Questões de Português para Concurso

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Q3061019 Português
É seguro comer alimentos que você deixou cair no chão se
você pegá-los rápido o suficiente?



          A “regra dos 5 segundos” tem sido tema de debates, com alguns afirmando que ela é real e outros achando que é besteira. O segredo é entender a rapidez com que as bactérias são transferidas da superfície do piso para os alimentos após a queda. Muitos erraram nessa medição, diz o cientista Donald Schaffner. Estudos amadores confundiram a questão ao se basearem em experimentos que não foram aprovados cientificamente. De fato, houve apenas outra investigação rigorosa antes de 2016: um estudo realizado pelo cientista de alimentos Paul Dawson, em 2007.

          Dawson relatou que os alimentos podem pegar bactérias imediatamente ao entrar em contato com uma superfície, mas esse estudo se concentrou mais em quanto tempo as bactérias poderiam sobreviver nas superfícies para contaminar os alimentos. Por isso, Schaffner decidiu testar uma variedade maior de alimentos em condições mais diversas. Os experimentos mostraram que a regra dos 5 segundos na verdade não é uma regra. Quanto mais tempo o alimento ficava em uma superfície com bactérias, mais bactérias se agarravam a ele, mas muitas delas eram coletadas assim que o alimento chegava ao chão. O maior culpado aqui não é o tempo, mas a umidade. Os alimentos úmidos, (como melancia), capturaram mais bactérias do que os alimentos mais secos, como pão. As superfícies como tapetes transferiram menos bactérias do que os azulejos.

       Então, se a ciência desmascarou a regra dos 5 segundos, isso significa que não é seguro comer alimentos que caíram no chão? Isso depende da superfície e do tipo de bactéria que você pode pegar. Se você estiver em um hospital e deixar algo cair, provavelmente não vai querer comê-lo — ou não deveria. Mas, na maioria dos casos, comer um biscoito que pegou um pouco de poeira e bactérias do chão provavelmente não prejudicará alguém com um sistema imunológico saudável. Praticar uma boa higiene, mantendo os pisos e as superfícies limpas, é a lição mais importante. Ainda assim, é provável que a regra dos 5 segundos perdure.


Erika Engelhaupt — National Geographic. Adaptado. 
Em conformidade com as regras que permitem a ocorrência da crase, assinalar a alternativa que preenche as lacunas abaixo CORRETAMENTE.

Na Páscoa, algumas pessoas trouxeram a felicidade ____ felicidade de muitas famílias. Em outras palavras, levaram ________ a esperança de dias melhores; embora ____ proporção de ajuda ser baixa, continuamos ____ levar apoio aos mais necessitados. 
Alternativas
Q3061018 Português
É seguro comer alimentos que você deixou cair no chão se
você pegá-los rápido o suficiente?



          A “regra dos 5 segundos” tem sido tema de debates, com alguns afirmando que ela é real e outros achando que é besteira. O segredo é entender a rapidez com que as bactérias são transferidas da superfície do piso para os alimentos após a queda. Muitos erraram nessa medição, diz o cientista Donald Schaffner. Estudos amadores confundiram a questão ao se basearem em experimentos que não foram aprovados cientificamente. De fato, houve apenas outra investigação rigorosa antes de 2016: um estudo realizado pelo cientista de alimentos Paul Dawson, em 2007.

          Dawson relatou que os alimentos podem pegar bactérias imediatamente ao entrar em contato com uma superfície, mas esse estudo se concentrou mais em quanto tempo as bactérias poderiam sobreviver nas superfícies para contaminar os alimentos. Por isso, Schaffner decidiu testar uma variedade maior de alimentos em condições mais diversas. Os experimentos mostraram que a regra dos 5 segundos na verdade não é uma regra. Quanto mais tempo o alimento ficava em uma superfície com bactérias, mais bactérias se agarravam a ele, mas muitas delas eram coletadas assim que o alimento chegava ao chão. O maior culpado aqui não é o tempo, mas a umidade. Os alimentos úmidos, (como melancia), capturaram mais bactérias do que os alimentos mais secos, como pão. As superfícies como tapetes transferiram menos bactérias do que os azulejos.

       Então, se a ciência desmascarou a regra dos 5 segundos, isso significa que não é seguro comer alimentos que caíram no chão? Isso depende da superfície e do tipo de bactéria que você pode pegar. Se você estiver em um hospital e deixar algo cair, provavelmente não vai querer comê-lo — ou não deveria. Mas, na maioria dos casos, comer um biscoito que pegou um pouco de poeira e bactérias do chão provavelmente não prejudicará alguém com um sistema imunológico saudável. Praticar uma boa higiene, mantendo os pisos e as superfícies limpas, é a lição mais importante. Ainda assim, é provável que a regra dos 5 segundos perdure.


Erika Engelhaupt — National Geographic. Adaptado. 
A língua portuguesa, às vezes, dificulta a compreensão do leitor. Por isso, a interpretação é crucial para que um texto seja compreendido e ambiguidades sejam evitadas. Qual das frases abaixo apresenta ambiguidade? 
Alternativas
Q3061017 Português
É seguro comer alimentos que você deixou cair no chão se
você pegá-los rápido o suficiente?



          A “regra dos 5 segundos” tem sido tema de debates, com alguns afirmando que ela é real e outros achando que é besteira. O segredo é entender a rapidez com que as bactérias são transferidas da superfície do piso para os alimentos após a queda. Muitos erraram nessa medição, diz o cientista Donald Schaffner. Estudos amadores confundiram a questão ao se basearem em experimentos que não foram aprovados cientificamente. De fato, houve apenas outra investigação rigorosa antes de 2016: um estudo realizado pelo cientista de alimentos Paul Dawson, em 2007.

          Dawson relatou que os alimentos podem pegar bactérias imediatamente ao entrar em contato com uma superfície, mas esse estudo se concentrou mais em quanto tempo as bactérias poderiam sobreviver nas superfícies para contaminar os alimentos. Por isso, Schaffner decidiu testar uma variedade maior de alimentos em condições mais diversas. Os experimentos mostraram que a regra dos 5 segundos na verdade não é uma regra. Quanto mais tempo o alimento ficava em uma superfície com bactérias, mais bactérias se agarravam a ele, mas muitas delas eram coletadas assim que o alimento chegava ao chão. O maior culpado aqui não é o tempo, mas a umidade. Os alimentos úmidos, (como melancia), capturaram mais bactérias do que os alimentos mais secos, como pão. As superfícies como tapetes transferiram menos bactérias do que os azulejos.

       Então, se a ciência desmascarou a regra dos 5 segundos, isso significa que não é seguro comer alimentos que caíram no chão? Isso depende da superfície e do tipo de bactéria que você pode pegar. Se você estiver em um hospital e deixar algo cair, provavelmente não vai querer comê-lo — ou não deveria. Mas, na maioria dos casos, comer um biscoito que pegou um pouco de poeira e bactérias do chão provavelmente não prejudicará alguém com um sistema imunológico saudável. Praticar uma boa higiene, mantendo os pisos e as superfícies limpas, é a lição mais importante. Ainda assim, é provável que a regra dos 5 segundos perdure.


Erika Engelhaupt — National Geographic. Adaptado. 
O eufemismo é uma figura de linguagem que consiste na suavização da palavra, isto é, uma tentativa de amenizar uma expressão que, comumente, seria “agressiva”. Nesse sentido, assinalar a alternativa cuja sentença foi formulada a partir de uma linguagem eufemística. 
Alternativas
Q3061016 Português
É seguro comer alimentos que você deixou cair no chão se
você pegá-los rápido o suficiente?



          A “regra dos 5 segundos” tem sido tema de debates, com alguns afirmando que ela é real e outros achando que é besteira. O segredo é entender a rapidez com que as bactérias são transferidas da superfície do piso para os alimentos após a queda. Muitos erraram nessa medição, diz o cientista Donald Schaffner. Estudos amadores confundiram a questão ao se basearem em experimentos que não foram aprovados cientificamente. De fato, houve apenas outra investigação rigorosa antes de 2016: um estudo realizado pelo cientista de alimentos Paul Dawson, em 2007.

          Dawson relatou que os alimentos podem pegar bactérias imediatamente ao entrar em contato com uma superfície, mas esse estudo se concentrou mais em quanto tempo as bactérias poderiam sobreviver nas superfícies para contaminar os alimentos. Por isso, Schaffner decidiu testar uma variedade maior de alimentos em condições mais diversas. Os experimentos mostraram que a regra dos 5 segundos na verdade não é uma regra. Quanto mais tempo o alimento ficava em uma superfície com bactérias, mais bactérias se agarravam a ele, mas muitas delas eram coletadas assim que o alimento chegava ao chão. O maior culpado aqui não é o tempo, mas a umidade. Os alimentos úmidos, (como melancia), capturaram mais bactérias do que os alimentos mais secos, como pão. As superfícies como tapetes transferiram menos bactérias do que os azulejos.

       Então, se a ciência desmascarou a regra dos 5 segundos, isso significa que não é seguro comer alimentos que caíram no chão? Isso depende da superfície e do tipo de bactéria que você pode pegar. Se você estiver em um hospital e deixar algo cair, provavelmente não vai querer comê-lo — ou não deveria. Mas, na maioria dos casos, comer um biscoito que pegou um pouco de poeira e bactérias do chão provavelmente não prejudicará alguém com um sistema imunológico saudável. Praticar uma boa higiene, mantendo os pisos e as superfícies limpas, é a lição mais importante. Ainda assim, é provável que a regra dos 5 segundos perdure.


Erika Engelhaupt — National Geographic. Adaptado. 
Em português, é possível utilizar vários recursos para definir o sentido pretendido em uma frase. Tendo isso em vista, qual das alternativas apresenta sentido denotativo?
Alternativas
Q3061015 Português
É seguro comer alimentos que você deixou cair no chão se
você pegá-los rápido o suficiente?



          A “regra dos 5 segundos” tem sido tema de debates, com alguns afirmando que ela é real e outros achando que é besteira. O segredo é entender a rapidez com que as bactérias são transferidas da superfície do piso para os alimentos após a queda. Muitos erraram nessa medição, diz o cientista Donald Schaffner. Estudos amadores confundiram a questão ao se basearem em experimentos que não foram aprovados cientificamente. De fato, houve apenas outra investigação rigorosa antes de 2016: um estudo realizado pelo cientista de alimentos Paul Dawson, em 2007.

          Dawson relatou que os alimentos podem pegar bactérias imediatamente ao entrar em contato com uma superfície, mas esse estudo se concentrou mais em quanto tempo as bactérias poderiam sobreviver nas superfícies para contaminar os alimentos. Por isso, Schaffner decidiu testar uma variedade maior de alimentos em condições mais diversas. Os experimentos mostraram que a regra dos 5 segundos na verdade não é uma regra. Quanto mais tempo o alimento ficava em uma superfície com bactérias, mais bactérias se agarravam a ele, mas muitas delas eram coletadas assim que o alimento chegava ao chão. O maior culpado aqui não é o tempo, mas a umidade. Os alimentos úmidos, (como melancia), capturaram mais bactérias do que os alimentos mais secos, como pão. As superfícies como tapetes transferiram menos bactérias do que os azulejos.

       Então, se a ciência desmascarou a regra dos 5 segundos, isso significa que não é seguro comer alimentos que caíram no chão? Isso depende da superfície e do tipo de bactéria que você pode pegar. Se você estiver em um hospital e deixar algo cair, provavelmente não vai querer comê-lo — ou não deveria. Mas, na maioria dos casos, comer um biscoito que pegou um pouco de poeira e bactérias do chão provavelmente não prejudicará alguém com um sistema imunológico saudável. Praticar uma boa higiene, mantendo os pisos e as superfícies limpas, é a lição mais importante. Ainda assim, é provável que a regra dos 5 segundos perdure.


Erika Engelhaupt — National Geographic. Adaptado. 
Considerando-se os enunciados abaixo e a regência dos termos sublinhados, avaliar se as afirmativas são certas (C) ou erradas (E) e assinalar a sequência correspondente. 

( ) Ele tem aptidão com ensinar. ( ) O ministro foi assediado por jornalistas. ( ) A casa é assombrada por muitos espíritos.
Alternativas
Q3061014 Português
É seguro comer alimentos que você deixou cair no chão se
você pegá-los rápido o suficiente?



          A “regra dos 5 segundos” tem sido tema de debates, com alguns afirmando que ela é real e outros achando que é besteira. O segredo é entender a rapidez com que as bactérias são transferidas da superfície do piso para os alimentos após a queda. Muitos erraram nessa medição, diz o cientista Donald Schaffner. Estudos amadores confundiram a questão ao se basearem em experimentos que não foram aprovados cientificamente. De fato, houve apenas outra investigação rigorosa antes de 2016: um estudo realizado pelo cientista de alimentos Paul Dawson, em 2007.

          Dawson relatou que os alimentos podem pegar bactérias imediatamente ao entrar em contato com uma superfície, mas esse estudo se concentrou mais em quanto tempo as bactérias poderiam sobreviver nas superfícies para contaminar os alimentos. Por isso, Schaffner decidiu testar uma variedade maior de alimentos em condições mais diversas. Os experimentos mostraram que a regra dos 5 segundos na verdade não é uma regra. Quanto mais tempo o alimento ficava em uma superfície com bactérias, mais bactérias se agarravam a ele, mas muitas delas eram coletadas assim que o alimento chegava ao chão. O maior culpado aqui não é o tempo, mas a umidade. Os alimentos úmidos, (como melancia), capturaram mais bactérias do que os alimentos mais secos, como pão. As superfícies como tapetes transferiram menos bactérias do que os azulejos.

       Então, se a ciência desmascarou a regra dos 5 segundos, isso significa que não é seguro comer alimentos que caíram no chão? Isso depende da superfície e do tipo de bactéria que você pode pegar. Se você estiver em um hospital e deixar algo cair, provavelmente não vai querer comê-lo — ou não deveria. Mas, na maioria dos casos, comer um biscoito que pegou um pouco de poeira e bactérias do chão provavelmente não prejudicará alguém com um sistema imunológico saudável. Praticar uma boa higiene, mantendo os pisos e as superfícies limpas, é a lição mais importante. Ainda assim, é provável que a regra dos 5 segundos perdure.


Erika Engelhaupt — National Geographic. Adaptado. 
Qual o gênero do texto?
Alternativas
Q3061011 Português
É seguro comer alimentos que você deixou cair no chão se
você pegá-los rápido o suficiente?



          A “regra dos 5 segundos” tem sido tema de debates, com alguns afirmando que ela é real e outros achando que é besteira. O segredo é entender a rapidez com que as bactérias são transferidas da superfície do piso para os alimentos após a queda. Muitos erraram nessa medição, diz o cientista Donald Schaffner. Estudos amadores confundiram a questão ao se basearem em experimentos que não foram aprovados cientificamente. De fato, houve apenas outra investigação rigorosa antes de 2016: um estudo realizado pelo cientista de alimentos Paul Dawson, em 2007.

          Dawson relatou que os alimentos podem pegar bactérias imediatamente ao entrar em contato com uma superfície, mas esse estudo se concentrou mais em quanto tempo as bactérias poderiam sobreviver nas superfícies para contaminar os alimentos. Por isso, Schaffner decidiu testar uma variedade maior de alimentos em condições mais diversas. Os experimentos mostraram que a regra dos 5 segundos na verdade não é uma regra. Quanto mais tempo o alimento ficava em uma superfície com bactérias, mais bactérias se agarravam a ele, mas muitas delas eram coletadas assim que o alimento chegava ao chão. O maior culpado aqui não é o tempo, mas a umidade. Os alimentos úmidos, (como melancia), capturaram mais bactérias do que os alimentos mais secos, como pão. As superfícies como tapetes transferiram menos bactérias do que os azulejos.

       Então, se a ciência desmascarou a regra dos 5 segundos, isso significa que não é seguro comer alimentos que caíram no chão? Isso depende da superfície e do tipo de bactéria que você pode pegar. Se você estiver em um hospital e deixar algo cair, provavelmente não vai querer comê-lo — ou não deveria. Mas, na maioria dos casos, comer um biscoito que pegou um pouco de poeira e bactérias do chão provavelmente não prejudicará alguém com um sistema imunológico saudável. Praticar uma boa higiene, mantendo os pisos e as superfícies limpas, é a lição mais importante. Ainda assim, é provável que a regra dos 5 segundos perdure.


Erika Engelhaupt — National Geographic. Adaptado. 
Em relação às informações contidas no texto, avaliar se as afirmativas são certas (C) ou erradas (E) e assinalar a sequência correspondente.

( ) Se você pegar a comida em menos de 5 segundos, ela ficará livre de bactérias.
( ) A umidade é o maior culpado na transmissão de bactérias por contato com a superfície.
( ) Apesar de não comprovada cientificamente, a regra permanece sendo utilizada. 
Alternativas
Q3060955 Português
TEXTO PARA A QUESTÃO.

      Anos depois do acidente que emudeceu uma de suas filhas, meu pai, incentivado por Sutério, havia convidado o irmão de minha mãe para residir em Água Negra. O gerente queria trazer gente que «trabalhe muito» e «que não tenha medo de trabalho», nas palavras de meu pai, «para dar seu suor na plantação». Podia construir casa de barro, nada de alvenaria, nada que demarcasse o tempo de presença das famílias na terra. Podia colocar roça pequena para ter abóbora, feijão, quiabo, nada que desviasse da necessidade de trabalhar para o dono da fazenda, afinal, era para isso que se permitia a morada. Podia trazer mulher e filhos, melhor assim, porque quando eles crescessem substituiriam os mais velhos. Seria gente de estima, conhecida, afilhados do fazendeiro. Dinheiro não tinha, mas tinha comida no prato. Poderia ficar naquelas paragens, sossegado, sem ser importunado, bastava obedecer às ordens que lhe eram dadas. Vi meu pai dizer para meu tio que no tempo de seus avós era pior, não podia ter roça, não havia casa, todos se amontoavam no mesmo espaço, no mesmo barracão.
      Para convencê-lo, meu pai disse que o arrozal era bom de trabalhar. Que ali chovia, tinha terra boa, que, «olha», abria os braços mostrando a roça e o quintal, mostrando a mata ao redor deles, «aqui não nos falta nada». «Você tem os meninos, isso é de ajuda. Tem um passarinho preto miudinho assim», mostrava as falanges dos dedos dando a dimensão aproximada da praga, «que ataca o arrozal de manhã cedo. Os meninos podem ajudar a espantar eles. Aqui todo mundo acorda cedo para espantar os passarinhos, só assim fazemos boa colheita».
     Era verdade. Nos longos anos em que plantaram arroz no meio do sertão de água, na beira dos pântanos dos marimbus, acordávamos antes que o sol se levantasse no horizonte e seguíamos rumo à roça da fazenda. Nos muníamos de galhos, pedras, tudo que fosse instrumento para espantar os pássaros, miudinhos, de penas negras e que brilhavam quase azuis na luz da manhã. Se não fôssemos rápidos o suficiente, seu bico entrava no grão que amadurecia e sugava tudo que estivesse dentro, com sua minúscula língua. Enquanto os adultos trabalhavam, cabia a nós, as crianças, espantar a praga. Os meninos chegavam com estilingues, por vezes abatiam a ave pequena. Certa vez, Belonísia chorou e só cessou o pranto quando sugeri que fizéssemos um enterro, com direito a uma caixa de vela, como urna, e flores que colhemos no campo.

Excerto extraído da obra Torto Arado, de Itamar Vieira Júnior.
No trecho "nos muníamos de galhos, pedras, tudo que fosse instrumento para espantar os pássaros", o verbo "muníamos" concorda corretamente com o sujeito "nós". Assinale a alternativa que indica corretamente a forma verbal do verbo "munir" (muníamos) nesse trecho.
Alternativas
Q3060954 Português
TEXTO PARA A QUESTÃO.

      Anos depois do acidente que emudeceu uma de suas filhas, meu pai, incentivado por Sutério, havia convidado o irmão de minha mãe para residir em Água Negra. O gerente queria trazer gente que «trabalhe muito» e «que não tenha medo de trabalho», nas palavras de meu pai, «para dar seu suor na plantação». Podia construir casa de barro, nada de alvenaria, nada que demarcasse o tempo de presença das famílias na terra. Podia colocar roça pequena para ter abóbora, feijão, quiabo, nada que desviasse da necessidade de trabalhar para o dono da fazenda, afinal, era para isso que se permitia a morada. Podia trazer mulher e filhos, melhor assim, porque quando eles crescessem substituiriam os mais velhos. Seria gente de estima, conhecida, afilhados do fazendeiro. Dinheiro não tinha, mas tinha comida no prato. Poderia ficar naquelas paragens, sossegado, sem ser importunado, bastava obedecer às ordens que lhe eram dadas. Vi meu pai dizer para meu tio que no tempo de seus avós era pior, não podia ter roça, não havia casa, todos se amontoavam no mesmo espaço, no mesmo barracão.
      Para convencê-lo, meu pai disse que o arrozal era bom de trabalhar. Que ali chovia, tinha terra boa, que, «olha», abria os braços mostrando a roça e o quintal, mostrando a mata ao redor deles, «aqui não nos falta nada». «Você tem os meninos, isso é de ajuda. Tem um passarinho preto miudinho assim», mostrava as falanges dos dedos dando a dimensão aproximada da praga, «que ataca o arrozal de manhã cedo. Os meninos podem ajudar a espantar eles. Aqui todo mundo acorda cedo para espantar os passarinhos, só assim fazemos boa colheita».
     Era verdade. Nos longos anos em que plantaram arroz no meio do sertão de água, na beira dos pântanos dos marimbus, acordávamos antes que o sol se levantasse no horizonte e seguíamos rumo à roça da fazenda. Nos muníamos de galhos, pedras, tudo que fosse instrumento para espantar os pássaros, miudinhos, de penas negras e que brilhavam quase azuis na luz da manhã. Se não fôssemos rápidos o suficiente, seu bico entrava no grão que amadurecia e sugava tudo que estivesse dentro, com sua minúscula língua. Enquanto os adultos trabalhavam, cabia a nós, as crianças, espantar a praga. Os meninos chegavam com estilingues, por vezes abatiam a ave pequena. Certa vez, Belonísia chorou e só cessou o pranto quando sugeri que fizéssemos um enterro, com direito a uma caixa de vela, como urna, e flores que colhemos no campo.

Excerto extraído da obra Torto Arado, de Itamar Vieira Júnior.
No trecho "que abria os braços mostrando a roça e o quintal", a conjunção "e" estabelece uma relação entre as duas partes da frase. Qual é a função sintática da conjunção "e" nesse contexto?
Alternativas
Q3060953 Português
TEXTO PARA A QUESTÃO.

      Anos depois do acidente que emudeceu uma de suas filhas, meu pai, incentivado por Sutério, havia convidado o irmão de minha mãe para residir em Água Negra. O gerente queria trazer gente que «trabalhe muito» e «que não tenha medo de trabalho», nas palavras de meu pai, «para dar seu suor na plantação». Podia construir casa de barro, nada de alvenaria, nada que demarcasse o tempo de presença das famílias na terra. Podia colocar roça pequena para ter abóbora, feijão, quiabo, nada que desviasse da necessidade de trabalhar para o dono da fazenda, afinal, era para isso que se permitia a morada. Podia trazer mulher e filhos, melhor assim, porque quando eles crescessem substituiriam os mais velhos. Seria gente de estima, conhecida, afilhados do fazendeiro. Dinheiro não tinha, mas tinha comida no prato. Poderia ficar naquelas paragens, sossegado, sem ser importunado, bastava obedecer às ordens que lhe eram dadas. Vi meu pai dizer para meu tio que no tempo de seus avós era pior, não podia ter roça, não havia casa, todos se amontoavam no mesmo espaço, no mesmo barracão.
      Para convencê-lo, meu pai disse que o arrozal era bom de trabalhar. Que ali chovia, tinha terra boa, que, «olha», abria os braços mostrando a roça e o quintal, mostrando a mata ao redor deles, «aqui não nos falta nada». «Você tem os meninos, isso é de ajuda. Tem um passarinho preto miudinho assim», mostrava as falanges dos dedos dando a dimensão aproximada da praga, «que ataca o arrozal de manhã cedo. Os meninos podem ajudar a espantar eles. Aqui todo mundo acorda cedo para espantar os passarinhos, só assim fazemos boa colheita».
     Era verdade. Nos longos anos em que plantaram arroz no meio do sertão de água, na beira dos pântanos dos marimbus, acordávamos antes que o sol se levantasse no horizonte e seguíamos rumo à roça da fazenda. Nos muníamos de galhos, pedras, tudo que fosse instrumento para espantar os pássaros, miudinhos, de penas negras e que brilhavam quase azuis na luz da manhã. Se não fôssemos rápidos o suficiente, seu bico entrava no grão que amadurecia e sugava tudo que estivesse dentro, com sua minúscula língua. Enquanto os adultos trabalhavam, cabia a nós, as crianças, espantar a praga. Os meninos chegavam com estilingues, por vezes abatiam a ave pequena. Certa vez, Belonísia chorou e só cessou o pranto quando sugeri que fizéssemos um enterro, com direito a uma caixa de vela, como urna, e flores que colhemos no campo.

Excerto extraído da obra Torto Arado, de Itamar Vieira Júnior.
Com base no excerto, analise as seguintes afirmações:

I. O pai da narradora acredita que o trabalho na fazenda é duro, mas compensa com a boa colheita e a tranquilidade de não ser importunado.
II. As crianças tinham uma função essencial na roça: espantar as pragas que atacavam o arrozal.
III. O gerente da fazenda permitia que as famílias construíssem casas de alvenaria para garantir melhores condições de moradia.

Quais assertivas estão corretas?
Alternativas
Q3060952 Português
TEXTO PARA A QUESTÃO.

      Anos depois do acidente que emudeceu uma de suas filhas, meu pai, incentivado por Sutério, havia convidado o irmão de minha mãe para residir em Água Negra. O gerente queria trazer gente que «trabalhe muito» e «que não tenha medo de trabalho», nas palavras de meu pai, «para dar seu suor na plantação». Podia construir casa de barro, nada de alvenaria, nada que demarcasse o tempo de presença das famílias na terra. Podia colocar roça pequena para ter abóbora, feijão, quiabo, nada que desviasse da necessidade de trabalhar para o dono da fazenda, afinal, era para isso que se permitia a morada. Podia trazer mulher e filhos, melhor assim, porque quando eles crescessem substituiriam os mais velhos. Seria gente de estima, conhecida, afilhados do fazendeiro. Dinheiro não tinha, mas tinha comida no prato. Poderia ficar naquelas paragens, sossegado, sem ser importunado, bastava obedecer às ordens que lhe eram dadas. Vi meu pai dizer para meu tio que no tempo de seus avós era pior, não podia ter roça, não havia casa, todos se amontoavam no mesmo espaço, no mesmo barracão.
      Para convencê-lo, meu pai disse que o arrozal era bom de trabalhar. Que ali chovia, tinha terra boa, que, «olha», abria os braços mostrando a roça e o quintal, mostrando a mata ao redor deles, «aqui não nos falta nada». «Você tem os meninos, isso é de ajuda. Tem um passarinho preto miudinho assim», mostrava as falanges dos dedos dando a dimensão aproximada da praga, «que ataca o arrozal de manhã cedo. Os meninos podem ajudar a espantar eles. Aqui todo mundo acorda cedo para espantar os passarinhos, só assim fazemos boa colheita».
     Era verdade. Nos longos anos em que plantaram arroz no meio do sertão de água, na beira dos pântanos dos marimbus, acordávamos antes que o sol se levantasse no horizonte e seguíamos rumo à roça da fazenda. Nos muníamos de galhos, pedras, tudo que fosse instrumento para espantar os pássaros, miudinhos, de penas negras e que brilhavam quase azuis na luz da manhã. Se não fôssemos rápidos o suficiente, seu bico entrava no grão que amadurecia e sugava tudo que estivesse dentro, com sua minúscula língua. Enquanto os adultos trabalhavam, cabia a nós, as crianças, espantar a praga. Os meninos chegavam com estilingues, por vezes abatiam a ave pequena. Certa vez, Belonísia chorou e só cessou o pranto quando sugeri que fizéssemos um enterro, com direito a uma caixa de vela, como urna, e flores que colhemos no campo.

Excerto extraído da obra Torto Arado, de Itamar Vieira Júnior.
O excerto aborda a importância do trabalho coletivo na colheita de arroz e o papel das crianças nesse processo, que eram responsáveis por espantar os pássaros que atacavam o arrozal. Qual era o método utilizado pelas crianças para proteger a colheita dos passarinhos?
Alternativas
Q3060951 Português
TEXTO PARA A QUESTÃO.

      Anos depois do acidente que emudeceu uma de suas filhas, meu pai, incentivado por Sutério, havia convidado o irmão de minha mãe para residir em Água Negra. O gerente queria trazer gente que «trabalhe muito» e «que não tenha medo de trabalho», nas palavras de meu pai, «para dar seu suor na plantação». Podia construir casa de barro, nada de alvenaria, nada que demarcasse o tempo de presença das famílias na terra. Podia colocar roça pequena para ter abóbora, feijão, quiabo, nada que desviasse da necessidade de trabalhar para o dono da fazenda, afinal, era para isso que se permitia a morada. Podia trazer mulher e filhos, melhor assim, porque quando eles crescessem substituiriam os mais velhos. Seria gente de estima, conhecida, afilhados do fazendeiro. Dinheiro não tinha, mas tinha comida no prato. Poderia ficar naquelas paragens, sossegado, sem ser importunado, bastava obedecer às ordens que lhe eram dadas. Vi meu pai dizer para meu tio que no tempo de seus avós era pior, não podia ter roça, não havia casa, todos se amontoavam no mesmo espaço, no mesmo barracão.
      Para convencê-lo, meu pai disse que o arrozal era bom de trabalhar. Que ali chovia, tinha terra boa, que, «olha», abria os braços mostrando a roça e o quintal, mostrando a mata ao redor deles, «aqui não nos falta nada». «Você tem os meninos, isso é de ajuda. Tem um passarinho preto miudinho assim», mostrava as falanges dos dedos dando a dimensão aproximada da praga, «que ataca o arrozal de manhã cedo. Os meninos podem ajudar a espantar eles. Aqui todo mundo acorda cedo para espantar os passarinhos, só assim fazemos boa colheita».
     Era verdade. Nos longos anos em que plantaram arroz no meio do sertão de água, na beira dos pântanos dos marimbus, acordávamos antes que o sol se levantasse no horizonte e seguíamos rumo à roça da fazenda. Nos muníamos de galhos, pedras, tudo que fosse instrumento para espantar os pássaros, miudinhos, de penas negras e que brilhavam quase azuis na luz da manhã. Se não fôssemos rápidos o suficiente, seu bico entrava no grão que amadurecia e sugava tudo que estivesse dentro, com sua minúscula língua. Enquanto os adultos trabalhavam, cabia a nós, as crianças, espantar a praga. Os meninos chegavam com estilingues, por vezes abatiam a ave pequena. Certa vez, Belonísia chorou e só cessou o pranto quando sugeri que fizéssemos um enterro, com direito a uma caixa de vela, como urna, e flores que colhemos no campo.

Excerto extraído da obra Torto Arado, de Itamar Vieira Júnior.
No início do excerto, o pai da narradora menciona que "no tempo de seus avós era pior" para convencer o tio a se mudar para Água Negra. Esse argumento é uma tentativa de minimizar as dificuldades atuais. Qual situação o pai descreve como sendo melhor na época atual em comparação com o tempo dos avós?
Alternativas
Q3060845 Português
TEXTO PARA A QUESTÃO.

      Nossos pais retornaram da roça e encontraram minha avó desorientada, com nossas cabeças mergulhadas numa tina de água, gritando: «Ela perdeu a língua, ela cortou a língua.» Repetia tanto que, certamente, naqueles primeiros momentos, Zeca Chapéu Grande e Salustiana Nicolau acharam que as duas filhas haviam se mutilado num ritual misterioso que, nas suas crenças, precisaria de muita imaginação para explicar. A tina era uma poça vermelha e nós duas chorávamos. Quanto mais chorávamos abraçadas, querendo pedir desculpas, mais ficava difícil saber quem tinha perdido a língua, quem teria que ir para o hospital a léguas de Água Negra. O gerente da fazenda chegou numa Ford Rural branca e verde para nos conduzir ao hospital. Essa Rural, como chamávamos, servia aos proprietários quando estavam na fazenda, servia a Sutério para os trabalhos como gerente, se deslocando entre a cidade e Água Negra, ou percorrendo as distâncias na própria fazenda, quando não queria fazer a cavalo.
      Minha mãe se muniu de colchas e toalhas que recobriam as camas e a mesa, para tentar estancar o sangue. Ela gritava para meu pai, que colhia com as mãos trêmulas ervas nos canteiros próximos à casa, impaciente, transmitindo seu desespero na voz, que se tornou mais aguda, além do olhar espantado. As ervas eram para ser usadas no caminho até o hospital, em rezas e encantos. Os olhos de Belonísia estavam vermelhos de tanto choro, os meus eu não conseguia sequer sentir, e minha mãe perguntava perplexa o que havia acontecido, com o que brincávamos, mas nossas respostas eram longos gemidos difíceis de interpretar. Meu pai segurava a língua envolta numa de suas poucas camisas. Mesmo naquelas horas, meu medo era que o órgão em arrebatamento se dispusesse a falar sozinho no colo dele sobre o que havíamos feito. Que falasse sobre nossa curiosidade, nossa teimosia, nossa transgressão, nossa falta de zelo e respeito por Donana e por suas coisas. Mais ainda, sobre a nossa irresponsabilidade de colocar uma faca na boca, sabendo que facas sangram caças, sangram as crias do quintal e matam homens.

Excerto extraído da obra Torto Arado, de Itamar Vieira Júnior.
No trecho "Ela perdeu a língua, ela cortou a língua", o verbo "perdeu" está no pretérito perfeito do indicativo, indicando uma ação concluída. A que grupo de conjugação pertence o verbo "perder" e qual é a sua transitividade no contexto dessa frase?
Alternativas
Q3060844 Português
TEXTO PARA A QUESTÃO.

      Nossos pais retornaram da roça e encontraram minha avó desorientada, com nossas cabeças mergulhadas numa tina de água, gritando: «Ela perdeu a língua, ela cortou a língua.» Repetia tanto que, certamente, naqueles primeiros momentos, Zeca Chapéu Grande e Salustiana Nicolau acharam que as duas filhas haviam se mutilado num ritual misterioso que, nas suas crenças, precisaria de muita imaginação para explicar. A tina era uma poça vermelha e nós duas chorávamos. Quanto mais chorávamos abraçadas, querendo pedir desculpas, mais ficava difícil saber quem tinha perdido a língua, quem teria que ir para o hospital a léguas de Água Negra. O gerente da fazenda chegou numa Ford Rural branca e verde para nos conduzir ao hospital. Essa Rural, como chamávamos, servia aos proprietários quando estavam na fazenda, servia a Sutério para os trabalhos como gerente, se deslocando entre a cidade e Água Negra, ou percorrendo as distâncias na própria fazenda, quando não queria fazer a cavalo.
      Minha mãe se muniu de colchas e toalhas que recobriam as camas e a mesa, para tentar estancar o sangue. Ela gritava para meu pai, que colhia com as mãos trêmulas ervas nos canteiros próximos à casa, impaciente, transmitindo seu desespero na voz, que se tornou mais aguda, além do olhar espantado. As ervas eram para ser usadas no caminho até o hospital, em rezas e encantos. Os olhos de Belonísia estavam vermelhos de tanto choro, os meus eu não conseguia sequer sentir, e minha mãe perguntava perplexa o que havia acontecido, com o que brincávamos, mas nossas respostas eram longos gemidos difíceis de interpretar. Meu pai segurava a língua envolta numa de suas poucas camisas. Mesmo naquelas horas, meu medo era que o órgão em arrebatamento se dispusesse a falar sozinho no colo dele sobre o que havíamos feito. Que falasse sobre nossa curiosidade, nossa teimosia, nossa transgressão, nossa falta de zelo e respeito por Donana e por suas coisas. Mais ainda, sobre a nossa irresponsabilidade de colocar uma faca na boca, sabendo que facas sangram caças, sangram as crias do quintal e matam homens.

Excerto extraído da obra Torto Arado, de Itamar Vieira Júnior.
No trecho "Meu pai segurava a língua envolta numa de suas poucas camisas", o termo "numa de suas poucas camisas" desempenha uma função de determinação do nome "língua". A palavra "numa" é o resultado de uma contração entre quais elementos?
Alternativas
Q3060843 Português
TEXTO PARA A QUESTÃO.

      Nossos pais retornaram da roça e encontraram minha avó desorientada, com nossas cabeças mergulhadas numa tina de água, gritando: «Ela perdeu a língua, ela cortou a língua.» Repetia tanto que, certamente, naqueles primeiros momentos, Zeca Chapéu Grande e Salustiana Nicolau acharam que as duas filhas haviam se mutilado num ritual misterioso que, nas suas crenças, precisaria de muita imaginação para explicar. A tina era uma poça vermelha e nós duas chorávamos. Quanto mais chorávamos abraçadas, querendo pedir desculpas, mais ficava difícil saber quem tinha perdido a língua, quem teria que ir para o hospital a léguas de Água Negra. O gerente da fazenda chegou numa Ford Rural branca e verde para nos conduzir ao hospital. Essa Rural, como chamávamos, servia aos proprietários quando estavam na fazenda, servia a Sutério para os trabalhos como gerente, se deslocando entre a cidade e Água Negra, ou percorrendo as distâncias na própria fazenda, quando não queria fazer a cavalo.
      Minha mãe se muniu de colchas e toalhas que recobriam as camas e a mesa, para tentar estancar o sangue. Ela gritava para meu pai, que colhia com as mãos trêmulas ervas nos canteiros próximos à casa, impaciente, transmitindo seu desespero na voz, que se tornou mais aguda, além do olhar espantado. As ervas eram para ser usadas no caminho até o hospital, em rezas e encantos. Os olhos de Belonísia estavam vermelhos de tanto choro, os meus eu não conseguia sequer sentir, e minha mãe perguntava perplexa o que havia acontecido, com o que brincávamos, mas nossas respostas eram longos gemidos difíceis de interpretar. Meu pai segurava a língua envolta numa de suas poucas camisas. Mesmo naquelas horas, meu medo era que o órgão em arrebatamento se dispusesse a falar sozinho no colo dele sobre o que havíamos feito. Que falasse sobre nossa curiosidade, nossa teimosia, nossa transgressão, nossa falta de zelo e respeito por Donana e por suas coisas. Mais ainda, sobre a nossa irresponsabilidade de colocar uma faca na boca, sabendo que facas sangram caças, sangram as crias do quintal e matam homens.

Excerto extraído da obra Torto Arado, de Itamar Vieira Júnior.
No trecho "A tina era uma poça vermelha e nós duas chorávamos", o termo "uma poça vermelha" exerce uma função sintática específica em relação a "tina". Qual é a função sintática de "uma poça vermelha" na frase?
Alternativas
Q3060842 Português
TEXTO PARA A QUESTÃO.

      Nossos pais retornaram da roça e encontraram minha avó desorientada, com nossas cabeças mergulhadas numa tina de água, gritando: «Ela perdeu a língua, ela cortou a língua.» Repetia tanto que, certamente, naqueles primeiros momentos, Zeca Chapéu Grande e Salustiana Nicolau acharam que as duas filhas haviam se mutilado num ritual misterioso que, nas suas crenças, precisaria de muita imaginação para explicar. A tina era uma poça vermelha e nós duas chorávamos. Quanto mais chorávamos abraçadas, querendo pedir desculpas, mais ficava difícil saber quem tinha perdido a língua, quem teria que ir para o hospital a léguas de Água Negra. O gerente da fazenda chegou numa Ford Rural branca e verde para nos conduzir ao hospital. Essa Rural, como chamávamos, servia aos proprietários quando estavam na fazenda, servia a Sutério para os trabalhos como gerente, se deslocando entre a cidade e Água Negra, ou percorrendo as distâncias na própria fazenda, quando não queria fazer a cavalo.
      Minha mãe se muniu de colchas e toalhas que recobriam as camas e a mesa, para tentar estancar o sangue. Ela gritava para meu pai, que colhia com as mãos trêmulas ervas nos canteiros próximos à casa, impaciente, transmitindo seu desespero na voz, que se tornou mais aguda, além do olhar espantado. As ervas eram para ser usadas no caminho até o hospital, em rezas e encantos. Os olhos de Belonísia estavam vermelhos de tanto choro, os meus eu não conseguia sequer sentir, e minha mãe perguntava perplexa o que havia acontecido, com o que brincávamos, mas nossas respostas eram longos gemidos difíceis de interpretar. Meu pai segurava a língua envolta numa de suas poucas camisas. Mesmo naquelas horas, meu medo era que o órgão em arrebatamento se dispusesse a falar sozinho no colo dele sobre o que havíamos feito. Que falasse sobre nossa curiosidade, nossa teimosia, nossa transgressão, nossa falta de zelo e respeito por Donana e por suas coisas. Mais ainda, sobre a nossa irresponsabilidade de colocar uma faca na boca, sabendo que facas sangram caças, sangram as crias do quintal e matam homens.

Excerto extraído da obra Torto Arado, de Itamar Vieira Júnior.
A personagem da mãe é descrita de forma agitada, tentando controlar a situação. Ela utiliza colchas e toalhas e grita instruções ao pai, que coleta ervas para o trajeto até o hospital. Qual é o principal objetivo da mãe ao pegar esses objetos e das ações do pai ao coletar as ervas?
Alternativas
Q3060841 Português
TEXTO PARA A QUESTÃO.

      Nossos pais retornaram da roça e encontraram minha avó desorientada, com nossas cabeças mergulhadas numa tina de água, gritando: «Ela perdeu a língua, ela cortou a língua.» Repetia tanto que, certamente, naqueles primeiros momentos, Zeca Chapéu Grande e Salustiana Nicolau acharam que as duas filhas haviam se mutilado num ritual misterioso que, nas suas crenças, precisaria de muita imaginação para explicar. A tina era uma poça vermelha e nós duas chorávamos. Quanto mais chorávamos abraçadas, querendo pedir desculpas, mais ficava difícil saber quem tinha perdido a língua, quem teria que ir para o hospital a léguas de Água Negra. O gerente da fazenda chegou numa Ford Rural branca e verde para nos conduzir ao hospital. Essa Rural, como chamávamos, servia aos proprietários quando estavam na fazenda, servia a Sutério para os trabalhos como gerente, se deslocando entre a cidade e Água Negra, ou percorrendo as distâncias na própria fazenda, quando não queria fazer a cavalo.
      Minha mãe se muniu de colchas e toalhas que recobriam as camas e a mesa, para tentar estancar o sangue. Ela gritava para meu pai, que colhia com as mãos trêmulas ervas nos canteiros próximos à casa, impaciente, transmitindo seu desespero na voz, que se tornou mais aguda, além do olhar espantado. As ervas eram para ser usadas no caminho até o hospital, em rezas e encantos. Os olhos de Belonísia estavam vermelhos de tanto choro, os meus eu não conseguia sequer sentir, e minha mãe perguntava perplexa o que havia acontecido, com o que brincávamos, mas nossas respostas eram longos gemidos difíceis de interpretar. Meu pai segurava a língua envolta numa de suas poucas camisas. Mesmo naquelas horas, meu medo era que o órgão em arrebatamento se dispusesse a falar sozinho no colo dele sobre o que havíamos feito. Que falasse sobre nossa curiosidade, nossa teimosia, nossa transgressão, nossa falta de zelo e respeito por Donana e por suas coisas. Mais ainda, sobre a nossa irresponsabilidade de colocar uma faca na boca, sabendo que facas sangram caças, sangram as crias do quintal e matam homens.

Excerto extraído da obra Torto Arado, de Itamar Vieira Júnior.
O excerto retrata um episódio de grande tensão e desespero familiar, envolvendo as duas filhas e um incidente com uma faca. A narrativa revela o medo e o arrependimento das crianças, assim como a reação dos pais e da avó. Com base no texto, qual era o principal temor do narrador durante o incidente?
Alternativas
Q3060718 Português
Doida pra escrever

Tem dia que eu acordo doida pra escrever. Não serve mais nada. Tem alguma coisa incomodando demais, dando engulhos ou fazendo cócegas. Às vezes é só um prazo mesmo, vencido, de preferência. Outras vezes, não. É assim a sensação que deve ter um vulcão ou então uma bomba. Vamos humanizar as coisas, minha gente. É a sensação que deve ter o nosso corpo, imagine aí em que circunstâncias mais variadas.
Mas já ouvi dizer de gente que nunca sente isso. Por outro lado, ouvi falar de médico que prescreve escrita pra curar doideira ou algum mal da cabeça. Talvez cure também o coração e outras vísceras. Quantas vezes senti os pulmões mais capazes depois de um belo poema. Pode nem ter sido assim tão belo, vá lá, mas foi eficaz pra dores diversas. Em relação a essa turma que não precisa da escrita pra nada só sinto duas coisas: ou inveja ou dó. Isso, dó. Desculpem aí minha intolerância (Neste mundo, é preciso ter cuidado com isso, senão dá processo). Inveja quando penso que alguém pode conseguir viver agarradinho com seus quiprocós todos, no maior love, sem precisar tirá-los a fórceps, com uma caneta ou um teclado desbotado. Quem me dera essa convivência toda. Mas tudo bem. Pode ser que a pessoa tenha outros expedientes, tipo jogar bola com os amigos, beber bastante, correr (já vi gente se curar assim), cantar, ah, cantar a beleza de ser… isso. Mas não precisar escrever é um mistério pra mim.
O outro sentimento é mais delicado. É dó, é pena, é um negócio complicado. A gente, cá do alto de nossa implicância, fica pensando “coitado desse pessoal”. Mas é que quem escreve se sente dono de um garimpo inteiro. Uma espécie de poder. Está na moda aí, aliás, uma palavra esquisita, traduzida e mal paga, que é “empoderamento”. É mais ou menos quando a gente aprende uma coisa que nos faz ficar mais potente, mais podendo, com uma espécie de “cinto de utilidades” que pode ser usado quando a gente quiser mudar algo. E aí já li bastante falarem de empoderamento em relação à leitura e à escrita. E me senti mais super-heroína do que todas: a She-Ha, a Mulher Maravilha, a… bem, são quantas mesmo?
Escrever é um ódio. Mas, depois que acontece, é uma mansidão geral, até a próxima escala. Só que tem dia que eu acordo — eu e um monte de gente que fez esta descoberta — doida pra escrever. Não me vem nem a ideia do café da manhã. É que tem bastante gente que precisa tomar café primeiro. Mas eu sou uma mineira estranha: não curto nem café, nem tropeiro, nem praia. Mas aí eu corro pro computador e piro geral. Vai que dá certo? Costuma.
A escrita é uma mistura inexplicável de força, memória, conexões, leituras, falatórios, horas de filmes bons e ruins, uma vida inteira de ações e reações, atenção, desatenção, amor e desamor, ímpetos, convicções, perdões, convenções, aulas de tudo quanto há, escola, muita escola, contenção, habilidade, um tico de tendências sadomasô, exibicionismo, em algum grau, experiência em qualquer medida, mas, fundamentalmente, desobediência. A escrita nem te suga nem nada. Você acorda doidão, corre pra máquina que for (pode ser lápis, pois ela não é muito específica), escreve, escreve, escreve, sente que secou, murchou ou brochou, e continua o dia. Não desgasta, sabe? E enche, enche tudo de novo, que nem caixa d’água (quer dizer… aí depende…).
Hoje eu acordei doida pra escrever. Note-se que nem tinha muito o que dizer. Isso também acontece. No entanto, não é bem um problema quando isso rola. Tanta gente não tem nada a dizer! Ora, bolas. Nem é preciso ter um ostentável conteúdo para escrever. Milhares e milhares de estudantes fazem isso, todos os anos, quando escrevem algumas sofridas (e sofríveis) linhas sobre o que não sabem. Já imaginou? Ter de escrever o que nunca foi pensado antes? É a tarefa mais ingrata que há. Digo sempre isso aos alunos que passam ali pelo meu quadrado: sua tarefa é a pior que há, meu caro. Depois desta, qualquer coisa funciona. Imagine o comando: Escreva aí, nesta sala bege ou verde-hospital, sem livros nem nada o que consultar, bem rapidamente, sob o olhar lancinante deste fiscal mal pago, sobre um tema que você conhecerá neste instante. OK. Está dada a largada. Se isso for possível, o resto será festa.
Não. Escritor doido pra escrever tem tempo, tem paixão, tem uns dias, uns meses, uns anos, uns livros e muita gente com quem conversar. Muitas vezes, escrever sucede a pesquisa. Pesquisa mesmo, com roteiros, leituras, entrevistas, consultas. Quem é doido por escrever costuma ter uma sala, um quarto, uma estante, uma prateleira, um computador, o que seja… mas cheios de coisas pra ler, pra olhar, pra visitar, pra levar debaixo do braço. Pensa, pensa, daí vem um ímpeto. A gente fica fogoso, um dia. Não pode nem ver uma folha de papel, uma tela em branco, que o fogo acende.
Mas vá lá. É preciso saber ficar doido pra escrever. Ligar a ignição. Tá tudo calmo e quieto, vontade alguma, só pensando no mato pra capinar ou na graxa do portão, mas chega uma demanda de escrever. Quem não entende do riscado pensa que é assim, ó: “Senta e escreve, bora lá”. E a gente faz. Aprende a riscar a faca no chão até dar faísca. Pedra com pedra. Fósforo. Lente no sol. Queima até o que não tem. Doidos pra escrever são perigosos. Acordei doida pra escrever. E nem era só um prazo expirado. Era uma energia transbordando aqui e ali. Calibrada? Níveis normais? Vamos agora ao dia, pra ter mais o que escrever, nas próximas linhas.

RIBEIRO, Ana Elisa. Doida pra escrever. In: RIBEIRO, Ana Elisa. Doida pra escrever. Belo Horizonte: Moinhos, 2021. p. 10-12. Disponível em: https://rubem.wordpress.com/2023/03/08/doida-praescrever-ana-elisa-ribeiro/.
No trecho “Escrever é uma mistura inexplicável de força, memória, conexões, leituras, falatórios, horas de filmes bons e ruins, uma vida inteira de ações e reações…”, a palavra ”força” foi utilizada em sentido conotativo. Qual das opções abaixo apresenta o uso da palavra “força” em sentido denotativo?
Alternativas
Q3060717 Português
Doida pra escrever

Tem dia que eu acordo doida pra escrever. Não serve mais nada. Tem alguma coisa incomodando demais, dando engulhos ou fazendo cócegas. Às vezes é só um prazo mesmo, vencido, de preferência. Outras vezes, não. É assim a sensação que deve ter um vulcão ou então uma bomba. Vamos humanizar as coisas, minha gente. É a sensação que deve ter o nosso corpo, imagine aí em que circunstâncias mais variadas.
Mas já ouvi dizer de gente que nunca sente isso. Por outro lado, ouvi falar de médico que prescreve escrita pra curar doideira ou algum mal da cabeça. Talvez cure também o coração e outras vísceras. Quantas vezes senti os pulmões mais capazes depois de um belo poema. Pode nem ter sido assim tão belo, vá lá, mas foi eficaz pra dores diversas. Em relação a essa turma que não precisa da escrita pra nada só sinto duas coisas: ou inveja ou dó. Isso, dó. Desculpem aí minha intolerância (Neste mundo, é preciso ter cuidado com isso, senão dá processo). Inveja quando penso que alguém pode conseguir viver agarradinho com seus quiprocós todos, no maior love, sem precisar tirá-los a fórceps, com uma caneta ou um teclado desbotado. Quem me dera essa convivência toda. Mas tudo bem. Pode ser que a pessoa tenha outros expedientes, tipo jogar bola com os amigos, beber bastante, correr (já vi gente se curar assim), cantar, ah, cantar a beleza de ser… isso. Mas não precisar escrever é um mistério pra mim.
O outro sentimento é mais delicado. É dó, é pena, é um negócio complicado. A gente, cá do alto de nossa implicância, fica pensando “coitado desse pessoal”. Mas é que quem escreve se sente dono de um garimpo inteiro. Uma espécie de poder. Está na moda aí, aliás, uma palavra esquisita, traduzida e mal paga, que é “empoderamento”. É mais ou menos quando a gente aprende uma coisa que nos faz ficar mais potente, mais podendo, com uma espécie de “cinto de utilidades” que pode ser usado quando a gente quiser mudar algo. E aí já li bastante falarem de empoderamento em relação à leitura e à escrita. E me senti mais super-heroína do que todas: a She-Ha, a Mulher Maravilha, a… bem, são quantas mesmo?
Escrever é um ódio. Mas, depois que acontece, é uma mansidão geral, até a próxima escala. Só que tem dia que eu acordo — eu e um monte de gente que fez esta descoberta — doida pra escrever. Não me vem nem a ideia do café da manhã. É que tem bastante gente que precisa tomar café primeiro. Mas eu sou uma mineira estranha: não curto nem café, nem tropeiro, nem praia. Mas aí eu corro pro computador e piro geral. Vai que dá certo? Costuma.
A escrita é uma mistura inexplicável de força, memória, conexões, leituras, falatórios, horas de filmes bons e ruins, uma vida inteira de ações e reações, atenção, desatenção, amor e desamor, ímpetos, convicções, perdões, convenções, aulas de tudo quanto há, escola, muita escola, contenção, habilidade, um tico de tendências sadomasô, exibicionismo, em algum grau, experiência em qualquer medida, mas, fundamentalmente, desobediência. A escrita nem te suga nem nada. Você acorda doidão, corre pra máquina que for (pode ser lápis, pois ela não é muito específica), escreve, escreve, escreve, sente que secou, murchou ou brochou, e continua o dia. Não desgasta, sabe? E enche, enche tudo de novo, que nem caixa d’água (quer dizer… aí depende…).
Hoje eu acordei doida pra escrever. Note-se que nem tinha muito o que dizer. Isso também acontece. No entanto, não é bem um problema quando isso rola. Tanta gente não tem nada a dizer! Ora, bolas. Nem é preciso ter um ostentável conteúdo para escrever. Milhares e milhares de estudantes fazem isso, todos os anos, quando escrevem algumas sofridas (e sofríveis) linhas sobre o que não sabem. Já imaginou? Ter de escrever o que nunca foi pensado antes? É a tarefa mais ingrata que há. Digo sempre isso aos alunos que passam ali pelo meu quadrado: sua tarefa é a pior que há, meu caro. Depois desta, qualquer coisa funciona. Imagine o comando: Escreva aí, nesta sala bege ou verde-hospital, sem livros nem nada o que consultar, bem rapidamente, sob o olhar lancinante deste fiscal mal pago, sobre um tema que você conhecerá neste instante. OK. Está dada a largada. Se isso for possível, o resto será festa.
Não. Escritor doido pra escrever tem tempo, tem paixão, tem uns dias, uns meses, uns anos, uns livros e muita gente com quem conversar. Muitas vezes, escrever sucede a pesquisa. Pesquisa mesmo, com roteiros, leituras, entrevistas, consultas. Quem é doido por escrever costuma ter uma sala, um quarto, uma estante, uma prateleira, um computador, o que seja… mas cheios de coisas pra ler, pra olhar, pra visitar, pra levar debaixo do braço. Pensa, pensa, daí vem um ímpeto. A gente fica fogoso, um dia. Não pode nem ver uma folha de papel, uma tela em branco, que o fogo acende.
Mas vá lá. É preciso saber ficar doido pra escrever. Ligar a ignição. Tá tudo calmo e quieto, vontade alguma, só pensando no mato pra capinar ou na graxa do portão, mas chega uma demanda de escrever. Quem não entende do riscado pensa que é assim, ó: “Senta e escreve, bora lá”. E a gente faz. Aprende a riscar a faca no chão até dar faísca. Pedra com pedra. Fósforo. Lente no sol. Queima até o que não tem. Doidos pra escrever são perigosos. Acordei doida pra escrever. E nem era só um prazo expirado. Era uma energia transbordando aqui e ali. Calibrada? Níveis normais? Vamos agora ao dia, pra ter mais o que escrever, nas próximas linhas.

RIBEIRO, Ana Elisa. Doida pra escrever. In: RIBEIRO, Ana Elisa. Doida pra escrever. Belo Horizonte: Moinhos, 2021. p. 10-12. Disponível em: https://rubem.wordpress.com/2023/03/08/doida-praescrever-ana-elisa-ribeiro/.
Sobre o uso correto da crase, no trecho “A escrita é uma mistura inexplicável de força, memória, conexões, leituras, falatórios, horas de filmes bons e ruins, uma vida inteira de ações e reações, atenção, desatenção, amor e desamor…”, a crase estaria corretamente empregada em qual das reescritas a seguir?
Alternativas
Q3060716 Português
Doida pra escrever

Tem dia que eu acordo doida pra escrever. Não serve mais nada. Tem alguma coisa incomodando demais, dando engulhos ou fazendo cócegas. Às vezes é só um prazo mesmo, vencido, de preferência. Outras vezes, não. É assim a sensação que deve ter um vulcão ou então uma bomba. Vamos humanizar as coisas, minha gente. É a sensação que deve ter o nosso corpo, imagine aí em que circunstâncias mais variadas.
Mas já ouvi dizer de gente que nunca sente isso. Por outro lado, ouvi falar de médico que prescreve escrita pra curar doideira ou algum mal da cabeça. Talvez cure também o coração e outras vísceras. Quantas vezes senti os pulmões mais capazes depois de um belo poema. Pode nem ter sido assim tão belo, vá lá, mas foi eficaz pra dores diversas. Em relação a essa turma que não precisa da escrita pra nada só sinto duas coisas: ou inveja ou dó. Isso, dó. Desculpem aí minha intolerância (Neste mundo, é preciso ter cuidado com isso, senão dá processo). Inveja quando penso que alguém pode conseguir viver agarradinho com seus quiprocós todos, no maior love, sem precisar tirá-los a fórceps, com uma caneta ou um teclado desbotado. Quem me dera essa convivência toda. Mas tudo bem. Pode ser que a pessoa tenha outros expedientes, tipo jogar bola com os amigos, beber bastante, correr (já vi gente se curar assim), cantar, ah, cantar a beleza de ser… isso. Mas não precisar escrever é um mistério pra mim.
O outro sentimento é mais delicado. É dó, é pena, é um negócio complicado. A gente, cá do alto de nossa implicância, fica pensando “coitado desse pessoal”. Mas é que quem escreve se sente dono de um garimpo inteiro. Uma espécie de poder. Está na moda aí, aliás, uma palavra esquisita, traduzida e mal paga, que é “empoderamento”. É mais ou menos quando a gente aprende uma coisa que nos faz ficar mais potente, mais podendo, com uma espécie de “cinto de utilidades” que pode ser usado quando a gente quiser mudar algo. E aí já li bastante falarem de empoderamento em relação à leitura e à escrita. E me senti mais super-heroína do que todas: a She-Ha, a Mulher Maravilha, a… bem, são quantas mesmo?
Escrever é um ódio. Mas, depois que acontece, é uma mansidão geral, até a próxima escala. Só que tem dia que eu acordo — eu e um monte de gente que fez esta descoberta — doida pra escrever. Não me vem nem a ideia do café da manhã. É que tem bastante gente que precisa tomar café primeiro. Mas eu sou uma mineira estranha: não curto nem café, nem tropeiro, nem praia. Mas aí eu corro pro computador e piro geral. Vai que dá certo? Costuma.
A escrita é uma mistura inexplicável de força, memória, conexões, leituras, falatórios, horas de filmes bons e ruins, uma vida inteira de ações e reações, atenção, desatenção, amor e desamor, ímpetos, convicções, perdões, convenções, aulas de tudo quanto há, escola, muita escola, contenção, habilidade, um tico de tendências sadomasô, exibicionismo, em algum grau, experiência em qualquer medida, mas, fundamentalmente, desobediência. A escrita nem te suga nem nada. Você acorda doidão, corre pra máquina que for (pode ser lápis, pois ela não é muito específica), escreve, escreve, escreve, sente que secou, murchou ou brochou, e continua o dia. Não desgasta, sabe? E enche, enche tudo de novo, que nem caixa d’água (quer dizer… aí depende…).
Hoje eu acordei doida pra escrever. Note-se que nem tinha muito o que dizer. Isso também acontece. No entanto, não é bem um problema quando isso rola. Tanta gente não tem nada a dizer! Ora, bolas. Nem é preciso ter um ostentável conteúdo para escrever. Milhares e milhares de estudantes fazem isso, todos os anos, quando escrevem algumas sofridas (e sofríveis) linhas sobre o que não sabem. Já imaginou? Ter de escrever o que nunca foi pensado antes? É a tarefa mais ingrata que há. Digo sempre isso aos alunos que passam ali pelo meu quadrado: sua tarefa é a pior que há, meu caro. Depois desta, qualquer coisa funciona. Imagine o comando: Escreva aí, nesta sala bege ou verde-hospital, sem livros nem nada o que consultar, bem rapidamente, sob o olhar lancinante deste fiscal mal pago, sobre um tema que você conhecerá neste instante. OK. Está dada a largada. Se isso for possível, o resto será festa.
Não. Escritor doido pra escrever tem tempo, tem paixão, tem uns dias, uns meses, uns anos, uns livros e muita gente com quem conversar. Muitas vezes, escrever sucede a pesquisa. Pesquisa mesmo, com roteiros, leituras, entrevistas, consultas. Quem é doido por escrever costuma ter uma sala, um quarto, uma estante, uma prateleira, um computador, o que seja… mas cheios de coisas pra ler, pra olhar, pra visitar, pra levar debaixo do braço. Pensa, pensa, daí vem um ímpeto. A gente fica fogoso, um dia. Não pode nem ver uma folha de papel, uma tela em branco, que o fogo acende.
Mas vá lá. É preciso saber ficar doido pra escrever. Ligar a ignição. Tá tudo calmo e quieto, vontade alguma, só pensando no mato pra capinar ou na graxa do portão, mas chega uma demanda de escrever. Quem não entende do riscado pensa que é assim, ó: “Senta e escreve, bora lá”. E a gente faz. Aprende a riscar a faca no chão até dar faísca. Pedra com pedra. Fósforo. Lente no sol. Queima até o que não tem. Doidos pra escrever são perigosos. Acordei doida pra escrever. E nem era só um prazo expirado. Era uma energia transbordando aqui e ali. Calibrada? Níveis normais? Vamos agora ao dia, pra ter mais o que escrever, nas próximas linhas.

RIBEIRO, Ana Elisa. Doida pra escrever. In: RIBEIRO, Ana Elisa. Doida pra escrever. Belo Horizonte: Moinhos, 2021. p. 10-12. Disponível em: https://rubem.wordpress.com/2023/03/08/doida-praescrever-ana-elisa-ribeiro/.
“A escrita é uma mistura inexplicável de força, memória, conexões, leituras, falatórios, horas de filmes bons e ruins, uma vida inteira de ações e reações, atenção, desatenção, amor e desamor…”. Nesse trecho, a palavra “inexplicável” e a expressão “de força” pertencem, respectivamente, a quais classes de palavras?
Alternativas
Respostas
761: A
762: B
763: A
764: C
765: D
766: C
767: B
768: C
769: D
770: A
771: B
772: A
773: C
774: A
775: B
776: B
777: C
778: D
779: E
780: B