Questões de Concurso Para prefeitura de joinville - sc

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Q2367236 Português
Texto 10A1


     Acho que foi em 1995 que o então presidente de Portugal me deu uma condecoração que muito me orgulha: a da Ordem do Infante Dom Henrique. No momento em que lhe agradeci a honraria, Mário Soares me convidou a ir a Portugal. Respondi que, não gostando de viajar, nunca saíra do Brasil, mas, que, se, um dia, isso viesse a acontecer, minha preferência seria por Portugal, por ser, entre os países da Europa, “o único onde o povo tem o bom senso de falar português”.

      Pode-se imaginar, então, como fico preocupado ao ver a língua portuguesa desfigurada, como está acontecendo. Sei perfeitamente que um idioma é uma coisa viva e pulsante. Não queremos isolar o português, que, como acontece com qualquer outra língua, se enriquece com as palavras e expressões das outras. Todavia, elas devem ser adaptadas à forma e ao espírito do idioma que as acolhe. Somente assim é que deixam de ser mostrengos que nos desfiguram e se transformam em incorporações que nos enriquecem.

      Cito um caso, para exemplificar: no país onde se joga o melhor futebol do mundo, traduziram, e bem, a palavra inglesa goal por gol, mas estão escrevendo seu plural de maneira errada, gols (e não gois, como é exigido, ao mesmo tempo, pelo bom gosto, pelo espírito e pela forma da nossa língua). E isso em um setor em que, para substituir os vocábulos estrangeiros, foram adotadas palavras tão boas quanto zaga, escanteio e impedimento, entre outras.


Ariano Suassuna. Folha de S. Paulo, 5/4/2000 (com adaptações). 
No texto 10A1, a exemplificação do que o autor denomina de “língua portuguesa desfigurada” (primeiro período do segundo parágrafo) refere-se
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Q2367235 Português
— Voei ao Recife, no Cais Pousei na Rua da Aurora.
— Aurora da minha vida
Que os anos não trazem mais!
— Os anos não, nem os dias, Que isso cabe às cotovias.
Manuel Bandeira. Cotovia. In: Manuel Bandeira. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1990, p. 298.

Nas práticas de leitura em sala de aula, um texto como o fragmento poético precedente é propício para o estudo da
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Q2367234 Pedagogia

Texto 10A3-II 



A BNCC recomenda a leitura de textos multissemióticos, tirinhas, quadrinhos, entre outros, como atividade que favorece o multiletramento dos alunos. Uma tirinha, a exemplo da apresentada no texto 10A3-II, constitui gênero multimodal porque
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Q2367233 Pedagogia

Texto 10A3-II 



De acordo com a BNCC, o domínio da língua possibilita a interação entre as pessoas no contexto social em que vivem, e essa função sociointerativa pode ser concretizada por meio da leitura de textos. Nesse sentido, no texto 10A3-II, a crítica da personagem Mafalda, criada pelo cartunista argentino Quino, à escola aponta para a(s)
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Q2367232 Pedagogia
Texto 10A3-I


       Na escola, sem Bibiana ao meu lado para me ajudar, minha vida se tornou um tormento. Desde o início, minha mãe avisou à dona Lourdes, a nova professora, da minha mudez. Ela foi cuidadosa, no começo, e bastante generosa para me ensinar as tarefas. Àquela altura eu já sabia ler, graças muito mais aos esforços de minha irmã mais velha e minha mãe do que da professora sem paciência que dava aula na casa de dona Firmina. Para mim era o suficiente. Diferente de Bibiana, que falava em ser professora, eu gostava mesmo era da roça, da cozinha, de fazer azeite e de despolpar o buriti. Não me atraía a matemática, muito menos as letras de dona Lourdes. Não me interessava por suas aulas em que contava a história do Brasil, em que falava da mistura entre índios, negros e brancos, de como éramos felizes, de como nosso país era abençoado. Não aprendi uma linha do hino nacional, não me serviria, porque eu mesma não posso cantar. Muitas crianças também não aprenderam, pude perceber, estavam com a cabeça na comida ou na diversão que estavam perdendo na beira do rio, para ouvir aquelas histórias fantasiosas e enfadonhas sobre os heróis bandeirantes, depois os militares, as heranças dos portugueses e outros assuntos que não nos diziam muita coisa.

        Meu desinteresse só fazia crescer. Tinha a sensação de que perdia meu tempo naquela sala quente, ouvindo aquela senhora de mãos finas e sem calos, com um perfume forte que parecia incensar a escola nos dias de calor. Olhava para o quadro verde, as letras embaralhadas, bonitas, mas que formavam palavras e frases difíceis que não entravam em minha cabeça, e pensava em meu pai na várzea encontrando coisa nova na terra para a qual se dedicar, ou minha mãe cuidando do quintal, dos bichos, costurando.

Itamar Vieira Jr. Torto arado. São Paulo:
Todavia, 2019, p. 97-8 (com adaptações).
Considerando-se o contexto narrativo do texto 10A3-I, em que, além da narradora, outros alunos da professora Lourdes parecem não ter aprendido o hino nacional, é correto afirmar, com base no que propõe a BNCC em relação ao trabalho pedagógico com as práticas de linguagem no ensino fundamental, que, para favorecer o aprendizado dos alunos, seria recomendável que a professora empregasse estratégias como a de 
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Q2367231 Português
Texto 10A3-I


       Na escola, sem Bibiana ao meu lado para me ajudar, minha vida se tornou um tormento. Desde o início, minha mãe avisou à dona Lourdes, a nova professora, da minha mudez. Ela foi cuidadosa, no começo, e bastante generosa para me ensinar as tarefas. Àquela altura eu já sabia ler, graças muito mais aos esforços de minha irmã mais velha e minha mãe do que da professora sem paciência que dava aula na casa de dona Firmina. Para mim era o suficiente. Diferente de Bibiana, que falava em ser professora, eu gostava mesmo era da roça, da cozinha, de fazer azeite e de despolpar o buriti. Não me atraía a matemática, muito menos as letras de dona Lourdes. Não me interessava por suas aulas em que contava a história do Brasil, em que falava da mistura entre índios, negros e brancos, de como éramos felizes, de como nosso país era abençoado. Não aprendi uma linha do hino nacional, não me serviria, porque eu mesma não posso cantar. Muitas crianças também não aprenderam, pude perceber, estavam com a cabeça na comida ou na diversão que estavam perdendo na beira do rio, para ouvir aquelas histórias fantasiosas e enfadonhas sobre os heróis bandeirantes, depois os militares, as heranças dos portugueses e outros assuntos que não nos diziam muita coisa.

        Meu desinteresse só fazia crescer. Tinha a sensação de que perdia meu tempo naquela sala quente, ouvindo aquela senhora de mãos finas e sem calos, com um perfume forte que parecia incensar a escola nos dias de calor. Olhava para o quadro verde, as letras embaralhadas, bonitas, mas que formavam palavras e frases difíceis que não entravam em minha cabeça, e pensava em meu pai na várzea encontrando coisa nova na terra para a qual se dedicar, ou minha mãe cuidando do quintal, dos bichos, costurando.

Itamar Vieira Jr. Torto arado. São Paulo:
Todavia, 2019, p. 97-8 (com adaptações).
A sensação de opressão experimentada pela narradora na escola, retratada no segundo parágrafo do texto 10A3-I, é realçada pelo(a) 
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Q2367230 Português
Texto 10A3-I


       Na escola, sem Bibiana ao meu lado para me ajudar, minha vida se tornou um tormento. Desde o início, minha mãe avisou à dona Lourdes, a nova professora, da minha mudez. Ela foi cuidadosa, no começo, e bastante generosa para me ensinar as tarefas. Àquela altura eu já sabia ler, graças muito mais aos esforços de minha irmã mais velha e minha mãe do que da professora sem paciência que dava aula na casa de dona Firmina. Para mim era o suficiente. Diferente de Bibiana, que falava em ser professora, eu gostava mesmo era da roça, da cozinha, de fazer azeite e de despolpar o buriti. Não me atraía a matemática, muito menos as letras de dona Lourdes. Não me interessava por suas aulas em que contava a história do Brasil, em que falava da mistura entre índios, negros e brancos, de como éramos felizes, de como nosso país era abençoado. Não aprendi uma linha do hino nacional, não me serviria, porque eu mesma não posso cantar. Muitas crianças também não aprenderam, pude perceber, estavam com a cabeça na comida ou na diversão que estavam perdendo na beira do rio, para ouvir aquelas histórias fantasiosas e enfadonhas sobre os heróis bandeirantes, depois os militares, as heranças dos portugueses e outros assuntos que não nos diziam muita coisa.

        Meu desinteresse só fazia crescer. Tinha a sensação de que perdia meu tempo naquela sala quente, ouvindo aquela senhora de mãos finas e sem calos, com um perfume forte que parecia incensar a escola nos dias de calor. Olhava para o quadro verde, as letras embaralhadas, bonitas, mas que formavam palavras e frases difíceis que não entravam em minha cabeça, e pensava em meu pai na várzea encontrando coisa nova na terra para a qual se dedicar, ou minha mãe cuidando do quintal, dos bichos, costurando.

Itamar Vieira Jr. Torto arado. São Paulo:
Todavia, 2019, p. 97-8 (com adaptações).
Entende-se do texto 10A3-I que o desinteresse da narradora pelos estudos deveu-se, sobretudo,
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Q2367229 Português

Texto 10A2-II 




Assinale a opção em que a proposta de reescrita do período presente no texto 10A2-II é gramaticalmente correta e preserva os sentidos originais do texto.
Alternativas
Q2367228 Português

Texto 10A2-II 




No texto 10A2-II, o emprego do verbo vencer, com sentidos diferentes, é um caso de
Alternativas
Q2367227 Português
Texto 10A2-I


     Eu vi Olívia. Ela estava na última mesa, depois de algumas outras mesas ocupadas, sozinha, escrevendo. Em volta, um silêncio que as mesas barulhentas, os carros que passavam, as pessoas que corriam não podiam interromper. Ela escrevia sem fazer a menor ideia de que aquele era o meu lugar. Era onde eu me sentia melhor, era meu por obrigação de me sentir melhor. Onde eu me esquecia menos. Lembrar se tornou prioridade absoluta. Pensei: vou pedir que ela me devolva, ou que me ceda, para não ser agressiva, o lugar onde me sinto melhor. Tenho uma recomendação expressa de meu médico de me sentir melhor sempre que possível. E seria possível se ela saísse de lá e me deixasse sentar e folhear os livros do sebo, que tão bem me fazem quando me lembram de que sempre haverá outra realidade para onde me retirar. Pensei em ir até ela e pedir gentilmente que saísse, mas vi que se entregava consumida a uma escrita sem pausas.

       Eu vi Olívia. Meu Deus, como eu vi Olívia! Cabelo ruivo, olhos verdes, linda, linda, desconcertantemente linda e atenta a alguma coisa que borbulhava dentro dela. Talvez linda porque imersa em borbulhas. Não, definitivamente não apenas. Linda pelos olhos verdes, o cabelo ruivo e os dentes sem sombras. Linda pela larga atmosfera triste que emoldurava seus gestos. Vestia verde-oliva. Olívia e oliva combinavam. Ela sabia. Respirava como quem sabia. Ocorreu-me que ela seria capaz de coisas improváveis se eu interrompesse a frase que escrevia obstinada, fazendo com suas ideias o que alfinetes fazem com balões. Acho. Foi bom não ter certeza. Só avancei porque minhas certezas se evaporaram; eu não as tenho desde que envelheci. Continuei indo em sua direção, no meu passo de velha senhora. Eu já estava quase chegando, quase atravessando o silêncio de Olívia, quando ela parou e chorou. Fez com que eu parasse também, não podia pedir a alguém chorando que saísse de onde estava para que eu me sentisse melhor. Ela enxugou com o punho as lágrimas, que voltavam a escorrer desobedientes. Punhos oliva secando lágrimas transparentes, tudo enchia meus olhos ávidos de literatura. Ela relia o que havia escrito, chorava, e eu suspeitava que, por um segundo, um miserável segundo, também ria. Olívia chorava e ria. E eu fiquei ali, na fronteira entre o barulho e o silêncio, vendo aquela menina, seguramente uma menina se comparada a mim, suspender meu próprio caos como se fosse mágica.


Carla Madeira. A natureza da mordida. 1.a ed. Rio de Janeiro: Record, 2022 (com adaptações).
O uso da próclise no trecho “sempre haverá outra realidade para onde me retirar” (penúltimo período do primeiro parágrafo do texto 10A2-I) é justificado pela seguinte regra: usa-se a próclise quando o pronome oblíquo é precedido por
Alternativas
Q2367226 Português
Texto 10A2-I


     Eu vi Olívia. Ela estava na última mesa, depois de algumas outras mesas ocupadas, sozinha, escrevendo. Em volta, um silêncio que as mesas barulhentas, os carros que passavam, as pessoas que corriam não podiam interromper. Ela escrevia sem fazer a menor ideia de que aquele era o meu lugar. Era onde eu me sentia melhor, era meu por obrigação de me sentir melhor. Onde eu me esquecia menos. Lembrar se tornou prioridade absoluta. Pensei: vou pedir que ela me devolva, ou que me ceda, para não ser agressiva, o lugar onde me sinto melhor. Tenho uma recomendação expressa de meu médico de me sentir melhor sempre que possível. E seria possível se ela saísse de lá e me deixasse sentar e folhear os livros do sebo, que tão bem me fazem quando me lembram de que sempre haverá outra realidade para onde me retirar. Pensei em ir até ela e pedir gentilmente que saísse, mas vi que se entregava consumida a uma escrita sem pausas.

       Eu vi Olívia. Meu Deus, como eu vi Olívia! Cabelo ruivo, olhos verdes, linda, linda, desconcertantemente linda e atenta a alguma coisa que borbulhava dentro dela. Talvez linda porque imersa em borbulhas. Não, definitivamente não apenas. Linda pelos olhos verdes, o cabelo ruivo e os dentes sem sombras. Linda pela larga atmosfera triste que emoldurava seus gestos. Vestia verde-oliva. Olívia e oliva combinavam. Ela sabia. Respirava como quem sabia. Ocorreu-me que ela seria capaz de coisas improváveis se eu interrompesse a frase que escrevia obstinada, fazendo com suas ideias o que alfinetes fazem com balões. Acho. Foi bom não ter certeza. Só avancei porque minhas certezas se evaporaram; eu não as tenho desde que envelheci. Continuei indo em sua direção, no meu passo de velha senhora. Eu já estava quase chegando, quase atravessando o silêncio de Olívia, quando ela parou e chorou. Fez com que eu parasse também, não podia pedir a alguém chorando que saísse de onde estava para que eu me sentisse melhor. Ela enxugou com o punho as lágrimas, que voltavam a escorrer desobedientes. Punhos oliva secando lágrimas transparentes, tudo enchia meus olhos ávidos de literatura. Ela relia o que havia escrito, chorava, e eu suspeitava que, por um segundo, um miserável segundo, também ria. Olívia chorava e ria. E eu fiquei ali, na fronteira entre o barulho e o silêncio, vendo aquela menina, seguramente uma menina se comparada a mim, suspender meu próprio caos como se fosse mágica.


Carla Madeira. A natureza da mordida. 1.a ed. Rio de Janeiro: Record, 2022 (com adaptações).
No segundo parágrafo do texto 10A2-I, o pronome oblíquo “as”, no trecho “eu não as tenho”, faz referência a
Alternativas
Q2367225 Português
Texto 10A2-I


     Eu vi Olívia. Ela estava na última mesa, depois de algumas outras mesas ocupadas, sozinha, escrevendo. Em volta, um silêncio que as mesas barulhentas, os carros que passavam, as pessoas que corriam não podiam interromper. Ela escrevia sem fazer a menor ideia de que aquele era o meu lugar. Era onde eu me sentia melhor, era meu por obrigação de me sentir melhor. Onde eu me esquecia menos. Lembrar se tornou prioridade absoluta. Pensei: vou pedir que ela me devolva, ou que me ceda, para não ser agressiva, o lugar onde me sinto melhor. Tenho uma recomendação expressa de meu médico de me sentir melhor sempre que possível. E seria possível se ela saísse de lá e me deixasse sentar e folhear os livros do sebo, que tão bem me fazem quando me lembram de que sempre haverá outra realidade para onde me retirar. Pensei em ir até ela e pedir gentilmente que saísse, mas vi que se entregava consumida a uma escrita sem pausas.

       Eu vi Olívia. Meu Deus, como eu vi Olívia! Cabelo ruivo, olhos verdes, linda, linda, desconcertantemente linda e atenta a alguma coisa que borbulhava dentro dela. Talvez linda porque imersa em borbulhas. Não, definitivamente não apenas. Linda pelos olhos verdes, o cabelo ruivo e os dentes sem sombras. Linda pela larga atmosfera triste que emoldurava seus gestos. Vestia verde-oliva. Olívia e oliva combinavam. Ela sabia. Respirava como quem sabia. Ocorreu-me que ela seria capaz de coisas improváveis se eu interrompesse a frase que escrevia obstinada, fazendo com suas ideias o que alfinetes fazem com balões. Acho. Foi bom não ter certeza. Só avancei porque minhas certezas se evaporaram; eu não as tenho desde que envelheci. Continuei indo em sua direção, no meu passo de velha senhora. Eu já estava quase chegando, quase atravessando o silêncio de Olívia, quando ela parou e chorou. Fez com que eu parasse também, não podia pedir a alguém chorando que saísse de onde estava para que eu me sentisse melhor. Ela enxugou com o punho as lágrimas, que voltavam a escorrer desobedientes. Punhos oliva secando lágrimas transparentes, tudo enchia meus olhos ávidos de literatura. Ela relia o que havia escrito, chorava, e eu suspeitava que, por um segundo, um miserável segundo, também ria. Olívia chorava e ria. E eu fiquei ali, na fronteira entre o barulho e o silêncio, vendo aquela menina, seguramente uma menina se comparada a mim, suspender meu próprio caos como se fosse mágica.


Carla Madeira. A natureza da mordida. 1.a ed. Rio de Janeiro: Record, 2022 (com adaptações).
As palavras “Olívia” e “oliva”, no trecho “Olívia e oliva combinavam” (segundo parágrafo do texto 10A2-I), representam um exemplo de 
Alternativas
Q2367224 Português
Texto 10A2-I


     Eu vi Olívia. Ela estava na última mesa, depois de algumas outras mesas ocupadas, sozinha, escrevendo. Em volta, um silêncio que as mesas barulhentas, os carros que passavam, as pessoas que corriam não podiam interromper. Ela escrevia sem fazer a menor ideia de que aquele era o meu lugar. Era onde eu me sentia melhor, era meu por obrigação de me sentir melhor. Onde eu me esquecia menos. Lembrar se tornou prioridade absoluta. Pensei: vou pedir que ela me devolva, ou que me ceda, para não ser agressiva, o lugar onde me sinto melhor. Tenho uma recomendação expressa de meu médico de me sentir melhor sempre que possível. E seria possível se ela saísse de lá e me deixasse sentar e folhear os livros do sebo, que tão bem me fazem quando me lembram de que sempre haverá outra realidade para onde me retirar. Pensei em ir até ela e pedir gentilmente que saísse, mas vi que se entregava consumida a uma escrita sem pausas.

       Eu vi Olívia. Meu Deus, como eu vi Olívia! Cabelo ruivo, olhos verdes, linda, linda, desconcertantemente linda e atenta a alguma coisa que borbulhava dentro dela. Talvez linda porque imersa em borbulhas. Não, definitivamente não apenas. Linda pelos olhos verdes, o cabelo ruivo e os dentes sem sombras. Linda pela larga atmosfera triste que emoldurava seus gestos. Vestia verde-oliva. Olívia e oliva combinavam. Ela sabia. Respirava como quem sabia. Ocorreu-me que ela seria capaz de coisas improváveis se eu interrompesse a frase que escrevia obstinada, fazendo com suas ideias o que alfinetes fazem com balões. Acho. Foi bom não ter certeza. Só avancei porque minhas certezas se evaporaram; eu não as tenho desde que envelheci. Continuei indo em sua direção, no meu passo de velha senhora. Eu já estava quase chegando, quase atravessando o silêncio de Olívia, quando ela parou e chorou. Fez com que eu parasse também, não podia pedir a alguém chorando que saísse de onde estava para que eu me sentisse melhor. Ela enxugou com o punho as lágrimas, que voltavam a escorrer desobedientes. Punhos oliva secando lágrimas transparentes, tudo enchia meus olhos ávidos de literatura. Ela relia o que havia escrito, chorava, e eu suspeitava que, por um segundo, um miserável segundo, também ria. Olívia chorava e ria. E eu fiquei ali, na fronteira entre o barulho e o silêncio, vendo aquela menina, seguramente uma menina se comparada a mim, suspender meu próprio caos como se fosse mágica.


Carla Madeira. A natureza da mordida. 1.a ed. Rio de Janeiro: Record, 2022 (com adaptações).
A repetição do período “Eu vi Olívia.” no início do primeiro e do segundo parágrafos do texto 10A2-I demonstra o uso da figura de linguagem denominada
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Q2367223 Português
Texto 10A2-I


     Eu vi Olívia. Ela estava na última mesa, depois de algumas outras mesas ocupadas, sozinha, escrevendo. Em volta, um silêncio que as mesas barulhentas, os carros que passavam, as pessoas que corriam não podiam interromper. Ela escrevia sem fazer a menor ideia de que aquele era o meu lugar. Era onde eu me sentia melhor, era meu por obrigação de me sentir melhor. Onde eu me esquecia menos. Lembrar se tornou prioridade absoluta. Pensei: vou pedir que ela me devolva, ou que me ceda, para não ser agressiva, o lugar onde me sinto melhor. Tenho uma recomendação expressa de meu médico de me sentir melhor sempre que possível. E seria possível se ela saísse de lá e me deixasse sentar e folhear os livros do sebo, que tão bem me fazem quando me lembram de que sempre haverá outra realidade para onde me retirar. Pensei em ir até ela e pedir gentilmente que saísse, mas vi que se entregava consumida a uma escrita sem pausas.

       Eu vi Olívia. Meu Deus, como eu vi Olívia! Cabelo ruivo, olhos verdes, linda, linda, desconcertantemente linda e atenta a alguma coisa que borbulhava dentro dela. Talvez linda porque imersa em borbulhas. Não, definitivamente não apenas. Linda pelos olhos verdes, o cabelo ruivo e os dentes sem sombras. Linda pela larga atmosfera triste que emoldurava seus gestos. Vestia verde-oliva. Olívia e oliva combinavam. Ela sabia. Respirava como quem sabia. Ocorreu-me que ela seria capaz de coisas improváveis se eu interrompesse a frase que escrevia obstinada, fazendo com suas ideias o que alfinetes fazem com balões. Acho. Foi bom não ter certeza. Só avancei porque minhas certezas se evaporaram; eu não as tenho desde que envelheci. Continuei indo em sua direção, no meu passo de velha senhora. Eu já estava quase chegando, quase atravessando o silêncio de Olívia, quando ela parou e chorou. Fez com que eu parasse também, não podia pedir a alguém chorando que saísse de onde estava para que eu me sentisse melhor. Ela enxugou com o punho as lágrimas, que voltavam a escorrer desobedientes. Punhos oliva secando lágrimas transparentes, tudo enchia meus olhos ávidos de literatura. Ela relia o que havia escrito, chorava, e eu suspeitava que, por um segundo, um miserável segundo, também ria. Olívia chorava e ria. E eu fiquei ali, na fronteira entre o barulho e o silêncio, vendo aquela menina, seguramente uma menina se comparada a mim, suspender meu próprio caos como se fosse mágica.


Carla Madeira. A natureza da mordida. 1.a ed. Rio de Janeiro: Record, 2022 (com adaptações).
O texto 10A2-I é predominantemente narrativo, pois
Alternativas
Q2367215 Pedagogia
Segundo o que dispõe a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para o ensino de língua inglesa, o eixo Leitura aborda práticas de linguagem decorrentes da interação do leitor com o texto escrito e promove
Alternativas
Q2367214 Pedagogia
Texto 9A3


        Como defende Hoffmann, a avaliação mediadora consiste no acompanhamento permanente, na observação, no contato direto entre alunos e professores e na real preocupação em mudar a forma de funcionamento das engrenagens da educação. Porém, a interpretação errônea que se tem desse tipo de avaliação a torna descartável logo que citada ou trazida à tona em reuniões, encontros, formações e outros tipos de eventos acadêmicos ou institucionais. O argumento utilizado pelos professores que estão presos às suas práticas conservadoras e positivistas se volta para a superlotação das salas de aula brasileiras, o que supostamente tornaria impossível conhecer cada um dos discentes mais profundamente e mediá-los individualmente durante cada encontro.

      Pelo que é apresentado por Hoffmann, nota-se como é vago o conhecimento dos discentes sobre a avaliação mediadora. Quando a prática não é situada, lacunas são observadas, as quais podem prejudicar, de forma considerável, o andamento e até mesmo a permanência dos alunos nas salas de aula. Algo que ilustra bem essa afirmação é o seguinte exemplo: em determinado ano letivo de quatro bimestres, um aluno consegue alcançar a nota máxima nos dois primeiros, em que foram trabalhados os conteúdos, por exemplo, de present simple e de verbo to be. No entanto, ao chegar ao terceiro e ao quarto bimestres do ano, o aluno se depara com o simple past e o past-perfect, e não consegue compreender nem produzir conhecimentos efetivos sobre esses tempos verbais. Contudo, conforme a atual lógica matemática das escolas tradicionais, o aluno somente precisa obter determinada nota média ao final do ano letivo. Como ele se saiu bem nos primeiros bimestres, ele é aprovado pela média, porém com certos espaços incompletos, pois os outros dois conteúdos que não foram bem construídos e apreendidos pelo estudante não são retomados. Isso pode ser totalmente danoso, principalmente no que se refere à aprendizagem de um idioma, que requer prática e construção progressiva. Assim, a escola foi imprudente e negligenciou o aprendizado do aluno, simplesmente entendendo que os números conquistados por ele foram suficientes para sua avaliação, o que se mostra totalmente inadequado por desconsiderar as dificuldades que o aluno teve nos últimos bimestres.


Internet: <https://editorarealize.com.br/>(com adaptações).
Com base no texto 9A3, é correto afirmar que a essência da avaliação mediadora é
Alternativas
Q2367213 Pedagogia
Texto 9A3


        Como defende Hoffmann, a avaliação mediadora consiste no acompanhamento permanente, na observação, no contato direto entre alunos e professores e na real preocupação em mudar a forma de funcionamento das engrenagens da educação. Porém, a interpretação errônea que se tem desse tipo de avaliação a torna descartável logo que citada ou trazida à tona em reuniões, encontros, formações e outros tipos de eventos acadêmicos ou institucionais. O argumento utilizado pelos professores que estão presos às suas práticas conservadoras e positivistas se volta para a superlotação das salas de aula brasileiras, o que supostamente tornaria impossível conhecer cada um dos discentes mais profundamente e mediá-los individualmente durante cada encontro.

      Pelo que é apresentado por Hoffmann, nota-se como é vago o conhecimento dos discentes sobre a avaliação mediadora. Quando a prática não é situada, lacunas são observadas, as quais podem prejudicar, de forma considerável, o andamento e até mesmo a permanência dos alunos nas salas de aula. Algo que ilustra bem essa afirmação é o seguinte exemplo: em determinado ano letivo de quatro bimestres, um aluno consegue alcançar a nota máxima nos dois primeiros, em que foram trabalhados os conteúdos, por exemplo, de present simple e de verbo to be. No entanto, ao chegar ao terceiro e ao quarto bimestres do ano, o aluno se depara com o simple past e o past-perfect, e não consegue compreender nem produzir conhecimentos efetivos sobre esses tempos verbais. Contudo, conforme a atual lógica matemática das escolas tradicionais, o aluno somente precisa obter determinada nota média ao final do ano letivo. Como ele se saiu bem nos primeiros bimestres, ele é aprovado pela média, porém com certos espaços incompletos, pois os outros dois conteúdos que não foram bem construídos e apreendidos pelo estudante não são retomados. Isso pode ser totalmente danoso, principalmente no que se refere à aprendizagem de um idioma, que requer prática e construção progressiva. Assim, a escola foi imprudente e negligenciou o aprendizado do aluno, simplesmente entendendo que os números conquistados por ele foram suficientes para sua avaliação, o que se mostra totalmente inadequado por desconsiderar as dificuldades que o aluno teve nos últimos bimestres.


Internet: <https://editorarealize.com.br/>(com adaptações).
A principal crítica feita no texto 9A3 à abordagem tradicional de avaliação nas escolas diz respeito à
Alternativas
Q2367212 Inglês
No ensino da língua inglesa, o tratamento da produção escrita como processo pode beneficiar os alunos ao 
Alternativas
Q2367211 Pedagogia
No contexto do ensino de língua inglesa em escolas públicas, o tratamento da produção escrita como um processo contínuo e reflexivo caracteriza-se por
Alternativas
Q2367210 Inglês
A língua, como ferramenta essencial da comunicação, não apenas reflete a diversidade cultural, mas também desempenha um papel ativo na construção e expressão da identidade social. Em sociedades multiculturais, a linguagem é frequentemente moldada por influências culturais diversas, refletindo a riqueza e a complexidade das interações sociais. Assim, a dinâmica entre língua, cultura e sociedade é um processo interativo, no qual a língua não é somente um meio neutro de comunicação, mas um reflexo e um agente ativo na construção da realidade social.

Assinale a opção que melhor sintetiza a relação entre língua, cultura e sociedade apresentada no fragmento de texto precedente. 
Alternativas
Respostas
861: A
862: C
863: B
864: A
865: C
866: A
867: D
868: C
869: A
870: B
871: E
872: C
873: C
874: A
875: B
876: E
877: B
878: D
879: D
880: E