Nas considerações de Sandel, o dinheiro
SÃO PAULO - Escritórios da avenida Faria Lima, em São Paulo, estão contratando flanelinhas para estacionar os carros de seus profissionais nas ruas das imediações. O custo mensal fica bem abaixo do de um estacionamento regular. Imaginando que os guardadores não violem nenhuma lei nem regra de trânsito, utilizar seus serviços seria o equivalente de pagar alguém para ficar na fila em seu lugar. Isso é ético?
Como não resisto aos apelos do utilitarismo, não vejo grandes problemas nesse tipo de acerto. Ele não prejudica ninguém e deixa pelo menos duas pessoas mais felizes (quem evitou a espera e o sujeito que recebeu para ficar parado). Mas é claro que nem todo o mundo pensa assim.
Michael Sandel, em “O que o Dinheiro Não Compra”, levanta bons argumentos contra a prática. Para o professor de Harvard, dublês de fila, ao forçar que o critério de distribuição de vagas deixe de ser a ordem de chegada para tornar-se monetário, acabam corrompendo as instituições.
Diferentes bens são repartidos segundo diferentes regras. Num leilão, o que vale é o maior lance, mas no cinema prepondera a fila. Universidades tendem a oferecer vagas com base no mérito, já prontos-socorros ordenam tudo pela gravidade. O problema com o dinheiro é que ele é eficiente demais. Sempre que entra por alguma fresta, logo se sobrepõe a critérios alternativos e o resultado final é uma sociedade na qual as diferenças entre ricos e pobres se tornam cada vez mais acentuadas.
Não discordo do diagnóstico, mas vejo dificuldades. Para começar, os argumentos de Sandel também recomendam a proibição da prostituição e da barriga de aluguel, por exemplo, que me parecem atividades legítimas. Mais importante, para opor-se à destruição de valores ocasionada pela monetização, em muitos casos é preciso eleger um padrão universal a ser preservado, o que exige a criação de uma espécie de moral oficial - e isso é para lá de problemático.
(Hélio Schwartsman, A ética da fila. Folha de S.Paulo, 28.04.2013)
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Gab.: (D)
Resposta entre as linhas 12 à 14.
Comentário.
A questão baseia-se nos seguintes trechos do texto.
“Para o professor de Harvard, dublês de fila, ao forçar que o critério de distribuição de vagas deixe de ser a ordem de chegada para tornar-se monetário, acabam corrompendo as instituições”
“ O problema com o dinheiro é que ele é eficiente demais. Sempre que entra por alguma fresta, logo se sobrepõe a critérios alternativos e o resultado final é uma sociedade na qual as diferenças entre ricos e pobres se tornam cada vez mais acentuadas.”
Através dos grifos percebe-se que Sandel (professor de Harvard) considera que o dinheiro acaba corrompendo as instituições e acarretará em uma acentuação nas diferenças sociais entre ricos e pobres.
a) cria caminhos alternativos para ações eficientes, minimizando as diferenças sociais e resguardando as instituições. (Errado, pois o dinheiro irá aumentar as diferenças sociais e corromper as instituições)
b) anda por diversos caminhos para ser eficiente, rechaçando as diferenças sociais e preservando as instituições. (Errado, pois o dinheiro irá aumentar as diferenças sociais e corromper as instituições, rechaçar significar diminuir, recuar, opor )
c) está na base dos caminhos eficientes, visando combater as diferenças sociais e a corrupção das instituições. (Errado, segundo o autor o dinheiro é eficiente, porém irá aumentar as diferenças sociais e a corromper as instituições)
d) é eficiente e abre caminhos, mas reforça as desigualdades sociais e corrompe as instituições. (Correto).
e) percorre vários caminhos sem ser eficiente, pois deixa de lado as desigualdades sociais e a corrupção das instituições. (Errado, segundo o autor o dinheiro é eficiente, porém irá aumentar as diferenças sociais e a corromper as instituições)
Gabarito: “D”
Assertiva D
é eficiente e abre caminhos, mas reforça as desigualdades sociais e corrompe as instituições.
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