Com a frase – O escritor me invade, passo a pensar de dent...
Começo distraidamente a ler um livro. Contribuo com alguns pensamentos, julgo entender o que está escrito porque conheço a língua e as coisas indicadas pelas palavras, assim como sei identificar as experiências ali relatadas. Escritor e leitor possuem o mesmo repertório disponível de palavras, coisas, fatos, experiências, depositados pela cultura instituída e sedimentados no mundo de ambos.
De repente, porém, algumas palavras me “pegam”. Insensivelmente, o escritor as desviou de seu sentido comum e costumeiro e elas me arrastam, como num turbilhão, para um sentido novo, que alcanço apenas graças a elas. O escritor me invade, passo a pensar de dentro dele e não apenas com ele, ele se pensa em mim ao falar em mim com palavras cujo sentido ele fez mudar. O livro que eu parecia soberanamente dominar apossa-se de mim, interpela-me, arrasta-me para o que eu não sabia, para o novo. O escritor não convida quem o lê a reencontrar o que já sabia, mas toca nas significações existentes para torná-las destoantes, estranhas, e para conquistar, por virtude dessa estranheza, uma nova harmonia que se aposse do leitor.
Ler, escreve Merleau-Ponty, é fazer a experiência da “retomada do pensamento de outrem através de sua palavra”, é uma reflexão em outrem, que enriquece nossos próprios pensamentos. Por isso, prossegue Merleau-Ponty, “começo a compreender uma filosofia deslizando para dentro dela, na maneira de existir de seu pensamento”, isto é, em seu discurso.
(Marilena Chauí, Prefácio. Em: Jairo Marçal, Antologia de Textos Filosóficos. Adaptado)
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Letra C
_______
Significado de Suplantar
v.t.d. Sobrepor os pés com força; pisar.
Transpor obstáculos; superar, exceder.
Cair aos pés de; vencer, abater ou prostrar: o lutador suplantou o adversário.
Ocasionar a saída de; obter um emprego, uma vaga e/ou uma posição com a saída da pessoa que anteriormente os ocupava: suplantou o colega no concurso do vestibular.
Coagir demonstrando certa superioridade; dominar através de uma vitória; humilhar, derrotar, vencer.
Acredito que esta interpretação, se não está incorreta, ao menos não é precisa. O gabarito diz: "sua reflexão está integrada ao pensamento do escritor." Ora, desta maneira, no momento em que ocorre o processo descrito no referido parágrafo, deveria haver um encontro dialógico, de igual para igual, no qual o pensamento do leitor se encontra com o do autor. Entretanto, o texto nos indica algo diferente: "O escritor me invade, PASSO A PENSAR DE DENTRO DELE, E NÃO APENAS COM ELE, ELE SE PENSA EM MIM ao FALAR EM MIM com palavras cujo sentido ele fez mudar. O livro que eu parecia soberanamente dominar APOSSA-SE, INTERPELA-ME, ARRASTA-ME para o que eu não sabia, para o novo." As expressões destacadas revelam que, no decurso do processo intelectual descrito pela autora, há um enfraquecimento do leitor, um arrebatamento, uma anulação, uma submissão total à perspectiva do autor. Isto fica claro, sobretudo no momento em que a autora diz pensar "NÃO APENAS COM ELE" (integração), mas "DE DENTRO DELE" (entrega absoluta, anulação do próprio pensar). Se no final do processo dialético descrito ocorre a tal integração das reflexões, tal integração não ocorre no momento dialético descrito no referido parágrafo.
Quero ser John Malcovich. kkk
Assertiva C
sua reflexão está integrada ao pensamento do escritor.
Errei, porém, analisando, acredito que a explicação esteja no último parágrafo.
" Ler, escreve Merleau-Ponty, é fazer a experiência da “retomada do pensamento de outrem através de sua palavra”, é uma reflexão em outrem, que enriquece nossos próprios pensamentos. Por isso, prossegue Merleau-Ponty, “começo a compreender uma filosofia deslizando para dentro dela, na maneira de existir de seu pensamento”, isto é, em seu discurso."
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