Questões de Português - Sintaxe para Concurso
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Atenção: As questões de números 6 a 13 referem-se ao texto abaixo.
Nascido nos Estados Unidos da América em 30 de abril de 1916, Claude E. Shannon obteve o título de doutor no MIT, em 1937, com trabalho notável em "Álgebra de Boole", propondo circuitos elétricos capazes de executar as principais operações da Lógica clássica.
Quatro anos antes (23 de junho de 1912) de seu nascimento, em Londres, nascera Allan M. Turing, que também se interessou por encontrar meios de realizar operações lógicas e aritméticas, fazendo uso de máquinas. Suas ideias resultaram no importante conceito de "Máquina de Turing", paradigma abstrato para a computação, apresentado durante seus estudos, no King's College, em Cambridge, no ano de 1936. Entre 1936 e 1938, Turing viveu em Princeton-NJ onde realizou seu doutorado estudando problemas relativos à criptografia.
Assim, Shannon e Turing, de maneira independente, trabalhavam, simultaneamente, em comunicações e computação, dois tópicos que, combinados, hoje proporcionam recursos antes inimagináveis para o mundo moderno das artes, da ciência, da medicina, da tecnologia e das interações sociais.
Contemporaneamente à eclosão da Segunda Guerra Mundial, Shannon e Turing gestavam ideias abstratas sofisticadas, tentando associá-las ao mundo concreto das máquinas que, gradativamente, tornavam-se fatores de melhoria da qualidade de vida das populações.
A Segunda Grande Guerra utilizou-se de tecnologias sofisticadas para a destruição. Os bombardeios aéreos causaram muitas mortes e devastaram cidades. Evitá-los e preveni-los eram questões de vida ou morte e, para tanto, ouvir as comunicações dos inimigos e decifrar seus códigos era uma atividade indispensável.
Os países do eixo tinham desenvolvido sofisticadas técnicas de comunicação criptografada utilizada para planejar ataques inesperados às forças aliadas. Shannon e Turing, então, com seu conhecimento sofisticado da matemática da informação deduziram as regras alemãs de codificação, levando os aliados a salvar muitas de suas posições de ataques nazistas.
Pode-se dizer que uma boa parte da inteligência de guerra dos aliados vinha desses dois cérebros privilegiados.
Finda a guerra, Shannon passou a trabalhar nos laboratórios Bell, propondo a "Teoria da Informação", em 1948. Com carreira profícua, notável pela longevidade e muitos trabalhos importantes, deixou sua marca nas origens das comunicações digitais. Faleceu aos 85 anos (em 24 de fevereiro de 2001), deixando grande legado intelectual e tecnológico.
Turing, após o término da guerra, ingressou como pesquisador da Universidade de Manchester, sofrendo ampla perseguição por ser homossexual. Mesmo vivendo na avançada Inglaterra, foi condenado à castração química, em 1952. Essa sequência de dissabores levou-o ao suicídio, em 7 de junho de 1954.
Shannon viu sua teoria transformar o mundo, com o nascimento da internet. Turing, entretanto, não viu sua máquina se transformar em lap-tops e tablets que hoje povoam, até, o imaginário infantil.
(PIQUEIRA, José Roberto Castilho. “Breve contextualização histórica”, In: “Complexidade computacional e medida da informação: caminhos de Turing e Shannon”, Estudos Avançados, Universidade de São Paulo, v. 30, n. 87, Maio/Agosto 2016, p.340-1)
... uma boa parte da inteligência de guerra dos aliados vinha desses dois cérebros privilegiados.
O verbo transitivo empregado com o mesmo tipo de complemento com que foi empregado o verbo grifado acima está em:
Atenção: As questões de números 1 a 5 referem-se ao texto abaixo.
Não cometo esse erro tão comum de julgar os outros por mim. Acredito de bom grado que o que está nos outros possa divergir essencialmente daquilo que está em mim. Não obrigo ninguém a agir como ajo e concebo mil e uma maneiras diferentes de viver; e, contrariamente ao que ocorre em geral, espantam-me bem menos as diferenças entre nós do que as semelhanças. Não imponho a outrem nem meu modo de vida nem meus princípios; encaro-o tal qual é, sem estabelecer comparações. O fato de não ser continente não me impede de admirar e aprovar os Feuillants* e os capuchinhos que o são; pela imaginação ponho-me muito bem em sua pele e os estimo e honro tanto mais quanto divergem de mim. Aspiro particularmente a que julguem cada qual como é, sem estabelecer paralelos com modelos tirados do comum. Minha fraqueza não altera absolutamente o apreço em que deva ter quem possui força e vigor. Embora me arraste ao nível do solo, não deixo de perceber nas nuvens, por mais alto que se elevem, certas almas que se distinguem pelo heroísmo. Já é muito para mim ter o julgamento justo, ainda que não o acompanhem minhas ações, e manter ao menos assim incorruptível essa qualidade. Já é muito ter boa vontade, mesmo quando as pernas fraquejam.
*Ordem religiosa.
(Extraído de MONTAIGNE, Michel de. “Catão, o jovem”, Ensaios, trad. Sérgio Milliet, São Paulo, Nova Cultural, 1996, p. 213)
Os dois verbos grifados que foram empregados no texto com o mesmo tipo de complemento encontram-se em:
A concordância nominal está incorreta em:
Em relação à frase “Fitei-o surpreso”, é correto o que se afirma em:
Texto para a questão 3
“No começo dos anos 1990, na Itália, um grupo de magistrados milaneses (o mais popular foi Antonio di Pietro) tentou(1) acabar com os esquemas de corrupção (antigos e tradicionais) que ligavam(2) empresários, financistas e políticos. [...]”.
(Folha de S.Paulo, 31/3/16 – ilustrada C8)
Sobre a flexão dos verbos destacados, analise as assertivas abaixo.
I. Em (1), o verbo poderia ir para o plural.
II. Em (2), o verbo concorda com “um grupo de magistrados”.
III. Em (1), o verbo concorda com “Antonio di Pietro”.
IV. Em (2), o verbo concorda com “os esquemas de corrupção”.
É correto o que se afirma em:
Texto para as questões 1 e 2
“[..] A notícia foi antecipada pela coluna de Mônica Bergamo, na Folha, nesta quarta-feira (30). Na manhã de ontem, a editora Record anunciou que dará ‘abrigo editorial’ ao autor. [...]”.
(Folha de S.Paulo, 31/3/16 – ilustrada C5)
Assinale a opção em que se analisa a classe gramatical e a função sintática das palavras destacadas no texto, respeitando a ordem em que elas ocorrem.
Instrução: As questões de números 01 a 10 referem-se ao texto abaixo.
A ação humana e as enchentes
- A interferência humana sobre os cursos d'água, provocando enchentes e inundações, ocorre
- das mais diversas formas. Em casos extremos, porém menos comuns, tais situações podem estar
- relacionadas com rompimentos de diques e barragens, o que pode causar sérios danos _____
- sociedade. Quase sempre, entretanto, essa questão está ligada ao ______ uso do espaço urbano.
- Um problema que parece não ter uma solução rápida é o elevado índice de poluição, causado
- tanto pela ausência de consciência por parte da população quanto por sistemas ineficientes de
- coleta de lixo ou de distribuição de lixeiras pela cidade. Além do mais, ______ problemas
- causados pela poluição gerada por empresas e outros órgãos. Com isso, ocorre o entupimento
- dos bueiros que seriam responsáveis por conter parte da água que eleva o nível dos rios. Além
- do mais, o lixo gerado é levado pelas enxurradas e contribui ainda mais para elevar o volume das
- águas.
- Outra questão é a ocupação irregular ou desordenada do espaço geográfico: algumas áreas
- correspondem ao leito maior de um rio que, esporadicamente, inunda. Com a ocupação irregular
- dessas áreas – muitas vezes causada pela ausência de planejamento adequado –, as pessoas
- estão sujeitas à ocorrência de inundações. Além disso, a remoção da vegetação que compõe o
- entorno do rio pode intensificar o processo, pois ela teria a função de reter parte dos sedimentos
- que vão para o leito e aumentam o nível das águas.
- Apesar de todos os problemas mencionados, a causa considerada principal para as enchentes
- é, sem dúvida, a impermeabilização do solo. Com a pavimentação das ruas e a cimentação de
- quintais e calçadas, a maior parte da água, que deveria infiltrar no solo, escorre na superfície,
- provocando o aumento das enxurradas e a elevação dos rios. Além disso, a impermeabilização
- contribui para a elevação da velocidade desse escoamento, provocando erosões e causando
- outros tipos de desastres ambientais urbanos.
- Hoje ............... inúmeras medidas de combate às enchentes. A cidade de Belo Horizonte,
- por exemplo, contratou em outubro de 2013 alguns “olheiros”, que são funcionários encarregados
- de detectar o início de inundações em áreas de risco. Eles teriam a função de minimizar os efeitos
- da “inundação relâmpago”, aquela que ocorre em um curtíssimo período de tempo. Outras ações
- envolvem a construção de barragens e o desassoreamento do leito dos rios, em que todos os
- sedimentos existentes no fundo dos cursos d'água são removidos, aumentando a sua
- profundidade.
- Todas essas medidas, no entanto, são paliativas, ou seja: são apenas para minimizar ou
- combater uma situação já existente. A melhor forma de lidar com esse problema, na verdade, é
- realizar uma devida prevenção, através da construção de sistemas eficientes de drenagem, da
- desocupação de áreas de risco, da criação de reservas florestais nas margens dos rios, da
- diminuição dos índices de poluição e de geração de lixo, além de um planejamento urbano mais
- consistente.
Fonte: http://brasilescola.uol.com.br/geografia/enchentes.htm – Texto adaptado especialmente para esta prova.
No período a seguir, retirado do texto, se o termo “da vegetação” fosse substituído por das árvores, quantas outras palavras também deveriam ser modificadas para que houvesse concordância?
Além disso, a remoção da vegetação que compõe o entorno do rio pode intensificar o processo, pois ela teria a função de reter parte dos sedimentos que vão para o leito e aumentam o nível das águas. (l.15-17).
Leia o texto e responda às questões de números 06 a 09.
Comandante aposentado não deixa o cockpit
Shigekazu Miyazaki está usando o tempo livre de sua aposentadoria a 25 mil pés. Ele foi piloto da maior companhia aérea japonesa por quatro décadas, mas deixou o posto ano passado, ao completar 65 anos, idade-limite para voar pela empresa.
Mas, em vez de jogar golfe ou pescar, agora Miyazaki é piloto de uma companhia regional do Japão. “Nunca pensei que ainda estaria voando aos 65 anos, mas eu continuo saudável, amo voar, então, enquanto eu puder, por que não?”
O envelhecimento dos trabalhadores está forçando um questionamento sobre a trajetória profissional e também sobre a sustentação da Previdência no Japão. O país tem a maior expectativa de vida do mundo, pouca imigração e uma minguante população de jovens trabalhadores, reflexo de décadas de queda na taxa de natalidade.
Isso torna os trabalhadores mais velhos ainda mais importantes para a economia. Mais da metade dos homens japoneses com mais de 65 anos executa algum tipo de trabalho remunerado, comparado com um terço dos americanos e 10% em alguns países da Europa.
A economia japonesa está começando a se recuperar graças à demanda das exportações, mas a escassez de trabalhadores pode limitar esse crescimento. A taxa de desemprego é de 2,8%.
Ao mesmo tempo, a geração que começa a se aposentar pressiona a Previdência Social e força o governo a estudar o aumento da idade mínima para conceder o benefício.
Os trabalhadores mais velhos também ajudam a explicar a estagnação da renda no Japão. Os mais velhos costumam receber muito menos do que o salário do pico de suas carreiras. Essa queda acaba reduzindo os aumentos que um jovem recebe ao longo do crescimento profissional.
Para Miyazaki, por exemplo, a escolha de continuar voando é um luxo. No novo emprego, recebe um terço do salário de antes de se aposentar.
(New York Times. Publicado pela Folha de S.Paulo em 30.07.2017. Adaptado)
Assinale a alternativa correta quanto à concordância verbal e nominal estabelecida pela norma-padrão.
PAISAGEM URBANA
1º -----São cinco horas da manhã, um nevoeiro cai branco como leite, fria como gelo. Milhões de gotinhas d’água brilham em trilhos de ferro. “Bom dia”, diz Um Homem para o Outro Homem. “Bom dia, por quê?”, pensa o Outro, olhando para o Um. Um Homem inalterável é um poste, que espera o trem na estação quase vazia.
2º -----É o trem que leva e traz toda a gente ao trabalho, ao centro da cidade, a tantos lugares nenhum. É o trem que chega carregado de pop, popular, população, populacho, que pula que nem pipoca por todos os bairros da capital. Na plataforma uma luz vermelha pisca, enquanto um sinal de alerta grita: blem! Blem! Blem! Na cabeça, tanto do Um como do Outro, as ideias vão e vêm, como os trens. Os trens que não têm remédio, não têm escolha. Apenas vão e vem. É preciso ir em frente.
3º -----A máquina aparece na curva e vem lenta, grave, forte, grande, imensa. Pára a máquina, desce um branco, uma mulata, o gordo e o magro, dois meninos maluquinhos. Chegada de uns, partida de outros. No meio de um cheiro áspero de fumaça e óleo diesel, o Outro Homem entra no trem. Um Homem continua um poste. Rígido. Concreto. E é só quando uma moça desce a escada do vagão carregando uma mala, cabelo preso com fita e olhar de busca, que o homem-poste tem um sobressalto. Os olhares se encontram. O trem vai e os olhares vêm. O mundo é assim...
4º -----Outro Homem se foi. Um Homem está feliz.
Marco Antonio Hailer.
Considere as seguintes afirmações sobre classes de palavras e termos da oração dos vocábulos presentes no texto:
I - O vocábulo “trem” em “que espera o trem” (1º parágrafo) é substantivo em função de objeto direto.
II - Os vocábulos “da cidade” (2º parágrafo) é uma locução adjetiva em função de adjunto adnominal.
III - O vocábulo, “feliz” em “Um Homem está feliz” (3º parágrafo) é um adjetivo em função de predicativo do sujeito.
IV - O vocábulo “luz” em “Na plataforma uma luz vermelha pisca” é um substantivo em função de núcleo do sujeito simples.
Quais afirmativas estão corretas?
De acordo com Marcuschi (2008, p. 59): “Quando vista como entidade abstrata, enquanto forma, a língua é estudada em suas propriedades estruturais autônomas. Neste caso, é tomada como código ou sistema de signos e sua análise desenvolve-se na imanência do objeto. [...] Tratada assim, a língua é tida como um sistema homogêneo composto de vários níveis hierarquicamente distribuídos. Nesta perspectiva, costuma-se distinguir níveis de análise formal. E geral, os estudos linguísticos nesta linha dedicamse [...] a quatro (grifo nosso) níveis estruturais.” Diante da noção de língua exposto acima por Marcuschi (2008), assinale a única alternativa correta que indique a ordem hierárquica e conceitual de ensino da língua:
NOTAS
Soluços, lágrimas, casa armada, veludo preto nos portais, um homem que veio vestir o cadáver, outro que tomou a medida do caixão, caixão, essa, tocheiros, convites, convidados que entravam, lentamente, a passo surdo, e apertavam a mão à família, alguns tristes, todos sérios e calados, padre e sacristão, rezas, aspersões d'água benta, o fechar do caixão a prego e martelo, seis pessoas que o tomam da essa, e o levantam, e o descem a custo pela escada, não obstante os gritos, soluços e novas lágrimas da família, e vão até o coche fúnebre, e o colocam em cima e traspassam e apertam as corrêas, o rodar do coche, o rodar dos carros, um a um... Isto que parece um simples inventário, eram notas que eu havia tomado para um capítulo triste e vulgar que não escrevo.
Capítulo de "Memórias Póstumas de Brás Cubas",
Machado de Assis
A obra "Memórias Póstumas de Brás Cubas" inaugura o Realismo no Brasil. Além de trazer um defunto-autor como narrador, outros recursos inovadores da linguagem literárias se presentificam. É traço de inovação do trecho acima
O texto a seguir servirá de base para as questões 09 e 10.
CARLOS CHEGA AO CÉU
E olhando aquele nuvenzal todo, comenta: Gente, não é que virei mesmo eterno?
Lá no céu, Cecília Meireles acorda cedinho. Mais cedo ainda do que de costume, que ela gosta de espiar os querubins tontinhos de sono. Mas hoje é dia especial. Cecília prende os cabelos, depois toma sua homeopatia (será Dulcamara? Daqui não dá pra ver - pode até ser Stramonium) e lava devagar o rosto na água do arco-íris. Bebe seu chazinho de pétalas de rosa branca - amarela não, que dá azia. Escova devagar as asas, pluma por pluma. Só depois de bem bonita é que bate de leve na porta da nuvem ao lado. Dentro, um resmungo mal-humorado.
É Vinícius de Moraes, que virou a noite com o arcanjo Gabriel, conhecendo as bocas da zona da Ursa Maior, aquela louca pirada. Mesmo de ressaca, o Poetinha acorda. "É hoje" - sussurra Cecília na janela que Vinícius se espreguiça: "Ô xará, não é que é mesmo hoje" E vai correndo se aprontar.
De braços dados, os dois vão bater à porta da nuvem de Manuel Bandeira. Mas nem era preciso. Manuel já está aceso, debruçado na janela, o nariz um pouco vermelho, fungando e tomando café quente que Irene acabou de preparar. "É hoje" - dizem Cecília e Vinícius. Manuel funga: "E eu não sei, gente? Daqui a pouquinho". Os três ficam em silêncio, o coração deles começa a bater no mesmo compasso (dodecassílabo? Daqui não dá para ouvir direito) então eles olham para baixo, em direção ao planeta Terra, que gira e gira, meio bobo de tão azul.
Aí uma nuvem dourada lá embaixo começa a ficar cada vez mais dourada, a chegar cada vez mais perto. Brilha tanto que os três quase se assustam, até reconheceram São Pedro na direção. Que pena, não dá mais tempo de chamar Pedro Nava. A nuvem aterrissa, São Pedro abre a porta. Um pouco encabulado, atrapalhado com as asas, cabeça baixa. Carlos Drummond de Andrade desce e põe os pés no céu. "Não é que virei mesmo eterno?" - comenta, olhando aquele nuvenzal todo. Então vê os três. Tanto tempo, pois é, tanto tempo, pensei que nem vinha mais. Cecília, você não mudou nada, e essa barriga, Poetinha? Não toma jeito, curou a tosse, Bandeira? Tá mais magro, Carlos, e a Dolores? Vai bem, mandou lembranças, qualquer dia chega por aqui. Irene traz mais café, bem preto, bem forte. Vinícius dá um jeitinho de virar no café uma talagada de uísque da garrafinha que carrega sempre, disfarçada sob a asa esquerda. Os quatro brindam, olhos molhados de saudade satisfeita.
Depois olham pro mundo aqui de baixo, que gira e gira, todo azul, assim de longe, e esperam um pouquinho, enquanto bebem o café, até conseguirem localizar, entre nuvens, a América do Sul. Custa um pouco para encontrarem, quase no extremo sul dessa América, um pontinho luminoso chamado Porto Alegre e, bem no centro do coração dessa cidade, um velhinho de cara sapeca, parado em frente a um porta-retratos com a foto da Bruna Lombardi. É o Mário Quintana - eles sabem - ou será o Anjo Malaquias? (isso nunca ninguém soube). Cecília, Vinícius, Manuel e Carlos sorriem mansinho, espiando Mário lá do céu, lá de cima.
Mas a Terra - tão azul assim, vista de longe, vista de cima - eles olham com pena. Sabem que pelo menos metade desse azul todo, depois que eles se foram, brota dali, do quartinho do Mário. Aí suspiram, tadinho, que barra! Um anjo torto vem pedir autógrafo de Carlos. "desguia" - avisa Vinícius. - "Um chato, maior aluguel". Carlos pergunta de Maria Julieta, Manuel diz que leva ele até lá. Cecília tem um almoço com Clarice e Ana Cristina. Vinícius não sabe se dorme mais um pouco ou se pega o Leon Eliachar para irem até a casa de Elis - será que já acordou, a diaba? - tá com samba novo na cabeça, precisa cruzar com a Clementina.
Cá embaixo, no centro do coração gelado do pontinho luminoso chamado Porto Alegre, pleno agosto, Mário Quintana abre a janela, olha para cima e dá uma piscadinha.
Danados, pensa, que danadinhos. O dia parece tão cinzento que não resiste à tentação de escrever um poema. Bem curtinho, bem feliz. Entre lá e cá, girando e girando sem parar, feito louca. A Terra também não resiste. De puro gosto, fica ainda mais azul - você viu?
(O Estado de São Paulo, 26/8/1987)
Caio Fernando de Abreu – Pequenas Epifanias
Considerado o excerto: “...que gira e gira, meio bobo de tão azul”, é correto afirmar que
Texto para responder às questões 1 e 8.
1 A costa Atlântica, ao longo de milênios, foi percorrida
e ocupada por inumeráveis povos indígenas. Disputando os
melhores nichos ecológicos, eles se alojavam, desalojavam e
4 realojavam, incessantemente. Nos últimos séculos, porém,
índios de fala tupi, bons guerreiros, se instalaram,
dominadores, na imensidade da área, tanto à beira-mar, ao
7 longo de toda a costa atlântica e pelo Amazonas acima,
como subindo pelos rios principais, como o Paraguai, o
Guaporé, o Tapajós, até suas nascentes.
10 Configuraram, desse modo, a ilha Brasil,
prefigurando, no chão da América do Sul, o que viria a ser
nosso país. Não era, obviamente, uma nação, porque eles
13 não se sabiam tantos nem tão dominadores. Era, tão-só,
uma miríade de povos tribais, falando línguas do mesmo
tronco, dialetos de uma mesma língua, cada um dos quais,
16 ao crescer, se bipartia, fazendo dois povos que começavam
a se diferenciar e logo se desconheciam e se hostilizavam.
Se a história, acaso, desse a esses povos Tupi uns
19 séculos mais de liberdade e autonomia, é possível que
alguns deles se sobrepusessem aos outros, criando
chefaturas sobre territórios cada vez mais amplos e forçando
22 os povos que neles viviam a servi-los, os uniformizando e
desencadeando, assim, um processo oposto ao de expansão
por diferenciação.
25 Nada disso sucedeu. O que aconteceu, e mudou total
e radicalmente seu destino, foi a introdução no seu mundo
de um protagonista novo, o europeu.
Darcy Ribeiro. O povo brasileiro. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
Lições da Educação Infantil
De uns 15 anos para cá, passamos a ter boas escolas de educação infantil. Antes disso, já tínhamos algumas que respeitavam a primeira infância, ouviam as crianças, reconheciam sua potência de aprendizagem no ato de brincar.
Esse número passou a se multiplicar devido a experiências em escolas pelo mundo. Por isso, hoje, já é possível encontrar uma escola para crianças com menos de seis anos em que o currículo não seja apenas um elenco de conteúdos, em que o ato de brincar seja a principal atividade para a criança, em que não haja uma profusão de brinquedos prontos e em que haja professores com formação contínua e em serviço. Escolas desse tipo ainda são minoria, mas já é uma boa notícia saber que elas existem.
Nessas escolas, as crianças aprendem a se concentrar porque a brincadeira exige isso e porque elas participam ativamente da escolha da brincadeira, seja em grupo, seja pessoalmente. Aprendem também a fazer perguntas e a pesquisar para buscar respostas, a exercitar sua criatividade, a colocar a mão na massa em tudo. Atenção: na massa e não, necessariamente, na massinha.
Os alunos aprendem, também, a conviver: os professores aproveitam todas as ocasiões para dar oportunidades de a criança aprender a ver e a considerar o seu par, a esperar a sua vez, a simbolizar em palavras o que sente e pensa, a viver em grupo e a ser solidária.
É uma pena que as escolas de ensino fundamental e médio não tenham humildade para olhar com atenção para as de educação infantil e aprender com elas. Há uma hierarquia escolar espantosa, caro leitor: as escolas de graduação pensam que praticam um ensino “superior”; as de ensino médio se consideram mais especializadas no conhecimento sistematizado do que a escola de ensino fundamental; e todas pensam que a de educação infantil não exige conhecimento científico.
As escolas de ensino fundamental e médio precisam se inspirar nas de educação infantil e não deixar o aluno ser totalmente passivo em sua aprendizagem: ele precisa, para se motivar, fazer algumas escolhas.
O aluno que participa não se distrai com tanta facilidade. E é bom lembrar que uma das maiores queixas em relação aos alunos é exatamente a falta de atenção, de foco e de concentração.
Precisam também reconhecer que aprende mais quem pratica o que deve aprender. Como eu já disse: mão na massa! Ninguém merece ficar horas em aulas expositivas ou arremedos de trabalho em grupo.
O que as famílias têm a ver com isso? Tudo! Quando a sociedade questionar verdadeiramente a organização escolar atual, certamente teremos mudanças. Mas, até agora, vemos mais conformismo e adesão do que questionamentos, não é verdade?
(Rosely Sayão, Folha de S.Paulo, 05 de maio de 2015.Adaptado)
Leia o texto para responder às questões de números 01 a 09.
Nas frases reescritas, as concordâncias nominal e/ou verbal e a pontuação estão corretas, de acordo com a norma-padrão, na alternativa:
Leia o texto abaixo transcrito e, em seguida, responda às questões a ele referentes:
A casa
Um casal amigo se separa e a mulher decide vender a casa. Vai morar com os filhos num apartamento novo. O homem também se instala em outro lugar, igualmente confortável. Ambos estão felizes e satisfeitos com a mudança. Ele já tem uma bonita namorada e ela muito em breve achará novo companheiro. Bem feitas as contas, o prejuízo foi meu, que perdi o terraço. Sim, era um pouco meu aquele pedaço da casa, onde passei bons momentos de férias, desfrutando a brisa atlântica e tomando uísque com água de coco.
Quando anunciaram o desenlace eu quis defender os meus interesses, mas deixei barato e permiti que seguissem o seu destino. Sou um sujeito compreensivo, abri mão do terraço. Fui mais longe em minha generosidade. Renunciei aos livros, discos, garrafas de boa bebida, quarto refrigerado. E abri mão principalmente, sufocando queixas, de uma cálida atmosfera humana, impossível de achar em qualquer hotel cinco estrelas e que o tempo vinha desgastando naquela casa finalmente desfeita, vendida, abandonada. Parece que esse é o destino inexorável de todas as casas. Acabam compradas, trocadas por apartamentos, invadidas por estranhos.
O desmonte foi lento e triste. Vi, nos preparativos da mudança, o descarte de coisas imprestáveis, com o vago sentimento de que também eu estava sendo descartado e deixado para trás como um guarda-chuva quebrado ou um velho objeto empoeirado e sem serventia. Dos moradores, somente minha mulher e eu, que éramos temporários, parecíamos ter saudades. Espiávamos, comovidos, aquelas caixas pardas que se iam fechando, levando um pouco de nós dois dentro delas. Ficava patente que estávamos vivendo o nosso último verão com aquelas pessoas tão queridas, para as quais, entretanto, pouco importava a proximidade do mar, a mangueira plena de frutos, o sudoeste soprando no fim das tardes, o cheiro de terra molhada pela “chuva de caju” nos ensolarados dezembros do Recife.
Tiramos uma fotografia do jardim. Contemplamos gravemente a paisagem líquida e verde que se descortinava no terraço. E vimos o quintal com os mesmos olhos saudosos que, na infância, reparavam os quintais pela última vez, a cada mudança.
Depois desse disfarçado ritual, abraços e beijos na família que nos hospedou. Já dentro do táxi para o aeroporto, arrisco um aceno discreto para a casa. Ela vai ficar ali, esperando novos e desconhecidos moradores. Guardando, em seu silêncio de pedra, noites alegres, festas, risadas, palavras amigas, e tudo mais que de repente se muda do tempo de agora para o cinzento do passado irrecorrível. Adeus, acabou.
FALCÃO, Aluízio. Crônicas da vida boêmia. Editora Ateliê Editorial. São Paulo: 1998.
Releia a passagem e responda: “Tiramos uma fotografia do jardim.” Classifique a sentença:
Assinale V para verdadeiro e F para falso quanto ao emprego das regras de concordância verbal descritas pela norma padrão. Depois, escolha a alternativa que contenha a ordem de respostas correta.
( ) Contratam-se motoristas experientes.
( ) Passaram-se alguns meses desde que foi demitido.
( ) Fazem muitos dias que não a vejo.
( ) Mais de um candidato se atrasaram.
Atenção: Nesta prova, considera-se uso correta da Língua Portuguesa o que está de acordo com a norma padrão escrita.
Leia o texto a seguir para responder as questões sobre seu conteúdo.
IMPEACHMENT É O MESMO QUE IMPEDIMENTO?
Por Aldo Bizzocchi. Disponível em: http://revistalingua.com.br/textos/blog- abizzocchi/impeachment-e-omesmo- que- impedimento-338123-1.asp Acesso em 21 abr 2016.
Nestes dias em que, diante do mar de lama que ameaça soterrar o governo brasileiro, setores da sociedade já começam a clamar pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff, muitos cronistas têm empregado o termo vernáculo "impedimento" em substituição ao anglicismo impeachment, o que faz ressurgir a dúvida: impeachment e impedimento são a mesma coisa? Em outras palavras, é lícito traduzir o termo inglês pelo português? Mais ainda, é aconselhável fazer isso?
O impeachment é a figura jurídica surgida no mundo anglo-saxônico que permite ao parlamento cassar o mandato do chefe do Executivo diante de acusações comprovadas de improbidade no exercício do cargo. O substantivo inglês impeachment, assim como o verbo empeach, provêm do antigo francês empêcher, "impedir", e empêchement, "impedimento", por sua vez originários do baixo latim impedicare, derivado de pedica, "ferros que se prendem aos pés do prisioneiro para impedir seu movimento". Daí talvez a tendência de traduzir impeachment como "impedimento". No entanto, o próprio inglês distingue impeach, "fazer acusações contra, acusar de improbidade no exercício de mandato", de impede, "impedir, obstruir, impossibilitar". E a Constituição brasileira prevê o impedimento, temporário ou permanente, de um mandatário como justificativa para que seu suplente ocupe o cargo. Ou seja, uma doença ou viagem ao Exterior são motivos de impedimento do presidente, quando então o vice assume o posto. Esses impedimentos por razões corriqueiras nada têm a ver com o impeachment, que só se aplica em caso de acusação grave, que desautorize moralmente o presidente de permanecer no cargo. Nesse sentido, seria melhor traduzir impeachment por "cassação" do que por "impedimento".
Logo, a tradução de impeachment por "impedimento" é inadequada, embora favorecida por uma certa semelhança sonora e parentesco etimológico. Evidentemente, o presidente cassado por impeachment fica definitivamente impedido de exercer seu mandato, mas, se o impeachment é um caso particular de impedimento, a recíproca não é verdadeira: nem todo impedimento se dá por impeachment.
Aldo Bizzocchi é doutor em Linguística pela USP, com pós- doutorado pela UERJ, pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Etimologia e História da Língua Portuguesa da USP, com pós- doutorado na UERJ. É autor de Léxico e Ideologia na Europa Ocidental (Annablume) e Anatomia da Cultura (Palas Athena). www.aldobizzocchi.com.br
Assinale a única alternativa correta.
Leia o texto e responda às questões de números 06 a 10.
Carta pro Daniel
Talvez algum dia, nas próximas décadas, você esbarre nesta crônica, pela internet. Talvez uma tia comente: “lembro de um texto que o teu pai te escreveu quando você era bebê, era sobre uma praça, acho, já leu?” Talvez eu mesmo te mostre, na adolescência, vai saber?
Essa crônica é sobre uma praça, sim, sobre uma tarde que a gente passou na praça, no dia 5 de abril de 2016. Não é nenhuma história extraordinária a que vou te contar. É uma história simples, feita de elementos simples como é feita a maior parte da vida da gente, esses 99% de que a gente desdenha, sempre esperando por acontecimentos extraordinários. Mas acontecimentos extraordinários são raros, como a própria palavra “extraordinários” já diz, aí a vida passa e a gente não aproveitou. Pois hoje você me fez aproveitar a vida, Daniel, por isso resolvi te escrever, agradecendo.
Eu estava lá em casa, triste de tudo, você cruzou a sala sorrindo no colo da Jéssica e me deu uma vontade louca de passarmos um tempo juntos. Falei: “Queca, dá esse menino aqui, a gente vai na praça, eu e ele, vamos, Dani? Só os homens?”
As pessoas com quem a gente cruzava abriam sorrisos pra você e depois pra mim. Nós sorríamos de volta, eu por orgulho, você por simpatia.
Chegamos na praça. Eu quis te pôr no balanço, mas você me apontou o túnel de concreto. Te coloquei numa ponta do túnel, fui andando em direção à outra, sumi de vista por uns segundos e você deu uma resmungada, achando que eu ia te abandonar ali, mas então me agachei e apareci do outro lado. Você achou aquilo hilário – “O cara tava aqui, sumiu e apareceu lá!”–, deu uma gargalhada e veio engatinhando até mim.
Fui te pegar no colo, mas você se esquivou e olhou pra outra ponta. Entendi a brincadeira, corri até a outra ponta, me agachei. Você me viu, gargalhou de novo –“Agora o cara tá do outro lado! Que loucura!”–, foi até lá, me mandou voltar e nós ficamos perdidos nisso pelo que me pareceram horas: eu aparecia numa ponta do túnel, você engatinhava até lá, eu corria pra outra, você vinha de novo.
Quando me dei conta – não vou dizer que meus problemas tivessem sumido, que a tristeza houvesse passado, mas… –, eu estava, como diria o poeta, comovido como o diabo.
De noite, deitado na cama, eu me consolaria: esse mundo é uma tragédia, mas eu tenho um filho que põe sorrisos no rosto de quem passa e que, com algumas gargalhadas, reconforta o meu coração. Enquanto isso, no quarto ao lado, você estaria se perguntando: “O cara sumia de um lado, aparecia do outro, como será que ele faz? É truque? É mágica?”. Depois dormiríamos, acreditando que tudo iria ficar bem.
(Antonio Prata. www.folha.uol.com.br/colunas/antonioprata/2016/04/1759346-
-carta-pro-daniel.shtml, 10.04.2016. Adaptado)
Assinale a alternativa em que a concordância está em conformidade com a norma-padrão da língua portuguesa.
A LÍNGUA PRATICADA NAS REDES SOCIAIS *
Carlos Alberto Faraco **
Texto apresentado como anexo do artigo de Cláudia Mendes Campos, “Argumentação com o operador além disso”. In: Revista Língua e Instrumentos Linguísticos, N. 37, jan-jun 2016. Campinas: CNPq; Universidade Estadual de Campinas; Editora RG, 2016. Disponível em: http://www.revistalinguas.com/edicao37/edicao37.html Acesso em 15 nov 2016.
Ouço e leio, sobre a língua praticada nas redes sociais, muitas manifestações cheias de temores e preocupações. É como se a língua estivesse nos seus estertores. Gostaria, então, de lembrar que uma língua, na dinâmica dos usos sociais, se transforma continuamente, passa permanentemente por mudanças, mas não decai, não apodrece, não perde o viço, não se esgarça.
[...] Tenho bem consciência de que não é fácil aceitar esse fato [...] que vai contra o imaginário de senso comum. Nesse imaginário, parece predominar a figura da língua como uma realidade estática e homogênea. A mudança, o novo, o diferente são, em geral, representados como sinal de decadência, de destruição, de morte [...].
São, obviamente, falsos temores. [...] Impedem, não raramente, a observação dos fatos e a argumentação racional. Impedem a percepção de quanto a língua é maleável e plástica, de como os falantes a ajustam e adaptam a todas as condições objetivas de seu uso. E isso vale tanto para o plano da fala, quanto para o plano da escrita.
Não seria demais lembrar, por exemplo, que, na Idade Média, o suporte para o texto escrito era raro. Para adaptar-se a essa raridade, as pessoas que escreviam costumavam abreviar as palavras [...]. Não se pulava linha para começar parágrafo (marcava-se o início de novo parágrafo com um sinal específico). Se hoje temos de aprender a ler (a decifrar) estes textos, seus contemporâneos os liam sem dificuldade, já que abreviar palavras na escrita era prática corrente [...].
Da mesma forma, quando a base tecnológica mudou e se desenvolveu a produção de papel, e a imprensa com tipos móveis foi criada e se difundiu, os falantes se viram frente à necessidade de fixar uma ortografia para as suas línguas. Primeiro, porque havia agora uma relativa abundância de papel e não era mais preciso abreviar para ganhar espaço. Por outro lado, com as novas tecnologias, a circulação de material impresso se ampliou enormemente [...]. Era preciso fixar uma ortografia para que todos os leitores, num vasto espaço geográfico, pudessem ler os textos. [...]
A tecnologia nos deu condição de nos comunicarmos por escrito em tempo real. Ora, isso trouxe de volta a necessidade de se lançar mão de recursos de natureza taquigráfica ou quase taquigráfica para vencer os ritmos diferentes da fala e da escrita. A escrita que se pratica, nestas circunstâncias, não é a mesma que se pratica na comunicação não mediada por computador. Não tem (nem pode ter) as características da escrita tradicional, que se faz à distância e de maneira assíncrona.
[...] E as soluções que vemos circulando na internet revelam um forte senso fonológico dos seus praticantes, com reduções, em geral, facilmente identificáveis e legíveis. [...] Na tradição da escrita, marcas de oralidade no texto são avaliados como um defeito. Ao contrário, na escrita que se pratica nas redes sociais, as marcas da oralidade não constituem um problema porque estamos justamente escrevendo a fala. E isso vale tanto para os aspectos estruturais da composição dos enunciados, quanto para a variedade da língua que aí se utiliza. [...]
Assim, são comuns nos textos dos blogues, das salas de chats e nas redes sociais as orações relativas sem a preposição que ainda se faz obrigatória no português standard escrito; são comuns as regências verbais contemporâneas e não as clássicas; as concordâncias verbais da fala, as características do sistema pronominal falado e assim por diante.
[...] ninguém estará obrigado a abandonar suas preferências expressivas para adotar novos modos de escrever. Me parece que neste debate específico, precisamos aceitar dois fatos: primeiro, há espaço para conservadores e inovadores. E, segundo, nem a uns, nem a outros assiste o direito de impor suas preferências.
* Versão do texto apresentado na mesa-redonda “A língua praticada nas redes sociais e a construção da identidade”, realizada no dia 14 de agosto de 2010 na 21ª Bienal Internacional do Livro. ** Professor Titular (aposentado) de Português e Linguística da Universidade Federal do Paraná. [email protected]
Assinale a alternativa correta sobre a análise da oração: ”ninguém estará obrigado a abandonar suas preferências expressivas para adotar novos modos de escrever”.
No período: Se o autor convencesse os leitores de que tem razão, se lhes explicasse que é necessário vivermos com mais informação, tudo se resolveria”, os verbos destacados são, respectivamente: