Questões de Concurso Comentadas por alunos sobre morfologia em português

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Q2373057 Português

O texto a seguir contextualiza a questão. Leia-o atentamente.


“Sem a Libras, sem a língua de sinais, eu não existo”


    “Eu sou uma mulher, surda, ativista, que gosta de reivindicar e brigar pelos meus direitos.” É assim que se apresenta Sylvia Lia Grespan Neves, primeira professora surda da USP e ministrante da disciplina de graduação Educação Especial, Educação de Surdos e Libras, da Faculdade de Educação (FEUSP). 
     Quem lê essa frase pode pensar que Sylvia já nasceu forte, decidida e confiante em si. Mas nem sempre ela se viu assim. Como comenta a docente, o olhar de pessoas ouvintes lançado sobre seu corpo muitas vezes a fez se sentir insuficiente. “Meu sonho era ser escritora, mas um certo dia uma professora me disse que eu não era capaz. Ali, ela eliminou a possibilidade que eu tinha de sonhar.” A escolarização básica, aliás, foi um processo doloroso. “No internato em que estudei, a gente era proibido de sinalizar, recebíamos castigos físicos se alguém nos visse, éramos sempre obrigados a oralizar.”
    Após muitos outros julgamentos, ela decidiu ser uma professora diferente da que tivera. Foi a forma que encontrou de imaginar um futuro onde pessoas surdas ou ouvintes pudessem sonhar, mesmo que transpassados de limitações. Ela relata ainda que foi graças à Língua Brasileira de Sinais (Libras) que conseguiu recuperar sua autoestima. É assim que ela se comunica no dia a dia, inclusive na entrevista ao JC, realizada com o auxílio de uma intérprete.
    Um de seus primeiros contatos com a língua foi em uma antiga escola religiosa, o internato feminino Instituto Santa Terezinha, localizado na Zona Sul de São Paulo, que hoje não existe mais. No local, algumas freiras surdas utilizavam uma língua de sinais mais caseira – uma espécie de mímica adaptada por elas próprias –, mas sempre de maneira escondida.
    Essa sempre foi uma luta de Sylvia: a escolha e não a obrigatoriedade da oralização. “Eu não acho que seja ruim que uma pessoa surda aprenda a falar através da oralização, mas eu acho que isso não é para ser feito na escola. É um tratamento médico, um trabalho fonoaudiológico. Não é para a educação fazer isso, escola é lugar da gente aprender conteúdo curricular regular como qualquer outra escola.”
   Depois de algumas experiências em outras escolas sem intérpretes que a acompanhassem, Sylvia teve contato com uma família surda, seus vizinhos. Graças a esse convívio, ela foi capaz de se entender e se aceitar como uma pessoa surda. Um processo lento, mas que foi importante para reafirmar sua identidade.
   Tendo a Libras como sua primeira língua, a professora, que também pesquisa acessibilidade linguística, avalia o quanto nossas sociedades associam a expressão oral como símbolo da cognição humana. Para ela, a língua de sinais não é apenas a representação visual das palavras, “Libras para mim é tudo. É minha vida. Foi a partir dela que eu consegui começar a existir, a viver. Não sei se você consegue imaginar a sua vida sem a língua portuguesa. Quem é você sem a língua que você fala? Sem a língua de sinais é como se eu não existisse”.


(Por Danilo Queiroz e Sofia Lanza. Em: 15/12/2023. Adaptado.)
Considerando o emprego do acento indicador de crase em: “Ela relata ainda que foi graças à Língua Brasileira de Sinais (Libras) que conseguiu recuperar sua autoestima.” (3º§), pode-se afirmar que:
Alternativas
Q2372780 Português

Texto II

Kafka 2023


Certa manhã, Franz acordou de sonhos intraquilos.

 

    “Quando certa manhã...”. Touuuuummm (alerta de zap). “Franz, aqui é Adilene, secretária da Dra. Myrian, gostaria de confirmar sua consulta amanhã, às 10:30”. “Olá, Adilene. Está confirmado. Tem onde parar o carro?”.

   “Quando certa manhã Gregor Samsa...”. Ploim (alerta de e-mail). “Franzêra, pra dividir os gastos da festa surpresa da Felice eu fiz um Splitwise. Baixa o app e coloca lá as suas despesas. Beijos do seu brother máximo, Max Brod”. “Caro Max, não sei usar essas ferramentas. Me manda a conta e eu pago. Obrigado. PS. Vc acha que a Felice gostou?”

    “Quando certa manhã Gregor Samsa acordou...”. Brrrrrrrrr (alerta da BBC). Cientistas da Universidade Católica de Brandeburgo realizam o primeiro transplante total de cílios em roedores. A experiência é um marco na oftalmologia, pois...”.

   “Quando certa manhã Gregor Samsa acordou de sonhos intranquilos...”. Touuuuummm (alerta de zap). “Já pensou em morar numa casa com piscina a apenas 27 minutos de São Paulo? Pois a Gardência Inc. acaba de lançar o condomínio Gardênica Garden Barueri.”

    “Quando certa manhã Gregor Samsa acordou de sonhos intranquilo, encontrou-se...”. Prrrrrrrr. Prrrrrrrr. Prrrrrrrr (celular vibrando em cima da mesa). Uma voz distante: “Alô, Claudinha?”. Gritaria de crianças ao fundo. “Não tem ninguém aqui com esse nome.”. “Esse não é o celular da Claudinha?”. “Já disse, é engano”. “Ô, Lurdes! Tem um homem aqui falando que não é a Claudinha, mas foi a Claudinha mesmo que me deu esse...”.

    “Quando certa manhã Gregor Samsa acordou de sonhos intranquilos, encontrou-se em sua cama...”. Brrrrlum (alerta de DM no Twitter/X). “FALA FRANZ AQUI E O GUIGAO A GENTE ESTUDOU NO QUINTAL DAS ARTES SEU APELIDO ERA ZOREBA KKKKK!!!!!! E AI VOCE TEM VISTO O PESSOAL KKK ?????”.

  “Quando certa manhã Gregor Samsa acordou de sonhos intranquilos, encontrou-se em sua cama metamorfoseado num...” Touuuuummm (alerta de zap): “Não tem onde parar no consultório, mas nós temos convênio com o Estapar do Bradesco, só lembra de carimbar o ticket na saída”. Touuuuummm (alerta de zap) “Claro que a Felice gostou, Franzêra! Você é que foi muito lerdo, vacilão!”.

    Franz abandonou o word e abriu o Instagram. Queria ver pela milésima vez as mesmas fotos de Felice, mas os dois primeiros posts eram, respectivamente, veja só, da Adilene (num caiaque) e do Max Brod (uma lasanha), Franz logo se esqueceu do que tinha ido fazer e seguiu no feed. “Veja como secar com JEJUM INTERMITENTE!”. Depois o vídeo de um gato vestido de mágico saindo de uma cartola. Depois, uma moça de biquini se contorcendo para mostrar a bunda e o peito ao mesmo tempo, segurando um livro do Proust: “Pondo a leitura em dia!”. Depois, uma turma do escritório amontoada numa selfie no barco viking no Hopi Hari.

    Quando certa manhã Frans Kafka acordou de sonhos intranquilos, encontrou-se em sua cama metamorfoseado num poema monstruoso: “Andorinha lá fora está dizendo:”/“Passei o dia à toa, à toa! // Andorinha, andorinha, minha cantiga é mais triste!”/“Passe a vida à toa, à toa...”.


(PRATA, Antônio. Folha de S. Paulo. Em: 19/11/2023.) 


Notas:
Franz Kafka foi um escritor boêmio de língua alemã, autor de romances e contos, considerado pelos críticos como um dos escritores mais influentes do século XX. “A metamorfose” é a mais célebre novela de Franz Kafka e uma das mais importantes de toda a história da literatura. Sem a menor cerimônia, o texto coloca o leitor diante de um caixeiro-viajante – o famoso Gregor Samsa – transformado em inseto monstruoso. A partir daí, a história é narrada com um realismo inesperado que associa o inverossímil e o senso de humor ao que é trágico, grotesco e cruel na condição humana – tudo no estilo transparente e perfeito desse mestre inconfundível da ficção universal.

(Fonte: Amazon.com.br)


Considere o trecho: “ pensou em morar numa casa com piscina a apenas 27 minutos de São Paulo?” (4º§). A palavra em destaque pode ser classificada como advérbio de
Alternativas
Q2372657 Português
Leia o excerto a seguir, observando o emprego das preposições destacadas:

       “Os riscos para as finanças pessoais – e para a própria identidade das pessoas – representados pelas ameaças à segurança cibernética eram suficientemente assustadores antes de as máquinas começarem a pensar por si mesmas. Agora, com o surgimento da IA (inteligência artificial) nos fluxos de trabalho diários, parece que não há melhor momento para analisar novamente esta questão e fazer a pergunta: ‘Como podemos nos proteger melhor contra ataques de segurança cibernética?’
         O primeiro aspecto a ser considerado é o impacto da segurança cibernética nas grandes corporações, municípios e países. E a primeira pergunta é: quando você pensa sobre segurança cibernética e seu impacto sobre indivíduos e famílias, quais são as primeiras recomendações que faria para nós, pessoas comuns?” 

MAURER, Tim. 7 maneiras simples de se proteger contra ataques cibernéticos. Forbes Brasil, 22 de outubro de 2023. Disponível em: https://forbes.com.br/forbes-money/2023/10/7-maneiras-simples-de-seproteger-contra-ataques-ciberneticos/. Acesso em: 22 out. 2023. 


Dados os contextos em que foram empregadas, assinale a alternativa que apresenta, respectivamente, as ideias que as preposições assumem no excerto:  
Alternativas
Q2372512 Português
          Meu caro,

        Não pense que me esqueci das minhas obrigações, muito me aflige estar em dívida com você. Fiquei de lhe entregar os originais até o fim de 2015, e lá se vão três anos. Como deve ser do seu conhecimento, passei ultimamente por diversas atribulações: separação, mudança, seguro-fiança para o novo apartamento, despesas com advogados, prostatite aguda, o diabo. Não bastassem os perrengues pessoais, ficou difícil me dedicar a devaneios literários sem ser afetado pelos acontecimentos recentes no nosso país. Já gastei o adiantado que você generosamente me concedeu, e ainda me falta paz de espírito para alinhavar os escritos em que tenho trabalhado sem trégua. Sei que é impróprio incomodá-lo num momento em que a crise econômica parece não ter arrefecido conforme se esperava. Estou ciente das severas condições do mercado editorial, mas se o amigo puder me adiantar mais uma parcela dos meus royalties, tratarei de me isolar por uns meses nas montanhas, a fim de o regalar com um romance que haverá de lhe dar grandes alegrias.

     Um forte abraço.



(Adaptado de: BUARQUE, Chico. Essa gente. São Paulo: Companhia das Letras, 2019, edição digital)
Derivação imprópria é um processo em que uma palavra muda de classe gramatical sem mudar de forma. Assim, observa-se esse processo no seguinte trecho:
Alternativas
Q2372367 Português
O calor da sauna

Paulo Pestana


      “Já que…” – a junção do advérbio com o pronominal é quase sinônimo de problema. Serve para dar prosseguimento a algo que estamos fazendo ou querendo fazer, e aí começa uma interminável sequência de ações, complementos e adendos. Numa obra é fatal.

      E foi assim que começou a saga do nosso amigo, 15 anos atrás. Morador do bairro Sudoeste desde os primeiros dias, decidiu fazer uma reforma no apartamento. Não precisava, mas “já que…” (olha ele aí) um amigo tinha terminado uma obra, aproveitou o arquiteto.

     E “já que…” (de novo!) faria um projeto, pediu para acrescentar uma sauna na área da piscina da cobertura. Coisa simples. Os amigos estranharam. Nunca o viram numa sauna antes. Mas era um capricho, e com esses desejos repentinos não se discute; e “já que…” (mais uma vez) existia uma pequena casa de máquinas no local, seria moleza.

    Muitos “já-ques” depois, a obra foi entregue. A cozinha ficou mais ampla, o escritório mais confortável, a sala mais agradável e até o banheiro do quarto ganhou uma garibada. Satisfeito, nosso amigo curtia a casa como se fosse nova, um prazer onanista – no sentido figurado, claro, já que era exclusivo dele; nunca foi um exibido.

     E a sauna?, já pressinto a pergunta. Também ficou muito boa, caprichada, feita com material de primeira, motor último tipo. Como mimo, o arquiteto deixou uma essência de eucalipto e uma toalhinha branca. Não sei se por encanto com o resto do lar, mas ele nunca entrou na sauna, nunca apertou o botão de ligar. Até agora.

      15 anos se passaram e, enfim, ele resolveu estrear a sauna. De novo, os amigos estranharam. Eram dias escaldantes, com temperatura próxima dos quarenta graus; ou seja: a cidade inteira atrás de um refresco, de uma sombra, e ele chamou amigos para inaugurar a sauna, com direito a champanhe geladinha.

      Qualquer pessoa prevenida faria um teste antes, mas nosso amigo é um otimista. As pessoas chegaram e ele apertou o botão. Nada. Nem uma faísca. O motor, talvez cansado de esperar, não ligou. Mas como ensinou madame Clicquot Ponsardin, com champanhe não há tempo ruim. E a festa continuou.

        Com o calorão, não precisava mesmo de vapor para esquentar a sauna, e pelo menos o cheiro do eucalipto funcionou a contento.

       Dia seguinte, veio a ressaca moral, e nosso amigo chamou o eletricista que havia contratado para fazer uma revisão em todo o sistema elétrico da casa. “Já que…” (ele sempre volta!) seria feita mudança de fios e tomadas, que consertasse também a sauna, inclusive trocando o motor zero quilômetro, mas inútil, por uma máquina nova, menor e mais potente.

      O rapaz tinha muita boa vontade, mas, ao que parece, só isso. Quando foi instalar o motor no quadro de luz, encostou a chave de fenda nos dois polos, e ninguém precisa ser um unabomber para saber que isso dá em explosão. E o bum foi tão poderoso que apagou a luz de todo o bloco; muita gente saiu correndo.

         Até hoje os vizinhos olham nosso amigo de soslaio. E se alguém quiser briga é só falar em sauna com ele.

PESTANA, Paulo. O calor da sauna. Correio Braziliense, 13 de novembro de 2023. Disponível em: https://blogs.correiobraziliense.com.br/paulopestana/ocalor-da-sauna/. Acesso em: 15 nov. 2023. Adaptado.

Glossário:

- Madame Clicquot Ponsardin: empresária francesa do ramo de bebidas. Passou a fazer vinho na região de Champagne, na França, no início do século XIX, à frente de um negócio falido que havia sido fundado pelo sogro em 1772. A bebida que leva sua alcunha é um dos champanhes mais reverenciados do planeta. (Adaptado de Veja, 09/09/2022)

- unabomber: Apelido dado pela polícia federal estadunidense (FBI) ao matemático Ted Kaczynski, que matou três pessoas e feriu mais 23 durante uma onda de bombardeios em massa entre 1978 e 1995. Os alvos de seus ataques pareciam sempre ser universidades e companhias aéreas. (Adaptado de BBC Brasil, 10/06/2023)

- onanista: Aquele que pratica o onanismo = 1. Coito interrompido antes da ejaculação. 2. Masturbação masculina. ("onanismo", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2023, https://dicionario.priberam.org/onanismo.) 
Ao transformar a expressão “já que” em “já-ques” (4º parágrafo), o cronista originou um vocábulo pertencente a qual classe de palavras?
Alternativas
Respostas
791: B
792: C
793: D
794: A
795: B