Grilos
O Grilo Falante saíra pelo mundo e assim chegara a China,
país onde encontrara outros grilos submetidos a uma triste
“sina”: eram obrigados a lutar entre si para diversão de uns
poucos espectadores. No meio deles o Grilo Falante se
destacava, sobretudo, porque falava duas línguas: a dos
humanos e a dos grilos. O que considerava uma dádiva do
destino. Era uma oportunidade para que assumisse o papel de
defensor dos oprimidos. Assim como Espártaco liderara uma
revolta de gladiadores, ele lideraria os grilos não falantes numa
rebelião. Empolgado, fazia discurso atrás de discurso: “Nós
grilos, somos vítimas dos humanos!” Proclamava. “Eles fazem
com que a gente se mate, e para quê? Para que tenham diversão,
uma diversão cruel, doentia ... uni-vos, grilos! Nada tendes a
perder, a não ser a vossa condição de escravos!”
No começo os grilos ficaram perplexos, sem saber o que
fazer, mas aos poucos foram se entusiasmando com a pregação
e acabaram autorizando o Grilo Falante a negociar com os
humanos condições de vida mais justas. O Grilo Falante disse
aos proprietários dos grilos que nada tinha a ver com política. O
que ele queria era proteção para seus companheiros por cujas
vidas lutava. E listou suas condições: as lutas, daí em diante,
deveriam ser apenas simuladas, de brincadeira. A caixa em que
lutavam seria confortável, com ar-condicionado. Os grilos teriam
direito a ração dupla de alimento etc.
Na falta de alternativa, os donos dos grilos aceitaram as
condições. Mas estão atrás do Pinóquio. Pagarão a ele qualquer
quantia para que leve o Grilo Falante embora da China.
Reflexão: Os mais espertos se sobressaem sempre sobre
os demais.
(Texto de Moacyr Scliar adaptado por Ivan Melo. Adaptado)