Agendas de telefones precisam ser refeitas de anos em
anos, de acordo com o número de pessoas que entram e
saem de nossa vida. De repente não cabe mais ninguém.
Nomes que um dia foram anotados porque tinham a ver com
algo terrivelmente importante passam para a categoria do
“quem era mesmo?”. Tornam-se nomes sem rosto, tragados
pela nossa desmemória.
Mas o pior é o doloroso processo de suprimir os que já se
foram. É incrível quantos amigos ou conhecidos têm o hábito
de nos deixar a cada dez ou 15 anos. As agendas são um
registro macabro dessa fatalidade.
De algum tempo para cá, outro tipo de supressão ficou
obrigatório: o dos telefones fixos. Se a agenda anterior contém o número do telefone fixo e do celular de cada pessoa, e
você tenta ligar para um e para outro a fim de certificar-se de
que continuam valendo, ficará espantado com quantos fixos,
de repente, não existem mais. É terrível constatar que até os
seus companheiros de geração reduziram-se ao celular.
Para completar, as próprias agendas de papel estão sob
ataque. Mesmo entre os coroas, quase ninguém mais as usa
– os números de telefones são anotados diretamente no celular. Mas o que acontece quando têm o celular roubado ou o
esquecem em algum lugar, e já jogaram fora o velho caderno
ensebado?
Talvez as agendas do futuro sejam gravadas diretamente
no cérebro – no mísero cérebro humano, arcaico, analógico,
que ainda é o nosso.
(Ruy Castro. Folha de S.Paulo. 29.11.2019. Adaptado)
Assinale a alternativa em que, com a inserção das vírgulas, a frase “Nomes que um dia foram anotados porque
tinham a ver com algo terrivelmente importante...” atende
à norma padrão de pontuação.