Questões de Concurso Público Prefeitura de Governador Valadares - MG 2024 para Agente Comunitário de Saúde
Foram encontradas 40 questões
Ano: 2024
Banca:
Instituto Consulplan
Órgão:
Prefeitura de Governador Valadares - MG
Prova:
Instituto Consulplan - 2024 - Prefeitura de Governador Valadares - MG - Agente Comunitário de Saúde |
Q2509578
Português
Texto associado
Um amor conquistado
Encontrei Ivan Lessa na fila de lotação do bairro e estávamos conversando, quando Ivan se espantou e me disse: olhe que
coisa esquisita. Olhei para trás e vi, da esquina para a gente, um homem vindo com seu tranquilo cachorro puxado pela correia.
Só que não era cachorro. A atitude toda era de cachorro, e a do homem era a de um homem com o seu cão. Este é que não era.
Tinha focinho acompridado de quem pode beber em copo fundo, rabo longo e duro – poderia, é verdade, ser apenas uma
variação individual da raça. Ivan levantou a hipótese de quati, mas achei o bicho muito cachorro demais para ser quati, ou seria
o quati mais resignado e enganado que jamais vi.
Enquanto isso, o homem calmamente vindo. Calmamente, não; havia uma tensão nele, era uma calma de quem aceitou
luta: seu ar era de um natural desafiador. Não se tratava de um pitoresco; era por coragem que andava em público com o seu
bicho. Ivan sugeriu a hipótese de outro animal de que na hora não se lembrou o nome. Mas nada me convencia. Só depois
entendi que minha atrapalhação não era propriamente minha, vinha de que aquele bicho já não sabia mais quem ele era, e não
podia, portanto, me transmitir uma imagem nítida.
Até que o homem passou perto. Sem um sorriso, costas duras, altivamente se expondo – não, nunca foi fácil passar diante
da fila humana. Fingia prescindir de admiração ou piedade; mas cada um de nós reconhece o martírio de quem está protegendo
um sonho.
– Que bicho é esse? Perguntei-lhe, e intuitivamente meu tom foi suave para não feri-lo com uma curiosidade. Perguntei
que bicho era aquele, mas na pergunta o tom talvez incluísse: “por que é que você faz isso? Que carência é essa que faz você
inventar um cachorro? E por que não um cachorro mesmo, então? Pois se os cachorros existem! Ou você não teve outro modo
de possuir a graça desse bicho senão com uma coleira? Mas você esmaga uma rosa se apertá-la com força!”. Sei que o tom é
uma unidade indivisível por palavras, sei que estou esmagando uma rosa, mas estilhaçar o silêncio em palavras é um dos meus
modos desajeitados de amar o silêncio, e é assim que muitas vezes tenho matado o que compreendo. (Se bem que, glória a
Deus, sei mais silêncio que palavras.)
O homem, sem parar, respondeu curto, embora sem aspereza. E era quati mesmo. Ficamos olhando. Nem Ivan nem eu
sorrimos, ninguém na fila riu – esse era o tom, essa era a intuição. Ficamos olhando.
Era um quati que se pensava cachorro. Às vezes, com seus gestos de cachorro, retinha o passo para cheirar as coisas, o
que retesava a correia e retinha um pouco o dono, na usual sincronização de homem e cachorro. Fiquei olhando esse quati que
não sabe quem é. Imagino: se o homem o leva para brincar na praça, tem uma hora que o quati se constrange todo: “mas, santo
Deus, por que é que os cachorros me olham tanto?”. Imagino também que, depois de um perfeito dia de cachorro, o quati se
diga melancólico, olhando as estrelas; “que tenho afinal? Que me falta? Sou tão feliz como qualquer cachorro, por que então
este vazio, esta nostalgia? Que ânsia é esta, como se eu só amasse o que não conheço?”. E o homem, o único a poder livrá-lo
da pergunta, esse homem nunca lhe dirá para não perdê-lo para sempre.
Penso também na iminência de ódio que há no quati. Ele sente amor e gratidão pelo homem. Mas por dentro não há como
a verdade deixar de existir: e o quati só não percebe que o odeia porque está vitalmente confuso.
Mas se ao quati fosse de súbito revelado o mistério de sua verdadeira natureza? Tremo ao pensar no fatal acaso que
fizesse esse quati inesperadamente defrontar-se com outro quati, e nele reconhecer-se, ao pensar nesse instante em que ele
ia sentir o mais feliz pudor que nos é dado: eu... nós... Bem sei, ele teria direito, quando soubesse, de massacrar o homem com
o ódio pelo que de pior um ser pode fazer a outro ser – adulterar-lhe a essência a fim de usá-lo. Eu sou pelo bicho, tomo o
partido das vítimas do amor ruim. Mas imploro ao quati que perdoe o homem, e que o perdoe com muito amor. Antes de
abandoná-lo, é claro.
(LISPECTOR, Clarice. Elenco de cronistas modernos – 25ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2013.)
Levando-se em consideração os mecanismos de coesão sequencial empregados na construção da articulação entre as partes
do texto e para determinar relações entre as informações, indique, a seguir, a transcrição literal em que tal mecanismo pode
ser identificado.
Ano: 2024
Banca:
Instituto Consulplan
Órgão:
Prefeitura de Governador Valadares - MG
Prova:
Instituto Consulplan - 2024 - Prefeitura de Governador Valadares - MG - Agente Comunitário de Saúde |
Q2509579
Português
Texto associado
Um amor conquistado
Encontrei Ivan Lessa na fila de lotação do bairro e estávamos conversando, quando Ivan se espantou e me disse: olhe que
coisa esquisita. Olhei para trás e vi, da esquina para a gente, um homem vindo com seu tranquilo cachorro puxado pela correia.
Só que não era cachorro. A atitude toda era de cachorro, e a do homem era a de um homem com o seu cão. Este é que não era.
Tinha focinho acompridado de quem pode beber em copo fundo, rabo longo e duro – poderia, é verdade, ser apenas uma
variação individual da raça. Ivan levantou a hipótese de quati, mas achei o bicho muito cachorro demais para ser quati, ou seria
o quati mais resignado e enganado que jamais vi.
Enquanto isso, o homem calmamente vindo. Calmamente, não; havia uma tensão nele, era uma calma de quem aceitou
luta: seu ar era de um natural desafiador. Não se tratava de um pitoresco; era por coragem que andava em público com o seu
bicho. Ivan sugeriu a hipótese de outro animal de que na hora não se lembrou o nome. Mas nada me convencia. Só depois
entendi que minha atrapalhação não era propriamente minha, vinha de que aquele bicho já não sabia mais quem ele era, e não
podia, portanto, me transmitir uma imagem nítida.
Até que o homem passou perto. Sem um sorriso, costas duras, altivamente se expondo – não, nunca foi fácil passar diante
da fila humana. Fingia prescindir de admiração ou piedade; mas cada um de nós reconhece o martírio de quem está protegendo
um sonho.
– Que bicho é esse? Perguntei-lhe, e intuitivamente meu tom foi suave para não feri-lo com uma curiosidade. Perguntei
que bicho era aquele, mas na pergunta o tom talvez incluísse: “por que é que você faz isso? Que carência é essa que faz você
inventar um cachorro? E por que não um cachorro mesmo, então? Pois se os cachorros existem! Ou você não teve outro modo
de possuir a graça desse bicho senão com uma coleira? Mas você esmaga uma rosa se apertá-la com força!”. Sei que o tom é
uma unidade indivisível por palavras, sei que estou esmagando uma rosa, mas estilhaçar o silêncio em palavras é um dos meus
modos desajeitados de amar o silêncio, e é assim que muitas vezes tenho matado o que compreendo. (Se bem que, glória a
Deus, sei mais silêncio que palavras.)
O homem, sem parar, respondeu curto, embora sem aspereza. E era quati mesmo. Ficamos olhando. Nem Ivan nem eu
sorrimos, ninguém na fila riu – esse era o tom, essa era a intuição. Ficamos olhando.
Era um quati que se pensava cachorro. Às vezes, com seus gestos de cachorro, retinha o passo para cheirar as coisas, o
que retesava a correia e retinha um pouco o dono, na usual sincronização de homem e cachorro. Fiquei olhando esse quati que
não sabe quem é. Imagino: se o homem o leva para brincar na praça, tem uma hora que o quati se constrange todo: “mas, santo
Deus, por que é que os cachorros me olham tanto?”. Imagino também que, depois de um perfeito dia de cachorro, o quati se
diga melancólico, olhando as estrelas; “que tenho afinal? Que me falta? Sou tão feliz como qualquer cachorro, por que então
este vazio, esta nostalgia? Que ânsia é esta, como se eu só amasse o que não conheço?”. E o homem, o único a poder livrá-lo
da pergunta, esse homem nunca lhe dirá para não perdê-lo para sempre.
Penso também na iminência de ódio que há no quati. Ele sente amor e gratidão pelo homem. Mas por dentro não há como
a verdade deixar de existir: e o quati só não percebe que o odeia porque está vitalmente confuso.
Mas se ao quati fosse de súbito revelado o mistério de sua verdadeira natureza? Tremo ao pensar no fatal acaso que
fizesse esse quati inesperadamente defrontar-se com outro quati, e nele reconhecer-se, ao pensar nesse instante em que ele
ia sentir o mais feliz pudor que nos é dado: eu... nós... Bem sei, ele teria direito, quando soubesse, de massacrar o homem com
o ódio pelo que de pior um ser pode fazer a outro ser – adulterar-lhe a essência a fim de usá-lo. Eu sou pelo bicho, tomo o
partido das vítimas do amor ruim. Mas imploro ao quati que perdoe o homem, e que o perdoe com muito amor. Antes de
abandoná-lo, é claro.
(LISPECTOR, Clarice. Elenco de cronistas modernos – 25ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2013.)
Clarice Lispector foi uma das mais importantes escritoras brasileiras. Seu inconfundível estilo intimista traz descrições
psicológicas e epifanias. Em relação à crônica narrativa “Um amor conquistado”, NÃO é possível inferir que:
Ano: 2024
Banca:
Instituto Consulplan
Órgão:
Prefeitura de Governador Valadares - MG
Prova:
Instituto Consulplan - 2024 - Prefeitura de Governador Valadares - MG - Agente Comunitário de Saúde |
Q2509580
Português
Texto associado
Um amor conquistado
Encontrei Ivan Lessa na fila de lotação do bairro e estávamos conversando, quando Ivan se espantou e me disse: olhe que
coisa esquisita. Olhei para trás e vi, da esquina para a gente, um homem vindo com seu tranquilo cachorro puxado pela correia.
Só que não era cachorro. A atitude toda era de cachorro, e a do homem era a de um homem com o seu cão. Este é que não era.
Tinha focinho acompridado de quem pode beber em copo fundo, rabo longo e duro – poderia, é verdade, ser apenas uma
variação individual da raça. Ivan levantou a hipótese de quati, mas achei o bicho muito cachorro demais para ser quati, ou seria
o quati mais resignado e enganado que jamais vi.
Enquanto isso, o homem calmamente vindo. Calmamente, não; havia uma tensão nele, era uma calma de quem aceitou
luta: seu ar era de um natural desafiador. Não se tratava de um pitoresco; era por coragem que andava em público com o seu
bicho. Ivan sugeriu a hipótese de outro animal de que na hora não se lembrou o nome. Mas nada me convencia. Só depois
entendi que minha atrapalhação não era propriamente minha, vinha de que aquele bicho já não sabia mais quem ele era, e não
podia, portanto, me transmitir uma imagem nítida.
Até que o homem passou perto. Sem um sorriso, costas duras, altivamente se expondo – não, nunca foi fácil passar diante
da fila humana. Fingia prescindir de admiração ou piedade; mas cada um de nós reconhece o martírio de quem está protegendo
um sonho.
– Que bicho é esse? Perguntei-lhe, e intuitivamente meu tom foi suave para não feri-lo com uma curiosidade. Perguntei
que bicho era aquele, mas na pergunta o tom talvez incluísse: “por que é que você faz isso? Que carência é essa que faz você
inventar um cachorro? E por que não um cachorro mesmo, então? Pois se os cachorros existem! Ou você não teve outro modo
de possuir a graça desse bicho senão com uma coleira? Mas você esmaga uma rosa se apertá-la com força!”. Sei que o tom é
uma unidade indivisível por palavras, sei que estou esmagando uma rosa, mas estilhaçar o silêncio em palavras é um dos meus
modos desajeitados de amar o silêncio, e é assim que muitas vezes tenho matado o que compreendo. (Se bem que, glória a
Deus, sei mais silêncio que palavras.)
O homem, sem parar, respondeu curto, embora sem aspereza. E era quati mesmo. Ficamos olhando. Nem Ivan nem eu
sorrimos, ninguém na fila riu – esse era o tom, essa era a intuição. Ficamos olhando.
Era um quati que se pensava cachorro. Às vezes, com seus gestos de cachorro, retinha o passo para cheirar as coisas, o
que retesava a correia e retinha um pouco o dono, na usual sincronização de homem e cachorro. Fiquei olhando esse quati que
não sabe quem é. Imagino: se o homem o leva para brincar na praça, tem uma hora que o quati se constrange todo: “mas, santo
Deus, por que é que os cachorros me olham tanto?”. Imagino também que, depois de um perfeito dia de cachorro, o quati se
diga melancólico, olhando as estrelas; “que tenho afinal? Que me falta? Sou tão feliz como qualquer cachorro, por que então
este vazio, esta nostalgia? Que ânsia é esta, como se eu só amasse o que não conheço?”. E o homem, o único a poder livrá-lo
da pergunta, esse homem nunca lhe dirá para não perdê-lo para sempre.
Penso também na iminência de ódio que há no quati. Ele sente amor e gratidão pelo homem. Mas por dentro não há como
a verdade deixar de existir: e o quati só não percebe que o odeia porque está vitalmente confuso.
Mas se ao quati fosse de súbito revelado o mistério de sua verdadeira natureza? Tremo ao pensar no fatal acaso que
fizesse esse quati inesperadamente defrontar-se com outro quati, e nele reconhecer-se, ao pensar nesse instante em que ele
ia sentir o mais feliz pudor que nos é dado: eu... nós... Bem sei, ele teria direito, quando soubesse, de massacrar o homem com
o ódio pelo que de pior um ser pode fazer a outro ser – adulterar-lhe a essência a fim de usá-lo. Eu sou pelo bicho, tomo o
partido das vítimas do amor ruim. Mas imploro ao quati que perdoe o homem, e que o perdoe com muito amor. Antes de
abandoná-lo, é claro.
(LISPECTOR, Clarice. Elenco de cronistas modernos – 25ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2013.)
Considerando o contexto em que as palavras foram utilizadas e sua construção de sentido, assinale a alternativa que contém
o significado INCOERENTE para as palavras destacadas nas transcrições textuais.
Ano: 2024
Banca:
Instituto Consulplan
Órgão:
Prefeitura de Governador Valadares - MG
Prova:
Instituto Consulplan - 2024 - Prefeitura de Governador Valadares - MG - Agente Comunitário de Saúde |
Q2509581
Português
Texto associado
Um amor conquistado
Encontrei Ivan Lessa na fila de lotação do bairro e estávamos conversando, quando Ivan se espantou e me disse: olhe que
coisa esquisita. Olhei para trás e vi, da esquina para a gente, um homem vindo com seu tranquilo cachorro puxado pela correia.
Só que não era cachorro. A atitude toda era de cachorro, e a do homem era a de um homem com o seu cão. Este é que não era.
Tinha focinho acompridado de quem pode beber em copo fundo, rabo longo e duro – poderia, é verdade, ser apenas uma
variação individual da raça. Ivan levantou a hipótese de quati, mas achei o bicho muito cachorro demais para ser quati, ou seria
o quati mais resignado e enganado que jamais vi.
Enquanto isso, o homem calmamente vindo. Calmamente, não; havia uma tensão nele, era uma calma de quem aceitou
luta: seu ar era de um natural desafiador. Não se tratava de um pitoresco; era por coragem que andava em público com o seu
bicho. Ivan sugeriu a hipótese de outro animal de que na hora não se lembrou o nome. Mas nada me convencia. Só depois
entendi que minha atrapalhação não era propriamente minha, vinha de que aquele bicho já não sabia mais quem ele era, e não
podia, portanto, me transmitir uma imagem nítida.
Até que o homem passou perto. Sem um sorriso, costas duras, altivamente se expondo – não, nunca foi fácil passar diante
da fila humana. Fingia prescindir de admiração ou piedade; mas cada um de nós reconhece o martírio de quem está protegendo
um sonho.
– Que bicho é esse? Perguntei-lhe, e intuitivamente meu tom foi suave para não feri-lo com uma curiosidade. Perguntei
que bicho era aquele, mas na pergunta o tom talvez incluísse: “por que é que você faz isso? Que carência é essa que faz você
inventar um cachorro? E por que não um cachorro mesmo, então? Pois se os cachorros existem! Ou você não teve outro modo
de possuir a graça desse bicho senão com uma coleira? Mas você esmaga uma rosa se apertá-la com força!”. Sei que o tom é
uma unidade indivisível por palavras, sei que estou esmagando uma rosa, mas estilhaçar o silêncio em palavras é um dos meus
modos desajeitados de amar o silêncio, e é assim que muitas vezes tenho matado o que compreendo. (Se bem que, glória a
Deus, sei mais silêncio que palavras.)
O homem, sem parar, respondeu curto, embora sem aspereza. E era quati mesmo. Ficamos olhando. Nem Ivan nem eu
sorrimos, ninguém na fila riu – esse era o tom, essa era a intuição. Ficamos olhando.
Era um quati que se pensava cachorro. Às vezes, com seus gestos de cachorro, retinha o passo para cheirar as coisas, o
que retesava a correia e retinha um pouco o dono, na usual sincronização de homem e cachorro. Fiquei olhando esse quati que
não sabe quem é. Imagino: se o homem o leva para brincar na praça, tem uma hora que o quati se constrange todo: “mas, santo
Deus, por que é que os cachorros me olham tanto?”. Imagino também que, depois de um perfeito dia de cachorro, o quati se
diga melancólico, olhando as estrelas; “que tenho afinal? Que me falta? Sou tão feliz como qualquer cachorro, por que então
este vazio, esta nostalgia? Que ânsia é esta, como se eu só amasse o que não conheço?”. E o homem, o único a poder livrá-lo
da pergunta, esse homem nunca lhe dirá para não perdê-lo para sempre.
Penso também na iminência de ódio que há no quati. Ele sente amor e gratidão pelo homem. Mas por dentro não há como
a verdade deixar de existir: e o quati só não percebe que o odeia porque está vitalmente confuso.
Mas se ao quati fosse de súbito revelado o mistério de sua verdadeira natureza? Tremo ao pensar no fatal acaso que
fizesse esse quati inesperadamente defrontar-se com outro quati, e nele reconhecer-se, ao pensar nesse instante em que ele
ia sentir o mais feliz pudor que nos é dado: eu... nós... Bem sei, ele teria direito, quando soubesse, de massacrar o homem com
o ódio pelo que de pior um ser pode fazer a outro ser – adulterar-lhe a essência a fim de usá-lo. Eu sou pelo bicho, tomo o
partido das vítimas do amor ruim. Mas imploro ao quati que perdoe o homem, e que o perdoe com muito amor. Antes de
abandoná-lo, é claro.
(LISPECTOR, Clarice. Elenco de cronistas modernos – 25ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2013.)
As palavras sublinhadas nas frases das alternativas a seguir possuem o mesmo valor semântico, EXCETO:
Ano: 2024
Banca:
Instituto Consulplan
Órgão:
Prefeitura de Governador Valadares - MG
Prova:
Instituto Consulplan - 2024 - Prefeitura de Governador Valadares - MG - Agente Comunitário de Saúde |
Q2509582
Português
Texto associado
Um amor conquistado
Encontrei Ivan Lessa na fila de lotação do bairro e estávamos conversando, quando Ivan se espantou e me disse: olhe que
coisa esquisita. Olhei para trás e vi, da esquina para a gente, um homem vindo com seu tranquilo cachorro puxado pela correia.
Só que não era cachorro. A atitude toda era de cachorro, e a do homem era a de um homem com o seu cão. Este é que não era.
Tinha focinho acompridado de quem pode beber em copo fundo, rabo longo e duro – poderia, é verdade, ser apenas uma
variação individual da raça. Ivan levantou a hipótese de quati, mas achei o bicho muito cachorro demais para ser quati, ou seria
o quati mais resignado e enganado que jamais vi.
Enquanto isso, o homem calmamente vindo. Calmamente, não; havia uma tensão nele, era uma calma de quem aceitou
luta: seu ar era de um natural desafiador. Não se tratava de um pitoresco; era por coragem que andava em público com o seu
bicho. Ivan sugeriu a hipótese de outro animal de que na hora não se lembrou o nome. Mas nada me convencia. Só depois
entendi que minha atrapalhação não era propriamente minha, vinha de que aquele bicho já não sabia mais quem ele era, e não
podia, portanto, me transmitir uma imagem nítida.
Até que o homem passou perto. Sem um sorriso, costas duras, altivamente se expondo – não, nunca foi fácil passar diante
da fila humana. Fingia prescindir de admiração ou piedade; mas cada um de nós reconhece o martírio de quem está protegendo
um sonho.
– Que bicho é esse? Perguntei-lhe, e intuitivamente meu tom foi suave para não feri-lo com uma curiosidade. Perguntei
que bicho era aquele, mas na pergunta o tom talvez incluísse: “por que é que você faz isso? Que carência é essa que faz você
inventar um cachorro? E por que não um cachorro mesmo, então? Pois se os cachorros existem! Ou você não teve outro modo
de possuir a graça desse bicho senão com uma coleira? Mas você esmaga uma rosa se apertá-la com força!”. Sei que o tom é
uma unidade indivisível por palavras, sei que estou esmagando uma rosa, mas estilhaçar o silêncio em palavras é um dos meus
modos desajeitados de amar o silêncio, e é assim que muitas vezes tenho matado o que compreendo. (Se bem que, glória a
Deus, sei mais silêncio que palavras.)
O homem, sem parar, respondeu curto, embora sem aspereza. E era quati mesmo. Ficamos olhando. Nem Ivan nem eu
sorrimos, ninguém na fila riu – esse era o tom, essa era a intuição. Ficamos olhando.
Era um quati que se pensava cachorro. Às vezes, com seus gestos de cachorro, retinha o passo para cheirar as coisas, o
que retesava a correia e retinha um pouco o dono, na usual sincronização de homem e cachorro. Fiquei olhando esse quati que
não sabe quem é. Imagino: se o homem o leva para brincar na praça, tem uma hora que o quati se constrange todo: “mas, santo
Deus, por que é que os cachorros me olham tanto?”. Imagino também que, depois de um perfeito dia de cachorro, o quati se
diga melancólico, olhando as estrelas; “que tenho afinal? Que me falta? Sou tão feliz como qualquer cachorro, por que então
este vazio, esta nostalgia? Que ânsia é esta, como se eu só amasse o que não conheço?”. E o homem, o único a poder livrá-lo
da pergunta, esse homem nunca lhe dirá para não perdê-lo para sempre.
Penso também na iminência de ódio que há no quati. Ele sente amor e gratidão pelo homem. Mas por dentro não há como
a verdade deixar de existir: e o quati só não percebe que o odeia porque está vitalmente confuso.
Mas se ao quati fosse de súbito revelado o mistério de sua verdadeira natureza? Tremo ao pensar no fatal acaso que
fizesse esse quati inesperadamente defrontar-se com outro quati, e nele reconhecer-se, ao pensar nesse instante em que ele
ia sentir o mais feliz pudor que nos é dado: eu... nós... Bem sei, ele teria direito, quando soubesse, de massacrar o homem com
o ódio pelo que de pior um ser pode fazer a outro ser – adulterar-lhe a essência a fim de usá-lo. Eu sou pelo bicho, tomo o
partido das vítimas do amor ruim. Mas imploro ao quati que perdoe o homem, e que o perdoe com muito amor. Antes de
abandoná-lo, é claro.
(LISPECTOR, Clarice. Elenco de cronistas modernos – 25ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2013.)
Em “Antes de abandoná-lo, é claro.” (8º§), o termo sublinhado se refere ao:
Ano: 2024
Banca:
Instituto Consulplan
Órgão:
Prefeitura de Governador Valadares - MG
Prova:
Instituto Consulplan - 2024 - Prefeitura de Governador Valadares - MG - Agente Comunitário de Saúde |
Q2509583
Português
Texto associado
Um amor conquistado
Encontrei Ivan Lessa na fila de lotação do bairro e estávamos conversando, quando Ivan se espantou e me disse: olhe que
coisa esquisita. Olhei para trás e vi, da esquina para a gente, um homem vindo com seu tranquilo cachorro puxado pela correia.
Só que não era cachorro. A atitude toda era de cachorro, e a do homem era a de um homem com o seu cão. Este é que não era.
Tinha focinho acompridado de quem pode beber em copo fundo, rabo longo e duro – poderia, é verdade, ser apenas uma
variação individual da raça. Ivan levantou a hipótese de quati, mas achei o bicho muito cachorro demais para ser quati, ou seria
o quati mais resignado e enganado que jamais vi.
Enquanto isso, o homem calmamente vindo. Calmamente, não; havia uma tensão nele, era uma calma de quem aceitou
luta: seu ar era de um natural desafiador. Não se tratava de um pitoresco; era por coragem que andava em público com o seu
bicho. Ivan sugeriu a hipótese de outro animal de que na hora não se lembrou o nome. Mas nada me convencia. Só depois
entendi que minha atrapalhação não era propriamente minha, vinha de que aquele bicho já não sabia mais quem ele era, e não
podia, portanto, me transmitir uma imagem nítida.
Até que o homem passou perto. Sem um sorriso, costas duras, altivamente se expondo – não, nunca foi fácil passar diante
da fila humana. Fingia prescindir de admiração ou piedade; mas cada um de nós reconhece o martírio de quem está protegendo
um sonho.
– Que bicho é esse? Perguntei-lhe, e intuitivamente meu tom foi suave para não feri-lo com uma curiosidade. Perguntei
que bicho era aquele, mas na pergunta o tom talvez incluísse: “por que é que você faz isso? Que carência é essa que faz você
inventar um cachorro? E por que não um cachorro mesmo, então? Pois se os cachorros existem! Ou você não teve outro modo
de possuir a graça desse bicho senão com uma coleira? Mas você esmaga uma rosa se apertá-la com força!”. Sei que o tom é
uma unidade indivisível por palavras, sei que estou esmagando uma rosa, mas estilhaçar o silêncio em palavras é um dos meus
modos desajeitados de amar o silêncio, e é assim que muitas vezes tenho matado o que compreendo. (Se bem que, glória a
Deus, sei mais silêncio que palavras.)
O homem, sem parar, respondeu curto, embora sem aspereza. E era quati mesmo. Ficamos olhando. Nem Ivan nem eu
sorrimos, ninguém na fila riu – esse era o tom, essa era a intuição. Ficamos olhando.
Era um quati que se pensava cachorro. Às vezes, com seus gestos de cachorro, retinha o passo para cheirar as coisas, o
que retesava a correia e retinha um pouco o dono, na usual sincronização de homem e cachorro. Fiquei olhando esse quati que
não sabe quem é. Imagino: se o homem o leva para brincar na praça, tem uma hora que o quati se constrange todo: “mas, santo
Deus, por que é que os cachorros me olham tanto?”. Imagino também que, depois de um perfeito dia de cachorro, o quati se
diga melancólico, olhando as estrelas; “que tenho afinal? Que me falta? Sou tão feliz como qualquer cachorro, por que então
este vazio, esta nostalgia? Que ânsia é esta, como se eu só amasse o que não conheço?”. E o homem, o único a poder livrá-lo
da pergunta, esse homem nunca lhe dirá para não perdê-lo para sempre.
Penso também na iminência de ódio que há no quati. Ele sente amor e gratidão pelo homem. Mas por dentro não há como
a verdade deixar de existir: e o quati só não percebe que o odeia porque está vitalmente confuso.
Mas se ao quati fosse de súbito revelado o mistério de sua verdadeira natureza? Tremo ao pensar no fatal acaso que
fizesse esse quati inesperadamente defrontar-se com outro quati, e nele reconhecer-se, ao pensar nesse instante em que ele
ia sentir o mais feliz pudor que nos é dado: eu... nós... Bem sei, ele teria direito, quando soubesse, de massacrar o homem com
o ódio pelo que de pior um ser pode fazer a outro ser – adulterar-lhe a essência a fim de usá-lo. Eu sou pelo bicho, tomo o
partido das vítimas do amor ruim. Mas imploro ao quati que perdoe o homem, e que o perdoe com muito amor. Antes de
abandoná-lo, é claro.
(LISPECTOR, Clarice. Elenco de cronistas modernos – 25ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2013.)
Tendo em vista que a orientação argumentativa pode se realizar pelo emprego de termos ou expressões metafóricas e, ainda,
correspondendo com as características previstas pelo tipo textual apresentado, assinale o único trecho transcrito em que o
emprego apontado NÃO pode ser assim evidenciado.
Ano: 2024
Banca:
Instituto Consulplan
Órgão:
Prefeitura de Governador Valadares - MG
Prova:
Instituto Consulplan - 2024 - Prefeitura de Governador Valadares - MG - Agente Comunitário de Saúde |
Q2509584
Português
Texto associado
Um amor conquistado
Encontrei Ivan Lessa na fila de lotação do bairro e estávamos conversando, quando Ivan se espantou e me disse: olhe que
coisa esquisita. Olhei para trás e vi, da esquina para a gente, um homem vindo com seu tranquilo cachorro puxado pela correia.
Só que não era cachorro. A atitude toda era de cachorro, e a do homem era a de um homem com o seu cão. Este é que não era.
Tinha focinho acompridado de quem pode beber em copo fundo, rabo longo e duro – poderia, é verdade, ser apenas uma
variação individual da raça. Ivan levantou a hipótese de quati, mas achei o bicho muito cachorro demais para ser quati, ou seria
o quati mais resignado e enganado que jamais vi.
Enquanto isso, o homem calmamente vindo. Calmamente, não; havia uma tensão nele, era uma calma de quem aceitou
luta: seu ar era de um natural desafiador. Não se tratava de um pitoresco; era por coragem que andava em público com o seu
bicho. Ivan sugeriu a hipótese de outro animal de que na hora não se lembrou o nome. Mas nada me convencia. Só depois
entendi que minha atrapalhação não era propriamente minha, vinha de que aquele bicho já não sabia mais quem ele era, e não
podia, portanto, me transmitir uma imagem nítida.
Até que o homem passou perto. Sem um sorriso, costas duras, altivamente se expondo – não, nunca foi fácil passar diante
da fila humana. Fingia prescindir de admiração ou piedade; mas cada um de nós reconhece o martírio de quem está protegendo
um sonho.
– Que bicho é esse? Perguntei-lhe, e intuitivamente meu tom foi suave para não feri-lo com uma curiosidade. Perguntei
que bicho era aquele, mas na pergunta o tom talvez incluísse: “por que é que você faz isso? Que carência é essa que faz você
inventar um cachorro? E por que não um cachorro mesmo, então? Pois se os cachorros existem! Ou você não teve outro modo
de possuir a graça desse bicho senão com uma coleira? Mas você esmaga uma rosa se apertá-la com força!”. Sei que o tom é
uma unidade indivisível por palavras, sei que estou esmagando uma rosa, mas estilhaçar o silêncio em palavras é um dos meus
modos desajeitados de amar o silêncio, e é assim que muitas vezes tenho matado o que compreendo. (Se bem que, glória a
Deus, sei mais silêncio que palavras.)
O homem, sem parar, respondeu curto, embora sem aspereza. E era quati mesmo. Ficamos olhando. Nem Ivan nem eu
sorrimos, ninguém na fila riu – esse era o tom, essa era a intuição. Ficamos olhando.
Era um quati que se pensava cachorro. Às vezes, com seus gestos de cachorro, retinha o passo para cheirar as coisas, o
que retesava a correia e retinha um pouco o dono, na usual sincronização de homem e cachorro. Fiquei olhando esse quati que
não sabe quem é. Imagino: se o homem o leva para brincar na praça, tem uma hora que o quati se constrange todo: “mas, santo
Deus, por que é que os cachorros me olham tanto?”. Imagino também que, depois de um perfeito dia de cachorro, o quati se
diga melancólico, olhando as estrelas; “que tenho afinal? Que me falta? Sou tão feliz como qualquer cachorro, por que então
este vazio, esta nostalgia? Que ânsia é esta, como se eu só amasse o que não conheço?”. E o homem, o único a poder livrá-lo
da pergunta, esse homem nunca lhe dirá para não perdê-lo para sempre.
Penso também na iminência de ódio que há no quati. Ele sente amor e gratidão pelo homem. Mas por dentro não há como
a verdade deixar de existir: e o quati só não percebe que o odeia porque está vitalmente confuso.
Mas se ao quati fosse de súbito revelado o mistério de sua verdadeira natureza? Tremo ao pensar no fatal acaso que
fizesse esse quati inesperadamente defrontar-se com outro quati, e nele reconhecer-se, ao pensar nesse instante em que ele
ia sentir o mais feliz pudor que nos é dado: eu... nós... Bem sei, ele teria direito, quando soubesse, de massacrar o homem com
o ódio pelo que de pior um ser pode fazer a outro ser – adulterar-lhe a essência a fim de usá-lo. Eu sou pelo bicho, tomo o
partido das vítimas do amor ruim. Mas imploro ao quati que perdoe o homem, e que o perdoe com muito amor. Antes de
abandoná-lo, é claro.
(LISPECTOR, Clarice. Elenco de cronistas modernos – 25ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2013.)
De acordo com as características textuais apresentadas é correto afirmar que o texto tem como objetivo principal:
Ano: 2024
Banca:
Instituto Consulplan
Órgão:
Prefeitura de Governador Valadares - MG
Prova:
Instituto Consulplan - 2024 - Prefeitura de Governador Valadares - MG - Agente Comunitário de Saúde |
Q2509585
Português
Texto associado
Um amor conquistado
Encontrei Ivan Lessa na fila de lotação do bairro e estávamos conversando, quando Ivan se espantou e me disse: olhe que
coisa esquisita. Olhei para trás e vi, da esquina para a gente, um homem vindo com seu tranquilo cachorro puxado pela correia.
Só que não era cachorro. A atitude toda era de cachorro, e a do homem era a de um homem com o seu cão. Este é que não era.
Tinha focinho acompridado de quem pode beber em copo fundo, rabo longo e duro – poderia, é verdade, ser apenas uma
variação individual da raça. Ivan levantou a hipótese de quati, mas achei o bicho muito cachorro demais para ser quati, ou seria
o quati mais resignado e enganado que jamais vi.
Enquanto isso, o homem calmamente vindo. Calmamente, não; havia uma tensão nele, era uma calma de quem aceitou
luta: seu ar era de um natural desafiador. Não se tratava de um pitoresco; era por coragem que andava em público com o seu
bicho. Ivan sugeriu a hipótese de outro animal de que na hora não se lembrou o nome. Mas nada me convencia. Só depois
entendi que minha atrapalhação não era propriamente minha, vinha de que aquele bicho já não sabia mais quem ele era, e não
podia, portanto, me transmitir uma imagem nítida.
Até que o homem passou perto. Sem um sorriso, costas duras, altivamente se expondo – não, nunca foi fácil passar diante
da fila humana. Fingia prescindir de admiração ou piedade; mas cada um de nós reconhece o martírio de quem está protegendo
um sonho.
– Que bicho é esse? Perguntei-lhe, e intuitivamente meu tom foi suave para não feri-lo com uma curiosidade. Perguntei
que bicho era aquele, mas na pergunta o tom talvez incluísse: “por que é que você faz isso? Que carência é essa que faz você
inventar um cachorro? E por que não um cachorro mesmo, então? Pois se os cachorros existem! Ou você não teve outro modo
de possuir a graça desse bicho senão com uma coleira? Mas você esmaga uma rosa se apertá-la com força!”. Sei que o tom é
uma unidade indivisível por palavras, sei que estou esmagando uma rosa, mas estilhaçar o silêncio em palavras é um dos meus
modos desajeitados de amar o silêncio, e é assim que muitas vezes tenho matado o que compreendo. (Se bem que, glória a
Deus, sei mais silêncio que palavras.)
O homem, sem parar, respondeu curto, embora sem aspereza. E era quati mesmo. Ficamos olhando. Nem Ivan nem eu
sorrimos, ninguém na fila riu – esse era o tom, essa era a intuição. Ficamos olhando.
Era um quati que se pensava cachorro. Às vezes, com seus gestos de cachorro, retinha o passo para cheirar as coisas, o
que retesava a correia e retinha um pouco o dono, na usual sincronização de homem e cachorro. Fiquei olhando esse quati que
não sabe quem é. Imagino: se o homem o leva para brincar na praça, tem uma hora que o quati se constrange todo: “mas, santo
Deus, por que é que os cachorros me olham tanto?”. Imagino também que, depois de um perfeito dia de cachorro, o quati se
diga melancólico, olhando as estrelas; “que tenho afinal? Que me falta? Sou tão feliz como qualquer cachorro, por que então
este vazio, esta nostalgia? Que ânsia é esta, como se eu só amasse o que não conheço?”. E o homem, o único a poder livrá-lo
da pergunta, esse homem nunca lhe dirá para não perdê-lo para sempre.
Penso também na iminência de ódio que há no quati. Ele sente amor e gratidão pelo homem. Mas por dentro não há como
a verdade deixar de existir: e o quati só não percebe que o odeia porque está vitalmente confuso.
Mas se ao quati fosse de súbito revelado o mistério de sua verdadeira natureza? Tremo ao pensar no fatal acaso que
fizesse esse quati inesperadamente defrontar-se com outro quati, e nele reconhecer-se, ao pensar nesse instante em que ele
ia sentir o mais feliz pudor que nos é dado: eu... nós... Bem sei, ele teria direito, quando soubesse, de massacrar o homem com
o ódio pelo que de pior um ser pode fazer a outro ser – adulterar-lhe a essência a fim de usá-lo. Eu sou pelo bicho, tomo o
partido das vítimas do amor ruim. Mas imploro ao quati que perdoe o homem, e que o perdoe com muito amor. Antes de
abandoná-lo, é claro.
(LISPECTOR, Clarice. Elenco de cronistas modernos – 25ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2013.)
Em todas as transcrições textuais, as formas verbais destacadas estão flexionadas no mesmo tempo, EXCETO em:
Ano: 2024
Banca:
Instituto Consulplan
Órgão:
Prefeitura de Governador Valadares - MG
Prova:
Instituto Consulplan - 2024 - Prefeitura de Governador Valadares - MG - Agente Comunitário de Saúde |
Q2509586
Português
Texto associado
Um amor conquistado
Encontrei Ivan Lessa na fila de lotação do bairro e estávamos conversando, quando Ivan se espantou e me disse: olhe que
coisa esquisita. Olhei para trás e vi, da esquina para a gente, um homem vindo com seu tranquilo cachorro puxado pela correia.
Só que não era cachorro. A atitude toda era de cachorro, e a do homem era a de um homem com o seu cão. Este é que não era.
Tinha focinho acompridado de quem pode beber em copo fundo, rabo longo e duro – poderia, é verdade, ser apenas uma
variação individual da raça. Ivan levantou a hipótese de quati, mas achei o bicho muito cachorro demais para ser quati, ou seria
o quati mais resignado e enganado que jamais vi.
Enquanto isso, o homem calmamente vindo. Calmamente, não; havia uma tensão nele, era uma calma de quem aceitou
luta: seu ar era de um natural desafiador. Não se tratava de um pitoresco; era por coragem que andava em público com o seu
bicho. Ivan sugeriu a hipótese de outro animal de que na hora não se lembrou o nome. Mas nada me convencia. Só depois
entendi que minha atrapalhação não era propriamente minha, vinha de que aquele bicho já não sabia mais quem ele era, e não
podia, portanto, me transmitir uma imagem nítida.
Até que o homem passou perto. Sem um sorriso, costas duras, altivamente se expondo – não, nunca foi fácil passar diante
da fila humana. Fingia prescindir de admiração ou piedade; mas cada um de nós reconhece o martírio de quem está protegendo
um sonho.
– Que bicho é esse? Perguntei-lhe, e intuitivamente meu tom foi suave para não feri-lo com uma curiosidade. Perguntei
que bicho era aquele, mas na pergunta o tom talvez incluísse: “por que é que você faz isso? Que carência é essa que faz você
inventar um cachorro? E por que não um cachorro mesmo, então? Pois se os cachorros existem! Ou você não teve outro modo
de possuir a graça desse bicho senão com uma coleira? Mas você esmaga uma rosa se apertá-la com força!”. Sei que o tom é
uma unidade indivisível por palavras, sei que estou esmagando uma rosa, mas estilhaçar o silêncio em palavras é um dos meus
modos desajeitados de amar o silêncio, e é assim que muitas vezes tenho matado o que compreendo. (Se bem que, glória a
Deus, sei mais silêncio que palavras.)
O homem, sem parar, respondeu curto, embora sem aspereza. E era quati mesmo. Ficamos olhando. Nem Ivan nem eu
sorrimos, ninguém na fila riu – esse era o tom, essa era a intuição. Ficamos olhando.
Era um quati que se pensava cachorro. Às vezes, com seus gestos de cachorro, retinha o passo para cheirar as coisas, o
que retesava a correia e retinha um pouco o dono, na usual sincronização de homem e cachorro. Fiquei olhando esse quati que
não sabe quem é. Imagino: se o homem o leva para brincar na praça, tem uma hora que o quati se constrange todo: “mas, santo
Deus, por que é que os cachorros me olham tanto?”. Imagino também que, depois de um perfeito dia de cachorro, o quati se
diga melancólico, olhando as estrelas; “que tenho afinal? Que me falta? Sou tão feliz como qualquer cachorro, por que então
este vazio, esta nostalgia? Que ânsia é esta, como se eu só amasse o que não conheço?”. E o homem, o único a poder livrá-lo
da pergunta, esse homem nunca lhe dirá para não perdê-lo para sempre.
Penso também na iminência de ódio que há no quati. Ele sente amor e gratidão pelo homem. Mas por dentro não há como
a verdade deixar de existir: e o quati só não percebe que o odeia porque está vitalmente confuso.
Mas se ao quati fosse de súbito revelado o mistério de sua verdadeira natureza? Tremo ao pensar no fatal acaso que
fizesse esse quati inesperadamente defrontar-se com outro quati, e nele reconhecer-se, ao pensar nesse instante em que ele
ia sentir o mais feliz pudor que nos é dado: eu... nós... Bem sei, ele teria direito, quando soubesse, de massacrar o homem com
o ódio pelo que de pior um ser pode fazer a outro ser – adulterar-lhe a essência a fim de usá-lo. Eu sou pelo bicho, tomo o
partido das vítimas do amor ruim. Mas imploro ao quati que perdoe o homem, e que o perdoe com muito amor. Antes de
abandoná-lo, é claro.
(LISPECTOR, Clarice. Elenco de cronistas modernos – 25ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2013.)
O uso que fazemos da língua em nossas ações de comunicação é sempre mediado por intenções: explicitar certeza, dúvida,
obrigatoriedade, sentimentos, entre outros. Esse propósito está tão presente em nosso dia a dia que se materializa na
estrutura de nossa língua. No tocante a fatos, opiniões podem ser formuladas. Assinale a alternativa que apresenta uma
opinião.
Ano: 2024
Banca:
Instituto Consulplan
Órgão:
Prefeitura de Governador Valadares - MG
Prova:
Instituto Consulplan - 2024 - Prefeitura de Governador Valadares - MG - Agente Comunitário de Saúde |
Q2509587
Português
Texto associado
Um amor conquistado
Encontrei Ivan Lessa na fila de lotação do bairro e estávamos conversando, quando Ivan se espantou e me disse: olhe que
coisa esquisita. Olhei para trás e vi, da esquina para a gente, um homem vindo com seu tranquilo cachorro puxado pela correia.
Só que não era cachorro. A atitude toda era de cachorro, e a do homem era a de um homem com o seu cão. Este é que não era.
Tinha focinho acompridado de quem pode beber em copo fundo, rabo longo e duro – poderia, é verdade, ser apenas uma
variação individual da raça. Ivan levantou a hipótese de quati, mas achei o bicho muito cachorro demais para ser quati, ou seria
o quati mais resignado e enganado que jamais vi.
Enquanto isso, o homem calmamente vindo. Calmamente, não; havia uma tensão nele, era uma calma de quem aceitou
luta: seu ar era de um natural desafiador. Não se tratava de um pitoresco; era por coragem que andava em público com o seu
bicho. Ivan sugeriu a hipótese de outro animal de que na hora não se lembrou o nome. Mas nada me convencia. Só depois
entendi que minha atrapalhação não era propriamente minha, vinha de que aquele bicho já não sabia mais quem ele era, e não
podia, portanto, me transmitir uma imagem nítida.
Até que o homem passou perto. Sem um sorriso, costas duras, altivamente se expondo – não, nunca foi fácil passar diante
da fila humana. Fingia prescindir de admiração ou piedade; mas cada um de nós reconhece o martírio de quem está protegendo
um sonho.
– Que bicho é esse? Perguntei-lhe, e intuitivamente meu tom foi suave para não feri-lo com uma curiosidade. Perguntei
que bicho era aquele, mas na pergunta o tom talvez incluísse: “por que é que você faz isso? Que carência é essa que faz você
inventar um cachorro? E por que não um cachorro mesmo, então? Pois se os cachorros existem! Ou você não teve outro modo
de possuir a graça desse bicho senão com uma coleira? Mas você esmaga uma rosa se apertá-la com força!”. Sei que o tom é
uma unidade indivisível por palavras, sei que estou esmagando uma rosa, mas estilhaçar o silêncio em palavras é um dos meus
modos desajeitados de amar o silêncio, e é assim que muitas vezes tenho matado o que compreendo. (Se bem que, glória a
Deus, sei mais silêncio que palavras.)
O homem, sem parar, respondeu curto, embora sem aspereza. E era quati mesmo. Ficamos olhando. Nem Ivan nem eu
sorrimos, ninguém na fila riu – esse era o tom, essa era a intuição. Ficamos olhando.
Era um quati que se pensava cachorro. Às vezes, com seus gestos de cachorro, retinha o passo para cheirar as coisas, o
que retesava a correia e retinha um pouco o dono, na usual sincronização de homem e cachorro. Fiquei olhando esse quati que
não sabe quem é. Imagino: se o homem o leva para brincar na praça, tem uma hora que o quati se constrange todo: “mas, santo
Deus, por que é que os cachorros me olham tanto?”. Imagino também que, depois de um perfeito dia de cachorro, o quati se
diga melancólico, olhando as estrelas; “que tenho afinal? Que me falta? Sou tão feliz como qualquer cachorro, por que então
este vazio, esta nostalgia? Que ânsia é esta, como se eu só amasse o que não conheço?”. E o homem, o único a poder livrá-lo
da pergunta, esse homem nunca lhe dirá para não perdê-lo para sempre.
Penso também na iminência de ódio que há no quati. Ele sente amor e gratidão pelo homem. Mas por dentro não há como
a verdade deixar de existir: e o quati só não percebe que o odeia porque está vitalmente confuso.
Mas se ao quati fosse de súbito revelado o mistério de sua verdadeira natureza? Tremo ao pensar no fatal acaso que
fizesse esse quati inesperadamente defrontar-se com outro quati, e nele reconhecer-se, ao pensar nesse instante em que ele
ia sentir o mais feliz pudor que nos é dado: eu... nós... Bem sei, ele teria direito, quando soubesse, de massacrar o homem com
o ódio pelo que de pior um ser pode fazer a outro ser – adulterar-lhe a essência a fim de usá-lo. Eu sou pelo bicho, tomo o
partido das vítimas do amor ruim. Mas imploro ao quati que perdoe o homem, e que o perdoe com muito amor. Antes de
abandoná-lo, é claro.
(LISPECTOR, Clarice. Elenco de cronistas modernos – 25ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2013.)
A significação das palavras não é fixa nem estática. Por meio da imaginação criadora do homem, as palavras podem ter seu
significado ampliado, deixando de representar apenas a ideia original (básica e objetiva). O sentido figurado amplia, expande
ou transforma os significados das palavras e das frases. Dos fragmentos a seguir, apenas um apresenta linguagem
predominantemente figurada; assinale-o.
Ano: 2024
Banca:
Instituto Consulplan
Órgão:
Prefeitura de Governador Valadares - MG
Prova:
Instituto Consulplan - 2024 - Prefeitura de Governador Valadares - MG - Agente Comunitário de Saúde |
Q2509588
Português
Texto associado
Um amor conquistado
Encontrei Ivan Lessa na fila de lotação do bairro e estávamos conversando, quando Ivan se espantou e me disse: olhe que
coisa esquisita. Olhei para trás e vi, da esquina para a gente, um homem vindo com seu tranquilo cachorro puxado pela correia.
Só que não era cachorro. A atitude toda era de cachorro, e a do homem era a de um homem com o seu cão. Este é que não era.
Tinha focinho acompridado de quem pode beber em copo fundo, rabo longo e duro – poderia, é verdade, ser apenas uma
variação individual da raça. Ivan levantou a hipótese de quati, mas achei o bicho muito cachorro demais para ser quati, ou seria
o quati mais resignado e enganado que jamais vi.
Enquanto isso, o homem calmamente vindo. Calmamente, não; havia uma tensão nele, era uma calma de quem aceitou
luta: seu ar era de um natural desafiador. Não se tratava de um pitoresco; era por coragem que andava em público com o seu
bicho. Ivan sugeriu a hipótese de outro animal de que na hora não se lembrou o nome. Mas nada me convencia. Só depois
entendi que minha atrapalhação não era propriamente minha, vinha de que aquele bicho já não sabia mais quem ele era, e não
podia, portanto, me transmitir uma imagem nítida.
Até que o homem passou perto. Sem um sorriso, costas duras, altivamente se expondo – não, nunca foi fácil passar diante
da fila humana. Fingia prescindir de admiração ou piedade; mas cada um de nós reconhece o martírio de quem está protegendo
um sonho.
– Que bicho é esse? Perguntei-lhe, e intuitivamente meu tom foi suave para não feri-lo com uma curiosidade. Perguntei
que bicho era aquele, mas na pergunta o tom talvez incluísse: “por que é que você faz isso? Que carência é essa que faz você
inventar um cachorro? E por que não um cachorro mesmo, então? Pois se os cachorros existem! Ou você não teve outro modo
de possuir a graça desse bicho senão com uma coleira? Mas você esmaga uma rosa se apertá-la com força!”. Sei que o tom é
uma unidade indivisível por palavras, sei que estou esmagando uma rosa, mas estilhaçar o silêncio em palavras é um dos meus
modos desajeitados de amar o silêncio, e é assim que muitas vezes tenho matado o que compreendo. (Se bem que, glória a
Deus, sei mais silêncio que palavras.)
O homem, sem parar, respondeu curto, embora sem aspereza. E era quati mesmo. Ficamos olhando. Nem Ivan nem eu
sorrimos, ninguém na fila riu – esse era o tom, essa era a intuição. Ficamos olhando.
Era um quati que se pensava cachorro. Às vezes, com seus gestos de cachorro, retinha o passo para cheirar as coisas, o
que retesava a correia e retinha um pouco o dono, na usual sincronização de homem e cachorro. Fiquei olhando esse quati que
não sabe quem é. Imagino: se o homem o leva para brincar na praça, tem uma hora que o quati se constrange todo: “mas, santo
Deus, por que é que os cachorros me olham tanto?”. Imagino também que, depois de um perfeito dia de cachorro, o quati se
diga melancólico, olhando as estrelas; “que tenho afinal? Que me falta? Sou tão feliz como qualquer cachorro, por que então
este vazio, esta nostalgia? Que ânsia é esta, como se eu só amasse o que não conheço?”. E o homem, o único a poder livrá-lo
da pergunta, esse homem nunca lhe dirá para não perdê-lo para sempre.
Penso também na iminência de ódio que há no quati. Ele sente amor e gratidão pelo homem. Mas por dentro não há como
a verdade deixar de existir: e o quati só não percebe que o odeia porque está vitalmente confuso.
Mas se ao quati fosse de súbito revelado o mistério de sua verdadeira natureza? Tremo ao pensar no fatal acaso que
fizesse esse quati inesperadamente defrontar-se com outro quati, e nele reconhecer-se, ao pensar nesse instante em que ele
ia sentir o mais feliz pudor que nos é dado: eu... nós... Bem sei, ele teria direito, quando soubesse, de massacrar o homem com
o ódio pelo que de pior um ser pode fazer a outro ser – adulterar-lhe a essência a fim de usá-lo. Eu sou pelo bicho, tomo o
partido das vítimas do amor ruim. Mas imploro ao quati que perdoe o homem, e que o perdoe com muito amor. Antes de
abandoná-lo, é claro.
(LISPECTOR, Clarice. Elenco de cronistas modernos – 25ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2013.)
Para que seja possível a compreensão de um texto, é fundamental que as palavras se relacionem harmonicamente,
possibilitando a compreensão completa do texto. Essa conexão interna entre os vários enunciados do texto denomina-se
coesão, que pode se dar por meio, também, dos conectores sintáticos. Nos fragmentos a seguir, julgue se os conectores
sublinhados introduzem devidamente as ideias expressas logo a seguir e assinale a alternativa correta.
Ano: 2024
Banca:
Instituto Consulplan
Órgão:
Prefeitura de Governador Valadares - MG
Prova:
Instituto Consulplan - 2024 - Prefeitura de Governador Valadares - MG - Agente Comunitário de Saúde |
Q2509589
Português
Texto associado
Um amor conquistado
Encontrei Ivan Lessa na fila de lotação do bairro e estávamos conversando, quando Ivan se espantou e me disse: olhe que
coisa esquisita. Olhei para trás e vi, da esquina para a gente, um homem vindo com seu tranquilo cachorro puxado pela correia.
Só que não era cachorro. A atitude toda era de cachorro, e a do homem era a de um homem com o seu cão. Este é que não era.
Tinha focinho acompridado de quem pode beber em copo fundo, rabo longo e duro – poderia, é verdade, ser apenas uma
variação individual da raça. Ivan levantou a hipótese de quati, mas achei o bicho muito cachorro demais para ser quati, ou seria
o quati mais resignado e enganado que jamais vi.
Enquanto isso, o homem calmamente vindo. Calmamente, não; havia uma tensão nele, era uma calma de quem aceitou
luta: seu ar era de um natural desafiador. Não se tratava de um pitoresco; era por coragem que andava em público com o seu
bicho. Ivan sugeriu a hipótese de outro animal de que na hora não se lembrou o nome. Mas nada me convencia. Só depois
entendi que minha atrapalhação não era propriamente minha, vinha de que aquele bicho já não sabia mais quem ele era, e não
podia, portanto, me transmitir uma imagem nítida.
Até que o homem passou perto. Sem um sorriso, costas duras, altivamente se expondo – não, nunca foi fácil passar diante
da fila humana. Fingia prescindir de admiração ou piedade; mas cada um de nós reconhece o martírio de quem está protegendo
um sonho.
– Que bicho é esse? Perguntei-lhe, e intuitivamente meu tom foi suave para não feri-lo com uma curiosidade. Perguntei
que bicho era aquele, mas na pergunta o tom talvez incluísse: “por que é que você faz isso? Que carência é essa que faz você
inventar um cachorro? E por que não um cachorro mesmo, então? Pois se os cachorros existem! Ou você não teve outro modo
de possuir a graça desse bicho senão com uma coleira? Mas você esmaga uma rosa se apertá-la com força!”. Sei que o tom é
uma unidade indivisível por palavras, sei que estou esmagando uma rosa, mas estilhaçar o silêncio em palavras é um dos meus
modos desajeitados de amar o silêncio, e é assim que muitas vezes tenho matado o que compreendo. (Se bem que, glória a
Deus, sei mais silêncio que palavras.)
O homem, sem parar, respondeu curto, embora sem aspereza. E era quati mesmo. Ficamos olhando. Nem Ivan nem eu
sorrimos, ninguém na fila riu – esse era o tom, essa era a intuição. Ficamos olhando.
Era um quati que se pensava cachorro. Às vezes, com seus gestos de cachorro, retinha o passo para cheirar as coisas, o
que retesava a correia e retinha um pouco o dono, na usual sincronização de homem e cachorro. Fiquei olhando esse quati que
não sabe quem é. Imagino: se o homem o leva para brincar na praça, tem uma hora que o quati se constrange todo: “mas, santo
Deus, por que é que os cachorros me olham tanto?”. Imagino também que, depois de um perfeito dia de cachorro, o quati se
diga melancólico, olhando as estrelas; “que tenho afinal? Que me falta? Sou tão feliz como qualquer cachorro, por que então
este vazio, esta nostalgia? Que ânsia é esta, como se eu só amasse o que não conheço?”. E o homem, o único a poder livrá-lo
da pergunta, esse homem nunca lhe dirá para não perdê-lo para sempre.
Penso também na iminência de ódio que há no quati. Ele sente amor e gratidão pelo homem. Mas por dentro não há como
a verdade deixar de existir: e o quati só não percebe que o odeia porque está vitalmente confuso.
Mas se ao quati fosse de súbito revelado o mistério de sua verdadeira natureza? Tremo ao pensar no fatal acaso que
fizesse esse quati inesperadamente defrontar-se com outro quati, e nele reconhecer-se, ao pensar nesse instante em que ele
ia sentir o mais feliz pudor que nos é dado: eu... nós... Bem sei, ele teria direito, quando soubesse, de massacrar o homem com
o ódio pelo que de pior um ser pode fazer a outro ser – adulterar-lhe a essência a fim de usá-lo. Eu sou pelo bicho, tomo o
partido das vítimas do amor ruim. Mas imploro ao quati que perdoe o homem, e que o perdoe com muito amor. Antes de
abandoná-lo, é claro.
(LISPECTOR, Clarice. Elenco de cronistas modernos – 25ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2013.)
Os adjetivos são uma classe de palavra determinante dos substantivos. A função precípua dos adjetivos é a caracterização
dos seres, por meio de elemento qualificador. NÃO se trata de adjetivo a expressão destacada em:
Ano: 2024
Banca:
Instituto Consulplan
Órgão:
Prefeitura de Governador Valadares - MG
Prova:
Instituto Consulplan - 2024 - Prefeitura de Governador Valadares - MG - Agente Comunitário de Saúde |
Q2509590
Português
Texto associado
Um amor conquistado
Encontrei Ivan Lessa na fila de lotação do bairro e estávamos conversando, quando Ivan se espantou e me disse: olhe que
coisa esquisita. Olhei para trás e vi, da esquina para a gente, um homem vindo com seu tranquilo cachorro puxado pela correia.
Só que não era cachorro. A atitude toda era de cachorro, e a do homem era a de um homem com o seu cão. Este é que não era.
Tinha focinho acompridado de quem pode beber em copo fundo, rabo longo e duro – poderia, é verdade, ser apenas uma
variação individual da raça. Ivan levantou a hipótese de quati, mas achei o bicho muito cachorro demais para ser quati, ou seria
o quati mais resignado e enganado que jamais vi.
Enquanto isso, o homem calmamente vindo. Calmamente, não; havia uma tensão nele, era uma calma de quem aceitou
luta: seu ar era de um natural desafiador. Não se tratava de um pitoresco; era por coragem que andava em público com o seu
bicho. Ivan sugeriu a hipótese de outro animal de que na hora não se lembrou o nome. Mas nada me convencia. Só depois
entendi que minha atrapalhação não era propriamente minha, vinha de que aquele bicho já não sabia mais quem ele era, e não
podia, portanto, me transmitir uma imagem nítida.
Até que o homem passou perto. Sem um sorriso, costas duras, altivamente se expondo – não, nunca foi fácil passar diante
da fila humana. Fingia prescindir de admiração ou piedade; mas cada um de nós reconhece o martírio de quem está protegendo
um sonho.
– Que bicho é esse? Perguntei-lhe, e intuitivamente meu tom foi suave para não feri-lo com uma curiosidade. Perguntei
que bicho era aquele, mas na pergunta o tom talvez incluísse: “por que é que você faz isso? Que carência é essa que faz você
inventar um cachorro? E por que não um cachorro mesmo, então? Pois se os cachorros existem! Ou você não teve outro modo
de possuir a graça desse bicho senão com uma coleira? Mas você esmaga uma rosa se apertá-la com força!”. Sei que o tom é
uma unidade indivisível por palavras, sei que estou esmagando uma rosa, mas estilhaçar o silêncio em palavras é um dos meus
modos desajeitados de amar o silêncio, e é assim que muitas vezes tenho matado o que compreendo. (Se bem que, glória a
Deus, sei mais silêncio que palavras.)
O homem, sem parar, respondeu curto, embora sem aspereza. E era quati mesmo. Ficamos olhando. Nem Ivan nem eu
sorrimos, ninguém na fila riu – esse era o tom, essa era a intuição. Ficamos olhando.
Era um quati que se pensava cachorro. Às vezes, com seus gestos de cachorro, retinha o passo para cheirar as coisas, o
que retesava a correia e retinha um pouco o dono, na usual sincronização de homem e cachorro. Fiquei olhando esse quati que
não sabe quem é. Imagino: se o homem o leva para brincar na praça, tem uma hora que o quati se constrange todo: “mas, santo
Deus, por que é que os cachorros me olham tanto?”. Imagino também que, depois de um perfeito dia de cachorro, o quati se
diga melancólico, olhando as estrelas; “que tenho afinal? Que me falta? Sou tão feliz como qualquer cachorro, por que então
este vazio, esta nostalgia? Que ânsia é esta, como se eu só amasse o que não conheço?”. E o homem, o único a poder livrá-lo
da pergunta, esse homem nunca lhe dirá para não perdê-lo para sempre.
Penso também na iminência de ódio que há no quati. Ele sente amor e gratidão pelo homem. Mas por dentro não há como
a verdade deixar de existir: e o quati só não percebe que o odeia porque está vitalmente confuso.
Mas se ao quati fosse de súbito revelado o mistério de sua verdadeira natureza? Tremo ao pensar no fatal acaso que
fizesse esse quati inesperadamente defrontar-se com outro quati, e nele reconhecer-se, ao pensar nesse instante em que ele
ia sentir o mais feliz pudor que nos é dado: eu... nós... Bem sei, ele teria direito, quando soubesse, de massacrar o homem com
o ódio pelo que de pior um ser pode fazer a outro ser – adulterar-lhe a essência a fim de usá-lo. Eu sou pelo bicho, tomo o
partido das vítimas do amor ruim. Mas imploro ao quati que perdoe o homem, e que o perdoe com muito amor. Antes de
abandoná-lo, é claro.
(LISPECTOR, Clarice. Elenco de cronistas modernos – 25ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2013.)
No 4º§ do texto é explícito o uso de parênteses em “(Se bem que, glória a Deus, sei mais silêncio que palavras.)” que têm
como propósito:
Ano: 2024
Banca:
Instituto Consulplan
Órgão:
Prefeitura de Governador Valadares - MG
Prova:
Instituto Consulplan - 2024 - Prefeitura de Governador Valadares - MG - Agente Comunitário de Saúde |
Q2509591
Português
Texto associado
Um amor conquistado
Encontrei Ivan Lessa na fila de lotação do bairro e estávamos conversando, quando Ivan se espantou e me disse: olhe que
coisa esquisita. Olhei para trás e vi, da esquina para a gente, um homem vindo com seu tranquilo cachorro puxado pela correia.
Só que não era cachorro. A atitude toda era de cachorro, e a do homem era a de um homem com o seu cão. Este é que não era.
Tinha focinho acompridado de quem pode beber em copo fundo, rabo longo e duro – poderia, é verdade, ser apenas uma
variação individual da raça. Ivan levantou a hipótese de quati, mas achei o bicho muito cachorro demais para ser quati, ou seria
o quati mais resignado e enganado que jamais vi.
Enquanto isso, o homem calmamente vindo. Calmamente, não; havia uma tensão nele, era uma calma de quem aceitou
luta: seu ar era de um natural desafiador. Não se tratava de um pitoresco; era por coragem que andava em público com o seu
bicho. Ivan sugeriu a hipótese de outro animal de que na hora não se lembrou o nome. Mas nada me convencia. Só depois
entendi que minha atrapalhação não era propriamente minha, vinha de que aquele bicho já não sabia mais quem ele era, e não
podia, portanto, me transmitir uma imagem nítida.
Até que o homem passou perto. Sem um sorriso, costas duras, altivamente se expondo – não, nunca foi fácil passar diante
da fila humana. Fingia prescindir de admiração ou piedade; mas cada um de nós reconhece o martírio de quem está protegendo
um sonho.
– Que bicho é esse? Perguntei-lhe, e intuitivamente meu tom foi suave para não feri-lo com uma curiosidade. Perguntei
que bicho era aquele, mas na pergunta o tom talvez incluísse: “por que é que você faz isso? Que carência é essa que faz você
inventar um cachorro? E por que não um cachorro mesmo, então? Pois se os cachorros existem! Ou você não teve outro modo
de possuir a graça desse bicho senão com uma coleira? Mas você esmaga uma rosa se apertá-la com força!”. Sei que o tom é
uma unidade indivisível por palavras, sei que estou esmagando uma rosa, mas estilhaçar o silêncio em palavras é um dos meus
modos desajeitados de amar o silêncio, e é assim que muitas vezes tenho matado o que compreendo. (Se bem que, glória a
Deus, sei mais silêncio que palavras.)
O homem, sem parar, respondeu curto, embora sem aspereza. E era quati mesmo. Ficamos olhando. Nem Ivan nem eu
sorrimos, ninguém na fila riu – esse era o tom, essa era a intuição. Ficamos olhando.
Era um quati que se pensava cachorro. Às vezes, com seus gestos de cachorro, retinha o passo para cheirar as coisas, o
que retesava a correia e retinha um pouco o dono, na usual sincronização de homem e cachorro. Fiquei olhando esse quati que
não sabe quem é. Imagino: se o homem o leva para brincar na praça, tem uma hora que o quati se constrange todo: “mas, santo
Deus, por que é que os cachorros me olham tanto?”. Imagino também que, depois de um perfeito dia de cachorro, o quati se
diga melancólico, olhando as estrelas; “que tenho afinal? Que me falta? Sou tão feliz como qualquer cachorro, por que então
este vazio, esta nostalgia? Que ânsia é esta, como se eu só amasse o que não conheço?”. E o homem, o único a poder livrá-lo
da pergunta, esse homem nunca lhe dirá para não perdê-lo para sempre.
Penso também na iminência de ódio que há no quati. Ele sente amor e gratidão pelo homem. Mas por dentro não há como
a verdade deixar de existir: e o quati só não percebe que o odeia porque está vitalmente confuso.
Mas se ao quati fosse de súbito revelado o mistério de sua verdadeira natureza? Tremo ao pensar no fatal acaso que
fizesse esse quati inesperadamente defrontar-se com outro quati, e nele reconhecer-se, ao pensar nesse instante em que ele
ia sentir o mais feliz pudor que nos é dado: eu... nós... Bem sei, ele teria direito, quando soubesse, de massacrar o homem com
o ódio pelo que de pior um ser pode fazer a outro ser – adulterar-lhe a essência a fim de usá-lo. Eu sou pelo bicho, tomo o
partido das vítimas do amor ruim. Mas imploro ao quati que perdoe o homem, e que o perdoe com muito amor. Antes de
abandoná-lo, é claro.
(LISPECTOR, Clarice. Elenco de cronistas modernos – 25ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2013.)
No excerto “Ivan sugeriu a hipótese de outro animal de que na hora não se lembrou o nome.” (2º§), a palavra “hipótese” é
acentuada pela mesma razão que a seguinte expressão em destaque:
Ano: 2024
Banca:
Instituto Consulplan
Órgão:
Prefeitura de Governador Valadares - MG
Prova:
Instituto Consulplan - 2024 - Prefeitura de Governador Valadares - MG - Agente Comunitário de Saúde |
Q2509592
Português
Texto associado
Um amor conquistado
Encontrei Ivan Lessa na fila de lotação do bairro e estávamos conversando, quando Ivan se espantou e me disse: olhe que
coisa esquisita. Olhei para trás e vi, da esquina para a gente, um homem vindo com seu tranquilo cachorro puxado pela correia.
Só que não era cachorro. A atitude toda era de cachorro, e a do homem era a de um homem com o seu cão. Este é que não era.
Tinha focinho acompridado de quem pode beber em copo fundo, rabo longo e duro – poderia, é verdade, ser apenas uma
variação individual da raça. Ivan levantou a hipótese de quati, mas achei o bicho muito cachorro demais para ser quati, ou seria
o quati mais resignado e enganado que jamais vi.
Enquanto isso, o homem calmamente vindo. Calmamente, não; havia uma tensão nele, era uma calma de quem aceitou
luta: seu ar era de um natural desafiador. Não se tratava de um pitoresco; era por coragem que andava em público com o seu
bicho. Ivan sugeriu a hipótese de outro animal de que na hora não se lembrou o nome. Mas nada me convencia. Só depois
entendi que minha atrapalhação não era propriamente minha, vinha de que aquele bicho já não sabia mais quem ele era, e não
podia, portanto, me transmitir uma imagem nítida.
Até que o homem passou perto. Sem um sorriso, costas duras, altivamente se expondo – não, nunca foi fácil passar diante
da fila humana. Fingia prescindir de admiração ou piedade; mas cada um de nós reconhece o martírio de quem está protegendo
um sonho.
– Que bicho é esse? Perguntei-lhe, e intuitivamente meu tom foi suave para não feri-lo com uma curiosidade. Perguntei
que bicho era aquele, mas na pergunta o tom talvez incluísse: “por que é que você faz isso? Que carência é essa que faz você
inventar um cachorro? E por que não um cachorro mesmo, então? Pois se os cachorros existem! Ou você não teve outro modo
de possuir a graça desse bicho senão com uma coleira? Mas você esmaga uma rosa se apertá-la com força!”. Sei que o tom é
uma unidade indivisível por palavras, sei que estou esmagando uma rosa, mas estilhaçar o silêncio em palavras é um dos meus
modos desajeitados de amar o silêncio, e é assim que muitas vezes tenho matado o que compreendo. (Se bem que, glória a
Deus, sei mais silêncio que palavras.)
O homem, sem parar, respondeu curto, embora sem aspereza. E era quati mesmo. Ficamos olhando. Nem Ivan nem eu
sorrimos, ninguém na fila riu – esse era o tom, essa era a intuição. Ficamos olhando.
Era um quati que se pensava cachorro. Às vezes, com seus gestos de cachorro, retinha o passo para cheirar as coisas, o
que retesava a correia e retinha um pouco o dono, na usual sincronização de homem e cachorro. Fiquei olhando esse quati que
não sabe quem é. Imagino: se o homem o leva para brincar na praça, tem uma hora que o quati se constrange todo: “mas, santo
Deus, por que é que os cachorros me olham tanto?”. Imagino também que, depois de um perfeito dia de cachorro, o quati se
diga melancólico, olhando as estrelas; “que tenho afinal? Que me falta? Sou tão feliz como qualquer cachorro, por que então
este vazio, esta nostalgia? Que ânsia é esta, como se eu só amasse o que não conheço?”. E o homem, o único a poder livrá-lo
da pergunta, esse homem nunca lhe dirá para não perdê-lo para sempre.
Penso também na iminência de ódio que há no quati. Ele sente amor e gratidão pelo homem. Mas por dentro não há como
a verdade deixar de existir: e o quati só não percebe que o odeia porque está vitalmente confuso.
Mas se ao quati fosse de súbito revelado o mistério de sua verdadeira natureza? Tremo ao pensar no fatal acaso que
fizesse esse quati inesperadamente defrontar-se com outro quati, e nele reconhecer-se, ao pensar nesse instante em que ele
ia sentir o mais feliz pudor que nos é dado: eu... nós... Bem sei, ele teria direito, quando soubesse, de massacrar o homem com
o ódio pelo que de pior um ser pode fazer a outro ser – adulterar-lhe a essência a fim de usá-lo. Eu sou pelo bicho, tomo o
partido das vítimas do amor ruim. Mas imploro ao quati que perdoe o homem, e que o perdoe com muito amor. Antes de
abandoná-lo, é claro.
(LISPECTOR, Clarice. Elenco de cronistas modernos – 25ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2013.)
No fragmento “Ele sente amor e gratidão pelo homem.” (7º§), assinale a alternativa correta quanto ao número de sílabas.
Ano: 2024
Banca:
Instituto Consulplan
Órgão:
Prefeitura de Governador Valadares - MG
Prova:
Instituto Consulplan - 2024 - Prefeitura de Governador Valadares - MG - Agente Comunitário de Saúde |
Q2509593
Saúde Pública
A Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) é resultado da experiência acumulada por um conjunto de atores envolvidos
historicamente com o desenvolvimento e a consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS), como movimentos sociais, população, trabalhadores e gestores das três esferas de governo. Diante do exposto, marque V para as afirmativas verdadeiras e
F para as falsas.
( ) A Portaria nº 2.436, normatização vigente no SUS, define a organização em Redes de Atenção à Saúde (RAS) como estratégia para um cuidado integral e direcionado às necessidades de saúde da população, destaca a Atenção Básica como primeiro ponto de atenção e porta de entrada preferencial do sistema, que deve ordenar os fluxos e contrafluxos de pessoas, produtos e informações em todos os pontos de atenção à saúde.
( ) A Atenção Básica é caracterizada como porta de entrada preferencial do SUS; possui um espaço privilegiado de gestão do cuidado das pessoas e cumpre papel estratégico na rede de atenção, servindo como base para o seu ordenamento e para a efetivação da integralidade.
( ) Em áreas de grande dispersão territorial, áreas de risco e vulnerabilidade social, recomenda-se a cobertura de 100% da população com número máximo de 950 pessoas por Agentes Comunitários de Saúde (ACS).
A sequência está correta em
( ) A Portaria nº 2.436, normatização vigente no SUS, define a organização em Redes de Atenção à Saúde (RAS) como estratégia para um cuidado integral e direcionado às necessidades de saúde da população, destaca a Atenção Básica como primeiro ponto de atenção e porta de entrada preferencial do sistema, que deve ordenar os fluxos e contrafluxos de pessoas, produtos e informações em todos os pontos de atenção à saúde.
( ) A Atenção Básica é caracterizada como porta de entrada preferencial do SUS; possui um espaço privilegiado de gestão do cuidado das pessoas e cumpre papel estratégico na rede de atenção, servindo como base para o seu ordenamento e para a efetivação da integralidade.
( ) Em áreas de grande dispersão territorial, áreas de risco e vulnerabilidade social, recomenda-se a cobertura de 100% da população com número máximo de 950 pessoas por Agentes Comunitários de Saúde (ACS).
A sequência está correta em
Ano: 2024
Banca:
Instituto Consulplan
Órgão:
Prefeitura de Governador Valadares - MG
Prova:
Instituto Consulplan - 2024 - Prefeitura de Governador Valadares - MG - Agente Comunitário de Saúde |
Q2509594
Saúde Pública
O Conselho Nacional de Saúde (CNS) é um órgão colegiado, deliberativo e permanente do SUS com a missão de fiscalizar,
acompanhar e supervisionar as políticas públicas de saúde, levando as demandas da população ao poder público. Sobre as
principais atribuições dos CNS, assinale a afirmativa correta.
Ano: 2024
Banca:
Instituto Consulplan
Órgão:
Prefeitura de Governador Valadares - MG
Prova:
Instituto Consulplan - 2024 - Prefeitura de Governador Valadares - MG - Agente Comunitário de Saúde |
Q2509595
Saúde Pública
A dinâmica do perfil epidemiológico das doenças, o avanço do conhecimento científico e algumas características da sociedade
contemporânea têm exigido não só constantes atualizações das normas e procedimentos técnicos de Vigilância Epidemiológica, como também o desenvolvimento de novas estruturas e estratégias capazes de atender aos desafios que vêm sendo
colocados. Acerca da vigilância epidemiológica, assinale a afirmativa INCORRETA.
Ano: 2024
Banca:
Instituto Consulplan
Órgão:
Prefeitura de Governador Valadares - MG
Prova:
Instituto Consulplan - 2024 - Prefeitura de Governador Valadares - MG - Agente Comunitário de Saúde |
Q2509596
Saúde Pública
“De acordo com os princípios e diretrizes do SUS, ____________ significa garantir que todos tenham acesso igualitário aos
serviços de saúde, priorizando as necessidades daqueles que mais precisam, sem discriminação ou favorecimento injusto.
Isso implica em distribuir recursos de forma justa e proporcionar atenção integral e universal, considerando as diferenças
individuais e coletivas da população brasileira.” Assinale a alternativa que completa corretamente a afirmativa anterior.
Ano: 2024
Banca:
Instituto Consulplan
Órgão:
Prefeitura de Governador Valadares - MG
Prova:
Instituto Consulplan - 2024 - Prefeitura de Governador Valadares - MG - Agente Comunitário de Saúde |
Q2509597
Saúde Pública
As atribuições dos profissionais das equipes que atuam na Atenção Básica deverão seguir normativas específicas do
Ministério da Saúde, bem como as definições de escopo de práticas, protocolos, diretrizes clínicas e terapêuticas, além de
outras normativas técnicas estabelecidas pelos gestores federal, estadual, municipal ou do Distrito Federal. São consideradas
atribuições comuns a todos os membros das equipes que atuam na Atenção Básica, EXCETO: