Questões de Concurso
Comentadas sobre ortografia em português
Foram encontradas 2.830 questões
Leia o texto abaixo transcrito e, em seguida, responda às questões a ele referentes:
A casa
Um casal amigo se separa e a mulher decide vender a casa. Vai morar com os filhos num apartamento novo. O homem também se instala em outro lugar, igualmente confortável. Ambos estão felizes e satisfeitos com a mudança. Ele já tem uma bonita namorada e ela muito em breve achará novo companheiro. Bem feitas as contas, o prejuízo foi meu, que perdi o terraço. Sim, era um pouco meu aquele pedaço da casa, onde passei bons momentos de férias, desfrutando a brisa atlântica e tomando uísque com água de coco.
Quando anunciaram o desenlace eu quis defender os meus interesses, mas deixei barato e permiti que seguissem o seu destino. Sou um sujeito compreensivo, abri mão do terraço. Fui mais longe em minha generosidade. Renunciei aos livros, discos, garrafas de boa bebida, quarto refrigerado. E abri mão principalmente, sufocando queixas, de uma cálida atmosfera humana, impossível de achar em qualquer hotel cinco estrelas e que o tempo vinha desgastando naquela casa finalmente desfeita, vendida, abandonada. Parece que esse é o destino inexorável de todas as casas. Acabam compradas, trocadas por apartamentos, invadidas por estranhos.
O desmonte foi lento e triste. Vi, nos preparativos da mudança, o descarte de coisas imprestáveis, com o vago sentimento de que também eu estava sendo descartado e deixado para trás como um guarda-chuva quebrado ou um velho objeto empoeirado e sem serventia. Dos moradores, somente minha mulher e eu, que éramos temporários, parecíamos ter saudades. Espiávamos, comovidos, aquelas caixas pardas que se iam fechando, levando um pouco de nós dois dentro delas. Ficava patente que estávamos vivendo o nosso último verão com aquelas pessoas tão queridas, para as quais, entretanto, pouco importava a proximidade do mar, a mangueira plena de frutos, o sudoeste soprando no fim das tardes, o cheiro de terra molhada pela “chuva de caju” nos ensolarados dezembros do Recife.
Tiramos uma fotografia do jardim. Contemplamos gravemente a paisagem líquida e verde que se descortinava no terraço. E vimos o quintal com os mesmos olhos saudosos que, na infância, reparavam os quintais pela última vez, a cada mudança.
Depois desse disfarçado ritual, abraços e beijos na família que nos hospedou. Já dentro do táxi para o aeroporto, arrisco um aceno discreto para a casa. Ela vai ficar ali, esperando novos e desconhecidos moradores. Guardando, em seu silêncio de pedra, noites alegres, festas, risadas, palavras amigas, e tudo mais que de repente se muda do tempo de agora para o cinzento do passado irrecorrível. Adeus, acabou.
FALCÃO, Aluízio. Crônicas da vida boêmia. Editora Ateliê Editorial. São Paulo: 1998.
A passagem a seguir servirá de base para as próximas questões 07 e 08.
“Sim, era um pouco meu aquele pedaço da casa, onde passei bons momentos de férias, desfrutando a brisa atlântica e tomando uísque com água de coco.”
De acordo com as regras vigentes de acentuação gráfica, a primeira palavra grifada (“atlântico”) é:
INSTRUÇÕES: As questões de 1 a 4 dizem respeito ao TEXTO 1. Leia-o atentamente antes de respondê-las.
TEXTO 1
Aprenda a cuidar melhor dos pés, esses injustiçados
1 Normalmente não dispensamos a esses fiéis
escudeiros a atenção que merecem. Pior: quase
sempre os ignoramos, quando não os castigamos
com excesso de peso e sapatos que são
5 verdadeiros instrumentos de tortura. Mas ainda
está em tempo de tratar melhor os pés, que depois
dos 50 exibem os tristes resultados de décadas de
negligência. Pacientes diabéticos já são orientados
pelos médicos para redobrar os cuidados com essa
10 parte do corpo, mas mesmo quem não sofre da
doença ou de problemas como joanetes ou artrose
deve tomar precauções. Não perca seus pés de
vista: depois do banho, enxugue bem entre os
dedos, porque a umidade facilita a proliferação de
15 fungos. Verifique se a pele apresenta bolhas,
manchas avermelhadas ou algum ferimento. E
aprenda a tratá-los com mais carinho, porque são
fundamentais para nos manter ativos. Alguns
cuidados fundamentais para os pés são: manter
20 uma boa hidratação, manter as unhas sempre
limpas e aparadas, evitar sapatos inadequados,
promover o descanso, bem controlar o peso. em
G1 Disponível https://g1.globo.com/bemestar/blog/longevidade-modo-de-usar/post/aprenda-a-cuidar-melhor-dos-pes-esses-injusticados.ghtml (Fragmento adaptado) - Acesso em 22. jan. 2018
Assinale a alternativa em que a palavra retirada do Texto 1 é acentuada pela seguinte razão: Assinalam-se as palavras paroxítonas terminadas em ditongo, seguidas ou não de “s”.
Leia atentamente o texto a seguir para responder às questões de 01 a 08.
OS NAMORADOS DA FILHA
___Quando a filha adolescente anunciou que ia dormir com o namorado, o pai não disse nada. Não a recriminou, não lembrou os rígidos padrões morais de sua antiga juventude. Homem avançado, já esperava que aquilo acontecesse um dia. Só não esperava que acontecesse tão cedo.
___Mas tinha uma exigência, além das clássicas recomendações. A moça podia dormir com o namorado:
___─ Mas aqui em casa.
___Ela, por sua vez, não protestou. Até ficou contente. Aquilo resultava em inesperada comodidade. Vida amorosa em domicílio, o que mais podia desejar? Perfeito.
___O namorado não se mostrou menos satisfeito. Entre outras razões, porque passaria a partilhar o abundante café da manhã da família. Aliás, seu apetite era espantoso: diante do olhar assombrado e melancólico do dono da casa, devorava toneladas do melhor requeijão, do mais fino presunto, tudo regado a litros de suco de laranja.
___Um dia, o namorado sumiu. Brigamos, disse a filha, mas já estou saindo com outro. O pai pediu que ela trouxesse o rapaz. Veio, e era muito parecido com o anterior: magro, cabeludo, com apetite descomunal.
___Brevemente, o homem descobriria que constância não era uma característica fundamental de sua filha. Os namorados começaram a se suceder em ritmo acelerado. Cada manhã de domingo, era uma nova surpresa: este é o Rodrigo, este é o James, este é o Tato, este é o Cabeça. Lá pelas tantas, ele desistiu de memorizar nomes ou mesmo fisionomias. Se estava na mesa do café da manhã, era namorado. Às vezes, também acontecia ─ ah, essa próstata, essa próstata ─ que ele levantava à noite para ir ao banheiro e cruzava com um dos galãs no corredor. Encontro insólito, mas os cumprimentos eram sempre gentis.
___Uma noite, acordou, como de costume, e, no corredor, deu de cara com um rapaz que o olhou apavorado. Tranquilizou-o:
___─ Eu sou o pai da Melissa. Não se preocupe, fique à vontade. Faça de conta que a casa é sua.
___E foi deitar.
___Na manhã seguinte, a filha desceu para tomar café. Sozinha.
___─ E o rapaz?
___─ perguntou o pai.
___─ Que rapaz? ─ disse ela.
___Algo lhe ocorreu, e ele, nervoso, pôs-se de imediato a checar a casa. Faltava o CD player, a máquina fotográfica, a impressora do computador. O namorado não era namorado. Paixão poderia nutrir, mas era pela propriedade alheia.
___Um único consolo restou ao perplexo pai: aquele, pelo menos, não fizera estrago no café da manhã.
(Moacyr Scliar. Crônica extraída da Revista Zero
Hora, 26/4/1998)
A palavra destacada no trecho “Um único consolo restou ao perplexo pai: aquele, pelo menos, não fizera estrago no café da manhã” recebe acento gráfico pela mesma regra de acentuação da seguinte palavra:
Leia o texto a seguir, a fim de resolver as questões de 1 a 4:
DIGA NÃO AOS LIVROS
Tenho saudades do tempo em que ainda não havia aprendido a ler. A vida era tão mais leve, entre brincadeiras à sombra dos laranjais. Não precisava ficar debruçado sobre cartilhas e cadernos, horas sem conta, espremendo o cérebro (é verdade que ainda bem pequeno) para descobrir o que aquela professora meio megera, meio bruxa, queria que eu fizesse com letras e números.
Mal sabia eu o quanto ainda era um paraíso aquele conjunto de palavras meio desordenado e sem sentido! O Ivo que via a uva, o macaco matuto comendo mamão e o papai que passava pomada na panela eram companheiros numa amizade sem conflitos nas páginas coloridas da cartilha, com uma graça forçada, igual ao sorriso amarelo que damos após uma gafe monumental. Mas o Ivo, o macaco e o papai se davam muito bem, porque não precisavam ter coesão nem coerência, palavrinhas infernais que aprendi a pronunciar mais tarde nas aulas de redação. E que nunca soube muito bem para que serviam...
Hoje, após muita reflexão e experiência, concluo que as atividades de ler e escrever deveriam ser banidas do currículo das escolas. Afinal, se as estatísticas sobre o assunto e todas as provas de leitura e língua a que se submetem os alunos brasileiros sempre acabam em números mínimos e vergonhosos, por que insistir nisso? Veja bem: os governantes não ignoram as pesquisas sobre os problemas da cidade ou sobre o valor do salário mínimo quando elas dão resultados irrisórios? Então... Vamos fazer o mesmo com a leitura e a escrita. Ah, e também com a matemática (por sinal, dispensável depois que inventaram a calculadora!).
Acho que os estudantes ficariam muito mais contentes se não precisassem ler. Principalmente se fosse para adquirir o tal de conhecimento sobre o mundo. Acho desnecessário saber sobre o mundo. Acho que nunca vou sair da minha cidade: para que me serviria o mundo? Se for para saber sobre a história, também dispenso a leitura. Nada tenho a ver com gente antiga e com acontecimentos já terminados. A vida começa hoje, e toda a história começa e termina comigo.
Se for para aprender sobre mim mesmo, como os professores insistem em dizer quando falam da leitura da literatura, continua dispensando. Já me conheço o suficiente: todos os meus gostos e preferências eu já conheço. Se tenho alguma dúvida, ela é resolvida no meu grupo. Porque o que meus amigos e eu decidimos, todos adotamos. Não tenho nada a esconder. Afinal, querer um carrão, uma casa bonita, férias na praia e um carrinho cheio no supermercado todos querem. E não precisam de estudo para isso. Podem conseguir com um pouco de sorte na loteria. Claro que fica mais fácil se o sujeito dá a sorte de virar cantor, ou se aprender a jogar futebol com alguma qualidade. Aí, então, analfabetismo vira charme, diferencial, pitoresco.
Dizem que devo ler para, ao menos, saber do que se passa na cidade, pertinho de mim. Para que me serve saber das notícias? Elas acontecem sem minha participação. E vão continuar acontecendo. Só me interessa o resultado do futebol. O resto é preocupação que não preciso ter.
Nem sei por que continuo indo à escola. Meus pais dizem que é para que eu tenha uma vida melhor que a deles. De que adianta? Eles estudaram mais que eu e, no entanto, dão um duro danado para sustentar a família. Se estudar é tão importante, por quê é que os outros desvalorizam o trabalho dos que passaram vários anos estudando e lendo um monte de textos?
Outro dia fiquei sabendo que um ex-colega de escola conseguiu emprego numa livraria. É esquisito como tem gente que põe dinheiro nesse tipo de comércio. Passei lá nessa loja por acaso e entrei para falar com o cara. É verdade que tinha uns livros bonitos nas prateleiras... Parecia coisa de muito luxo e importância. Abri um deles e li um pedaço de uma página. Não entendi nada: algumas palavras eu conhecia, mas as frases não faziam sentido para mim. Achei um desperdício de papel e tinta: de que serve um livro se as pessoas não conseguem entender o que lêem? O colega falou que isso era porque eu não sabia ler. “Como não?”, respondi. “Tenho até diploma que diz que fui alfabetizado!” Aí ele me disse uma coisa que me deixou muito impressionado. “Pior analfabeto é o que aprendeu a ler e não lê!” Me senti ofendido. Mas, dentro de mim, reconheci que ele estava certo. Mas eu não estava ali para dar a ele o gostinho do acerto. Saí da livraria de cabeça erguida, dizendo que livro que não se entende é coisa mais que inútil. E livraria é lugar de gente que não tem, ou que não sabe, o que fazer na vida. Melhor que livro são os games. Melhor que os games, só o rock. Melhor que eles é a azaração. Ler para quê?
A experiência acumulada sobre os malefícios da leitura em meus anos de vida me deram a idéia de criar um movimento de alerta para meus amigos, e até para os inimigos. Eles estão indo na conversa dos mais velhos. Ficam na dúvida e começam a pensar que a leitura e o estudo podem lhes trazer benefícios futuros. Vou criar uma associação dos inimigos da leitura que terá como palavra de ordem “Abaixo os livros!” Tenho certeza de que muitos virão se unir a mim. Penso que só assim acabaremos com essa farsa de civilização, história e cultura.
O que vale mesmo é a azaração. O resto é silêncio. Palha.
(COSTA, Marta Morais da. Mapa do mundo: crônicas sobre leitura. Belo Horizonte: Leitura, 2006.)
De acordo com o Novo Acordo Ortográfico em vigor no Brasil, identifique a opção que destaca e explica a regra adequadamente:
Texto para as questões 1 a 5:
Canção Amiga
Carlos Drummond de Andrade
Eu preparo uma canção
em que minha mãe se reconheça,
todas as mães se reconheçam,
e que fale como dois olhos.
Caminho por uma rua
que passa em muitos países.
Se não se vêem, eu vejo
e saúdo velhos amigos.
Eu distribuo um segredo
como quem anda ou sorri.
No jeito mais natural
dois carinhos se procuram.
Minha vida, nossas vidas
formam um só diamante.
Aprendi novas palavras
e tornei outras mais belas.
Eu preparo uma canção
que faça acordar os homens
e adormecer as crianças.
Considerando as palavras em destaque (negrito) na segunda estrofe do poema:
I. “Rua” é uma palavra paroxítona, não acentuada porque termina em vogal A.
II. “Países” é uma paroxítona, mas sua acentuação justifica-se pelo hiato formado no interior dessa palavra.
III. “Vêem” é uma palavra paroxítona que também concentra um hiato. Com a Reforma Ortográfica em vigor a partir de 2016, esse acento será abolido.
IV. “Saúdo” é uma palavra paroxítona, cuja acentuação está explicada pela presença do hiato.
Sobre essas afirmações, é correto dizer:
EUTANÁSIA
Todos aqueles que acham a eutanásia um ato necessário em situações extremas apresentam algumas argumentos a favor dessa prática. Eles acham que a eutanásia é um modo de fugir ao sofrimento quando há falta de qualidade de vida em fase terminal. Também pensam que morrer de uma forma pouco dolorosa é significado de morte digna. Segundo os defensores, cada pessoa tem autonomia para decidir por si próprio, estando na base da escolha a prática ou não da eutanásia. Nessa perspectiva, vale dizer que não se apoia nem se defende a morte em si, mas se convidam os seres humanos a uma reflexão sobre uma morte mais suave e menos dolorosa, que algumas pessoas optam por ter, em vez de viverem uma batalha lenta e sofrida até o óbito.
(Adaptado. Disponível em: https://eutanasia11a.wordpress.com/argumentos-a-favorc ontra/)
Com base no texto 'EUTANÁSIA', marque a opção CORRETA
DEFESA DOS NARDONI PEDE JÚRI AO VIVO NA TV
1 O advogado Roberto Podval deverá pedir à Justiça que o julgamento de seus clientes, Alexandre Nardoni, 31, e Anna Carolina Jatobá, 26, seja televisionado em rede nacional. Nesta semana, ele já pediu que em sua argumentação possa também usar como prova nabo, cenoura, banana e alho. Os legumes, diz ele, serão usados para questionar o trabalho dos peritos.
2 Caso o juiz não aceite, a defesa ameaça se retirar do tribunal, forçando o adiamento do julgamento. O casal é acusado de assassinar Isabella Nardoni, filha de Alexandre, no dia 29 de março de 2008. Ambos negam. O julgamento está marcado para começar na próxima segunda.
3 Segundo o defensor, a possibilidade de falar na TV deverá atenuar a imagem negativa que o casal tem na sociedade.
4 Em entrevista à Folha ontem, ele também disse que, usando os alimentos durante o júri, espera conseguir provar que não há uma certeza sobre a existência de sangue no apartamento do casal, de onde a garota foi jogada do sexto andar.
5 O reagente Bluestar Forensic, usado pelo Instituto de Criminalística para detectar manchas de sangue, também age com diversos produtos, entre eles os legumes, frutas e temperos citados, conforme o advogado. A defesa entende que o reagente, que será levado ao julgamento, não é preciso para definir se as manchas encontradas no imóvel eram sangue.
6 O promotor que atua no caso, Francisco Cembranelli, diz que a tese é infundada. "Eu não acredito que as polícias científicas de todo o mundo usem um produto que dá positivo com qualquer gênero alimentício", disse à Folha na quarta.
7 "Por que o FBI [polícia federal americana] e a Scotland Yard [polícia britânica] usam? Restaria concluir que a Justiça americana já deve ter condenado muita gente dizendo que matou e espalhou sangue, quando era nabo da cozinheira descuidada." Ontem, ele não foi encontrado para comentar o pedido de televisionamento.
TALITA BEDINELLI & AFONSO BENITES da Folha de S.Paulo.
O acento no vocábulo porém , justifica-se porque:
Texto 1
Políticos bonitos têm vantagem nas eleições
1 “Essa eu ganho!”
2 Quem vê cara não vê plano eleitoral, mas isso pode importar menos do que
3 a gente imagina. (Ou talvez a gente já imagine mesmo.) “Será que
4 candidatos bonitos são mais propensos a serem eleitos?”, se perguntaram
5 os pesquisadores australianos Amy King e Andrew Leigh. Para descobrir,
6 eles colheram dados lá na Austrália mesmo – país onde o voto é obrigatório
7e onde os eleitores recebem cartões com fotos dos candidatos dos
8 principais partidos na hora de irem às urnas. “Selecionamos avaliadores
9 representativos do eleitorado para estimar a beleza dos candidatos dos
10 principais partidos e, então, estimamos o efeito da aparência nos votos da
11 eleição federal de 2004″, contam. “Os candidatos bonitos são, de fato, mais
12 propensos a serem eleitos, com um aumento médio de 1,5 a 2 pontos
13 percentuais nos votos recebidos”. O estudo aponta, ainda, que o efeito do
14 rostinho bonito é maior entre os candidatos homens do que entre as
15 mulheres. E também que a beleza importa mais nos eleitorados com maior
16 número de eleitores “apáticos” – aqueles que saíram de casa para votar só
17 porque foram obrigados. “Protesto”, será?
Thiago Perin
21 de outubro de 2010
Disponível em: http://super.abril.com.br/blogs/cienciamaluca/category/politica/.
Acesso em: 19 set. 2011.
Em relação às normas de ortografia, é correto afirmar que
Leia o texto abaixo transcrito e, em seguida, responda às questões a ele referentes:
É ético fazer a cabeça de nossos alunos?
Alguns dos livros de história mais usados nas escolas brasileiras carregam na ideologia, que divide o mundo entre os capitalistas malvados e os heróis da resistência
As aulas voltaram, por estas semanas, e decidi tirar a limpo uma velha questão: há ou não doutrinação ideológica em nossos livros didáticos? Para responder à pergunta, analisei alguns dos livros de história e sociologia mais adotados no país. Entre os dez livros que analisei, não encontrei, infelizmente, nenhum “pluralista” ou particularmente cuidadoso ao tratar de temas de natureza política ou econômica.
O viés político surge no recorte dos fatos, na seleção das imagens, nas indicações de leituras, de filmes e de links culturais. A coisa toda opera à moda Star wars: o lado negro da força é a “globalização neoliberal”. O lado bom é a “resistência” do Fórum Social Mundial, de Porto Alegre, e dos “movimentos sociais”. No Brasil contemporâneo, Fernando Henrique Cardoso é Darth Vader, Lula é Luke Skywalker.
No livro Estudos de história, da Editora FTD, por exemplo, nossos alunos aprenderão que Fernando Henrique era neoliberal (apesar de “tentar negar”) e seguiu a cartilha de Collor de Melo; e que os “resultados dessas políticas foram desastrosos”. Em sua época, havia “denúncias de subornos, favorecimentos e corrupção” por todos os lados, mas “pouco se investigou”.
Nossos adolescentes saberão que “as privatizações produziram desemprego” e que o país assistia ao aumento da violência urbana e da concentração de renda e à “diminuição dos investimentos”. E que, de quebra, o MST pressionava pela reforma agrária, “sem sucesso”.
Na página seguinte, a luz. Ilustrado com o decalque vermelho da campanha “Lula Rede Brasil Popular”, o texto ensina que, em 2002, “pela primeira vez” no país, alguém que “não era da elite” é eleito presidente. E que, “graças à política social do governo Lula”, 20 milhões de pessoas saíram da miséria. Isso tudo fez a economia crescer e “telefones celulares, eletrodomésticos sofisticados e computadores passaram a fazer parte do cotidiano de milhões de pessoas, que antes estavam à margem desse perfil de consumo”.
Na leitura seguinte, do livro História geral e do Brasil, da Editora Scipione, o quadro era o mesmo. O PSDB é um partido “supostamente ético e ideológico” e os anos de Fernando Henrique são o cão da peste. Foram tempos de desemprego crescente, de “compromissos com as finanças internacionais”, em que “o crime organizado expandiu-se em torno do tráfico de drogas, convertendo-se em poder paralelo nas favelas”.
Com o governo Lula, tudo muda, ainda que com alguns senões. Numa curiosa aula de economia, os autores tentam explicar por que a “expansão econômica” foi “limitada”: pela adoção de uma “política amigável aos interesses estrangeiros, simbolizada pela liberdade ao capital especulativo”; pela “manutenção, até 2005, dos acordos com o FMI” e dos “pagamentos da dívida externa”.
O livro História conecte, da Editora Saraiva, segue o mesmo roteiro. O governo Fernando Henrique é “neoliberal”. Privatizou “a maioria das empresas estatais” e os US$ 30 bilhões arrecadados “não foram investidos em saúde e educação, mas em lucros aos investidores e especuladores, com altas taxas de juros”. A frase mais curiosa vem no final: em seu segundo mandato, Fernando Henrique não fez “nenhuma reforma” nem tomou “nenhuma medida importante”. Imaginei o presidente deitado em uma rede, enquanto o país aprovava a Lei de Responsabilidade Fiscal (2000), o fator previdenciário (1999) ou o Bolsa Escola (2001).
No livro História para o ensino médio, da Atual Editora, é curioso o tratamento dado ao “mensalão”. Nossos alunos saberão apenas que houve “denúncias de corrupção” contra o governo Lula, incluindo-se um caso conhecido como mensalão, “amplamente explorado pela imprensa liberal de oposição ao petismo”.
Sobre a América Latina, nossos alunos aprenderão que o Paraguai foi excluído do Mercosul em 2012, por causa do “golpe de Estado”, que tirou do poder Fernando Hugo. Saberão que, com a eleição de Hugo Chávez, a Venezuela torna-se o “centro de contestação à política de globalização da economia liderada pelos Estados Unidos”. Que “a classe média e as elites conservadoras” não aceitaram as transformações produzidas pelo chavismo, mas que o comandante “conseguiu se consolidar”. Sobre a situação econômica da Venezuela, alguma informação? Algum dado crítico para dar uma equilibrada e permitir aos alunos que formem uma opinião? Nada.
Curioso é o tratamento dado às ditaduras da América Latina. Para os casos da Argentina, Uruguai e Chile, um capítulo (merecido) mostrando os horrores do autoritarismo e seus heróis: extratos de As veias abertas da América Latina, de Eduardo Galeano; as mães da Praça de Maio, na Argentina; o músico Víctor Jara, executado pelo regime de Pinochet. Tudo perfeito.
Quando, porém, se trata de Cuba, a conversa é inteiramente diferente. A única ditadura que aparece é a de Fulgêncio Batista. Em vez de filmes como Antes do anoitecer, sobre a repressão ao escritor homossexual Reynaldo Arenas, nossos estudantes são orientados a assistir a Diários de Motocicleta, Che e Personal Che.
As restrições do castrismo à “liberdade de pensamento” surgem como “contradições” da revolução. Alguma palavra sobre os balseiros cubanos? Alguma fotografia, sugestão de filme ou link cultural? Alguma coisa sobre o paredón cubano? Alguma coisa sobre Yoane Sánchez ou as Damas de Branco? Zero. Nossos estudantes não terão essas informações para produzir seu próprio juízo. É precisamente isso que se chama ideologização.
A doutrinação torna-se ainda mais aguda quando passamos para os manuais de sociologia. Em plena era das sociedades de rede, da revolução maker, da explosão dos coworkings e da economia colaborativa, nossos jovens aprendem uma rudimentar visão binária de mundo, feita de capitalistas malvados versus heróis da “resistência”. Em vez de encarar o século XXI e suas incríveis perspectivas, são conduzidos de volta à Manchester do século XIX.
Superar esse problema não é uma tarefa trivial. Há um “mercado” de produtores de livros didáticos bem estabelecido no país, agindo sob a inércia de nossas editoras e a passividade de pais, professores e autoridades de educação. Sob o argumento malandro de que “tudo é ideologia”, essas pessoas prejudicam o desenvolvimento do espírito crítico de nossos alunos. E com isso fazem muito mal à educação brasileira.
Artigo escrito pelo filósofo Fernando L. Schüler. Revista Época. Edição de 07 de março de 2016. Número 925
A passagem a seguir servirá de base para as questões 14 e 15.
“E que, de quebra, o MST pressionava pela reforma agrária, “sem sucesso”.”
De acordo com as regras de acentuação gráfica, a palavra sublinhada agrária é:
Assinale a opção incorreta com relação à frase: “Os produtos de limpeza foram comprados de uma empresa de Ipumirim.”
Quantas letras e quantos fonemas tem a palavra “chave”:
No que se refere à prática de leitura é correto afirmar:
Ainda de acordo com os PCNs, a produção oral pode acontecer nas mais diversas circunstâncias, dentro dos mais diversos projetos, EXCETO:
De acordo com os PCNs, a transversalidade em Língua Portuguesa pode ser abordada a partir de duas questões nucleares que são:
Eu sei, mas não devia
Marina Colassanti
Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia
A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma ___ não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, ___ medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.
A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.
A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.
A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.
A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez vai pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.
A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir ____ comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.
A gente se acostuma ____ poluição. ____ salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter _________ uma planta.
A gente se acostuma ____ coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e ____ no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não ____ muito o que fazer, a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.
A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar ____ pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se da faca e da baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.
Assinale a alternativa CORRETA:
Leia o texto abaixo e responda as questões de 1 a 10:
COMUNIDADES - DAS PRIMEIRAS ÀS NOVAS LEITURAS
DO CONCEITO
(...)
Por meio dos autores reunidos por Fernandes, percebe-se que a ideia de comunidade remete ao sentimento de vida em comum fundado nas relações de parentesco e vizinhança, baseado na reciprocidade, norteado por laços afetivos que ligam indivíduos que convivem em um mesmo espaço físico e nele adquirem os recursos básicos para a sua subsistência. Cada um dos autores apresentados por Fernandes atribui valor a um ou outro dos atributos. Mas, se pudéssemos identificar um tipo ideal de comunidade, no sentido weberiano do termo, a partir dos diversos autores reunidos por Fernandes, esta teria: base territorial comum, fortes laços afetivos, reciprocidade, autonomia política e econômica e subordinação do individual ao social.
Já uma sociedade seria definida por relações voluntárias e contratuais. Na medida em que compartilham determinado interesse, indivíduos podem se associar para alcançar objetivos relacionados ao mesmo, embora não necessariamente tenham outros aspectos de suas vidas compartilhados, tais como relações de parentesco, interdependências econômicas ou convivam numa mesma base territorial. Portanto, o conceito de sociedade é mais amplo e inclui o de comunidade.
Essa diferenciação conceituai vem à tona a partir do aprofundamento do processo da divisão social do trabalho. A fragmentação das atividades laborais, a prevalência do contrato sobre o status, a multiplicação dos grupos formais, a passagem da família para o Estado como forma de organização social predominante e a ampliação e internacionalização das trocas comerciais são algumas condições sociais que promovem modos de vida societários e fundamentam a separação conceituai entre comunidade e sociedade; e, mesmo, sugerem a passagem da primeira forma à segunda como modo predominante de agrupamento social, embora a bibliografia seja quase unânime em afirmar a coexistência entre as duas formas sociais ao longo da História. (...)
http://www.revistas.usp.br/comueduc/article/view/78561/83089 - acesso em 02/05/2016.
Leia a frase abaixo e assinale a alternativa correta.
Por meio dos autores reunidos por Fernandes, percebe-se que a ideia de comunidade remete ao sentimento de vida em comum fundado nas relações de parentesco e vizinhança, baseado na reciprocidade, norteado por laços afetivos que ligam indivíduos que convivem em um mesmo espaço físico e nele adquirem os recursos básicos para a sua subsistência.
Assinale a alternativa em que todas as palavras são acentuadas pela mesma regra que nos permite acentuar a palavra “saída”.
Leia o texto a seguir para responder as questões de 1 a 10:
O PORTA DOS FUNDOS E OS LIMITES À LIBERDADE DE EXPRESSÃO
Por Gazeta do Povo
[22/12/2019] [00:01]
No programa do Porta dos Fundos, entre outros conteúdos questionáveis, Jesus é retratado como homossexual.
- ___É amplamente conhecida a história contada pelos humoristas do grupo inglês Monty Python a respeito da origem de
- um de seus longas-metragens. Interessados em satirizar Jesus Cristo, eles vasculharam os Evangelhos à procura de algo que
- rendesse piadas, mas acabaram desistindo. “Não há como tirar sarro do que ele [Cristo] diz, é coisa muito digna”, afirmou
- Eric Idle, um dos membros da trupe. O resultado foi A vida de Brian, cujo enredo gira em torno de uma outra pessoa,
- contemporânea de Jesus e que é confundida com o Messias. Já os brasileiros do Porta dos Fundos não tiveram a mesma
- sensibilidade em seu especial de Natal. A primeira tentação de Cristo, que começou a ser exibido em 3 de dezembro pelo
- serviço de streaming Netflix, mostra Jesus em sua festa de 30 anos (ou seja, prestes a iniciar sua vida pública), na qual fica
- sabendo que é adotado e que seu pai verdadeiro não é José, e sim o próprio Deus. Um ponto que se tornou especialmente
- ofensivo para cristãos de diversas denominações é o fato de Jesus ser retratado como homossexual, pois leva um namorado
- para a festa.
- __Boa parte das reações ao vídeo, até o momento, tem se concentrado no boicote à Netflix e no pedido para que as
- pessoas cancelem sua assinatura do serviço. Não é nosso objetivo, no momento, avaliar se esta é uma reação acertada ou
- não, mas é importante lembrar que, em sociedades democráticas, o boicote é uma expressão de liberdade individual em que
- a pessoa avalia os prós e contras de consumir determinado produto ou serviço. No caso em questão, trata-se de avaliar se
- vale a pena abrir mão dos demais conteúdos oferecidos – e que incluem obras com mensagens que muitos cristãos veem
- como positivas – para não acabar financiando também o que se considera uma ofensa grave. O boicote, inclusive, é ferramenta
- amplamente utilizada por minorias e outros grupos de pressão, e não pode ser deslegitimado única e simplesmente com base
- em quem organiza e quem é atingido pela ação.
- ___O tema que nos interessa, aqui, é outro: discutir se, quando o tema é religião, há limites ao alcance da liberdade de
- expressão e possíveis consequências jurídicas. Diversos países usam abordagens diferentes para o tema. Em uma ponta, está
- o ordenamento legal norte-americano, que consagra a liberdade quase irrestrita; no entanto, a maioria das outras democracias
- do Ocidente segue a tradição pós-vestfaliana, surgida com o encerramento das guerras de religião que varreram a Europa nos
- séculos 16 e 17, e que defende o respeito às diferentes confissões religiosas, inclusive como ferramenta de pacificação da
- sociedade. A Alemanha, por exemplo, criminaliza a mera ofensa às religiões, o que faria dela uma lei bastante restritiva se
- não fosse pelo detalhe de exigir que a ofensa possa “perturbar a paz pública”. Isso cria uma divisão entre religiões que podem
- ser ofendidas, pois seus membros reagem de forma não agressiva, e religiões que não podem ser ofendidas, pois a resposta
- de seus fiéis é violenta – o que nos remete à resposta que um dos membros do Porta dos Fundos, Fábio Porchat, deu em
- entrevista de 2013 ao jornal O Estado de S.Paulo: “não faço piada com Alá e Maomé, porque não quero morrer! Não quero
- que explodam a minha casa só por isso”.
- __O Brasil, no artigo 208 do Código Penal, adota uma régua mais liberal, pois o ato definido como crime é o de
- “vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso”. Não basta o simples ataque ou crítica; o vilipêndio vai muito além
- disso, sendo um grau mais forte de ofensa, e que precisa ser dirigido a um “ato ou objeto de culto”, o que inclui cerimônias
- e também personagens veneradas como sagradas por cada fé. Também não é nosso objetivo, neste espaço, avaliar se o vídeo
- do Porta dos Fundos efetivamente incorreu em desrespeito ao artigo 208 do Código Penal; mas, havendo quem considere
- que houve crime, é natural que os ofendidos recorram à Justiça, a quem cabe resolver a questão.
- ___Até o momento, no entanto, as ações contrárias ao vídeo têm sido propostas na esfera cível, não na penal, embasadas,
- entre outros pontos, em textos constitucionais como o artigo 221, que inclui o “respeito aos valores éticos e sociais da pessoa
- e da família” como princípios da programação de emissoras de rádio e televisão no Brasil. O Ministério Público do Rio de
- Janeiro, por exemplo, emitiu parecer pela suspensão da veiculação, enquanto no Mato Grosso, onde houve pedido
- semelhante, a posição do MP foi contrária. Tribunais fluminenses e paulistas, até agora, têm decidido pela manutenção do
- vídeo na plataforma de streaming.
- ___A liberdade de expressão, como sabemos, não é absoluta. Ninguém pode se escorar nela, por exemplo, para caluniar
- outra pessoa ou defender posturas ofensivas à dignidade humana, como o racismo. O ordenamento jurídico brasileiro decidiu,
- além disso, colocar alguns outros limites a essa liberdade, protegendo outros valores, como o sentimento religioso, mas
- estabelecendo a necessidade de a ofensa se revestir de maior gravidade que a mera crítica ou sátira. É por isso que não se
- pode simplesmente acusar de “censuradores” os cristãos que, ofendidos pelo conteúdo do vídeo, recorram à Justiça – direito,
- aliás, exercido por muitos outros grupos quando se julgam atacados –, e o epíteto tampouco serviria a um magistrado que,
- eventualmente, considerasse haver crime ou violação a princípios constitucionais. Essa atitude leva a uma banalização do
- termo “censura” (hoje usado levianamente até para descrever situações como a retirada de incentivo estatal a certas
- manifestações artísticas) e vai lentamente apagando a noção de, por mais valiosa que seja a liberdade de expressão, ela não
- legitima um “vale tudo”.
https://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/editoriais/o-porta-dos-fundos-e-os-limites-a-liberdade-de-expressao/ acesso em 27/12/2019.
Analise as assertivas a seguir com base no texto.
I) A expressão “ferramenta” (l. 16) foi empregada em sentido conotativo.
II) As aspas empregadas na expressão “censuradores” (l. 46) marcam um adjetivo atribuído a alguns cristãos.
III) O verbo haver na passagem “(...) discutir se, quando o tema é religião, há limites ao alcance da liberdade de expressão e possíveis consequências jurídicas.” pode ser substituído por “existe”.
IV) O acento circunflexo empregado no verbo ter ao longo do texto, justifica-se por fazer referência a um sujeito no singular.
Estão corretas,
Leia o texto a seguir para responder as questões de 1 a 10:
O PORTA DOS FUNDOS E OS LIMITES À LIBERDADE DE EXPRESSÃO
Por Gazeta do Povo
[22/12/2019] [00:01]
No programa do Porta dos Fundos, entre outros conteúdos questionáveis, Jesus é retratado como homossexual.
- ___É amplamente conhecida a história contada pelos humoristas do grupo inglês Monty Python a respeito da origem de
- um de seus longas-metragens. Interessados em satirizar Jesus Cristo, eles vasculharam os Evangelhos à procura de algo que
- rendesse piadas, mas acabaram desistindo. “Não há como tirar sarro do que ele [Cristo] diz, é coisa muito digna”, afirmou
- Eric Idle, um dos membros da trupe. O resultado foi A vida de Brian, cujo enredo gira em torno de uma outra pessoa,
- contemporânea de Jesus e que é confundida com o Messias. Já os brasileiros do Porta dos Fundos não tiveram a mesma
- sensibilidade em seu especial de Natal. A primeira tentação de Cristo, que começou a ser exibido em 3 de dezembro pelo
- serviço de streaming Netflix, mostra Jesus em sua festa de 30 anos (ou seja, prestes a iniciar sua vida pública), na qual fica
- sabendo que é adotado e que seu pai verdadeiro não é José, e sim o próprio Deus. Um ponto que se tornou especialmente
- ofensivo para cristãos de diversas denominações é o fato de Jesus ser retratado como homossexual, pois leva um namorado
- para a festa.
- __Boa parte das reações ao vídeo, até o momento, tem se concentrado no boicote à Netflix e no pedido para que as
- pessoas cancelem sua assinatura do serviço. Não é nosso objetivo, no momento, avaliar se esta é uma reação acertada ou
- não, mas é importante lembrar que, em sociedades democráticas, o boicote é uma expressão de liberdade individual em que
- a pessoa avalia os prós e contras de consumir determinado produto ou serviço. No caso em questão, trata-se de avaliar se
- vale a pena abrir mão dos demais conteúdos oferecidos – e que incluem obras com mensagens que muitos cristãos veem
- como positivas – para não acabar financiando também o que se considera uma ofensa grave. O boicote, inclusive, é ferramenta
- amplamente utilizada por minorias e outros grupos de pressão, e não pode ser deslegitimado única e simplesmente com base
- em quem organiza e quem é atingido pela ação.
- ___O tema que nos interessa, aqui, é outro: discutir se, quando o tema é religião, há limites ao alcance da liberdade de
- expressão e possíveis consequências jurídicas. Diversos países usam abordagens diferentes para o tema. Em uma ponta, está
- o ordenamento legal norte-americano, que consagra a liberdade quase irrestrita; no entanto, a maioria das outras democracias
- do Ocidente segue a tradição pós-vestfaliana, surgida com o encerramento das guerras de religião que varreram a Europa nos
- séculos 16 e 17, e que defende o respeito às diferentes confissões religiosas, inclusive como ferramenta de pacificação da
- sociedade. A Alemanha, por exemplo, criminaliza a mera ofensa às religiões, o que faria dela uma lei bastante restritiva se
- não fosse pelo detalhe de exigir que a ofensa possa “perturbar a paz pública”. Isso cria uma divisão entre religiões que podem
- ser ofendidas, pois seus membros reagem de forma não agressiva, e religiões que não podem ser ofendidas, pois a resposta
- de seus fiéis é violenta – o que nos remete à resposta que um dos membros do Porta dos Fundos, Fábio Porchat, deu em
- entrevista de 2013 ao jornal O Estado de S.Paulo: “não faço piada com Alá e Maomé, porque não quero morrer! Não quero
- que explodam a minha casa só por isso”.
- __O Brasil, no artigo 208 do Código Penal, adota uma régua mais liberal, pois o ato definido como crime é o de
- “vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso”. Não basta o simples ataque ou crítica; o vilipêndio vai muito além
- disso, sendo um grau mais forte de ofensa, e que precisa ser dirigido a um “ato ou objeto de culto”, o que inclui cerimônias
- e também personagens veneradas como sagradas por cada fé. Também não é nosso objetivo, neste espaço, avaliar se o vídeo
- do Porta dos Fundos efetivamente incorreu em desrespeito ao artigo 208 do Código Penal; mas, havendo quem considere
- que houve crime, é natural que os ofendidos recorram à Justiça, a quem cabe resolver a questão.
- ___Até o momento, no entanto, as ações contrárias ao vídeo têm sido propostas na esfera cível, não na penal, embasadas,
- entre outros pontos, em textos constitucionais como o artigo 221, que inclui o “respeito aos valores éticos e sociais da pessoa
- e da família” como princípios da programação de emissoras de rádio e televisão no Brasil. O Ministério Público do Rio de
- Janeiro, por exemplo, emitiu parecer pela suspensão da veiculação, enquanto no Mato Grosso, onde houve pedido
- semelhante, a posição do MP foi contrária. Tribunais fluminenses e paulistas, até agora, têm decidido pela manutenção do
- vídeo na plataforma de streaming.
- ___A liberdade de expressão, como sabemos, não é absoluta. Ninguém pode se escorar nela, por exemplo, para caluniar
- outra pessoa ou defender posturas ofensivas à dignidade humana, como o racismo. O ordenamento jurídico brasileiro decidiu,
- além disso, colocar alguns outros limites a essa liberdade, protegendo outros valores, como o sentimento religioso, mas
- estabelecendo a necessidade de a ofensa se revestir de maior gravidade que a mera crítica ou sátira. É por isso que não se
- pode simplesmente acusar de “censuradores” os cristãos que, ofendidos pelo conteúdo do vídeo, recorram à Justiça – direito,
- aliás, exercido por muitos outros grupos quando se julgam atacados –, e o epíteto tampouco serviria a um magistrado que,
- eventualmente, considerasse haver crime ou violação a princípios constitucionais. Essa atitude leva a uma banalização do
- termo “censura” (hoje usado levianamente até para descrever situações como a retirada de incentivo estatal a certas
- manifestações artísticas) e vai lentamente apagando a noção de, por mais valiosa que seja a liberdade de expressão, ela não
- legitima um “vale tudo”.
https://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/editoriais/o-porta-dos-fundos-e-os-limites-a-liberdade-de-expressao/ acesso em 27/12/2019.
Perceba a grafia do período: “Até o momento, no entanto, as ações contrárias ao vídeo têm sido propostas na esfera cível, não na penal (...)”.
As palavras acentuadas podem ser classificadas, respectivamente, segundo os padrões de tonicidade, em