[...] Já meus irmãos, mais audaciosos, tentavam forçar o cadeado da cômoda onde ela ia escondendo os
presentes: enfiavam pontas de faca nas frestas das gavetas, cheiravam as frestas, trocavam ideias sobre o
que podia caber lá dentro e se torciam de rir com as obscenidades que prometiam escrever nas suas cartas.
Mas quando chegava dezembro, nas vésperas da grande visita, ficavam delicadíssimos. Faziam aquelas
caras de piedade e engraxavam furiosamente os sapatos porque estava resolvido que Papai Noel deixaria
uma barata no sapato que não estivesse brilhando [...].