Questões de Concurso Público PC-SC 2017 para Agente de Polícia Civil
Foram encontradas 13 questões
Texto 4
Guignard na parede
– Este seu Guignard é falso ou verdadeiro? - perguntou-lhe o visitante, coçando o queixo, de um modo ainda mais suspeitoso do que a pergunta.
– Ora essa, por que duvida?
– Eu não duvido nada, só que existem por aí uns cinquenta quadros falsos de Guignard, e então...
– Então o quê?
– Esse também podia ser. Só isso.
– Pois não é, não senhor. Qualquer um vê logo que se trata de Guignard autêntico, Guignard da melhor época.
– Não ponho em dúvida sua palavra, Deus me livre. Mas nunca se sabe se um quadro é autêntico ou não. Nunca. Não há prova irrefutável.
– Mesmo que se tenha visto o pintor trabalhando nele?
– Em geral, o pintor não trabalha à vista dos outros. No máximo dá uma pincelada, um toque. Até os retratos, não sabia? São feitos em grande parte na ausência dos retratados. Todo artista tem um auxiliar, espécie de primo pobre, que imita à perfeição a maneira do mestre...
– Guignard tinha alunos; e daí? Vai me dizer que os alunos pintavam e ele assinava?
– O senhor é que parece estar insinuando isso. Eu digo apenas que assinatura pode ser autêntica num quadro falso. Veja Picasso. Picasso assina falsos Picassos por blague ou para ajudar pobres-diabos. Pode parecer maluquice, mas para mim o pintor é o primeiro falsificador de sua obra, ele se copia e manda os outros copiarem .
– Não diga uma besteira dessas.
[...]
– Fiquei com medo do senhor ter um falso Guignard, e preveni. Não há razão para se queimar.
– Está bem.
– Talvez tenha feito mal em alertá-lo. O senhor vai ficar preocupado, cismado. Não desejo isso. Vamos fazer uma coisa? Para o senhor não se chatear, eu compro o seu quadro, mesmo tendo as maiores dúvidas sobre a autenticidade. Repare bem: a fluidez da pintura é demasiado fluida para ser original. Um mestre nunca vai ao extremo de sua potencialidade; deixa que os outros exacerbem sua maneira. Este Guignard é tão leve, tão aéreo, que só mesmo de alguém muito habilidoso, que procurasse ser mais Guignard do que o próprio Guignard. Não há dúvida, para mim não é Guignard. Quanto quer por isto?
– Quero que o senhor vá para o inferno, sim?
ANDRADE, C. D. de. 70 historinhas. 13 ed. Rio de Janeiro: Record,2009. p.195-197.
Texto 4
Guignard na parede
– Este seu Guignard é falso ou verdadeiro? - perguntou-lhe o visitante, coçando o queixo, de um modo ainda mais suspeitoso do que a pergunta.
– Ora essa, por que duvida?
– Eu não duvido nada, só que existem por aí uns cinquenta quadros falsos de Guignard, e então...
– Então o quê?
– Esse também podia ser. Só isso.
– Pois não é, não senhor. Qualquer um vê logo que se trata de Guignard autêntico, Guignard da melhor época.
– Não ponho em dúvida sua palavra, Deus me livre. Mas nunca se sabe se um quadro é autêntico ou não. Nunca. Não há prova irrefutável.
– Mesmo que se tenha visto o pintor trabalhando nele?
– Em geral, o pintor não trabalha à vista dos outros. No máximo dá uma pincelada, um toque. Até os retratos, não sabia? São feitos em grande parte na ausência dos retratados. Todo artista tem um auxiliar, espécie de primo pobre, que imita à perfeição a maneira do mestre...
– Guignard tinha alunos; e daí? Vai me dizer que os alunos pintavam e ele assinava?
– O senhor é que parece estar insinuando isso. Eu digo apenas que assinatura pode ser autêntica num quadro falso. Veja Picasso. Picasso assina falsos Picassos por blague ou para ajudar pobres-diabos. Pode parecer maluquice, mas para mim o pintor é o primeiro falsificador de sua obra, ele se copia e manda os outros copiarem .
– Não diga uma besteira dessas.
[...]
– Fiquei com medo do senhor ter um falso Guignard, e preveni. Não há razão para se queimar.
– Está bem.
– Talvez tenha feito mal em alertá-lo. O senhor vai ficar preocupado, cismado. Não desejo isso. Vamos fazer uma coisa? Para o senhor não se chatear, eu compro o seu quadro, mesmo tendo as maiores dúvidas sobre a autenticidade. Repare bem: a fluidez da pintura é demasiado fluida para ser original. Um mestre nunca vai ao extremo de sua potencialidade; deixa que os outros exacerbem sua maneira. Este Guignard é tão leve, tão aéreo, que só mesmo de alguém muito habilidoso, que procurasse ser mais Guignard do que o próprio Guignard. Não há dúvida, para mim não é Guignard. Quanto quer por isto?
– Quero que o senhor vá para o inferno, sim?
ANDRADE, C. D. de. 70 historinhas. 13 ed. Rio de Janeiro: Record,2009. p.195-197.
1. – Este seu Guignard é falso ou verdadeiro? – perguntou-lhe o visitante.
2. Mas nunca se sabe se um quadro é autêntico ou não. Nunca.
3. Até os retratos, não sabia? São feitos em grande parte na ausência dos retratados.
Identifique abaixo as afirmativas verdadeiras (V) e as falsas (F).
( ) Em 1, os pronomes "seu" e "lhe" são elementos coesivos que fazem referência ao pintor do quadro.
( ) Em 1 e 2, a partícula "ou" tem valor inclusivo e exprime equivalência dos conceitos envolvidos na alternância.
( ) Em 2, o segundo "se" funciona como conjunção integrante e introduz uma oração subordinada que complementa o verbo transitivo saber.
( ) Em 2, a segunda ocorrência de "nunca', em uma frase isolada, tem valor de ênfase.
( ) Em 3, "não sabia?" é uma expressão interrogativa que está intercalada no interior de uma informação declarativa.
Assinale a alternativa que indica a sequência correta, de cima para baixo.
Texto 5
Nos bailes da vida
Foi nos bailes da vida ou num bar
Em troca de pão
Que muita gente boa pôs o pé na profissão
De tocar um instrumento e de cantar
Não importando se quem pagou quis ouvir
Foi assim
Cantar era buscar o caminho
Que vai dar no sol
Tenho comigo as lembranças do que eu era
Para cantar nada era longe tudo tão bom
Até a estrada de terra na boleia de caminhão
Era assim
Com a roupa encharcada e a alma
Repleta de chão
Todo artista tem de ir aonde o povo está
Se for assim, assim será
Cantando me disfarço e não me canso
De viver nem de cantar
NASCIMENTO, M. Disponível em: <https://www.letras.mus.br/milton-nascimento/47438/ Acesso em 12/11/2017.
Assinale a alternativa correta, com base no texto 5.