Há plena correção, coesão e inteira coerência na construção ...
[Formas de ler]
Antigamente eu apanhava e largava um livro sem me preocupar com outra coisa que não as parcelas de realidade e de fantasia encerradas naquele maço de folhas impressas. Mais aberto à emoção, reparava menos na técnica; atraído pela obra, pouco me interessava pelo escritor.
A leitura profissional, os estudos de literatura e algumas incursões no campo da crítica acabaram com esse leitor irresponsável. Hoje, ao pegar um livro, penso no homem que se encontra atrás das frases, em suas ambições e seus objetivos, seus materiais e ferramentas. O que antes se me apresentava como a beleza imaterial de uma flor ou de uma nuvem, soltas no tempo e no espaço, depara-se-me como o produto de um artesanato e a manifestação de uma vontade inteligente.
Por isso dificilmente leio agora um livro isolado em si mesmo. Vem-me logo a vontade de percorrer outras obras do escritor, de aferrar nelas os traços de uma personalidade diferente das outras, de chegar ao canal misterioso que une a criação ao criador. Daí também uma curiosidade biográfica, como se a vida do autor necessariamente encerrasse um segredo, uma chave para a compreensão da obra.
(RÓNAI, Paulo. Como aprendi o Português e outras aventuras. Rio de Janeiro: Edições de Janeiro, 2014, p. 137)
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Comentários
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a) Mesmo quando pouco atento a uma obra, há quem considere a importância da biografia de quem a escreveu. (adjetivo deve concordar com o substantivo)
b) Ainda quando se desconsiderem os elementos da biografia do autor, elementos técnicos persistem como importantes para uma obra. ("se" é P.A)
c) Apesar de o autor reconhecer-se ainda jovem, muitas obras caracterizavam-se por seus aspectos técnicos. (não há relação semântica nas frases)
d) As flores e as nuvens impressionam-no por sua beleza natural, conquanto ele não visse a técnica nas obras que lê. (as flores e as nuvens impressionaram ELE -> impressionaram- no)
e) Dada a importância do contexto da produção de uma obra, devem-se levar em conta aspectos da biografia de seu autor. ("se" é P.A)
Alternativa C:
Foi a que marquei. Mas acho que o erro dela não é sobre Índice de Indeterminação do Sujeito ou sobre Partícula Apassivadora. O erro está na ausência de "inteira coerência" da frase, conforme o comando da questão exige.
Isto é, há duas idéias desconexas na frase 1 - (autor reconhecer-se ainda jovem) e 2 - (muitas obras caracterizavam-se por seus aspectos técnicos): sem conexão objetiva entre elas. A seguinte pergunta pode ser feita para checar a coerência: "Apesar da idéia 1, idéia 2?". São dois sujeitos distintos que não se relacionam, especialmente mediante o uso do "apesar de".
Para a frase ter coerência, deveria haver um termo de coesão ligando "muitas obras" ao "autor", esse termo seria uma pronome de sentido possessivo ou demonstrativo. Assim: "Apesar de o autor reconhecer-se ainda jovem, muitas DE SUAS obras caracterizavam-se por seus aspectos técnicos."
Portanto, ao meu ver, o comentário da Regina Phalange (17-Set-2019), na verdade, corrobora esse posicionamento de que há ausência de coesão. Pois ela usa a expressão "das suas" para estabelecer ligação entre "muitas obras" e "autor" em seu argumento/justificativa.
Ademais, o verbo "caracterizar-se" tem regência que exige complemento iniciado pela preposição "por" e tem "muitas obras" como sujeito, devendo, portanto, estar no plural: "muitas obras caracterizavam-se por...".
Alternativa A:
A alternativa A também está errada pela falta de coesão. Veja: "quem A escreveu o que? A biografia ou A obra?".
Alternativa D:
Mesmo problema da alternativa A. Duas idéias totalmente desconexas (ausência de coerência), tentando parecer ter sentido juntas pelo uso do "conquanto".
Alternativa B:
Ver comentário do Hugo Concurseiro (15-Set-2019).
Não vi erro na C. Não concordo com o comentário do Superman, pois acredito que há sim coerência.
Apesar de o autor reconhecer-se ainda jovem, muitas obras caracterizavam-se por seus aspectos técnicos = o fato do autor se achar jovem não inviabilizou os aspectos técnicos das suas obras
Hugo Concurseiro, não vejo razão para o verbo caracterizar ficar no singular. Tá certo a sua construção no plural, concordando com "obras"
A C está erra porque não existe coesão entre as duas orações
Leva em consideração o Índice de Indeterminação do Sujeito (3° pessoa do singular)
e o Pronome Apassivador (que concordo com o sujeito)
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