Merenda escolar não é exceção
Fico contente em ver muitas pessoas
apoiando uma alimentação saudável e consciente. Ao
mesmo tempo entendo algumas pessoas criticarem a
marmita da minha filha, pois acredito que elas não
enxergam a alimentação como uma ferramenta
política, econômica, social, ambiental e de saúde. Eu
acredito que podemos mudar o mundo através da
alimentação e são esses valores que quero passar
para a minha filha no dia a dia. Tem gente que
escolhe a música, tem gente que prefere a política,
outros preferem o esporte, a pintura ou os livros para
lutar por um mundo melhor. No meu caso, escolhi a
comida!!!
Coloco banana-da-terra e batata-doce na
lancheira da minha filha primeiramente porque ela
GOSTA. Os outros motivos são diversos, porém
complementares.
Com a batata-doce e a banana-da-terra
consigo mostrar pra ela o verdadeiro sabor da nossa
terra, pra ela se lembrar que o sabor da infância era
um sabor natural do Brasil e não de alguma fórmula
artificial fabricada em laboratório.
Me importo com a saúde da minha filha e por
isso presto atenção na alimentação dela. Não
considero biscoito recheado, salgadinho de pacotinho,
e achocolatados como alimentos e sim produtos
maquiados de alimentos que iludem tanto os pais
quanto as crianças com seus poderes viciantes. Não
quero deixar a minha filha dependente de uma
indústria, quero educá-la para ser independente,
poder preparar o próprio alimento e escolher o que
quiser para comer no jantar.
Nenhum lixo foi produzido com a merenda da
Flor, fiz a granola em casa e a casca da banana virou
adubo pra nossa pequena horta caseira. Porém, se
tivesse colocado uma caixinha de achocolatado, um
pacotinho de bolacha água e sal e uma barrinha de
cereal industrializada, seriam mais 3 embalagens
jogadas no lixo que levariam milhares de anos para
desintegrar.
Me lembro que quando eu era pequena o
lanche servido na minha escola era pão com
manteiga, biscoito recheado, sucos e café com leite.
Já mais velha, tínhamos que comprar nosso próprio
lanche na cantina que oferecia refrigerantes,
salgadinhos, sanduíches, sorvetes, balas e
chocolates. Com essa oferta, a criança cresce com
uma má referência e influência na alimentação através
da escola. Se os pais não forem conscientes e
responsáveis pela alimentação dos filhos, incentivando o consumo de vegetais, frutas, legumes
e cereais, eles crescem com o paladar já viciado em
produtos industrializados, altamente açucarados e
engordurados (com açúcar e gordura de péssima
qualidade) que podem afetar sua saúde física e
mental. Enquanto muitas cantinas forem grandes
influências para uma alimentação de baixa qualidade,
a saída é mandar a merenda das crianças de casa. E
vale lembrar que a merenda escolar não é sinônimo
de besteira, não é uma festa de aniversário ou uma
ocasião especial, é o lanche que o seu filho come 5
vezes por semana, é a construção de um hábito.
Então biscoitos recheados, salgadinhos, bolo
industrializado e refrigerante não devem fazer parte de
um lanche escolar.
Os valores estão invertidos na nossa
sociedade. Muitas pessoas acreditam que saúde é
sinônimo de mais hospitais, quando o ideal seria
acreditar na promoção de uma alimentação e estilo de
vida saudável para que não precisássemos de mais
hospitais. Educação não é só falar por favor e
obrigada e sim saber fazer escolhas que afetem o
mínimo possível aos outros e ao meio ambiente.
Então, quando a sociedade enxergar a alimentação
saudável como um investimento e garantia de
qualidade de vida, quando cozinharmos pensando e
respeitando a saúde do corpo, da terra e dos
produtores, aí sim conseguiremos construir um futuro
melhor.
(GIL, Bela. Merenda escolar não é exceção. Disponível em:
< http://www.belagil.com/blog />. Acesso em: 3 nov. 2015)