Questões de Português - Regência para Concurso

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Q1015945 Português

                                    Ética de princípios.

                                                                                                                 Rubem Alves

      AS DUAS ÉTICAS: a ética que brota da contemplação das estrelas perfeitas, imutáveis e mortas, a que os filósofos dão o nome de ética de princípios, e a ética que brota da contemplação dos jardins imperfeitos e mutáveis, mas vivos - a que os filósofos dão o nome de ética contextual.

      Os jardineiros não olham para as estrelas. Eles nada sabem sobre os estrelas que alguns dizem já ter visto por revelação dos deuses. Como os homens comuns não veem essas estrelas, eles têm de acreditar na palavra dos que dizem já as ter visto longe, muito longe ... Os jardineiros só acreditam no que os seus olhos veem. Pensam a partir da experiência: pegam a terra com as mãos e a cheiram...

      Vou aplicar a metáfora a uma situação concreta. A mulher está com câncer em estado avançado. É certo que ela morrerá. Ela suspeita disso e tem medo. O médico vai visitá-la. Olhando, do fundo do seu medo, no fundo dos olhos do médico ela pergunta: “Doutor, será que eu escapo desta?”

      Está configurada uma situação ética. Que é que o médico vai dizer? Se o médico for um adepto da ética estrelar de princípios, a resposta será simples. Ele não terá que decidir ou escolher. O princípio é claro: dizer a verdade sempre. A enferma perguntou. A resposta terá de ser a verdade. E ele, então, responderá: “Não, a senhora não escapará desta. A senhora vai morrer ...”. Respondeu segundo um princípio invariável para todas as situações.

      A lealdade a um princípio o livra de um pensamento perturbador: o que a verdade irá fazer com o corpo e a alma daquela mulher? O princípio, sendo absoluto, não leva em consideração o potencial destruidor da verdade. Mas, se for um jardineiro, ele não se lembrará de nenhum princípio. Ele só pensará nos olhos suplicantes daquela mulher. Pensará que a sua palavra terá que produzir a bondade. E ele se perguntará: “Que palavra eu posso dizer que, não sendo um engano - 'A senhora breve estará curada ...' -, cuidará da mulher como se a palavra fosse um colo que acolhe uma criança?” E ele dirá: “Você me faz essa pergunta porque você está com medo de morrer. Também tenho medo de morrer ...”. Aí, então, os dois conversarão longamente - como se estivessem de mãos dadas ... - sobre a morte que os dois haverão de enfrentar.

      Com o sugeriu o apóstolo Paulo, a verdade está subordinada à bondade. Pela ética de princípios, o uso da camisinha, a pesquisa das células-tronco, o aborto de fetos sem cérebro, o divórcio, a eutanásia são questões resolvidas que não requerem decisões: os princípios universais os proíbem. Mas a ética contextual nos obriga a fazer perguntas sobre o bem ou o mal que uma ação irá criar. O uso da camisinha contribui para diminuir a incidência da Aids? As pesquisas com células-tronco contribuem para trazer a cura para uma infinidade de doenças? O aborto de um feto sem cérebro contribuirá para diminuir a dor de uma mulher? O divórcio contribuirá para que homens e mulheres possam recomeçar suas vidas afetivas? A eutanásia pode ser o único caminho para libertar uma pessoa da dor que não a deixará?

      Duas éticas. A única pergunta a se fazer é: “Qual delas está mais a serviço do amor?” 

A afirmativa que apresenta análise incorreta ocorre em:
Alternativas
Q1015934 Português

                                    Ética de princípios.

                                                                                                                 Rubem Alves

      AS DUAS ÉTICAS: a ética que brota da contemplação das estrelas perfeitas, imutáveis e mortas, a que os filósofos dão o nome de ética de princípios, e a ética que brota da contemplação dos jardins imperfeitos e mutáveis, mas vivos - a que os filósofos dão o nome de ética contextual.

      Os jardineiros não olham para as estrelas. Eles nada sabem sobre os estrelas que alguns dizem já ter visto por revelação dos deuses. Como os homens comuns não veem essas estrelas, eles têm de acreditar na palavra dos que dizem já as ter visto longe, muito longe ... Os jardineiros só acreditam no que os seus olhos veem. Pensam a partir da experiência: pegam a terra com as mãos e a cheiram...

      Vou aplicar a metáfora a uma situação concreta. A mulher está com câncer em estado avançado. É certo que ela morrerá. Ela suspeita disso e tem medo. O médico vai visitá-la. Olhando, do fundo do seu medo, no fundo dos olhos do médico ela pergunta: “Doutor, será que eu escapo desta?”

      Está configurada uma situação ética. Que é que o médico vai dizer? Se o médico for um adepto da ética estrelar de princípios, a resposta será simples. Ele não terá que decidir ou escolher. O princípio é claro: dizer a verdade sempre. A enferma perguntou. A resposta terá de ser a verdade. E ele, então, responderá: “Não, a senhora não escapará desta. A senhora vai morrer ...”. Respondeu segundo um princípio invariável para todas as situações.

      A lealdade a um princípio o livra de um pensamento perturbador: o que a verdade irá fazer com o corpo e a alma daquela mulher? O princípio, sendo absoluto, não leva em consideração o potencial destruidor da verdade. Mas, se for um jardineiro, ele não se lembrará de nenhum princípio. Ele só pensará nos olhos suplicantes daquela mulher. Pensará que a sua palavra terá que produzir a bondade. E ele se perguntará: “Que palavra eu posso dizer que, não sendo um engano - 'A senhora breve estará curada ...' -, cuidará da mulher como se a palavra fosse um colo que acolhe uma criança?” E ele dirá: “Você me faz essa pergunta porque você está com medo de morrer. Também tenho medo de morrer ...”. Aí, então, os dois conversarão longamente - como se estivessem de mãos dadas ... - sobre a morte que os dois haverão de enfrentar.

      Com o sugeriu o apóstolo Paulo, a verdade está subordinada à bondade. Pela ética de princípios, o uso da camisinha, a pesquisa das células-tronco, o aborto de fetos sem cérebro, o divórcio, a eutanásia são questões resolvidas que não requerem decisões: os princípios universais os proíbem. Mas a ética contextual nos obriga a fazer perguntas sobre o bem ou o mal que uma ação irá criar. O uso da camisinha contribui para diminuir a incidência da Aids? As pesquisas com células-tronco contribuem para trazer a cura para uma infinidade de doenças? O aborto de um feto sem cérebro contribuirá para diminuir a dor de uma mulher? O divórcio contribuirá para que homens e mulheres possam recomeçar suas vidas afetivas? A eutanásia pode ser o único caminho para libertar uma pessoa da dor que não a deixará?

      Duas éticas. A única pergunta a se fazer é: “Qual delas está mais a serviço do amor?” 

Identifique a alternativa em que ocorreu falha de regência verbal.
Alternativas
Q1015727 Português
Assinale a alternativa INCORRETA quanto à regência verbal:
Alternativas
Q1015274 Português

                            A Trump o que é de César.


      Há algumas semanas, um sujeito muito parecido com Donald Trump levou 33 punhaladas no meio do Central Park, em Nova York. O sangue era cênico e os punhais eram falsos, mas o furor causado pela encenação nada teve de figurativo. Entre 23 de maio e 18 de junho, milhares de pessoas enfrentaram filas para assistir ao assassinato, enquanto outras tantas campeavam a internet denunciando a peça como apologia do terror politico. Nada mau, repare-se, para um texto que anda entre nós há mais de 400 anos: o espetáculo em questão é uma montagem de Júlio César, peça escrita por William Shakespeare em 1599. Nessa adaptação, dirigida por Oskar Eustin, o personagem-título tinha uma cabeleireira desbotada e usava terno azul, com gravata vermelha mais comprida que o aconselhável; sua esposa, Calpúrnia, falava com reconhecível sotaque eslavo. Um sósia presidencial encharcado de sangue é visão que não poderia passar incólume em um país que já teve quatro presidentes assassinados: após as primeiras sessões, patrocinadores cancelaram seu apoio, fãs do presidente interromperam a peça aos gritos, e e-mails de ódio choveram sobre companhias teatrais que nada tinham a ver com o assunto - exceto pelo fato de carregarem a palavra "Shakespeare” no nome.

      Trocar togas por ternos não é ideia nova. Orson Welles fez isso em 1973, no Mercury Theater de Nova York; nessa célebre montagem, o ditador romano ganhou ares de Mussolini e foi esfaqueado pelo próprio Welles, que interpretava Brutus. Nas décadas seguintes, outras figuras modernas emprestaram trajes e trejeitos ao personagem: entre elas, Charles de Gaulle, Fidel Castro e Nicolae Ceausescu. Atualizações como essas expandem, mas não esgotam, o texto de Shakespeare - é muito difícil determinar, pela leitura da peça, se a intenção do bardo era louvar, condenar ou apenas retratar, com imparcialidade, os feitos sanguinolentos dos Idos de Março. Por conta dessa neutralidade filosófica, a tarefa de identificar o protagonista da peça é famosamente complicada: há quem prefira Brutus; há que escolha Marco Antônio ou até o velho Júlio.

      O texto, como bom texto, não corrobora nem refuta: ele nos observa. Tragédias não são panfletos, e obras que se exaurem em mensagens inequívocas dificilmente continuarão a causar deleite e fúria quatro séculos após terem sido escritas. Em certo sentido, a boa literatura é uma combinação bem-sucedida de exatidão e ambiguidade: se os versos de Shakespeare ainda causam tamanho alvoroço, é porque desencadeiam interpretações inesgotáveis e, às vezes, contraditórias, compelindo o sucessivo universo humano a se espelhar em suas linhas. Ao adaptar a grande literatura do passado ao nosso tempo, também nós nos adaptamos a ela: procuramos formas de comunicar o misterioso entusiasmo que essas obras nos causam e projetamos o mundo, como o vemos em suas páginas.

      Não, Shakespeare não precisa ter terno e gravata para ser atual - mas se o figurino cai bem, por que não vesti-lo?

     (Fonte: BOTELHO, José Francisco. Revista VEJA. Data: 18 de julho de 2017)

Observe as regências verbais no excerto e assinale a alternativa com análise correta:"(...) milhares de pessoas enfrentaram filas para assistir ao assassinato (...)"
Alternativas
Q1015208 Português

Texto I                                           O Emblema da Sirene.


      Um dos maiores especialistas em acidentes do mundo, o professor Charles Perow, da Universidade de Yale, diz que existem tragédias virtualmente inevitáveis, que decorrem de falhas de sistema. São o que ele chama de “acidentes normais". Praticamente impossíveis de antecipar, como um terremoto ao qual se segue um tsunami, são, por isso mesmo, os mais desafiadores. É possível, embora improvável, que o rompimento da barragem de Brumadinho, cuja causa ainda não foi esclarecida, venha a ser incluído na categoria dos “acidentes normais” precisam resultar em catástrofes com tamanhas perdas humanas. Aí, entra o descaso.

      Tome-se o exemplo das sirenes de Brumadinho. Depois do desastre de Mariana, que deixou dezenove mortos, a lei passou a exigir que as operadoras de barragens instalassem sirenes para alertar os trabalhadores e moradores das cercanias em caso de rompimento. Cumprindo a lei, a Vale instalou sirenes em Brumadinho e orientou a população sobre rotas de fuga e locais mais seguros para se abrigar. Acontece que, na tarde da sexta-feira 25, a sirene da barragem que se rompeu não tocou. A medida de segurança mais básica, e talvez a mais eficaz para salvar vidas, simplesmente não funcionou. Porquê?

      A assessoria de imprensa da Vale explica que a sirene não tocou “devido à velocidade com que ocorreu o evento”. Parece piada macabra, e não deixa de sê-lo, mas sobretudo descaso letal. Ou alguém deveria acreditar que a Vale instalou um sistema de alerta capaz de funcionar apenas no caso de acidentes que se anunciam cerimoniosamente a si mesmos, aguardam que sejam tomadas as providências de segurança e só então liberam sua fúria?

      O descaso não é órfão. É filho dileto de uma mentalidade que mistura atraso com impunidade. O atraso foi o que levou as empresas de mineração a ignorar as lições de Mariana. Pior: elas trabalharam discretamente, sempre nos bastidores, para barrar iniciativas que, visando a ampliar a segurança nas barragens ,as levariam a gastar algum tempo e algum dinheiro. A impunidade é velha conhecida dos brasileiros. Três anos depois, dos 350 milhões de reais em multas aplicadas pelo Ibama à Samarco, responsável pelo desastre de Mariana, a mineradora não pagou nem um centavo até hoje.

      Acidentes acontecem e voltarão a acontecer. Há os que decorrem de falha humana, os que resultam de erro de engenharia, os produzidos por falhas sistêmicas. Alguns são mais complexos do que outros. Nenhum deles, porém mesmo os inevitáveis "acidentes normais” de Perow, precisa ceifar tantas vidas. Eliminando-se o atraso e a impunidade, pode-se começar com uma sirene que toca. 

                                                                                  Fonte: Veja,16 de fevereiro de 2019.


Texto II  


    I

O Rio? É doce.

A Vale? Amarga

Ai, entes fosse

Mais leve a carga.

    II 

Entre estatais 

E multinacionais

Quantos ais!

    III.

A dívida interna

A dívida externa 

A dívida eterna

     IV

Quantas toneladas exportamos 

De ferro 

Quantas lágrimas disfarçamos 

Sem berro?

                                         Fonte: 1984, Lira Itabirana, Carlos Drummond de Andrade.

No excerto: “(...) para barrar iniciativas que, visando a ampliar a segurança (...)”, sobre a regência do verbo no gerúndio, não se pode afirmar:
Alternativas
Respostas
2936: A
2937: A
2938: B
2939: C
2940: C