Leia o trecho da entrevista da professora Magda Soares à Pesquisa
Fapesp para responder a questão abaixo.
O sociólogo Pierre Bourdieu foi meu grande guru. Ele
mostrou como a linguagem é usada como instrumento de
poder na sociedade. Portanto, é importante dar às pessoas
esse instrumento. As camadas populares têm que lutar muito
contra a discriminação e a injustiça, e a linguagem é um instrumento
fundamental. Alfabetização e letramento têm esse
objetivo: dar às pessoas o domínio da língua como instrumento
de inserção na sociedade e de luta por direitos fundamentais.
Em relação à língua escrita, a criança tem que
aprender duas coisas. Uma é o sistema de representação,
que é o sistema alfabético. Esse é um processo que trabalha
determinadas operações cognitivas e tem que levar em conta
as características do sistema alfabético, é saber decodificar o
que está escrito, ou codificar o que deseja escrever. Mas isso
deve ser feito em contexto de letramento, com textos reais,
não com o clássico exemplo “Eva viu a uva”. Que Eva? Que
uva? Tradicionalmente a alfabetização se resumia a codificar
e decodificar, porque o foco era a criança aprender apenas
o código. Mas a questão é que a criança precisa aprender o
código sabendo para o que ele serve.
A escrita é uma tecnologia como outras. É importante
aprender a escrever, conhecer a relação fonema-letra, saber
que se escreve de cima para baixo, da esquerda para a direita,
aprender as convenções da escrita. Mas essa tecnologia,
como toda tecnologia, só tem sentido para ser usada: para
saber interpretar textos, fazer inferências, ler diferentes gêneros, o que significa outra coisa e exige outras habilidades e
competências. Aprender o sistema de escrita é alfabetização.
Aprender os usos sociais do sistema de escrita é letramento.
(http://revistapesquisa.fapesp.br. Adaptado)