FUNDAMENTO BIOPSICOSSOCIAL DO
PENSAMENTO
Para Henri Wallon (1930, 1931, 1947), a atividade
da criança começa por ser elementar e é essencialmente
caracterizada por um conjunto de gestos sincréticos com
significado filogenético, gestos de sobrevivência que já
são, de saída, a expressão de uma modulação tônica e
emocional de ajustamento ao meio ambiente.
Segundo Wallon (1937, 1950, 1969, 1970a), entre
o indivíduo e o seu meio há uma unidade indivisível. Não
há separação possível entre o indivíduo e o meio ambiente
(sociedade, ecossistemas), isto é, não há oposição entre o
desenvolvimento psicobiológico e as condições sociais
que o justificam e motivam.
A sociedade é para o homem uma “necessidade
orgânica” que determina o seu desenvolvimento e,
portanto, a sua inteligência. A apropriação do
conhecimento é um patrimônio extrabiológico inerente ao
grupo social no qual vai evoluir e coexistir. No ser
humano, o desenvolvimento biológico, ou seja, a sua maturação neurológica, e o desenvolvimento social, ou
seja, a incorporação da experiência social e cultural,
melhor dito, a sociogênese, são condições um do outro.
Até a aquisição da linguagem, a motricidade é,
pois, a característica existencial e essencial da criança, é
resposta preferencial e prioritária às suas necessidades
básicas e aos seus estados emocionais e relacionais. A
motricidade na criança é, por isso, já nessa fase tão
precoce, a expressão do seu psiquismo prospectivo.
A motricidade torna-se, assim, simultaneamente e
sequencialmente, a primeira estrutura de relação e de corelação com o meio, com os outros prioritariamente, e com
os objetos posteriormente, a partir das quais se edificará o
psiquismo, e é, em síntese, a primeira forma de expressão
emocional e de comportamento.
A motricidade ocupa um lugar especial na teoria
walloniana. Desde o nascimento, e mesmo ao longo do
desenvolvimento intrauterino, ela é uma das mais ricas
formas de interação com o envolvimento externo, e é, na
sua essência, um instrumento privilegiado de comunicação
da vida psíquica.
Pela motricidade, a criança exprime as suas necessidades
neurovegetativas de bem-estar ou de mal-estar, que
contêm em si uma dimensão afetiva e interativa que se
traduz em uma comunicação somática não-verbal muito
complexa, muito antes do surgimento da linguagem verbal
propriamente dita.
A motricidade contém, portanto, uma dimensão
psíquica, e é um deslocamento no espaço de uma
totalidade motora, afetiva e cognitiva, que se apresenta em
termos evolutivos, segundo Wallon (1963, 1970), sob três
formas essenciais: deslocamentos passivos ou exógenos,
deslocamentos ativos ou autógenos e deslocamentos
práxicos.
FONSECA, Vitor da. Desenvolvimento Psicomotor e
Aprendizagem. 1ª Ed. Porto Alegre: Artmed, 2008, p. 15.
Com adaptações.