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Q126623 Português

Notícias e mais notícias

      Confesso que já estou cheio de me informar sobre o mundo. Pela TV, pelo rádio, pelos incontáveis canais da Internet, pelos celulares, pelos velhos jornais e revistas não param de chegar notícias, comentários, opiniões formadas. Essas manifestações me cercam, obrigam-me a tomar conhecimento de tudo, enlaçam-me numa rede de informações infinitas, não me deixam ignorar nenhum acontecimento, do assalto no bar da esquina aos confrontos no Oriente Médio. Gostaria de descansar os olhos e os ouvidos, daria tudo para que se calassem por algum tempo essas notícias invasoras, e me
sobrasse tempo para não saber mais nada de nada...
      Minha utopia é acordar num dia sem notícias, quando os únicos acontecimentos sensíveis fossem os da natureza e os do corpo: amanhecer, clarear, ventar, escurecer – e andar, olhar, ouvir, sentar, deitar, dormir. Parece pouco, mas é mais que muito: é impossível. É impossível fruir esse estado de contemplação – melhor dizendo: de pura e permanente percepção de si e do mundo. Até porque partiria de nós mesmos a violação desse estado: em algum momento nos cansaríamos e passaríamos a cogitar coisas, a avaliar, a imaginar, e estenderíamos nossa curiosidade para tudo o que estivesse próximo ou distante. Em suma: iríamos atrás de informações. Ficaríamos ávidos por notícias do mundo.
      O ideal talvez fosse um meio termo: nem nos escravizar-mos à necessidade de notícias, nem nos abandonarmos a um confinamento doentio. Mas o homem moderno sabe cada vez menos equilibrar-se entre os extremos. Nossa época, plena de novidades, não nos deixa descansar. Cada tela apagada, cada
aparelho desligado parece espreitar-nos, provocando-nos: – Você sabe o que está perdendo?
      Desconfio que estejamos perdendo a capacidade de nos distrairmos um pouco com nós mesmos, com nossa memória, com nossos desejos, com nossas expectativas. Bem que poderíamos acreditar que há, dentro de nós, novidades a serem descobertas, notícias profundas de nós, que pedem calma e silêncio para se darem a conhecer.


(Aristides Bianco, inédito) 
No último parágrafo, o autor manifesta sua dúvida quanto à
Alternativas

Comentários

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No último parágrafo, o autor manifesta sua dúvida quanto à

  •  a) possibilidade de interiorização e autoconhecimento do homem moderno.
  • "Desconfio que estejamos perdendo a capacidade de distrairmos um pouco com nós mesmos" (interiorização)
  • "novidades a serem descobertas" (autoconhecimento)
  •  b) existência de algo que valha a pena perscrutar dentro de nós.
  •  c) capacidade de retenção de nossa memória pouco exercitada.
  •  d) importância do silêncio, de que brotam profundas revelações.
  •  e) expectativa de que venhamos a saber filtrar as notícias do mundo.
Além do comentário da colega, entendo que a expressão da alternativa "a" que é "chave" para uma boa linha de pensamento é o termo " AUTOCONHECIMENTO", pois, conhecendo-nos melhor, conseguimos vislumbrar nossos desejos e traçar metas que vão gerar expectativas.

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