Não é possível alterar a voz da forma verbal da frase:
A nova tribo dos micreiros* cresceu tanto que talvez já não
seja apenas mais uma tribo, mas uma nação, embora a
linguagem fechada e o fanatismo com que se dedicam ao seu
objeto de culto sejam quase de uma seita. São adoradores que
têm com o computador uma relação semelhante à do homem
primitivo com o totem e o fogo. Passam horas sentados, com o
olhar fixo num espaço luminoso de algumas polegadas,
trocando não só o dia pela noite, como o mundo pela realidade
virtual.
Sua linguagem lembra a dos funkeiros** em quantidade de
importações vocabulares adulteradas, porém é mais ágil e rica,
talvez a mais rápida das tribos urbanas modernas. Dança quem
não souber o que é BBS, modem, interface, configuração,
acessar e assim por diante. Alguns termos são neologismos e,
outros, recriações semânticas de velhos significados, como
janela, sistema, ícone, maximizar.
No começo da informatização das redações de jornal,
houve um divertido mal-entendido quando uma jovem repórter
disse pela primeira vez: "Eu abortei!". Ela acabava de rejeitar
não um filho, mas uma matéria. Hoje, ninguém mais associa
essa palavra ao ato pecaminoso. Aborta-se tão impune e
freqüentemente quanto se acessa.
Nada mais tem forma e sim "formatação". Foi-se o tempo
em que "fazer um programa" era uma aventura amorosa. O
"vírus" que apavora os micreiros não é o HIV, mas uma
intromissão indevida no "sistema", outra palavra cujo sentido
atual nada tem a ver com os significados anteriores. A geração
de 68 lutou para derrubar o sistema; hoje o sistema cai a toda
hora.
Alguns velhos homens de letras olham com preconceito
essa tribo, como se ela fosse composta apenas de jovens, e
ainda por cima iletrados. É um engano, porque há entre os
micreiros respeitáveis senhoras e brilhantes intelectuais. Falar
mal do computador é tão inútil e reacionário quanto foi quebrar
máquinas no começo da primeira Revolução Industrial. Ele veio
para ficar, como se diz, e seu sucesso é avassalador. Basta ver
o entusiasmo das adesões.
(Zuenir Ventura, Crônicas de um fim de século)
* micreiros = usuários de microcomputador.
** funkeiros = criadores ou entusiastas da música funk.
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Comentários
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Questão complicada, aliás, a prova de Português do TRT/MG, foi um trem de doido mesmo!
a) constitui o quê? é possível
b) não é possível, mas pq? houve o quê? Será pq o verbo haver está no sentido de existir, por isso ,é impessoal e assim, uma oração sem sujeito?
c)olham o quê? é possível
d) abortado o quê? é possível
e) não entendi, que pergunta faço aqui? são o quê? Será que não é possível pois já se encontra na voz passiva?
Será que alguém poderia comentar essa questão? Qual é o racicínio para se chegar à resposta correta? Eu marquei a letra E.
Espero ter dado uma direção . Abrçs
A questão "e)" está na voz passiva com verbo fazer (VTD). Logo, é possível passá-lo para a voz ativa, ou seja, alterar a voz do verbo.
Como não tem agente da passiva, creio que ficaria assim, indeterminando o sujeito:
A partir de termos ou expressões já antigos, fazem recriações semânticas.
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a) A quantidade dos micreiros já constitui, de fato, uma nação, mais do que uma simples tribo.
Uma nação já é constituída pela quantidade dos micreiros.
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c) Alguns velhos homens de letras olham com preconceito essa tribo.
Essa tribo é olhada com preconceito por alguns velhos homens de letras
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d) A jovem repórter citada no texto tinha abortado uma matéria, e não um filho.
Uma matéria, e não um filho, tinha sido abortada pela jovem repórter citada no texto
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e) Recriações semânticas são feitas a partir de termos ou expressões já antigos
Fazem Recriações semânticas a partir de termos ou expressões já antigos
Voz Passiva - Sujeito Paciente
Não há de se falar em voz passiva com o verbo haver no sentido de existir pois ele é impessoal, não possui sujeito.
Só podem mudar de voz os verbos VTD ou VTDI. O objeto direto da Voz Ativa, vira sujeito paciente da Voz Passiva.
Verbos intrasitivos ou transitivos indiretos não aceitam a voz passiva porque não possuem objeto direito.
O verbo haver, apesar de transitivo direto, jamais aceita ser apassivado!
Os exemplos em que se vê esse verbo na voz passiva indicam frases nas quais “haver” é mero auxiliar. Como verbo principal, haver não aceita passiva:
Haverá novos conflitos no sul do Líbano ( não há transposição passiva )
Estão havendo reuniões secretas no Palácio ( não há transposição passiva )
Houve um acidente na BR ( não há transposição passiva )
Deverá haver uma mudança no Código Penal ( não há transposição passiva )
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