Questões de Português - Variação Linguística para Concurso

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Q2087590 Português
   Uma certeza já tenho para o ano que entra: me tornarei mais burro. À medida que os anos passam, minha capacidade de adaptação à realidade se torna menor. Brinco chamando de burrice, porque a questão é mais profunda. Sou da geração que está com 60 anos. É quase impossível acompanhar o mundo. Já nem sei quantas reformas ortográficas ocorreram durante meu tempo de vida. Foram algumas, e eu teria me adaptado, se não houvesse exceções em todas elas. Caem acentos, mas em alguns casos permanecem. Hífens sobrevivem. E assim por diante. Já me conformei, nunca mais escreverei de maneira tão perfeita quanto antes.
   Também aposto, e isso já é uma certeza, que surgirão inovações tecnológicas que não observarei. Gente, sou da época da máquina de escrever. Não tenho saudades, o computador é mais prático. Mas tudo faz tanta coisa, que já não sei como me virar. São programas e mais programas capazes de resolver minha vida, se eu soubesse lidar com eles. Basicamente, continuo usando a máquina para escrever textos, enviar e-mails. Há mais ou menos 30 anos, quando o computador doméstico começou a ser usado no país, eu me orgulhava de ser um precursor. Entre meus amigos, fui o primeiro a comprar um. Hoje, surge uma novidade por minuto. Mas eu sonho com um celular que faça e receba ligações, apenas isso. Um computador que sirva para criar e enviar textos, não mais. Aparelhos simples, em que eu possa mexer sem correr o risco de danos cerebrais.
   Mas o mundo caminha noutra direção – e isso não é uma aposta. É uma certeza. Conto os dias para o lançamento do robô doméstico. Vai chegar, e não falta muito. As grandes montadoras do Japão estão de olho nesse mercado. Há anos apostam no produto. Já cheguei a ver um que serve cafezinho, em Tóquio. Alguns robôs específicos já fritam hambúrgueres. Há um aspirador de pó robotizado. Pensa-se em “cuidadores”, que acompanhem e deem medicação a pessoas doentes.
   Entre minha dificuldade para acompanhar toda essa tecnologia e as surpresas que ela oferecerá, fica a última aposta. Há alguns anos, numa conferência no Japão, conheci o trabalho de um gênio que tentava criar robôs capazes de agir em grupo e de reagir ao meio ambiente. Mas... isso não é mais ou menos o que somos? Não se tratará, de fato, de uma nova espécie? Tudo isso me assusta um pouco, afinal somos nós que decidiremos como usar a revolução tecnológica em larga escala.
(Walcyr Carrasco. Revista Época. Em: dezembro de 2013. Adaptado.)
Em “Há mais ou menos 30 anos, quando o computador doméstico começou a ser usado no país, eu me orgulhava de ser um precursor.” (2º§), a palavra destacada pode ser substituída, evitando-se a perda semântica, por:
Alternativas
Q2086588 Português

Como a guerra de palavras molda as notícias

“Lutar com palavras

é a luta mais vã.

Entanto lutamos

mal rompe a manhã.

São muitas, eu pouco.” 


    Assim começa o poema “O Lutador” de Carlos Drummond de Andrade, a meu ver, um dos mais belos poemas sobre o ofício de escrever. Sobre a quase que impossibilidade de definir, seja lá o que (ou quem) for, com vocábulos, o que se pretende dizer ou expressar. Do alto de sua sabedoria infantil, Marcelo, o inesquecível personagem de “Marcelo, Martelo, Marmelo” (Ed. Salamandra), de Ruth Rocha, outra das nossas grandes autoras, já definiu bem a grande dúvida que ronda a origem das palavras, sejam elas em que língua forem:

“– Papai, por que mesa chama mesa?

– Ah, Marcelo, vem do latim.

– Puxa, papai, do latim? E latim é língua de cachorro?

– Não, Marcelo, latim é uma língua muito antiga.

– E por que é que esse tal de latim não botou na mesa nome de cadeira, na cadeira nome de parede, e na parede nome de bacalhau?”

    O pai de Marcelo, é claro, não soube responder à pergunta do garoto. E nós, tal como ele, muitas vezes nos pomos a perguntar por que uma pessoa usou tal palavra e não outra (ou outras) para comunicar alguma coisa, definir um conceito, contar uma história. E se perguntarmos a ela, muito provavelmente essa pessoa usará mais tantas outras para justificar a escolha daquela e assim,nos convencer que fez o melhor uso para descrever o que desejava. Longe de mim querer dar conta de explicar um fenômeno tão complexo como a linguagem nas poucas linhas deste artigo. Minha reflexão aqui é sobre como as palavras importam para moldar e explicar a nossa realidade. Nietzsche, um dos maiores filósofos de todos os tempos, disse que as palavras são pontes iridescentes que ligam coisas separadas. Faço um complemento à sua fala: e quando elas se juntam, são capazes de produzir sentido, a chave para que sigamos vivos, em ação, transformando o mundo em que vivemos. As palavras dão sentido à nossa experiência, ao que acontece ao nosso redor e ao que se passa com e em cada um de nós.

    Há mais de 30 dias vivemos uma experiência das mais complexas em diferentes sentidos com a guerra na Ucrânia. E como ela se dá para além dos tiros, bombas, das mortes brutais, e está acontecendo “em tempo real” nas mídias, nos relatos “ao vivo” de quem filma e/ou fotografa o inenarrável sofrimento humano e posta nas redes sociais, assistimos à tão falada “guerra das narrativas” na qual desenrola-se uma escolha cuidadosa de palavras que tentam dar conta de explicar os fatos que se desenrolam, minuto a minuto. Por que uns usam o termo “invasão” e outros “guerra”? E qual a razão de outros insistirem em dizer que se trata de “exercícios militares”, ou ainda de um “conflito” ou então de uma “ocupação”? É que quando você escolhe o termo guerra versus invasão, você selecionou um ponto de vista para explicar os fatos que conseguiu perceber – e, esperamos! – verificar.

    “Entendo que para contar é necessário primeiramente construir um mundo”, dizia um dos maiores semiólogos e linguistas do nosso tempo, o escritor italiano Umberto Eco. “Que leitor modelo eu queria, quando estava escrevendo? Um cúmplice, claro, que entrasse no meu jogo. (...) Um texto quer ser uma experiência de transformação para o próprio leitor”. Estar consciente desse jogo, conhecer as regras da construção das mensagens é uma das grandes habilidades a serem conquistadas pelos cidadãos dessa Era da (Des)Informação, e um dos pilares da Educação para as Mídias. É fundamental que o leitor (re)conheça que cada notícia é composta por um conjunto de palavras, de termos, que contam uma determinada história, sob um ponto de vista específico, que interessa a um certo grupo de pessoas e/ou instituições. Faz tempo que o mito da objetividade jornalística caiu por terra, por isso, para se formar um leitor crítico, há que prepará-lo para desenvolver uma certa dose de ceticismo saudável, aliado a uma investigação constante dos muitos porquês que envolvem a construção de uma mensagem.

    A chamada grande mídia vem sendo profundamente abalada pelo advento das redes sociais, onde todos e qualquer um é jornalista. Daí a importância de se frisar que se a objetividade jornalística é uma quimera, a objetividade, em si, é um método, não um ponto de vista. E o bom jornalismo faz uso dela quando estabelece critérios claros (e bem expostos em sua política editorial) para publicar um conteúdo, pesquisando o contexto no qual ele se desenrola, conhecendo os mais diversos e diferentes pontos de vista sobre o que se está contando, analisando todas as informações coletadas, fazendo perguntas – tantas quantas forem necessárias para trazer mais clareza ao fato – e escolhendo palavras que sejam molduras o mais próximas possível do que se quer retratar. “As palavras são imprecisas. Elas nunca capturam totalmente o que está acontecendo. Há uma diferença qualitativa entre um jornalista que usa palavras de forma imprudente e um que está lutando, revisando e atualizando sua linguagem à medida que sabe mais (...) as palavras também têm um significado público quando absorvidas pela mídia. As palavras têm definições, mas também conotações e significados culturais, dependendo do contexto em que são usadas. E tudo isso está em jogo nas notícias”, afirma o jornalista e articulista do periódico digital Medium, Jeremy Littau.

    A afirmação do jornalista americano explica de maneira bastante simples porque cada um lê a notícia do jeito que lhe interessa, afinal, cada termo selecionado se encaixa na moldura que o leitor tem, aquela que lhe possibilita ver e compreender o mundo em que vive. Nesse sentido, nunca é demais lembrar que o poder está, de fato, na mão do leitor. Em uma sociedade letrada como a nossa, a leitura (e aqui me refiro a ela como a possibilidade de ler/ver/ouvir em quaisquer suportes) é um instrumento precioso para que interpretemos a realidade e então, possamos devolver a nossa percepção dela para a nossa comunidade e com isso, construirmos a nossa história. O exercício da leitura nos dá a possibilidade de questionar e elaborar as nossas perguntas e respostas a partir da nossa experiência. O leitor crítico quer acessar as notícias, mas sobretudo quer entendê-las e encontrar sentido nelas e para elas. Aquecimento global ou mudança climática? Protesto ou motim? Combate ou luta? Você escolhe como explicar ou compreender, meu caro leitor.

(ALVES, Januária Cristina. Como a guerra de palavras molda as notícias. Jornal Nexo. Disponível em: https://www.nexojornal.com.br/colunistas/ 2022/Como-a-guerra-de-palavras-molda-as-not%C3%ADcias. Acesso em: 05/04/2022. Adaptado.)

A impessoalidade é um recurso de natureza linguístico- -discursiva utilizado para conferir ao texto isenção, imparcialidade e, por conseguinte, credibilidade às ideias e aos pontos de vista defendidos. Em qual passagem a seguir a autora atribui um caráter de maior impessoalidade ao seu discurso?
Alternativas
Q2086131 Português
INSTRUÇÃO: A questão diz respeito ao TEXTO 2. Leia-o atentamente para respondê-las.

TEXTO 2

Sintomas iniciais de Covid-19 podem variar de acordo com idade e sexo

Pesquisa no Reino Unido detectou diferenças na manifestação da doença entre pessoas acima e abaixo de 60 anos e entre homens e mulheres. Entenda.

    Conforme a pandemia de Covid-19 avança, cada vez mais a ciência conhece as diferentes manifestações da doença causada pelo Sars-CoV-2 em diversos grupos de pessoas. Um estudo publicado na última quinta-feira (29) no jornal científico Lancet Digital Health indica que os sintomas da infecção pelo novo coronavírus são diferentes de acordo com a idade e o sexo daqueles que foram contaminados.

    De acordo com a pesquisa, as principais divergências se dão entre os grupos mais jovens (16 a 59 anos) em relação aos mais velhos (60 a 80 anos). Para chegar às conclusões, os cientistas analisaram dados de abril a outubro de 2020 registrados no aplicativo do levantamento ZOE COVID Symptom Study, conduzido no Reino Unido. As pessoas que reportaram algum sintoma no app foram instruídas a fazer o teste para Covid-19 até três dias após o início da manifestação. Dessa forma, os autores conseguiram rastrear 80% dos casos.

    Um sistema de aprendizado de máquina cruzou os dados dos sintomas com informações como idade, sexo e condições de saúde dos participantes. Foi aí que os estudiosos chegaram a 18 sintomas iniciais diferentes de Covid-19. De modo geral, os mais comuns foram perda do olfato, dor no peito tosse persistente, dor abdominal, bolhas nos pés, olhos doloridos e dor muscular fora do normal.

     No entanto, entre os indivíduos acima de 60 e 80 anos, a perda da capacidade olfativa foi menos relevante do que nos mais jovens. Por outro lado, diarreia foi uma manifestação bem mais significativa nos idosos.

    Analisando as diferenças entre os sexos, homens se mostraram mais propensos a ter dificuldade para respirar, fadiga e calafrios; já as mulheres estão mais sujeitas à anosmia, além de dor no peito e tosse persistente. [...]

Redação Galileu. Sintomas iniciais de Covid-19 podem variar de acordo com idade e sexo. Disponível em: https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Saude/noticia/2021/07/sintomas-iniciaisde-covid-19-podem-variar-de-acordo-com-idade-e-sexo.html. Acesso em 08 ago.2021.


Considerando aspectos da construção do texto, assinale a alternativa INCORRETA.
Alternativas
Q2086130 Português
Leia esta transcrição de uma fala espontânea.
     No skate, quando ocê tá tentando uma manobra, ocê cai, ocê rala, tá ligado? ... mas aí ocê se sente mais motivado pra conseguir fazer essa manobra. Então quando ocê consegue ela, .. dá uma sensação de prazer, de orgulho .. porque ocê não desistiu, tentou até conseguir.
Nesse trecho transcrito, em relação às marcas de informalidade, NÃO está(ão) presente(s): 
Alternativas
Q2081903 Português
De acordo com a obra de Bordini e Aguiar (Literatura: a formação do leitor), analise os itens a seguir e, ao final, assinale a alternativa correta:
I – Uma sociedade de classes em que interesses divergentes se entrechocam, com a predominância de alguns deles sobre os demais, privilegia sobremaneira o texto escrito como objeto de leitura. II – A memória, historicamente, representa um triunfo sobre a escrita. III – A acumulação do conhecimento através da palavra escrita tem sido apropriada pelas classes que detém o poder dentro de uma sociedade.
Alternativas
Respostas
366: A
367: D
368: D
369: B
370: D