a ganhar forma [....] partir do século XX. Ela era tida como objeto e, portanto, passível de posse. A ideia da ecologia é uma questão ética porque passamos [....] tomar a natureza como o outro, não como objeto, ideia que vai introduzir uma referência: ética é convivência. A vida, acima de tudo, é condominial.
Identifique abaixo as afirmativas verdadeiras ( V ) e as falsas ( F ), com base nos textos 1 e 2.
( ) Ambos os textos abordam a questão da ética
vista como um valor coletivo, associado ao
comportamento em sociedade.
( ) Em “Ela era tida como objeto e, portanto, passível de posse” (texto 1, 2° parágrafo), a conjunção sublinhada introduz uma ideia de conclusão.
( ) Em “Mas há muita coisa que é antiga e que deve ser levada adiante” (texto 2, 1ª resposta), a conjunção sublinhada introduz um argumento que contrasta com a informação da frase precedente no texto.
( ) Em “Felicidade não é um estado contínuo, é um estado eventual” (texto 2, 3ª resposta), a segunda oração é coordenada sindética aditiva.
( ) ”Em Só se percebe a importância da felicidade porque ela se ausenta” (texto 2, 3ª resposta), a segunda oração indica uma ressalva em relação à oração precedente.
Assinale a alternativa que indica a sequência correta, de cima para baixo.
O PASTEL E A CRISE
Otto Lara Resende
Quando a crise convida ao pessimismo ou a ameaça descamba na depressão, está na hora de ler poesia ou prosa, tanto faz.
A partir de certa altura, bom mesmo é reler. Reler sobretudo o que nunca se leu, como repeti outro dia a um amigo que não é chegado à leitura. Ele mergulhou no Proust sem escafandro e se sente mal quando vem à tona e respira o ar poluído aqui de fora.
Verdadeiro sábio era o Rubem Braga. Tinha com a vida uma relação direta, sem intermediação intelectual. Houvesse o que houvesse, trazia no coração uma medida de equilíbrio que era um dom de nascença, mas era também fruto do aprendizado que só a experiência dá. No pequeno mundo do cotidiano, sabia como ninguém identificar as boas coisas da vida. E assim viveu até o último instante.
Certa vez, no auge de uma crise, crivada de discursos e de diagnósticos, o Rubem estava de olho nas frutas da estação. Madrugador, cedinho já sabia das coisas. Quando o largo horizonte nacional andava borrascoso, ele se punha a par das nuvens negras, mas não mantinha o olhar fixo no pé-direito alto da crise. Baixava o olhar ao rodapé, pois o sabor do Brasil está também no rés-do-chão.
Num dia de greve geral, inquietações no ar, tudo fechado, o Rubem me telefonou: “Vamos ao bar Luís, na rua da Carioca? Vamos ver a crise de perto”. E lá fomos. O bar estava aberto e o chope, esplêndido. Começamos por um preto duplo, que a sede era forte. Depois mais um, agora louro. Claro que não faltou o salsichão com bastante mostarda. Calados, mas vorazes, cumpríamos um rito. Alguém por perto disse que a Vila Militar tinha descido com os tanques.
Saímos dali e fomos a um sebo. O Rubem comprou “Xanã”, do Carlos Lacerda, com dedicatória. Depois pegamos o carro e voltamos pelo Aterro, onde se pode exercer o direito da livre eructação. Tinha sido um perfeito programa cultural. E sem nenhum incentivo do governo. Vi agora na televisão que o maracujá está em baixa e me lembrei do velho Braga.
Nem tudo está perdido. Fui à feira e comprei também dois suculentos abacaxis. Caem bem nesta hora de atribulação nacional. Só falta agora descobrir um bom pastel de palmito na Zona Norte. Se o Rubem estivesse aí, lá iríamos nós atrás da deleitosa descoberta . Depois, de cabeça erguida , enfrentaríamos a crise e até o caos.
(RESENDE, O. Lara. Fonte: https://edoc.site/149572393-ascem-melhores-cronicas-brasileiras-011-gpdf-pdf-free.html)
“Verdadeiro sábio era o Rubem Braga. Tinha com a vida uma relação direta, sem intermediação intelectual.” (§3)
O segundo período acima transcrito tem com o primeiro uma relação semântica de: