A agressividade de todos nós
Todos temos, em algum grau, tendência para comportamentos agressivos. Se os números mostram o quanto são raras
as doenças que levam à agressividade extrema, os neurocientistas apresentam uma teoria estatisticamente muito mais provável para o desencadeamento da violência em pessoas aparentemente normais. Segundo o neurologista Renato Sabbatini, da
Universidade Estadual de Campinas, cerca de dois terços do
aprendizado humano derivam da interação social. “O cérebro
nada mais é que um processador de dados que, por meio de
comparações e identificações, assimila e adapta as atitudes
repetidas no meio em que vivemos”, afirma. Ou seja: uma cena
vista com muita freqüência, desde pequeno, leva a concluir que
isso é certo, independentemente de a cena ser seu pai cometendo um delito ou sua mãe cuidando de crianças carentes.
Renato explica, no entanto, que esse arcabouço de
memória é colocado em xeque cada vez que somos confrontados com uma situação nova, desconfortável ou potencialmente perigosa. “Todos nós temos a violência entre o rol de
respostas disponíveis em nosso banco de dados. Faz parte do
nosso instinto de autopreservação. Diante de uma ofensa
acionamos uma luta entre os estímulos que nos levam à
agressão e as travas que detêm esses impulsos. São travas
morais, éticas, afetivas e racionais. O importante é saber qual
estímulo é capaz de ativar esse comportamento”, diz. A
educação moral e os valores em que acreditamos podem conter
esses rompantes. A afetividade também.
A pressão do grupo social em que o indivíduo vive é outro fator importante para desempatar essa guerra interna de nervos. A necessidade de aceitação coletiva é muito mais efetiva
nas decisões individuais do que imaginamos e pode, em situações-limite, predominar sobre qualquer mecanismo cerebral. Há
essa necessidade primitiva, nos seres humanos, de serem aceitos pelos outros e se sentirem pertencentes a um grupo. Isso é
tão essencial quanto alimentar-se, matar a sede ou dormir.
(Adaptado de Tatiana Bonumá. Revista Super Interessante,
edição 184 , pp. 589. São Paulo: Abril, janeiro de 2003)