Nas últimas décadas, as grandes empresas
distribuíram as etapas de produção de inúmeras
manufaturas entre várias regiões do planeta, para aumentar
a eficiência (via especialização) e minimizar custos
(sobretudo salariais). Essa globalização produtiva
transformou o leste da Ásia (em especial, a China) em
“fábrica do mundo”.
A China, inicialmente, se especializou na produção de
bens pouco sofisticados, mas, rapidamente, avançou em
termos de tecnologia e começou a conquistar espaço em
segmentos mais nobres. Isso reforçou _____ ambições de
influência geopolítica do país e passou _____ incomodar
tanto seus competidores globais como os governos de países
desenvolvidos (em particular, os EUA), empenhados em
manter sua dianteira em segmentos de alta tecnologia
(especialmente com aplicação militar).
Assim, ao longo da década de 2010, a simbiose entre
as economias da China e dos EUA foi sendo corroída por
focos de rivalidade. E, em 2018, eclodiu, entre os dois países,
uma guerra de aumentos de tarifas bilaterais de importação,
dando início a uma “politização” do comércio global e a
movimentos de recuo (parcial e concentrado nos segmentos
mais sofisticados) da globalização da produção industrial.
O impulso a uma “desglobalização” foi reforçado pela
pandemia. Cresceu a percepção de que depender de
insumos importados (em particular, os da China) pode
embutir riscos importantes, como a interrupção do
fornecimento devido a cuidados sanitários ou _____
priorização de outros clientes. As empresas das economias
desenvolvidas de segmentos industriais mais estratégicos
começaram a relocalizar a produção para seu território
nacional ou para regiões geográfica e politicamente mais
próximas.
É evidente que o Brasil, devido à sua base industrial e
à sua posição geopolítica, tem potencial para atrair parte
dos investimentos requeridos por esse rearranjo das cadeias
globais de suprimentos, mas haverá uma disputa acirrada
com outros países. Para termos mais chances, teremos de
corrigir múltiplos fatores que, há décadas, inibem o
investimento industrial no país: das deficiências de
infraestrutura (como logística de transportes e portuária) a
questões regulatórias; da volatilidade do câmbio à
instabilidade da demanda interna e latino-americana; da
passividade tecnológica à estreiteza das fontes de
financiamento.
(Fonte: Revista CNT - adaptado.)