Questões de Concurso
Comentadas sobre uso dos dois-pontos em português
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Jurisdição e Democracia, o juiz federal e professor Agapito
Machado dividiu sua palestra em três tópicos: a justiça
4 tradicional, os juizados especiais federais criados em 2001 e
os juizados federais virtuais. O palestrante, que discorreu
sobre o tema "Juizados federais: uma experiência virtual de
7 sucesso", procurou analisar detidamente cada um dos três
tópicos. "A justiça tradicional, morosa, ineficaz, que pode
levar o jurisdicionado a passar dez, vinte anos litigando sem
10 receber seus direitos, evoluiu com a Lei n.º 9.099/1995 para
o modelo dos juizados especiais estaduais, físicos", explicou
o magistrado. "Foi o primeiro caminho para desafogar o
13 Judiciário, melhorando bastante a efetividade da prestação
jurisdicional", observou.
Internet: (com adaptações).
Com base no texto acima, assinale a opção correta em relação à pontuação.
1 Os bancos médios alcançaram um de seus
melhores anos em 2006. A rigor, essas instituições não
optaram por nenhuma profunda ou surpreendente mudança
4 de foco estratégico. Bem ao contrário, elas apenas voltaram
a atuar essencialmente como bancos: no ano passado a
carteira de crédito dessas casas bancárias cresceu 39,2%,
7 enquanto a carteira dos dez maiores bancos do país
aumentou 26,2%, ambos com referência a 2005.
É apressado asseverar que essa expansão do
10 segmento possa gerar maior concorrência no setor. Vale
lembrar, apenas como comparação, que a chegada dos
bancos estrangeiros (nos anos 90) não surtiu o efeito
13 esperado quanto à concorrência bancária. Os bancos
estrangeiros cobram o preço mais alto em 21 tarifas. E os
bancos privados nacionais, médios e grandes, têm os preços
16 mais altos em outras 21. O tamanho do banco não determina
o empenho na cobrança de tarifas. O principal motivo da
fraca aceleração da concorrência do sistema bancário é a
19 permanência dos altos spreads, a diferença entre o que o
banco paga ao captar e o que cobra ao emprestar, que não se
altera muito, entre instituições grandes ou médias.
22 Vale notar, também, que os bons resultados dos
bancos médios brasileiros atraíram grandes instituições do
setor bancário internacional interessadas em participação
25 segmentada em forma de parceria. O Sistema Financeiro
Nacional só tem a ganhar com esse tipo de integração. Dessa
forma, o cenário, no médio prazo, é de acelerado movimento
28 de fusões entre bancos médios, processo que já começou.
Será um novo capítulo da história bancária do país.
Gazeta Mercantil, Editorial, 28/3/2007.
abaixo.
"O folhetim é frutinha de nosso tempo", disse Machado
de Assis numa de suas deliciosas crônicas. E volta ao assunto
na crônica seguinte.
"O folhetinista é originário da França [...] De lá espalhouse
pelo mundo, ou pelo menos por onde maiores proporções
tomava o grande veículo do espírito moderno; falo do jornal." E
Machado tenta "definir a nova entidade literária", procura
esmiuçar a "organização do novo animal". Mas dessa nova
entidade só vai circunscrever a variedade que se aproxima do
que hoje chamaríamos crônica. E como na verdade a palavra
folhetim designa muitas coisas, e, efetivamente, nasceu na
França, há que ir ver o que o termo recobre lá na matriz.
De início, ou seja, começos do século XIX, "le feuilleton"
designa um lugar preciso do jornal: "o rez-de-chaussée" ? résdo-
chão, rodapé ?, geralmente o da primeira página. Tinha uma
finalidade precisa: era um espaço vazio destinado ao
entretenimento. E pode-se já antecipar, dizendo que tudo o que
haverá de constituir a matéria e o modo da crônica à brasileira
já é, desde a origem, a vocação primeira desse espaço
geográfico do jornal, deliberadamente frívolo, oferecido como
chamariz aos leitores afugentados pela modorra cinza a que
obrigava a forte censura napoleônica. ("Se eu soltasse as
rédeas da imprensa", explicava Napoleão ao célebre Fouché,
seu chefe de polícia, "não ficaria três meses no poder.")
(MEYER, Marlyse, Folhetim: uma história. 2 ed. São Paulo:
Companhia das Letras, 2005, p. 57)
apresentado abaixo.
Apesar de sua fama internacional como detentor da
maior biodiversidade e da maior floresta tropical do planeta, o
Brasil ainda tira muito pouco proveito de suas belezas naturais
como atração turística. Os prejuízos são tanto econômicos
quanto ambientais: o País deixa de participar de um mercado
bilionário, cujos benefícios podem ser revertidos tanto para o
desenvolvimento quanto para a conservação.
Dos 60 parques nacionais brasileiros, apenas 23 estão
oficialmente abertos para visitação e só 19 deles fazem arrecadação
de ingressos. Outros 6 poderiam ser visitados apenas
com autorização especial, e 31 são visitados de maneira não
oficial ? o que significa que não têm plano de manejo ou estrutura
apropriados para isso. Conseqüentemente, o turismo nessas
áreas não é devidamente controlado e não há retorno
financeiro direto para a conservação. Mesmo para os parques
com visitação oficial, não há estatísticas confiáveis sobre
números de visitantes e valores arrecadados.
Apesar de haver belezas naturais em todo o país, é
importante focar a atenção nos parques nacionais, principalmente
na divulgação para o mercado internacional, segundo
um consultor de ecoturismo da Embratur. É preciso diversificar
a oferta de atrativos ambientais, ainda muito focada no produto
"sol e praia". Além de divulgação, segundo ele, é preciso investir
em infra-estrutura logística e na criação de roteiros mais
acessíveis. O Brasil tem vantagem competitiva muito grande por
causa da riqueza de sua biodiversidade. Entretanto, por causa
do tamanho do país, o acesso a muitos locais é difícil e exige
muitos dias de viagem, o que acaba se tornando uma
desvantagem.
O principal desafio do ecoturismo é fazê-lo de forma
sustentável, para que não se torne uma ameaça à natureza. Há
quem diga, inclusive, que as palavras "eco" e "turismo" são
incompatíveis. Elas são compatíveis sim, desde que a atividade
seja bem planejada e bem gerenciada. Nesses casos o
ecoturismo pode servir como uma importante fonte de recursos
para a conservação e o desenvolvimento econômico das comunidades
locais. Sempre vai haver algum impacto, mas esse
impacto pode ser aceitável.
(Adaptado de Herton Escobar, O Estado de S. Paulo, A30,
Vida&, 21 de maio de 2006)
Da arte de aceitar
Ele não aceitava a moça. Ela foi, foi, conversou,
conversou, rodou, rodou, artimanhou, manhou, arte e
manha, miou, afinal rendeu. Criança de emoções
superficiais, rápidas, espontâneas e passageiras, ele
cedeu. Aceitou-a.
Fiquei pensando em algo tão definido pelos
psicólogos e literatos, porém inesgotável e eterno como
o tema humano: a necessidade de ser aceito.
Ser aceito não é receber a concordância. É receber
até a discordância, mas dentro de um princípio indefinível
e fluídico de acolhimento prévio e gratuito do que se é
como pessoa.
Ser aceito é realizar a plenitude dos sentidos do
verbo latino Accipio, que deu origem à palavra
portuguesa. Accipio quer dizer: tomar para si; receber,
acolher; perceber; ouvir, ouvir dizer; saber; compreender;
interpretar; sofrer; experimentar; aprovar; aceitar; estar
satisfeito com. Tem vários sentidos, tal e qual essa
aceitação misteriosa e empática que alguns nos
concedem.
Ser aceito é ser percebido antes de ser entendido.
É ser acolhido antes de ser querido. É ser recebido
antes de ser conhecido. É ser experimentado antes da
experiência. É, pois, um estado de compreensão prévia,
que abre caminho para uma posterior concordância ou
discordância, sem perda do afeto natural por nossa
maneira de ser.
Ser aceito implica mecanismos mais sutis e de
maior alcance do que os que derivam da razão.Implica
intuição; compreensão milagrosa porque antecipatória;
conhecimento efetivo e afetivo do universo interior;
compreensão pela fraqueza; cuidado com as cicatrizes
e nervos expostos, tolerância com delírio, tolices,
medos, desordens, vesícula preguiçosa, medo do
dentista ou disritmia.
Ser aceito é ser feliz. Raro, pois. Quer fazer alguém
feliz? Aceite-a em profundidade. E depois discorde à
vontade. Ela aceitará.
Artur da Távola
texto apresentado abaixo.
Nem o cientista mais ortodoxo pode negar que mexer
com equações é difícil e cansativo. Mas a ciência não deixa de
ser bonita ou agradável apenas por causa disso. A arte, apesar
de bela, também não é fácil: todo profissional sabe a dor e a
delícia de aprender bem um instrumento ou de dominar o pincel
com graça e precisão. É verdade que dificilmente alguém
espera encontrar numa equação ou num axioma as qualidades
próprias da arte, como a harmonia, a sensibilidade e a elegância.
A graça e a beleza das teorias, no entanto, sempre
tiveram admiradores - e hoje mais do que nunca, a julgar pela
quantidade de livros recentes cujo tema central é a sedução e o
encanto dos conceitos científicos. Exagero?
"As leis da física são em grande parte determinadas por
princípios estéticos", afirma o astrônomo americano Mario Livio,
do Telescópio Espacial Hubble, também autor de um livro em
que analisa a noção de beleza dentro da ciência. Ele afirma
que, quando a estética surgiu na Antigüidade, os conceitos de
beleza e de verdade eram sinônimos. Para ele, o traço de união
entre arte e ciência reside exatamente nesse ponto. "As duas
representam tentativas de compreender o mundo e de organizar
fatos de acordo com uma certa ordem. Em última instância,
buscam uma idéia fundamental que possa servir de base para
sua explicação da realidade."
Mas, se o critério estético é tão importante para o pensamento
científico, como ele se manifesta no dia-a-dia dos
pesquisadores? O diretor do Instituto de Arte de Chicago acha
que sabe a resposta. "Ciência e arte se sobrepõem naturalmente.
Ambas são meios de investigação, envolvem idéias,
teorias e hipóteses que são testadas em locais onde a mente e
a mão andam juntas: o laboratório e o estúdio", afirma.
Acredita-se que as descobertas científicas sirvam de
inspiração para os artistas, e as obras de arte ajudem a alargar
o horizonte cultural dos cientistas. Na prática, essa mistura gera
infinitas possibilidades. A celebração que artistas buscam hoje
já ocorreu diversas vezes no passado, de maneira mais ou
menos espetacular. Na Renascença, a descoberta da
perspectiva pelos geômetras encantou os pintores, que logo
abandonaram as cenas sem profundidade do período clássico e
passaram a explorar sensações tridimensionais em seus
quadros. Os arquitetos também procuravam dar às igrejas um
desenho geometricamente perfeito; acreditavam, com isso, que
criavam um portal para o mundo metafísico das idéias
religiosas.
No século XX, essa tendência voltou a crescer. A grande
preocupação dos pintores impressionistas com a luz, por
exemplo, tem muito a ver com as conquistas da ótica. A
matemática também teria influenciado a pintura do russo
Wassily Kandinsky, segundo o qual "tudo pode ser retratado por
uma fórmula matemática". Seu colega Paul Klee achou um jeito
de colocar em vários quadros alguma referência às progressões
geométricas. Bem-humorado, brincava com as idéias da matemática
dizendo que "uma linha é um ponto que saiu para
passear".
(Adaptado de Flávio Dieguez. Superinteressante, junho de
2003, p. 50 a 54)
I. O travessão que inicia o segmento - e hoje mais do que nunca (2o parágrafo) - assinala uma pausa maior no período, como ênfase para a afirmativa introduzida por ele.
II. As aspas, que abrem e fecham o segmento "As duas representam tentativas ... para sua explicação da realidade." (3o parágrafo), indicam reprodução exata das palavras de um escritor.
III. Os dois-pontos em - ... andam juntas: o laboratório e o estúdio ... (4o parágrafo) - introduzem um segmento enumerativo.
Está correto o que se afirma em
debater uma agenda mirabolante, com 40 ou 50 temas. É preciso
focar as ações de modo pragmático, com as seguintes prioridades:
4 concluir a união aduaneira; eliminar barreiras jurídicas e
monetárias; facilitar os negócios entre as empresas dos países
membros e obter financiamentos em nome do bloco no Banco
7 Mundial, para ampliar a infra-estrutura regional, o que até agora
sequer foi pleiteado. As questões alfandegária e fitossanitária
devem ser harmonizadas o mais rapidamente possível, pois não
10 haverá bloco econômico viável enquanto houver entrave no
intercâmbio entre os Estados-membros. Finalmente, é preciso
considerar que, no mundo globalizado, as relações externas afetam
13 o cotidiano das empresas e das pessoas. O atual impasse no
MERCOSUL só será superado se os empresários se organizarem na
defesa de seus interesses e direitos, por meio da informação e da
16 mobilização da sociedade sobre as implicações internas das
decisões tomadas em fóruns internacionais. Abram Szajman.
O Globo, 26/11/2006 (com adaptações).
Em relação ao texto acima, assinale a opção correta.
Caro eleitor,
1 Nos últimos meses, a campanha política mobilizou
vivamente os brasileiros. No primeiro turno, foram alcançadas
marcas extraordinárias: além do alto índice de comparecimento às
4 urnas e de uma irrepreensível votação, em que tudo aconteceu de
forma tranqüila e organizada, a apuração dos resultados foi rápida
e segura, o que coloca o Brasil como modelo nessa área.
7 Amanhã serão definidos os nomes do presidente da
República e dos governadores de alguns estados. O país, mais do
que nunca, conta com você.
10 Democracia é algo que lhe diz respeito e que se aperfeiçoa
no dia-a-dia. É como uma construção bem-preparada, erguida sobre
fortes alicerces. Esses alicerces são exatamente os votos de todos
13 os cidadãos. Quanto mais fiel você for no exercício do direito de
definir os representantes, mais sólidas serão as bases da nossa
democracia. Por isso, é essencial que você valorize essa escolha,
16 elegendo, de modo consciente, o candidato que julgar com mais
condições para conduzir os destinos do país e de seu estado.
Você estará determinando o Brasil que teremos nos
19 próximos quatro anos. Estará definindo o amanhã, o seu próprio
bem-estar e de sua família, o crescimento geral, a melhoria do
emprego, da habitação, da saúde e segurança públicas, do
22 transporte, o preço dos alimentos. O momento é decisivo e em suas
mãos - entenda bem, em suas mãos - está depositada a confiança
em dias felizes.
25 Compareça, participe. Não se omita, não transfira a outros
uma escolha que é sua. Pense e vote com a firmeza de quem sabe
o que está fazendo, com a responsabilidade de quem realmente
28 compreende a importância de sua atitude para o progresso da nação
brasileira. Esta é a melhor contribuição que você poderá dar a sua
Pátria.
Ministro Marco Aurélio de Mello. Pronunciamento
oficial. Internet: (com adaptações).
entende isso, fica evidente que a maior parte dos nossos atos
e pensamentos não é tão livre de condicionamentos como
4 gostamos de acreditar. Nossa certeza de sermos livres, de
fazermos tudo aquilo que queremos, e quando queremos, é
quase sempre uma ilusão. Quase todos, na verdade,
7 carregamos condicionamentos mais ou menos ocultos que,
com freqüência, tornam difícil a manifestação de uma
honestidade genuína, uma criatividade livre, uma intimidade
10 simples e pura. É preciso sublinhar o fato de que todas as
posições existenciais necessitam de pelo menos duas pessoas
cujos papéis combinem entre si. O algoz, por exemplo, não
13 pode continuar a sê-lo sem ao menos uma vítima. A vítima
procurará seu salvador e este último, uma vítima para salvar.
O condicionamento para o desempenho de um dos papéis é
16 bastante sorrateiro e trabalha de forma invisível.
Planeta, set./2007 (com adaptações).
Julgue os próximos itens, a respeito das idéias e estruturas lingüísticas do texto acima.
texto apresentado abaixo.
1 Nos séculos XVIII e XIX e no começo do século
XX, os extraordinários acontecimentos que anunciavam a
promessa de uma nova sociedade pareciam dividir
nitidamente o mundo entre os defensores e os inimigos da
5 liberdade e do progresso social, permitindo aos
revolucionários traduzir em programas políticos sua fé na
força emancipatória da aliança entre o intelectual educador
e o proletário moderno. Contudo, seu diagnóstico da
realidade, embora não chegasse a abalar os alicerces
10 dessa fé, já atentava para as novas formas de manipulação
e domínio emersas das próprias revoluções democráticas,
detectando um problema central para aqueles que ainda
hoje procuram vincular a utopia à lógica dos fatos: até que
ponto a busca intelectual do verdadeiro e a ação solidária
15 podem se ampliar e ter efetividade em um universo
impregnado ? e decodificado ? pela cultura do
individualismo e da competição.
(PIOZZI, Patrizia. Os arquitetos da ordem anárquica: de
Rousseau a Proudhon e Bakunin. São Paulo: Editora
UNESP, 2006, p. 213.)
Em relação ao texto, assinale a opção correta.
IBGE e BNDES mostraram que a desesperança nas cidades pequenas empurra a força de trabalho para as médias, que detêm maior dinamismo econômico. A carga da pesada máquina administrativa das pequenas "cidades mortas" é paga pelas verbas federais do Fundo de Participação dos Municípios. A economia local nesses municípios, como o IBGE também já mostrou, é dependente da chegada do pagamento dos aposentados do Instituto Nacional de Seguridade Social. O seminário "Qualicidade", por sua vez, confi rmou que a favelização é produto de "duas ausências", a do crescimento econômico e a de política urbana.
(Gazeta Mercantil, 17/10/2005, Editorial)
O QUE É... DECISÃO
No mundo corporativo, há algo vagamente conhecido
como "processo decisório", que são aqueles insondáveis
critérios adotados pela alta direção da empresa
para chegar a decisões que o funcionário não consegue
entender. Tudo começa com a própria origem da palavra
"decisão", que se formou a partir do verbo latino caedere
(cortar). Dependendo do prefixo que se utiliza, a palavra
assume um significado diferente: "incisão" é cortar para
dentro, "rescisão" é cortar de novo, "concisão" é o que já
foi cortado, e assim por diante. E dis caedere, de onde
veio "decisão", significa "cortar fora". Decidir é, portanto,
extirpar de uma situação tudo o que está atrapalhando e
ficar só com o que interessa.
E, por falar em cortar, todo mundo já deve ter
ouvido a célebre história do não menos célebre rei
Salomão, mas permitam-me recontá-la, transportando
os acontecimentos para uma empresa moderna. Então,
está um dia o rei Salomão em seu palácio, quando duas
mulheres são introduzidas na sala do trono. Aos berros
e puxões de cabelo, as duas disputam a maternidade
de uma criança recém-nascida. Ambas possuem
argumentos sólidos: testemunhos da gravidez recente,
depoimentos das parteiras, certidões de nascimento.
Mas, obviamente, uma das duas está mentindo: havia
perdido o seu bebê e, para compensar a dor, surrupiara
o filho da outra. Como os testes de DNA só seriam
inventados dali a milênios, nenhuma das autoridades
imperiais consultadas pelas litigantes havia conseguido
dar uma solução satisfatória ao impasse.
Então Salomão, em sua sabedoria, chama um
guarda, manda-o cortar a criança ao meio e dar metade
para cada uma das reclamantes. Diante da catástrofe
iminente, a verdadeira mãe suplica: "Não! Se for assim, ó
meu Senhor, dê a criança inteira e viva à outra!", enquanto
a falsa mãe faz aquela cara de "tudo bem, corta aí". Pronto.
Salomão manda entregar o bebê à mãe em pânico, e a
história se encerra com essa salomônica demonstração
de conhecimento da natureza humana.
Mas isso aconteceu antigamente. Se fosse hoje,
com certeza as duas mulheres optariam pela primeira
alternativa (porque ambas teriam feito um curso de Tomada
de Decisões). Aí é que entram os processos decisórios
dos salomões corporativos. Um gerente salomão
perguntaria à mãe putativa A: "Se eu lhe der esse menino,
ó mulher, o que dele esperas no futuro?" E ela diria:
"Quero que ele cresça com liberdade, que aprenda a cantar
com os pássaros e que possa viver 100 anos de felicidade".
E a mesma pergunta seria feita à mãe putativa B, que de
pronto responderia: "Que o menino cresça forte e obediente
e que possa um dia, por Vossa glória e pela glória
de Vosso reino, morrer no campo de batalha". Então, sem
piscar, o gerente salomão ordenaria que o bebê fosse
entregue à mãe putativa B.
Por quê? Porque na salomônica lógica das
empresas, a decisão dificilmente favorece o funcionário
que tem o argumento mais racional, mais sensato, mais
justo ou mais humano. A balança sempre pende para os
putativos que trazem mais benefício para o sistema.
GEHRINGER, Max. Revista Você S/A, jan. 2002.
apresentado abaixo.
Brasileiro se realiza em arte menor. Com raras exceções
aqui e ali na literatura, no teatro ou na música erudita, pouco
temos a oferecer ao resto do mundo em matéria de grandes
manifestações artísticas. Em compensação, a caricatura ou a
canção popular, por exemplo, têm sido superlativas aqui, alcançando
uma densidade raramente obtida por nossos melhores
artistas plásticos ou compositores sinfônicos. Outras artes, ditas
"menores", desempenham um papel fundamental na cultura
brasileira. É o caso da crônica e da telenovela. Gêneros inequivocamente
menores e que, no entanto, alcançam níveis de superação
artística nem sempre observada em seus congêneres
de outros quadrantes do planeta.
Mas são menores diante do quê? É óbvio que o critério
de valoração continua sendo a norma européia: a epopéia, o
romance, a sinfonia, as "belas artes" em geral. O movimento é
dialético e não pressupõe maniqueísmo. Pois se aqui não se
geraram obras como as de Cervantes, Wagner ou Picasso, "lá"
também - onde quer que seja esse lugar - nunca floresceu uma
canção popular como a nossa que, sem favor, pode compor um
elenco com o que de melhor já foi feito em matéria de poesia e
de melodia no Brasil.
Machado de Assis, como de costume, intuiu admiravelmente
tudo. No conto "Um homem célebre", ele nos mostra
Pestana, compositor que deseja tornar-se um Mozart mas,
desafortunadamente, consegue apenas criar polcas e maxixes
de imenso apelo popular. Morre consagrado - mas como autor
pop. Aliás, não foi à toa que Caetano Veloso colocou uma frase
desse conto na contracapa de Circuladô (1991). Um de nossos
grandes artistas "menores" por excelência, Caetano sempre
soube refletir a partir das limitações de seu meio, conseguindo
às vezes transcendê-lo em verso e prosa. [...]
O curioso é que o conceito de arte acabou se alastrando
para outros campos (e gramados) da sociedade brasileira. É o
caso da consagração do futebol como esporte nacional, a partir
da década de 30, quando o bate-bola foi adotado pela imprensa
carioca, recebendo status de futebol-arte.
Ainda no terreno das manifestações populares, o ibope
de alguns carnavalescos é bastante sintomático: eles são os
encenadores da mais vista de todas as nossas óperas, o
Carnaval. Quem acompanha a cobertura do evento costuma
ouvir o testemunho deliciado de estrangeiros a respeito das
imensas "qualidades artísticas" dos desfiles nacionais...
Seguindo a fórmula clássica de Antonio Candido em
Formação da literatura brasileira ("Comparada às grandes, a
nossa literatura é pobre e fraca. Mas é ela, e não outra, que nos
exprime."), pode-se arriscar que muito da produção artística
brasileira é tímida se comparada com o que é feito em outras
paragens. Não temos Shakespeare nem Mozart? Mas temos
Nelson Rodrigues, Tom Jobim, Nássara, Cartola - produtores
de "miudezas" da mais alta estatura. Afinal são eles, e não
outros, que expressam o que somos.
(Adaptado de Leandro Sarmatz. Superinteressante, novembro de
2000, p.106, (Idéias que desafiam o senso comum)
texto apresentado abaixo.
"A batalha para alimentar a humanidade acabou.
Centenas de milhões vão morrer nas próximas décadas, apesar
de todos os programas contra a fome", escreveu o biólogo
americano Paul Ehrlich em seu livro A bomba populacional, de
1968. Não era à toa. O número de pessoas no mundo chegava
a assustadores 3,5 bilhões e, de fato, não existia terra suficiente
para alimentar todas elas.
Mas Ehrlich errou. Ele não acreditava que um daqueles
programas contra a fome daria certo. Era a Revolução Verde,
um movimento que começou nos anos 40. O revolucionário ali
foi dotar a agricultura de duas novidades. A primeira foram os
fertilizantes de laboratório. Criados no começo do século XX,
esses compostos químicos permitiam maior crescimento das
plantas, com três nutrientes fundamentais: nitrogênio, potássio e
fósforo. A segunda novidade eram os pesticidas e herbicidas
químicos, capazes de destruir insetos, fungos e outros inimigos
das lavouras com uma eficiência inédita.
E o resultado não poderia ter sido melhor: com essa dupla,
a produtividade das lavouras cresceu exponencialmente.
Tanto que, hoje, dá para alimentar uma pessoa com o que cresce
em 2 mil metros quadrados; antes, eram necessários 20 mil.
A química salvou a humanidade da fome. Mas cobrou
seu preço. Os restos de fertilizantes, por exemplo, tendem a
escapar para rios e lagos próximos às plantações e chegar à
vegetação aquática. As algas se multiplicam a rodo e, quando
finalmente morrem, sua decomposição consome o oxigênio da
água, sufocando os peixes. Com os pesticidas é pior ainda. Eles
não são terríveis só contra os insetos que destroem lavouras,
mas também contra borboletas, pássaros e outras formas de
vida. A biodiversidade ao redor das fazendas fica minguada e,
quando os agricultores exageram na dose, sobram resíduos nos
alimentos, toxinas que causam danos à saúde das pessoas.
Diante disso, muitos consumidores partiram para uma alternativa:
os alimentos orgânicos, que ignoram os pesticidas e
fertilizantes químicos em nome de integrar a lavoura à natureza.
(Adaptado de Ana Gonzaga. Superinteressante, novembro
2006, p.90-92)
Os dois-pontos introduzem, no contexto,