Antonio Candido, na obra “Literatura e Sociedade” (2014), ab...
Antonio Candido, na obra “Literatura e Sociedade” (2014), aborda vários níveis da correlação entre literatura e sociedade, sendo este o tema que percorre os ensaios que compõem o livro e que dão unidade a esta obra. Ele analisa o vínculo entre obra e ambiente, sem perder a dimensão estética do literário. Em suas palavras, “O externo (no caso, o social) importa, não como causa, nem como significado, mas como elemento que desempenha um certo papel na constituição da estrutura, tornando-se, portanto, interno” (CANDIDO, p. 14). Considerando a obra como um organismo, o autor ainda aponta: “Hoje sentimos que, ao contrário do que pode parecer à primeira vista, é justamente esta concepção da obra como organismo que permite, no seu estudo, levar em conta e variar o jogo de fatores que a condicionam e motivam; pois quando é interpretado como elemento da estrutura, cada fator se torna componente essencial do caso em foco […]” (CANDIDO, p. 25).
O último ensaio da obra “Literatura e Sociedade” (2014) é voltado à estrutura literária e função histórica, no qual o autor opera, na prática, as diretrizes teórico-metodológicas apresentadas nos ensaios anteriores. Com base neste último ensaio, analise as assertivas:
I. Candido, ao analisar a estrutura da obra Caramuru, de José de Santa Rita Durão, identifica a colonização, a natureza e o índio como os princípios estruturais que ordenam as partes, os motivos e os episódios e que todos os três são perpassados pela ambiguidade, cuja análise permite perceber que o princípio organizador do poema, que liga as partes e dissolve as contradições, é a religião e, devido a ele, os princípios estruturais se vinculam uns aos outros sutilmente. Tal caráter ambíguo permitiu o reaproveitamento da obra pelo Romantismo em sua faceta indianista.
II. Na formação de uma consciência literária de autonomia no Brasil, eclodida com o Romantismo, Caramuru, de José de Santa Rita Durão, que teve então seu grande momento, desempenhou uma função fundamental devido ao caráter de paradigma ressaltado pelos escritores franceses, o que foi possível, em grande parte, por causa da natureza ambígua do poema, permitindo que os precursores franceses e os primeiros românticos brasileiros operassem nele uma dupla distorção e um duplo aproveitamento, o ideológico e o estético.
III. O aproveitamento dos textos poéticos O Uraguai, de José Basílio da Gama, e Caramuru, de José de Santa Rita Durão, para a prosa em língua francesa, vertidas por François Eugène Garay de Monglave, consistiu num processo de descaracterização, conforme aponta Candido, imprimindo aos textos um “caráter intermediário”, de passagem, entre poema e romance. Essas adaptações, assim como outras operadas na França, aproximam tais obras brasileiras do momento romântico francês, e as traduções, adaptações e recepções que tiveram em território francês foram importantes para estabelecerem um aspecto específico do romantismo brasileiro, o Indianismo. A escolha da substância novelística, em lugar da épica, diz Candido, tornou O Uraguai e Caramuru mais próximos e familiares à sensibilidade romântica, voltada para ficção e lirismo e que, observando tal fato, é possível avaliar a importância do trabalho realizado pelos franceses, em uma sequência coerente e progressiva que preludiou a ficção romântica brasileira.
Assinale a alternativa em que (todas) a(s) afirmativa(s) está (ao) CORRETA(S):