Leia o texto para responder a questão:
Como as democracias adoecem
Para saber como as democracias morrem há legistas mais
capazes na autópsia. Mas, para diagnosticar como adoecem,
melhor observar o mal-estar dos fatos polêmicos à luz da
ousadia pessoal dos influentes que os cometem e da letargia
cívica com que os influenciados reagem a eles. Lesões oportunistas são obra de ideologias diversas que enfraquecem
uma nação e comprometem sua saúde democrática.
Neste artigo, olho um período cheio de egolatrias em que
ficamos à mercê da marca do outro. Assim como a gula, apetite sem limite de quem se sente situado no topo da cadeia
alimentar, a voracidade é mecanismo próprio do mau instinto
de quem não tem predador natural.
Se todos têm suas próprias razões no que fazem e estão
tão mergulhados de interesse nelas, não se trata de liberdade de pensamento e é difícil imaginar reflexão de boa-fé.
Existem ficções e existem fatos concretos. Embora pouco
praticada entre nós, a psico-história da política costuma ser
mais hábil para entender os venenos sutis que alimentam a
ambição dos que são notícia.
Anda, evidente, muito mal conduzida nossa democracia.
Mas isso não significa que tenha morrido. Lembra mais a lenda brasileira de que ninguém presta e não vai dar em nada.
Lenda que impulsiona o caráter arbitrário do tipo que manda
ver. Um costume primitivo, institucional, cuja dimensão ainda
não compreendemos inteiramente. É onde estacionou a curva da civilização brasileira e dali jamais passou. Ali onde o
mundo em que são cometidos crimes e as aberrações legais
ameaça ficar parecido com o mundo onde deveria ser possível corrigir suas consequências.
(Paulo Delgado, “Como as democracias adoecem”.
https://opiniao.estadao.com.br. 12.02.2020. Adaptado)