Infere-se do texto 1A1-II que o autor escreve, de modo metaf...
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Ano: 2019
Banca:
CESPE / CEBRASPE
Órgão:
TJ-PR
Prova:
CESPE / CEBRASPE - 2019 - TJ-PR - Técnico Judiciário |
Q2001200
Português
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Texto 1A1-II
Não se sabe ainda se o mundo acabou realmente no sábado, como fora anunciado. Pode ser que sim, e não seria a primeira vez que isso acontece. A falta de sinais estrondosos e visíveis não é prova bastante da continuação. Muitas vezes o mundo acaba em silêncio, ou fazendo um barulho leve de folha. Tempos depois é que se percebe, mas já então vivemos em outro mundo, com sua estrutura e seus regulamentos próprios.
Pessoas que aí estão vivas assistiram à morte do mundo em agosto de 1914, mas estavam lendo jornal e não compreenderam no momento. Era apenas mais uma guerra na Europa, mas acabou com a belle époque, a respeitabilidade vitoriana, a supremacia da libra, os suspensórios, os conceitos econômicos, políticos e éticos do século XIX — mundo que parecia eterno. Pedaços dele andam por aí, vagando, como o
colonialismo, a opressão de grupos financeiros, a servidão civil da mulher, mas pertencem a um contexto liquidado, rabo de lagartixa vibrando depois que o corpo foi abatido.
É possível que a previsão dos astrólogos indianos não tivesse base, e que o mundo atual dure muitos anos. Acredito mesmo que é cedo para ele morrer, se apenas está nascendo, e nem se sabe ao certo como é ou será.
Aos sete anos de idade, imaginei que iria presenciar a morte do mundo, ou antes, que morreria com ele. Um cometa mal-humorado visitava o espaço. Mas o cometa de Halley airosamente deslizou sobre nossas cabeças sem dar confiança de exterminar-nos.
Carlos Drummond de Andrade. Fim do mundo. In: A bolsa e a vida.
São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 64-5.
Infere-se do texto 1A1-II que o autor escreve, de modo metafórico, sobre a ideia de fim de mundos a partir de