Questões de Concurso Comentadas sobre uso dos dois-pontos em português

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Q744696 Português

O tempo amarrota a lembrança e subverte a ordem.

  Parecia muito pequeno o ideal de meu pai, naquele tempo, lá. A escola, onde me matriculou também na caixa escolar – para ter direito a uniforme e merenda –, devia me ensinar a ler, escrever e a fazer conta de cabeça. O resto, dizia ele, é só ter gratidão, e isso se aprende copiando exemplos. 

  Difícil não conferir razão a meu pai em seus momentos de anjo. Ele pendia a cabeça para a esquerda, como se escutando o coração, e falava sem labirintos. Dizia frases claras, acordando sorrisos e caminhos. Parecia querer argumentar sem ele mesmo ter certeza, tornando assim as palavras cuidadosas.

  Um pesar estrangeiro andou atordoando meu pouco entendimento. Ir para a escola era abandonar as brincadeiras sob a sombra antiga da mangueira; era renunciar o debaixo da mesa resmungando mentiras com o silêncio; era não mais vistoriar o atrás da casa buscando novas surpresas e outros convites. 

Contrapondo-se a essas perdas, havia a vontade de desamarrar os nós, entrar em acordo com o desconhecido, abrir o caderno limpo e batizar as folhas com a sabedoria da professora, diminuir o tamanho do mistério, abrir portas para receber novas lições, destramelar as janelas e espiar mais longe. Tudo isso me encantava.

  Por definição minha, perseguindo respostas, eu desconfiava ser a escola um lugar de muito respeito. Era preciso ter as unhas limpas e aparadas, cabelo penteado, caderno caprichado dentro do embornal, uniforme lavado – calça azul-marinho e camisa de fustão branco – e passado com ferro de brasa, goma de polvilho rala na gola, para não arranhar o pescoço.

  A professora, quando os alunos ainda na fila e do lado de fora da sala, lia a gente como se fosse um livro. E mãe nenhuma gostaria de ser chamada de desmazelada pela mulher mais respeitada do lugar. [...] 

  Eu carregava comigo um chocalho de cascavel amarrado em um cordão encardido, preso no pescoço. Simpatia de minha mãe para eu não urinar na cama. A gola engomada de minha camisa não escondia essa sentença peçonhenta. Eu vivia como a canção: “camisa aberta ao peito, pés descalços e braços nus”. [...] 

  Eu corria pelos matos cheio de carrapichos e carrapatos, saltando córrego, me equilibrando em pinguelas, descobrindo frutas maduras, suspeitando ninhos e passarinhos. Trazia, ainda, uma vergonha de todo mundo, mas deixar sumir na “campina” o chocalho, simpatia de mãe, seria brincar com sua fé. Então eu andava devagarinho, pisando certo,aprumado e manso, para evitar o chiquechique do chocalho. Cascavel anda em dupla, me diziam, e o chocalho serve para chamar o outro.

[...]

  Vi meu pai cochichar com minha mãe, e de início enredei ser carinho, como o de Dr. Júlio Leitão e Dona Pequenina. Abri bem os ouvidos, pois os olhos não dava. Ele dizia ser o Dr. Jair, seu patrão, como uma cobra: mordia e soprava. Eu balançava a cabeça, com força, de vez em quando, acordando a simpatia de minha mãe. Vontade de chamar outra cascavel só para ver uma cobra mordendo e soprando, se frio ou quente seu bafo.

  Dr. Jair visitou minha mãe, uma noite [...]. Não saí de perto dele nem tirei os olhos de sua boca, esperando o homem morder e soprar. Ele falou foi muito de riqueza e de como contava com o trabalho de meu pai, seu melhor empregado, capaz de carregar água em peneira. Perdi meu tempo.

BARTOLOMEU CAMPOS QUEIRÓS.Ler, escrever e fazer conta de cabeça.São Paulo: Global, 2004.

Vocabulário

destramelar: destrancar

embornal: sacola

peçonhenta: venenosa 


“Ele dizia ser o Dr. Jair, seu patrão, como uma cobra: mordia e soprava.” O uso dos dois-pontos no fragmento se justifica por introduzir uma:
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Q731574 Português
A questão deve ser respondida com base no texto. Leia-o atentamente, antes de responder a essa questão.

Solidão, uma nova epidemia
Uma em cada três pessoas sente-se sozinha na sociedade da hiperconexão e das redes sociais

JOHN T. CACIOPPO / STEPHANIE CACIOPPO**

    [1º§]Qualquer um pode sofrer com solidão crônica: uma criança de 12 anos que muda de escola; um jovem que, depois de crescer em uma pequena comunidade, sente-se perdido em uma grande cidade; uma executiva que está ocupada demais com sua carreira para manter boas relações com seus familiares e amigos; um idoso que sobreviveu a sua parceira e cuja saúde fraca dificulta fazer visitas. A generalização do sentimento de solidão é surpreendente. Vários estudos internacionais indicam que mais de uma em cada três pessoas, nos países ocidentais, sente-se sozinha habitualmente ou com frequência. [...]
    [2º§]A maioria dessas pessoas talvez não seja solitária por natureza, mas sente-se socialmente isolada, embora esteja rodeada de gente. O sentimento de solidão, no começo, faz com que a pessoa tente estabelecer relações com outras, mas, com o tempo, a solidão pode acabar em reclusão, porque parece uma alternativa melhor que a dor, a rejeição, a traição ou a vergonha. Quando a solidão se torna crônica, as pessoas tendem a se resignar. Podem ter família, amigos ou um grande círculo de seguidores nas redes sociais, mas não se sentem verdadeiramente em sintonia com ninguém.
    [3º§] Uma pessoa que se sente sozinha geralmente está mais angustiada, deprimida e hostil, e tem menos probabilidades de realizar atividades físicas. Como as pessoas solitárias tendem a ter mais relações negativas com os outros, o sentimento pode ser contagioso. Os testes biológicos realizados mostram que a solidão tem várias consequências físicas: elevam-se os níveis de cortisol – o hormônio do estresse –, a resistência à circulação de sangue aumenta e certos aspectos da imunidade diminuem. E os efeitos prejudiciais da solidão não terminam quando se apaga a luz: a solidão é uma doença que não descansa, que aumenta a frequência dos pequenos despertares durante o sono, e faz com que a pessoa acorde esgotada.
    [4º§] O motivo é que, quando o cérebro entende o seu entorno social como algo hostil e pouco seguro, permanece constantemente em alerta. E as respostas do cérebro solitário podem funcionar para a sobrevivência imediata. [...]Quando nossos motores estão constantemente acelerados, deixamos nosso corpo exausto, reduzimos nossa proteção contra os vírus e inflamações e aumentamos o risco e a gravidade de infecções virais e de muitas outras doenças crônicas.
    [5º§]Uma análise recente – de 70 estudos combinados, com mais de três milhões de participantes – demonstra que a solidão aumenta o risco de morte em 26%, aproximadamente o mesmo que a obesidade. O fato de que mais de uma em cada quatro pessoas em países industrializados pode estar vivendo na solidão,com consequências certamente devastadoras para a saúde, deveria nos preocupar.[...]
    [6º§]Com frequência, as pessoas solitárias não estão conscientes de muitas das coisas que estão acontecendo: não percebem. Por exemplo, a hipervigilância é aguçada de forma implícita em busca de ameaças sociais e a capacidade de controlar os impulsos é reduzida. Mas, assim como acontece com a dor física que nos informa de uma possível lesão em nosso corpo, o sentimento de solidão nos indica a necessidade de proteger ou consertar nosso corpo social.
    [7º§]Os familiares e amigos geralmente são os primeiros a detectarem os sintomas de solidão crônica. Quando uma pessoa está triste e irritável, talvez esteja pedindo, em silêncio, que alguém a ajude e se conecte com ela. A paciência, a empatia, o apoio de amigos e familiares, compartilhar bons momentos com eles, tudo isso pode fazer com que seja mais fácil recuperar a confiança e os vínculos e, por fim, reduzir a solidão crônica.
    [8º§]Infelizmente, para muitos, falar com sinceridade sobre a solidão continua sendo difícil, porque é uma condição mal compreendida e estigmatizada. No entanto, dadas sua frequência e suas repercussões na saúde, teria de ser reconhecida como um problema de saúde pública. Deveria receber mais atenção nas escolas, nos sistemas de saúde, nas faculdades de medicina e em asilos para garantir que os professores, os profissionais de saúde, os trabalhadores de creches e de abrigos de terceira idade saibam identificá-la e abordá-la.
    [9º§]As redes sociais podem abrir novas vias para conectar-se com os demais? Depende de como forem utilizadas. Quando as pessoas usam as redes para enriquecer as interações pessoais, isso pode ajudar a diminuir a solidão. Mas, quando servem de substitutas de uma autêntica relação humana, causam o resultado inverso. Imagine um carro. Se uma pessoa o conduz para compartilhar um passeio agradável com seus amigos, certamente se sentirá menos sozinha; se dirige sozinho para cumprimentá-los de longe e ver como os demais estão se divertindo, sua solidão certamente seguirá igual ou até mesmo pior.
    [10º§]Infelizmente, muitas pessoas solitárias tendem a considerar as redes sociais como um refúgio relativamente seguro para se relacionar com os outros. Como é difícil julgar se as outras pessoas são dignas de confiança no ciberespaço, a relação é superficial. Além disso, uma conexão pela internet não substitui uma real. Quando uma criança cai e machuca o joelho, uma mensagem compreensiva ou uma chamada pelo Skype não substitui o abraço de consolo dos seus pais. [...].

**John T. Cacioppo, autor de Loneliness, é professor catedrático de psicologia e dirige o centro de neurociência cognitiva e social na Universidade de Chicago. Stephanie Cacioppo é professora de psiquiatria e neurociência no mesmo local.

Fonte: http://brasil.elpais.com/brasil/2016/04/06/ciencia/1459949778_182740.html, publicado em 13/04/2016, acesso em 07 out. 2016. Texto adaptado. Fonte: Jornal Folha de São Paulo, 05/10/2014. Texto Adaptado.
Releia o trecho a seguir.
Qualquer um pode sofrer com solidão crônica: uma criança de 12 anos que muda de escola; um jovem que, depois de crescer em uma pequena comunidade, sente-se perdido em uma grande cidade; uma executiva que está ocupada demais com sua carreira para manter boas relações com seus familiares e amigos; um idoso que sobreviveu a sua parceira e cuja saúde fraca dificulta fazer visitas.
Nesse trecho, os dois pontos foram utilizados para anunciar uma
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Q729739 Português

INSTRUÇÃO: Leia o texto a seguir para responder a questão.

           Educação profissional e a lição que os jovens ensinam ao Brasil


                                                                                                          RAFAEL LUCCHESI

O dado de que emprego e profissão desejados lideram a lista de aspirações dos jovens brasileiros revela um novo Brasil em construção. Pesquisa recente publicada pelo Instituto Datafolha indica uma preocupação da juventude com o próprio futuro. Outra pesquisa, Transições da escola para o mercado de trabalho de mulheres e homens jovens no Brasil, da OIT, avalia que os jovens brasileiros são trabalhadores e parte significativa deles tem se esforçado para combinar trabalho e estudo.

Com menos experiência e, em geral, pouca qualificação profissional, eles são os que sofrem primeiro quando o mercado de trabalho piora. Essa maior dificuldade para colocar em prática projetos de vida parece ter ensinado ao Brasil uma lição: é preciso estar mais bem preparado para o mundo do trabalho. O impacto coletivo dessa mudança de percepção pode ser visto também com a nova cara dos estudantes do ensino médio.

A maior chance de conquistar um emprego e um bom salário aumentou o interesse dos estudantes em relação ao ensino técnico de nível médio. Dados do Censo da Educação Básica, analisados pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), mostram aumento de 55,3% no número de matrículas nesses cursos, passando de 927.978 em 2008 para 1.441.051 em 2013.

Historicamente, a procura por cursos de formação profissional segue uma lógica anticíclica: a procura cresce mais quando o mercado de trabalho não apresentava bom desempenho. Os trabalhadores buscavam se qualificar para manter ou conseguir novo emprego, ou seja, pela necessidade de elevar/manter a sua empregabilidade.

Na última década, quando foram registrados baixos índices de desemprego no Brasil, essa dinâmica parece ter sido rompida, uma vez que a sociedade brasileira começou a mudar a sua percepção sobre a educação profissional, entendendo que ela pode ser o caminho mais curto para a inserção, com qualidade, no mercado de trabalho.

Em outras palavras, mesmo com o mercado de trabalho ativo, houve expansão significativa da procura por cursos, motivada principalmente pela falta de mão de obra especializada e pela necessidade de atualização tecnológica, além ─ é claro ─ do entendimento de que o trabalho abre a perspectiva da mobilidade social.

O aumento do interesse na educação profissional é importante e aponta que estamos no caminho certo da valorização da educação profissional, mas ainda é pouco se comparado a outras nações.

Países da União Europeia, em 2010, segundo o Centro Europeu para o Desenvolvimento da Educação Profissional, tinham em média 49,9% dos estudantes do ensino secundário também matriculados na educação profissional.

Na Áustria, por exemplo, que registra o índice mais alto, 76,8% dos estudantes do secundário fazem ensino técnico. Finlândia vem em seguida com 69,7% e Alemanha com 51,5%. No Brasil, esse índice alcançou os 7,8% em 2013.

A educação profissional melhora o ambiente de negócios, podendo ser um parâmetro importante para decisão de novos investimentos por empresários. Na perspectiva do trabalhador, a qualificação pode reduzir o risco de desemprego ou, ao menos, reduzir o tempo de permanência fora do mercado de trabalho.

Em um momento de arrefecimento do mercado de trabalho, como o atual, não se pode abrir mão da qualificação de trabalhadores, estejam eles empregados ou não. Essa é, inclusive, uma estratégia para facilitar a retomada de crescimento do país.

Um técnico que será contratado para preencher uma vaga em 2017, por exemplo, deve começar a se qualificar hoje. Os jovens já têm nos dado o exemplo. Agora, cabe à geração madura do Brasil nos governos e setores produtivos seguir seu exemplo e fazer a aposta correta.


LUCCHESI, Rafael. Educação profissional e a lição que os jovens ensinam ao Brasil. Folha de S.Paulo.       São Paulo. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2015/07/1661561-educacao-profissional-a-licao-que-os-jovens-ensinam-ao-brasil.shtml>

                                                                                 Acesso em: 7 set. 2015 (Adaptação).

INSTRUÇÃO: Leia o trecho a seguir para responder a questão.

“Historicamente, a procura por cursos de formação profissional segue uma lógica anticíclica: a procura cresce mais quando o mercado de trabalho não apresenta bom desempenho.” (4º parágrafo)


No período em análise, fez-se uso dos dois-pontos para

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Q725651 Português
Diploma não é solução
    Vou confessar um pecado: às vezes, faço maldades. Mas não faço por mal. Faço o que faziam os mestres zen com seus “koans”. “Koans” eram rasteiras que os mestres passavam no pensamento dos discípulos. Eles sabiam que só se aprende o novo quando as certezas velhas caem. E acontece que eu gosto de passar rasteiras em certezas de
jovens e de velhos...
    Pois o que eu faço é o seguinte. Lá estão os jovens nos semáforos, de cabeças raspadas e caras pintadas, na maior alegria, celebrando o fato de haverem passado no vestibular. Estão pedindo dinheiro para a festa! Eu paro o carro, abro a janela e na maior seriedade digo: “Não vou dar dinheiro. Mas
vou dar um conselho. Sou professor emérito da Unicamp. O conselho é este: salvem-se enquanto é tempo!”.Aí o sinal fica verde e eu continuo.
    “Mas que desmancha-prazeres você é!”,
vocês me dirão. É verdade. Desmancha-prazeres.
Prazeres inocentes baseados no engano. Porque
aquela alegria toda se deve precisamente a isto: eles
estão enganados.
    Estão alegres porque acreditam que a universidade é a chave do mundo. Acabaram de chegar ao último patamar. As celebrações têm o mesmo sentido que os eventos iniciáticos – nas culturas ditas primitivas, as provas a que têm de se
submeter os jovens que passaram pela puberdade. Passadas as provas e os seus sofrimentos, os jovens deixaram de ser crianças. Agora são adultos, com todos os seus direitos e deveres. Podem assentar-se na roda dos homens. Assim como os nossos jovens agora podem dizer: “Deixei o cursinho. Estou na universidade”.
    Houve um tempo em que as celebrações eram justas. Isso foi há muito tempo, quando eu era jovem. Naqueles tempos, um diploma universitário era garantia de trabalho. Os pais se davam como prontos para morrer quando uma destas coisas
acontecia: 1) a filha se casava. Isso garantia o seu sustento pelo resto da vida; 2) a filha tirava o diploma de normalista. Isso garantiria o seu sustento caso não casasse; 3) o filho entrava para o Banco do Brasil; 4) o filho tirava diploma.
    O diploma era mais que garantia de emprego. Era um atestado de nobreza. Quem tirava diploma não precisava trabalhar com as mãos, como os mecânicos, pedreiros e carpinteiros, que tinham mãos rudes e sujas.
    Para provar para todo mundo que não trabalhavam com as mãos, os diplomados tratavam de pôr no dedo um anel com pedra colorida. Havia pedras para todas as profissões: médicos, advogados, músicos, engenheiros. Até os bispos
tinham suas pedras.
    (Ah! Ia me esquecendo: os pais também se davam como prontos para morrer quando o filho entrava para o seminário para ser padre – aos 45 anos seria bispo – ou para o exército para ser oficial – aos 45 anos seria general.)
    Essa ilusão continua a morar na cabeça dos pais e é introduzida na cabeça dos filhos desde pequenos. Profissão honrosa é profissão que tem diploma universitário. Profissão rendosa é a que tem diploma universitário. Cria-se, então, a fantasia de que as únicas opções de profissão são aquelas
oferecidas pelas universidades.
    [...]
    Alegria na entrada. Tristeza ao sair. Forma-se, então, a multidão de jovens com diploma na mão, mas que não conseguem arranjar emprego. Por uma razão aritmética: o número de diplomados é muitas vezes maior que o número de empregos.
    [...]
    Tive um amigo professor que foi guindado, contra a sua vontade, à posição de reitor de um grande colégio americano no interior de Minas. Ele odiava essa posição porque era obrigado a fazer discursos. E ele tremia de medo de fazer discursos. Um dia ele desapareceu sem explicações. Voltou
com a família para o seu país, os Estados Unidos.
Tempos depois, encontrei um amigo comum e perguntei: “Como vai o Fulano?”. Respondeu-me: “Felicíssimo. É motorista de um caminhão gigantesco que cruza o país!”. ALVES, Rubem. Diploma não é solução, Folha de S. Paulo, 25/05/2004. (Adaptado).
Na estruturação do texto, a função dos dois-pontos no primeiro parágrafo é:
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Q716189 Português
     “Toda língua é um tesouro social: não só o conjunto de suas regras gramaticais, mas todo o acervo produzido pelos desempenhos de uma língua.”                                                                                                                               Umberto Eco
No texto, os dois-pontos  
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Q711098 Português
    A maioria das pessoas pensa que vai se aposentar cedo e desfrutar da vida, mas um estudo sugere que estamos fadados a nos aposentar cada vez mais tarde se quisermos manter um padrão de vida razoável.
    Em 2009, pesquisadores publicaram um estudo na revista Lancet e afirmaram que metade das pessoas nascidas após o ano 2000 vai viver mais de 100 anos e três quartos vão comemorar seus 75 anos.
    Até 2007 acreditávamos que a expectativa de vida das pessoas não passaria de 85 anos. Foi quando os japoneses ultrapassaram a expectativa para 86 anos. Na verdade, a expectativa de vida nos países desenvolvidos sobe linearmente desde 1840, indicando que ainda não atingimos um limite para o tempo de vida máximo para um ser humano.
    No início do século XX, as melhorias no controle das doenças infecciosas promoveram um aumento na sobrevida dos humanos, principalmente das crianças. E, depois da Segunda Guerra Mundial, os avanços da medicina no tratamento das enfermidades cardiovasculares e do câncer promoveram um ganho para os adultos. Em 1950, a chance de alguém sobreviver dos 80 aos 90 anos era de 10%; atualmente excede os 50%.
    O que agora vai promover uma sobrevida mais longa e com mais qualidade será a mudança de hábitos. A Dinamarca era em 1950 um dos países com a mais longa expectativa de vida. Porém, em 1980 havia despencado para a 20a posição, devido ao tabagismo.
    O controle da ingestão de sal e açúcar, e a redução dos vícios como cigarro e álcool, além de atividade física, vão determinar uma nova onda do aumento de expectativa de vida. A própria qualidade de vida, medida por anos de saúde plena, deve mudar para melhor nas próximas décadas.
    O próximo problema a ser enfrentado é a falta de dinheiro para as últimas décadas de vida: estamos nos aposentando muito cedo e o que juntamos não será o suficiente. Precisamos guardar 10% do salário anual e nos aposentar aos 80 anos para que a independência econômica acompanhe a independência física na aposentadoria.
Os pesquisadores propõem que a idade de aposentadoria seja alongada e que os sexagenários mudem seu raciocínio: em vez de pensar na aposentadoria, que passem a mirar uma promoção.

(Adaptado de: TUMA, Rogério. Disponível em: http://www.cartacapital.com.br/revista/911/o-contribuinte-secular) 
Atente para as afirmações abaixo. I. Sem prejuízo para a correção, o sinal de dois-pontos pode ser substituído por “visto que”, precedido de vírgula, em: O próximo problema a ser enfrentado é a falta de dinheiro para as últimas décadas de vida: estamos nos aposentando muito cedo e o que juntamos não será o suficiente. (7o parágrafo) II. No segmento A própria qualidade de vida, medida por anos de saúde plena, deve mudar para melhor..., as vírgulas podem ser corretamente substituídas por travessões. (6o parágrafo) III. Haverá prejuízo para a correção caso uma vírgula seja colocada imediatamente após “alongada” no segmento: Os pesquisadores propõem que a idade de aposentadoria seja alongada e que os sexagenários mudem seu raciocínio... (último parágrafo) Está correto o que se afirma APENAS em 
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Q710249 Português
     Às vezes, ele é alheio ou carinhoso; outras, sereno ou arisco; ou, ainda, encantador ou irritante. Apesar da natureza volúvel, o gato doméstico é o animal de estimação mais popular em todo o mundo. Um terço dos lares americanos tem felinos, e mais de 600 milhões de gatos vivem entre os homens em todo o mundo. Mesmo assim, por mais familiares que esses animais sejam, é difícil comprovar definitivamente suas origens. Enquanto outros animais selvagens foram domesticados para obtenção de leite, carne, lã, ou para o trabalho, os gatos não contribuem praticamente em nada para o sustento dos humanos. Como, então, se tornaram tão comuns em nossos lares?
    Pesquisadores sempre acreditaram que os egípcios tenham sido os primeiros a manter o gato como animal de estimação, há 3.600 anos. As descobertas arqueológicas e genéticas feitas mais recentemente chegaram a conceitos mais atualizados tanto sobre os antepassados do gato doméstico quanto sobre a evolução de seu relacionamento com os seres humanos.
    Permanece, no entanto, a velha questão: por que os gatos e os seres humanos desenvolveram uma relação especial? Em geral, gatos não são candidatos prováveis à domesticação. Características dessa espécie animal sugerem que, enquanto outros animais foram resgatados da vida selvagem pelos homens, que os criaram para tarefas específicas, os gatos mais provavelmente encontraram oportunidades nos agrupamentos humanos, optando por viver entre eles.
    Arqueólogos encontraram, por exemplo, restos do camundongo doméstico nos povoamentos iniciais do Crescente Fértil entre 9 mil e 10 mil anos atrás. É quase certo que, no caso, os camundongos atraíram os gatos. Mas as montanhas de lixo nas cidades também devem ter sido um grande atrativo para os felinos que tivessem a esperteza de explorá-lo. Essas duas fontes de alimentos teriam incentivado os gatos a se adaptarem à vida junto aos homens.
(Adaptado de: DRISCOLL, Carlos A., CLUTON-BROCK, Juliet, KITCHENER, Andrew C. e O’BRIEN, Stephen J. Scientific American Brasil, Edição Especial Vida Animal, p. 36-40) 
Os dois-pontos, no início do 3o parágrafo,
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Q710234 Português
    O Brasil é, sem dúvida, a maior bacia fluvial do mundo. Os milhares de rios que ziguezagueiam pelo território nacional trazem em suas águas passagens fundamentais de nossa cultura e ajudam a construir a identidade do país.
    Há uma máxima surgida em Pernambuco, que diz: “O rio Capibaribe se une ao rio Beberibe para formar o oceano Atlântico”. A frase contém uma boa dose de exagero, mas revela a importância que os rios têm para a cultura e o imaginário coletivo dos lugares: Capibaribe no Recife, Negro em Manaus, Branco em Boa Vista, Tietê em São Paulo.
    O país concentra cerca de 12% de toda a água doce do planeta. Tem o rio com o maior volume d’água, o Amazonas, e divide com a Argentina o conjunto de quedas d’água com o segundo maior fluxo médio anual, as Cataratas do Iguaçu. A bacia fluvial brasileira inspirou ainda lendas e artistas; produziu batalhas e religiosidade; é palco para espetáculos naturais e esportes radicais. É parte da paisagem das cidades − mesmo que muitas, em busca de progresso, tenham coberto seus leitos com cimento.
   Descoberto em 4 de outubro de 1501, dia de São Francisco, o velho Chico passa por cinco estados brasileiros: Minas, Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas. Como nunca seca, tornou-se símbolo de prosperidade em lugares historicamente castigados pela estiagem. Por sua importância, inspirou canções, romances e poesias de grandes nomes da cultura nacional. “Uma vez que se bebe a água do rio, o rio nunca mais sai da gente”, garantem os ribeirinhos.
    Não são só o Tietê e o Pinheiros. Muitos outros rios percorrem a cidade de São Paulo. “É praticamente impossível andar 200 metros sem passar por um deles”, garante o geógrafo Luiz de Campos Júnior que, ao lado de companheiros, comanda o projeto Rios e Ruas, que leva paulistanos a caminhar sobre águas canalizadas escondidas embaixo de ruas e avenidas. Atrás da Avenida Paulista, por exemplo, nasce o Saracura. No Anhangabaú corre o rio que batizou o vale. O córrego da Água Preta brota sob carros e cimento no bairro da Pompeia, com água potável limpíssima. “Não se mata um rio. Acham que enterrar e colocar rua em cima faz o rio sumir. Mas ele continua vivo: erodindo, inundando, enchendo, esvaziando”, ensina Campos.
(Adaptado de: HOFFMANN, Bruno e VARGAS, Rodrigo Terra. Brasil. Almanaque de cultura popular. São Paulo: Andreato, novembro de 2013, n. 175. p. 18-21) 
... mas revela a importância que os rios têm para a cultura e o imaginário coletivo dos lugares: Capibaribe no Recife, Negro em Manaus, Branco em Boa Vista, Tietê em São Paulo. (2o parágrafo) É correto entender que os dois-pontos mostram
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Q700635 Português
À beira do abismo
Em 1888, Van Gogh compartilhou, por três meses, uma casa com o pintor Paul Gauguin. Um dia, o amigo resolveu retratá-lo enquanto ele pintava seus girassóis. Ao ver pela primeira vez o quadro, que o flagra no último lugar em que poderia estar, pois um pintor se julga sempre fora da pintura, Van Gogh exclamou: “Sou eu, é claro, mas eu me tornando louco”.
A arte como expressão da loucura ou, ao contrário, como opção pela loucura? Van Gogh teve um psiquiatra que, adepto da segunda hipótese, pensou em “curá-lo” da pintura. É claro, não conseguiu. A arte como vírus, como uma contaminação?
Penso nas poucas telas que Clarice Lispector pintou. Telas tensas, desagradáveis: manifestações de gênio ou de insanidade? Elas ajudaram a deprimir Clarice ou, ao contrário, ajudaram a salvá-la? Recordo a Clarice que visitei um dia, sentada em sua cozinha diante de uma fatia de bolo, um tanto apática, a me dizer: “Comer bolo não me interessa. O que eu preciso é de água. De água e de literatura”.
Vista assim, como uma necessidade primária, a literatura revela sua potência, mas também seus riscos. Riscos que os escritores, para se consolar, transportam para o interior da escrita. Para dar sentido àquelas partes de si que não pode controlar, o escritor deve correr o risco de sair de si. Ele se dedica justamente àquilo que, anestesiados pela ideia de normalidade, evitamos.
A matéria da literatura vem, de fato, dessas zonas abissais em que as certezas se esgarçam, a nitidez se esvai e a dúvida comanda. Muitos não suportam. “Nascemos e crescemos num cárcere e por isso achamos naturais esses ferros nos pulsos e nos pés”, escreveu o alemão Georg Büchner. Mas os escritores, não: eles preferem sangrar mãos e pés, e bordejar o abismo, a sucumbir.E isso se parece com a loucura.
O problema é que aquilo que o escritor enfrenta está sempre dentro de si. De certa forma, em consequência, todo escritor escreve “contra si”. Daí a dúvida que Machado sintetiza em O alienista: estarão os escritores no lugar dos médicos, que amparam e curam, ou de seus pacientes, que resistem e esperneiam? A resposta não é fácil: eles ocupam ao mesmo tempo os dois lugares: vestem o jaleco da saúde, mas também os grilhões da ignorância.
(Adaptado de: CASTELLO, José. Sábados inquietos. Brasília, IMP, 2013, p. 6-7)
Considere as seguintes afirmativas, acerca do uso dos sinais de pontuação. I. Em Van Gogh teve um psiquiatra que, adepto da segunda hipótese, pensou em “curá-lo” da pintura (2º parágrafo), as aspas têm a dupla função de demarcar uma citação e insinuar ironia. II. Em Mas os escritores, não: eles preferem sangrar mãos e pés, e bordejar o abismo, a sucumbir (5º parágrafo), as vírgulas estão empregadas em desacordo com a norma-padrão da língua. III. Em A resposta não é fácil: eles ocupam ao mesmo tempo os dois lugares: vestem o jaleco da saúde, mas também os grilhões da ignorância (6º parágrafo), os dois-pontos que seguem imediatamente o termo sublinhado podem ser substituídos, preservando-se as relações de sentido do texto original, por vírgula seguida de pois. Está correto o que consta em 
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Q699965 Português
COMO PROCESSAR QUEM NÃO NOS REPRESENTA?
Não somos vândalos. E deveríamos ganhar flores. Cidadãos que respeitam as regras são diariamente maltratados por serviços públicos ineficientes. Como processar o prefeito e o governador se nossos impostos não se traduzem no respeito ao cidadão? Como processar um Congresso que se comporta de maneira vil, ao manter como deputado, em voto secreto, o presidiário Natan Donadon, condenado a 13 anos por roubo de dinheiro público?
Se posso ser multada (e devo ser) caso jogue no chão um papel de bala, por que não posso multar o prefeito quando a cidade não funciona? E por que não posso multar o governador, se o serviço público me provoca sentimentos de fúria e impotência? Como punir o vandalismo moral do Estado? Ah, pelo voto. Não, não é suficiente. Deveríamos dispor de instrumentos legais para processar quem abusa do poder contra os eleitores – e esse abuso transcende partidos e ideologias. [...]
(Texto retiradodo artigo de Ruth Aquino. Revista Época, 02/09/2103.)
Aponte o item que preenche corretamente as lacunas do texto que segue, de acordo com o uso devido dos sinais de pontuação. “Quando se trata de mulheres__ duas coisas são essenciais__ a primeira é não tentar entendê-las__ a segunda é nunca contrariá-las__ especialmente em assunto que tenham razão e se quiser dormir em paz.”
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Q698041 Português

Pergunta fatídica

    A fatídica pergunta “O que você quer ser quando crescer?”, feita para crianças já no final da infância ou até antes, é clássica e não muda. Algumas vezes, ela expressa apenas uma brincadeira, para que os pais se orgulhem da resposta que o filho dará e que os pais já sabiam que ele daria. Outras vezes, representa o anseio deles para oferecer ao filho um objetivo maior para a sua vida. E algumas vezes não passa de uma lição moralista a uma criança que resiste aos estudos.

    “O que você quer ser quando crescer, menino? Se não for bom aluno, vai ficar desempregado ou ganhar muito pouco!”, já ouvi uma mãe dizer ao filho, desesperada com as notas escolares do garoto.

    Mas, se a pergunta não muda, as respostas mudam, e muito. Já houve um tempo em que muitas crianças – garotas principalmente – queriam ser professoras. Meninos e meninas pensavam em ser engenheiros, médicos, advogados, cientistas. Hoje, é difícil ouvir essas respostas.

    Quais são as profissões mais atraentes para eles atualmente? Antes de olhar para tal questão, é bom lembrar que as crianças sabem pouco sobre profissões; o que elas dizem querer é apenas um reflexo da percepção que têm a respeito do que o mundo lhes apresenta como importante e de grande reconhecimento ou remuneração.

    Ser famoso e cultuado pelas mídias, se destacar na televisão ou internet e receber muito dinheiro parecem ser, hoje, os anseios de muitas delas. Cada vez mais crianças e adolescentes afirmam que, quando crescerem, querem ser blogueiros, modelos, artistas, chefes de cozinha, jogadores de futebol, “vlogueiros” etc. Como você pode perceber, caro leitor, são sempre atividades com grande projeção, mas que pouquíssimas pessoas conseguem alcançar. Só que isso as crianças não têm condição de entender.

    Algumas delas acham que já são grandes e têm, na internet, blogs e canais de vídeos, um bom público, composto tanto de outras crianças quanto de adultos. É fácil entender os motivos que levam os mais jovens a serem frequentadores assíduos desses canais: estão isolados, sem espaços públicos para encontrar outras crianças e para brincar. A internet tornou-se, portanto, esse espaço para eles. Mas e quanto aos adultos? Será que estão ali por mera curiosidade? Ainda não sabemos.

    O que sabemos é que muitas dessas crianças são tratadas como celebridades, estão bastante expostas e chegam a ganhar presentes de marcas e até dinheiro – algumas vezes, muito dinheiro – com o que chamam de “empresa”. E sempre com o apoio dos pais, é claro, porque precisam de uma grande infraestrutura para fazer o que fazem.

    Será que isso é bom para elas? Depende do ponto de vista. Para quem acredita que sucesso, popularidade e ganhos financeiros fazem bem à criança, pode ser positivo. Mas não sabemos até quando. O sucesso e a fama são ondas que vêm e vão. Quando acabarem – e acabam! –, o que será desses meninos e meninas? Estão eles preparados para cair e se levantar? Na minha opinião, não. Se isso já é difícil para os adultos, imagine, caro leitor, para uma criança.

    Para quem preza a infância dos filhos e prioriza o aprendizado da convivência deles com outras crianças, nada disso é bom, mesmo que eles digam que querem muito participar e que vários colegas fazem. Qual é o seu ponto de vista?

(Rosely Saião. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/roselysayao/2016/03/1754998-pergunta-fatidica.shtml.)

É fácil entender os motivos que levam os mais jovens a serem frequentadores assíduos desses canais: estão isolados, sem espaços públicos para encontrar outras crianças e para brincar.” (6º§) No trecho destacado, os dos dois-pontos foram utilizados para
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Q690039 Português

Instrução: Leia o texto É hora de parar de ir ao zoológico?, publicado na revista online Super em 15/02/2016, e responda à questão.

É hora de parar de ir ao zoológico?

    A vontade de ver de perto uma criatura silvestre tem origem antiga. Segundo o biólogo Sérgio Greif, na Idade Moderna, com as Grandes Navegações e com a descoberta de novos continentes, as ricas famílias europeias ficaram interessadas nas espécies exóticas das terras distantes. Para completar suas coleções particulares, "importavam" animais para serem utilizados como demonstração de riqueza e poder.

    Uma das afirmações utilizadas para justificar o cativeiro, ainda, naquela época, perdura até hoje. O contato com os animais estreitaria a relação do ser humano com a natureza. Estimulados pelo conhecimento do que nos rodeia, estaríamos mais dispostos a preservar e respeitar a vida selvagem. Sérgio completa: "Não acho realmente que aprendemos a respeitar os animais ou a natureza quando os vemos atrás de grades, reduzidos a uma fração do que os indivíduos de sua espécie representam. Acredito mais que uma visita aos zoológicos nos ensina que podemos subjugar os animais". As amostras que são retiradas da natureza e ficam em cativeiro (ou que já nascem lá) não correspondem à realidade. "O zoológico não é um meio para conhecer um animal em sua essência. A não ser que seja para estudar neuroses de cativeiro", comenta a bióloga Marcela Godoy, professora da Universidade Estadual de Ponta Grossa.

    Para estudar as neuroses de cativeiro, os zoológicos são bons centros de pesquisa: pinguins que tomam antidepressivos no Reino Unido, elefantes confinados que vivem menos da metade do que deveriam viver, graças ao estresse e à falta de exercícios. Marcela relata: "Já tive oportunidade de visitar as áreas restritas ao público nos zoológicos. Essas áreas incluem os animais que, por conveniência, não estão aptos à exposição ao público por estarem doentes, com transtornos gravíssimos, lesões, ou representarem algum tipo de perigo mesmo estando presos". Alguns outros bichos apresentam comportamentos repetitivos e obsessivos, como elefantes que ficam balançando a cabeça ou pássaros que arrancam suas penas.

    É claro que existem zoos que tentam, ao máximo, reproduzir as condições naturais do ambiente para que os animais sejam menos afetados, entretanto só isso não é suficiente. "Um zoológico pode melhorar as condições da exposição, substituindo as barras das grades por fossos, aumentando os recintos, praticando o enriquecimento ambiental, ou tomando outras medidas. Isso causará uma melhor impressão aos visitantes, mas para os animais o problema vai ser o mesmo. Continuarão expostos ao público, sem possibilidade de expressar grande parte de seus comportamentos naturais", diz Sérgio.

    Apesar de todos os problemas, alguns zoológicos são importantes na preservação e no resgate de espécies. Eles abrigam animais em extinção, realizando diversos programas de reprodução, que incluem congelamento de células e inseminação artificial. Uma parcela também resgata bichos que sofriam maus tratos em circos e parques.

    Mas a tecnologia pode contribuir para sanar sua curiosidade em relação à vida animal com documentários, vídeos e fotos. Agora, se você realmente quer ver de perto, pode ir a parques com animais silvestres. A visibilidade vai ser menor - e a adrenalina bem maior -, mas, assim, é possível enxergar a natureza como ela realmente é, o que é bem melhor que só ver o que ela não foi. Se você não estiver interessado, também não tem problema, como finaliza Marcela: "A maior contribuição que os seres humanos podem oferecer aos animais é deixá-los em paz".

Disponível em: < http://super.abril.com.br/ciencia/e-hora-de-parar-de-ir-ao-zoologico>. Acesso em 15 de fev.2016. Texto adaptado

No trecho, Para estudar as neuroses de cativeiro, os zoológicos são bons centros de pesquisa: pinguins que tomam antidepressivos no Reino Unido, elefantes confinados que vivem menos da metade do que deveriam viver, graças ao estresse e à falta de exercícios, o uso dos dois pontos pode indicar: I. pequena pausa II. conclusão III. explicitação IV. enumeração Estão CORRETAS, somente, as afirmativas
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Q689179 Português

                                        As escolas do futuro

    Um grupo de alunos está reunido na sala de aula no meio de um debate caloroso – estão tentando adaptar um carro convencional em um modelo ecológico e econômico. Essa é apenas uma das lições desta escola, chamada Minddrive, no Kansas, EUA. Esta não é uma escola normal, claro. O Minddrive, na verdade, é um reforço escolar para adolescentes que não vão bem no ensino regular. Mas seu método educativo não é tão exótico assim. Ele é todo baseado em jogos epistêmicos, em que os alunos simulam situações cotidianas e pensam em soluções para os problemas que vão surgindo. “Os desafios que as nossas escolas enfrentam hoje são importantes demais para ficarmos isolados. Precisamos preparar os alunos para o mundo real”, diz David Shaffer, professor de pedagogia da Universidade de Wisconsin e chefe do projeto de jogos epistêmicos para uso na educação.

    Green School é uma escola em Bali, na Indonésia, onde tudo é natural: as estruturas são de bambu e as salas de aula, abertas, para que o calor e o vento balineses possam entrar. Criada pelo americano John Hardy, ela se baseia na metodologia do educador britânico Alan Wagstaff, que defende uma maneira de ensinar que conecta aspectos racionais, emocionais, físicos e espirituais. Na prática, isso quer dizer que o conhecimento está dividido em temas, e não em matérias. Por exemplo, no ensino fundamental, crianças de sete anos aprendem “padrões de contagem” pulando corda. Um dos objetivos da Green School é que seus alunos saiam de lá prontos para abrir seus próprios negócios – sustentáveis, de preferência. Ainda durante o ensino médio, eles simulam a criação de uma empresa. E muitas acabam saindo do papel.


(André Gravatá, Marcos Ricardo dos Santos. Editado por Karin Hueck. http://super.abril.com.br/comportamento/as-escolas-do-futuro. Adaptado)

Os dois-pontos em – Green School é uma escola em Bali, na Indonésia, onde tudo é natural: as estruturas são de bambu e as salas de aula, abertas, para que o calor e o vento balineses possam entrar. (2º parágrafo) – servem ao propósito de introduzir, com relação à primeira parte da frase,
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Q687717 Português
Desenvolver habilidades para o bem estar é tão importante quanto construir pontes

O especialista em educação emocional e social João Roberto de Araújo, criador da campanha Ribeirão Pela Paz, defende prioridade de um ensino cidadão: “É preciso ensinar para a vida”.

Para o Mestre em Psicologia Social e fundador da organização Inteligência Relacional, pode-se e deve-se aprender na escola, além de Matemática e Português, como ter tolerância, desenvolver diálogos e ter controle dos estados emocionais: “É preciso criar condições para que não se formem apenas pessoas que passem no vestibular e tenham sucesso socioprofissional, mas que sejam pessoas que possam aprender a conviver em sociedade”.
João Roberto teve esta clareza maior quando trabalhou pela ação Ribeirão Pela Paz, no começo dos anos 2000, e tentou encontrar outras formas de combater a violência por outro caminho, não o já sempre pensado da repressão.
Na cidade ideal do psicólogo, os filhos dos pobres e dos ricos seriam acolhidos da mesma forma para ter as mesmas oportunidades de desenvolvimento e de compreensão do sentido da vida.
O Ribeirão Pela Paz foi uma audaciosa ação para enfrentar a questão da violência urbana na cidade. Quais os caminhos hoje em dia?
João Roberto de Araújo: O fenômeno da violência sempre incomodou muito a todos, as famílias, as lideranças e, até hoje, é um tema central entre os grandes flagelos da sociedade. No entanto, sempre houve muita desinformação sobre as causas da violência e poucas reflexões consistentes sobre esse fenômeno. Nós vivemos, e vivíamos no passado, e ainda vivemos hoje, uma ênfase muito grande nas respostas de repressão: pena de morte, respostas fortes de armamentos, mecanismos de segurança pública, aperfeiçoamento penal, agilidade da justiça, questão da maioridade, entre outras. Enfim, esse eixo da repressão no passado sempre foi muito forte e ainda continua hoje. E é fácil em uma análise mais criteriosa verificar que a repressão é necessária desde que legítima, não é a violência pela violência, mas a legitimidade do estado de responder pela proteção da sociedade usando a força legalmente. A repressão legítima é absolutamente necessária, mas não é suficiente.
Nesse sentido, o Ribeirão Preto Pela Paz foi a primeira iniciativa que procurou despertar nas lideranças e na comunidade a consciência sobre o fenômeno da violência, trazendo as dimensões sociais, sociológicas, psicológicas do fenômeno da violência. Foi um marco que se revelou pioneiro para ação da própria mídia que, antes, diante de um fato criminoso da violência na sociedade procurava, unilateralmente, os depoimentos policiais. Após o Ribeirão Preto Pela Paz, passou a ouvir sociólogos, historiadores, psicólogos e antropólogos, que começaram a colocar o seu olhar maior sobre esse fenômeno. Nesse sentido, houve um grande avanço na compreensão do fenômeno da violência a partir do Ribeirão Pela Paz e uma melhoria também nos tipos de resposta oferecidas. Esta foi uma das contribuições do Ribeirão Pela Paz que, depois, naturalmente, em seu processo evolutivo, acabou por chegar a trabalhos mais profundos de desenvolvimento de Cultura de Paz e Não Violência, até culminar em uma metodologia de educação emocional e social que torna essa abordagem regular e permanente na escola e na sociedade.
Que tipos de políticas e ações precisariam, agora, ser implementadas numa cidade como Ribeirão?
Não só para uma cidade como Ribeirão Preto, mas para qualquer agrupamento humano, para as vilas, para as cidades pequenas, para as cidades grandes, enfim para todo aglomerado humano, é preciso transitar de ações de sensibilização para ações mais regulares e permanentes junto à sociedade. De forma muito especial, em dois segmentos fundamentais: na escola, na formação de nossas crianças e dos nossos jovens, e nas famílias. É preciso que as famílias compreendam o fenômeno da violência, as consequências de estilos parentais inadequados na relação com seus filhos, seus parentes, com seu grupo familiar. E é fundamental que nas escolas não fiquemos apenas nessa dimensão convencional, da lógica matemática, linguística, memória, mas que se recupere a importância do ensino, das humanidades. Ensinar para a vida, educar para as relações, criar as condições para que não se formem apenas pessoas que passem no vestibular e tenham sucesso socioprofissional, mas que sejam pessoas que possam aprender a conviver em sociedade, desenvolvendo diálogo, tolerância e, principalmente, desenvolvendo competência em relação aos seus estados emocionais. Por exemplo, ter autonomia emocional para ficar menos vulnerável ao estado emocional do entorno, desenvolver regulação emocional para aprender o que fazer com a sua raiva, com o seu ciúme, com sua ansiedade, desenvolver competências sociais e, principalmente, a competência do bem viver, a competência do bem-estar, a competência para além da dimensão material, do status, para as pessoas aprenderem a ser feliz. Isto é um desafio do futuro. Transitar de uma sensibilização prática e eventual para uma ação consistente regular e permanente na escola e na família.
O que você considera uma cidade justa e sustentável, solidária e humana?
Antes de tudo, é uma cidade que educa e a que educa em um sentido de que oferece oportunidade de desenvolvimento para todas as pessoas, das famílias ricas, das famílias da classe média e das famílias pobres. Há muitos pobres materiais profundamente evoluídos, como há ricos materiais e plenamente inferiores. Não é uma questão material, é uma questão de oportunidade de desenvolvimento mental. Uma cidade justa, sustentável, solidária e humana é uma cidade que acolhe os filhos dos pobres tanto quanto os filhos dos ricos, para que eles possam compreender melhor o sentido de viver, o sentido da vida, para que eles possam ter oportunidades iguais de desenvolvimento.
O que não pode faltar em um bom projeto de cidade?
As cidades já estão, convencionalmente, focadas em necessidades muito conhecidas: asfalto, ponte, saneamento básico, trânsito, enfim, toda essa dimensão da infraestrutura, que é, sem dúvida, importante. Mas tão importante quanto é também trabalhar num nível mental das pessoas. Tão importante quanto fazer pontes é desenvolver competências nas pessoas para as habilidades do bem-estar, para as habilidades das relações. Portanto, o que não pode faltar em uma liderança política ou em uma cidade é esse olhar da educação para a vida, educação que vai além dessa abordagem convencional, mas que também agrega competências para conviver com o outro, para a família funcionar melhor. Enfim, uma educação para ser cidadão, uma educação para a paz, uma educação para o aprendizado das emoções, uma educação para a vida.
Fonte: http://www.inteligenciarelacional.com.br/noticia/14-12-2015- desenvolver-habilidades-para-o-bem-estar-e-tao-importante-quantoconstruir-pontes
Em “Nós vivemos, e vivíamos no passado, e ainda vivemos hoje, uma ênfase muito grande nas respostas de repressão: pena de morte, respostas fortes de armamentos, mecanismos de segurança pública, aperfeiçoamento penal, agilidade da justiça, questão da maioridade, entre outras”, os dois pontos foram empregados para
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Q687658 Português
Os dois-pontos em “Ou servem: alguém precisa fazer o trabalho sujo.” (l. 36-37) podem, no Texto I, ser substituídos, sem alteração do sentido original, por 
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Q685463 Português
  Outro desdobramento do cibertrabalho é o trabalho a distância, o melhor dos mundos para o capital. Você trabalha em sua casa, onde o público e o privado se embaralham; como não há definição do que é trabalho e do que é descanso, a jornada se estende. Você fica sempre disponível e pode ser incomodado a qualquer hora por questões de trabalho, afinal você não está apenas em casa, está também no escritório. A noção de tempo desmorona com a vida privada. É uma nova modalidade de precarização permitida pela tecnologia. O pior é que virou tendência, essa é a nossa tragédia. Sou capaz de compreender o lado positivo do trabalho a distância para certo tipo de trabalhador que dispõe de “capital cultural” e acha bom ter controle sobre o próprio tempo. Mas o inverso disso é a individualização, o isolamento, o fim do trabalho coletivo e a quebra dos laços sociais.
(Ricardo Antunes (entrevista). O Estado de S.Paulo, 11.10.09. http://lemarxusp.wordpress.com. Adaptado)
Assinale a alternativa em que a primeira e a segunda barras devem ser substituídas por vírgula, e a última, por dois-pontos.
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Ano: 2016 Banca: ESAF Órgão: FUNAI Prova: ESAF - 2016 - FUNAI - Conhecimentos Gerais |
Q684200 Português
Assinale o trecho em que foram plenamente atendidas as regras de emprego dos sinais de pontuação.
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Q683235 Português

                                                          TEXTO 2

                                               A ALMA DO CONSUMO

      Todos os dias, em algum nível, o consumo atinge nossa vida, modifica nossas relações, gera e rege sentimentos, engendra fantasias, aciona comportamentos, faz sofrer, faz gozar. Às vezes constrangendo-nos em nossas ações no mundo, humilhando e aprisionando, às vezes ampliando nossa imaginação e nossa capacidade de desejar, consumimos e somos consumidos.

     O consumo não pertence a todas as épocas nem a todas as civilizações. Somente há pouco tempo histórico é que falamos e entendemos viver numa sociedade de consumo, onde tudo parece adaptar-se à lógica dessa racionalidade, ou seja, à esfera do lucro e do ganho, à ética e à estética das trocas pagas. É uma singularidade histórica. Tornamo-nos Homo consumericus.

   Para uma psicologia arquetípica, há deuses em nosso consumo: Afrodite da sedução e do encantamento pela beleza e pelo prazer, Hermes do comércio e da troca intensa, Cronos do devoramento, Plutão da riqueza e da abundância, Criança Divina da novidade, Dioniso do arrebatamento, Narciso ensimesmado, Herói furioso, Eros apaixonado, Pan, Príapo, Puer, quem mais? Que pessoas arquetípicas estão na alma do consumo?

       Ao buscarmos pela alma do consumo, lançamo-nos, sempre mais desconfortavelmente, no jogo entre necessidade e supérfluo, entre frívolo e essencial. Não sabemos ao certo onde termina a necessidade, onde começa o supérfluo, onde estão as fronteiras entre consumo de necessidade e consumo de gosto, consumo consciente e consumo de compulsão.

      A era hipermoderna se dá sob o signo do excesso e do extremo, que realiza uma “pulsão neofílica”, um prazer pela novidade que se volta constantemente para o presente. O consumo acontece ao lado de outros fenômenos importantes que marcam e que estão no centro do novo tempo histórico: o espetáculo midiático, a comunicação de massa, a individualização extremada, o hipermercado globalizado, a poderosíssima revolução informática, a internet. O consumo cria seus próprios templos: os shopping centers, as novas catedrais das novas e velhas igrejas, e também, a seu modo, a própria rede mundial de computadores.

   Consumo: tantos são seus deuses que é preciso evocá-los com cuidado, sem voracidade, para sentirmos sua interioridade, sua alma, sem sermos pegos em sua malha fina.

    Consumo de utensílios domésticos, eletrodomésticos, eletroeletrônicos que liquidificam, batem, moem, trituram, misturam, assam, limpam, fervem, fritam, amassam, amolecem, passam e enceram para nós – sem nossas mãos, sem contato manual. Tocam sons, reproduzem imagens, processam informações. Excesso e profusão de automatismos também funcionando para a era da autonomia.

   Organizo e escolho as músicas que quero ouvir – a trilha sonora da minha vida – sem surpresas desagradáveis ou diferentes, simplesmente baixando arquivos de áudio da internet e armazenando-os em meu iPod. A telefonia está em minhas mãos, em qualquer lugar, é móvel, e com ela a impressão de contato por trás da fantasia de conectividade. A comunicação está toda em minhas mãos. Minha correspondência, agora por via eletrônica, está em minhas mãos (ou diante de meus olhos) na hora que desejo ou preciso, em qualquer lugar do planeta. E está em minhas mãos principalmente tudo aquilo que posso comprar pronto (ready-to-go): desde a comida – entregue em casa (delivery), ou então ao acesso rápido de uma corrida de carro (drive-through) – até medicamentos, entretenimento, companhia, sexo e roupas prêt-à-porter.

   Percebemos a enorme presença da fantasia de autonomia. E esta autonomia está a serviço da felicidade privada.

     O nosso tempo é um tempo de escolhas. A “customização” cada vez mais intensa da maioria dos bens e dos serviços de consumo permite que eu diga como quero meu refrigerante, meu carro, meu jeans, meu computador.

    A superindividualização também leva à autonomia, ou vice-versa, e impõe processos de escolha cada vez mais intensos e urgentes: “Os gostos não cessam de individualizar-se”.

   O senhor dos Portões (Mr. Gates) abriu as janelas (Windows) de um presente que requer, sim, definições (escolhas) cada vez mais “altas”, mais precisas, mais particularizadas, em quase tudo.

      A própria identidade torna-se, no mundo hipermoderno, uma escolha que se dá num campo cada vez mais flexível e fluido de possibilidades: tribos, nações, culturas, subculturas, sexualidades, profissões, idades. Personas to-go. Autonomia: nomear-se a si mesmo.

    A lógica consumista parece ser a de um hipernarcisismo. Se existem deuses nas nossas doenças, quem são eles no consumismo?

    Comecemos pela necessidade: temos necessidade de quê? De quanto? Quando? Não sabemos mais ao certo, é claro. As medidas enlouqueceram. Movemo-nos agora num mar de necessidades: pseudonecessidades, necessidades artificiais, necessidades básicas, necessidades estrategicamente plantadas pelo marketing, necessidades que não sei se tenho, necessidades futuras, até chegar ao desnecessário, o extraordinário que é demais. A necessidade delira.

    A compra é a magia do efêmero. É asa, é brasa. É futuro, promessa, desejo de mudar, intensificação, momento de morte. É o fim da produção, quando as coisas são finalmente absorvidas pela psique.

    A compra, ao contrário do que se poderia pensar, dissolve o ego em alma, dissolve o ego heróico em sua fantasia de morte. Comprar é o que resta. Comprar é nosso modo de fazer o mundo virar alma.


BARCELLOS, Gustavo.

Disponível em:

http://www.diplomatique.org.br/artigo.php?id=291

Acesso em: 04 dez. 2014.

Texto adaptado

No 5º parágrafo, os dois pontos foram utilizados com o intuito de:
Alternativas
Q677313 Português

Observe a frase a seguir:

“Os fantasmas são frutos do medo: quem não tem medo não vê fantasmas”.

Os dois pontos entre os dois segmentos da frase podem ser adequadamente substituídos pelo seguinte conectivo:

Alternativas
Q676819 Português

                                                                        O abraço e a flor

                                         A campanha das enfermeiras e a necessidade diária de surpresa.


    Saí hoje cedo para caminhar com o objetivo de sempre: mexer o corpo, chacoalhar as ideias e ver a vida como ela é. A colheita não poderia ter sido melhor. Assim que dobrei a esquina, consegui minha dose diária de surpresa boa – tão necessária para mim quanto o sol de abril.

    Meninas de 20 e poucos anos exibiam um cartaz que anunciava abraços grátis. Achei que fosse mais uma ação promocional das construtoras de apartamento que, nos últimos meses, passaram a perturbar os moradores na porta de todas as padarias da região. [...]

    Algumas ações são nobres e humanitárias. Outras não passam de estratégias comerciais para promover sites, empresas ou palestras de autoajuda.

    No caso da enfermagem e da psicologia, a justificativa é a melhoria da qualidade de vida. Estudos demonstram que abraçar reduz os níveis de cortisol e norepinefrina, hormônios relacionados ao estresse crônico e à ocorrência de doenças cardíacas.

    O abraço também aumenta a produção de dopamina e serotonina (hormônios do prazer) e de oxitocina (o hormônio do afeto). Quanto mais oxitocina o cérebro libera, mais a pessoa quer ser tocada e menos estressada ela fica. É um círculo virtuoso: quanto mais abraçada ela é, mais ela deseja ser abraçada.

    Um estudo realizado no ano passado pela Universidade Médica de Viena demonstrou que o abraço pode mesmo reduzir o stress, o medo e a ansiedade. A oxitocina liberada contribui para a redução da pressão arterial, aumenta o bem-estar e favorece o desempenho da memória.

    No entanto, o neurofisiologista Jürgen Sandkühler, autor do trabalho, questiona o valor dos abraços recebidos de pessoas estranhas. A oxitocina é o hormônio produzido pela glândula pituitária, conhecido por favorecer o estabelecimento de laços afetivos entre pais e filhos e entre os casais.

    “O efeito do abraço sobre a produção de oxitocina só ocorre quando existe confiança mútua. Se o abraço não é desejado pelas duas pessoas, o efeito positivo se perde”, diz.

    Em resumo: as pessoas precisam estar na mesma sintonia. Acredito que isso seja perfeitamente possível entre estranhos. Não sei se o nível dos meus hormônios aumentou, mas a iniciativa das estudantes de enfermagem alegrou meu dia. Espero que elas não percam a ternura quando a realidade da profissão se apresentar.

    Como essas meninas, acredito que o bem-estar pode ser contagiante. Ao final de nosso breve encontro, uma delas me ofereceu uma flor feita com capricho e papel crepom.

    Resolvi testar o poder da flor. Durante uma hora caminharia com ela na mão e observaria a reação de quem cruzasse meu caminho. Será que alguém notaria alguma coisa fora do script? Será que um sorrisinho escaparia dos lábios? [...]

    Voltei para casa com uma supersafra de gentilezas. Nunca ouvi, numa única manhã, tanta gente me desejando bom dia, tanto motorista me dando passagem, tanta conversa, tanto olho no olho, tanto sorriso. O tênis, a roupa, o percurso eram os mesmos. O que mudou foi o abraço e a flor.

    Só um pedestre não viu nada. Bateu o portão de um prédio com fones enterrados no ouvido, óculos bem escuros, mochila estufada, ombros curvados para frente – aquele visual e aquele comportamento que são a marca do nosso tempo. Não do meu tempo, mas o de muita gente. Quase me atropelou, mas não notou minha presença. Muito menos a da flor.

(Cristiane Segatto – 12/04/2013. Disponível em: http://revistaepoca.globo.com//Saude-e-bem-estar/cristiane-segatto/noticia/2013/04/o-abraco-e-flor.html. Com Adaptações.) 

Achei que fosse mais uma ação promocional das construtoras de apartamento que, nos últimos meses, passaram a perturbar os moradores na porta de todas as padarias da região.” (2º§) Assinale a alternativa em que a alteração referente à pontuação mantém a correção apresentada originalmente.
Alternativas
Respostas
601: E
602: B
603: C
604: C
605: A
606: A
607: A
608: D
609: A
610: D
611: E
612: D
613: D
614: B
615: C
616: B
617: C
618: D
619: A
620: B