O segmento isolado por travessões, no 2° parágrafo, denota
A liberdade enriquece
A liberdade surge no oceano da economia, de onde se espraia para todos os lugares. Isso é o que imaginava Ludwig von Mises,
o arquiteto mais destacado da escola austríaca de economistas
neoclássicos. Ele estava errado: a liberdade nasceu no continente da
política, mais propriamente como liberdade de expressão - o direito de
imprimir sem licença. O parto deu-se pelas mãos do poeta e polemista
John Milton, em 1644, no epicentro da Guerra Civil Inglesa entre o
Parlamento e a Monarquia. Naquele ano, Milton publicou a Aeropagitica,
fonte do mais clássico dos argumentos racionais contra a censura: os
seres humanos são dotados de razão e, portanto, da capacidade de
distinguir as boas ideias das más. Ludwig von Mises
não errou em tudo; acertou no principal. Liberdade não é um artigo de
luxo, um bem etéreo, desconectado da economia. A Grã-Bretanha acabou
seguindo o caminho preconizado por Milton e se converteu na maior
potência do mundo. Os Estados Unidos, com sua Primeira Emenda à
Constituição - que proíbe a edição de leis que limitem a liberdade de
religião, a liberdade de expressão e de imprensa ou o direito de reunião
pacífica -, assumiram o primeiro posto no século XX. Liberdade
funciona, pois a criatividade é filha da crítica.
(Trecho adaptado de Demétrio Magnoli. Veja, 22 de setembro de 2010, pp. 80-81)