Questões de Concurso Para cientec-rs

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Q78039 Noções de Informática
O que deve ser feito para remover o cabeçalho ou rodapé da primeira página de um texto, usando o editor de texto Microsoft Word 2007?
Alternativas
Q78038 Português
Leia atentamente alguns trechos adaptados do texto "Miss Dollar", de Machado de Assis, que relata como uma
cachorrinha pôde despertar a paixão do jovem médico Mendonça por Margarida, uma triste viúva que não
acredita mais no amor. O texto é dividido pelo autor em oito capítulos que não foram aqui reproduzidos.

CAPÍTULO PRIMEIRO

Era conveniente ao romance que o leitor ficasse muito tempo sem saber quem era Miss Dollar . Mas por outro
lado, sem a apresentação de Miss Dollar , seria o autor obrigado a longas digressões, que encheriam o papel
sem adiantar a ação. Não há hesitação possível: vou apresentar-lhes
Miss Dollar.
Se o leitor é rapaz e dado ao gênio melancólico, imagina que Miss Dollar é uma inglesa pálida e delgada,
escassa de carnes e de sangue, abrindo à flor do rosto dois grandes olhos azuis e sacudindo ao vento umas
longas tranças loiras. A moça em questão deve ser vaporosa e ideal como uma criação de Shakespeare? deve
ser o contraste do roastbeef britânico, com que se alimenta a liberdade do Reino Unido. (...)
Falha desta vez a proverbial perspicácia dos leitores? Miss Dollar é uma cadelinha galga. (...) Miss Dollar , apesar
de não ser mais que uma cadelinha galga, teve as honras de ver o seu nome nos papéis públicos, antes de
entrar para este livro. O Jornal do Comércio e o Correio Mercantil publicaram nas colunas dos anúncios as
seguintes linhas reverberantes de promessa:
"Desencaminhou-se
uma cadelinha galga, na noite de ontem, 30. Acode ao nome de Miss Dollar . Quem a achou
e quiser levar à Rua de Mata-cavalos
n o ..., receberá duzentos mil-réis
de recompensa.(...)."
Todas as pessoas que sentiam necessidade urgente de duzentos mil-réis,
e tiveram a felicidade de ler aquele
anúncio, andaram nesse dia com extremo cuidado nas ruas do Rio de Janeiro, a ver se davam com a fugitiva
Miss Dollar . (...)
Dr. Mendonça encontrou a cachorra (...).
Quais as razões que induziram o Dr. Mendonça a fazer coleção de cães, é coisa que ninguém podia dizer? uns
queriam que fosse simplesmente paixão por esse símbolo da fidelidade ou do servilismo? outros pensavam antes
que, cheio de profundo desgosto pelos homens, Mendonça achou que era de boa guerra adorar os cães.
Fossem quais fossem as razões, o certo é que ninguém possuía mais bonita e variada coleção do que ele.
Tinha-os
de todas as raças, tamanhos e cores. Cuidava deles como se fossem seus filhos? se algum lhe morria
ficava melancólico. Quase se pode dizer que, no espírito de Mendonça, o cão pesava tanto como o amor,
segundo uma expressão célebre: tirai do mundo o cão, e o mundo será um ermo.
O leitor superficial conclui daqui que o nosso Mendonça era um homem excêntrico. Não era. Mendonça era um
homem como os outros? gostava de cães como outros gostam de flores. Os cães eram as suas rosas e violetas?
cultivava-os
com o mesmíssimo esmero. De flores gostava também? mas gostava delas nas plantas em que
nasciam: cortar um jasmim ou prender um canário parecia-lhe
idêntico atentado. (...)
No dia seguinte, lendo os jornais, Mendonça viu o anúncio transcrito acima, prometendo duzentos mil-réis
a
quem entregasse a cadelinha fugitiva. A sua paixão pelos cães deu-lhe
a medida da dor que devia sofrer o dono
ou dona de Miss Dollar , visto que chegava a oferecer duzentos mil-réis
de gratificação a quem apresentasse a
galga. Conseqüentemente resolveu restituí-la,
com bastante mágoa do coração. (...)
Foi devolver a cachorra, a casa era bonita. (...) Veio um moleque saber quem estava? Mendonça disse que vinha
restituir a galga fugitiva. Expansão do rosto do moleque, que correu a anunciar a boa nova. Miss Dollar ,
aproveitando uma fresta, precipitou-se
pelas escadas acima. Dispunha-se
Mendonça a descer, pois estava
cumprida a sua tarefa, quando o moleque voltou dizendo-lhe
que subisse e entrasse para a sala. (...)
- Queira ter a bondade de sentar-se,
disse ela designando uma cadeira à Mendonça.
- A minha demora é pequena, disse o médico sentando-se.
Vim trazer-lhe
a cadelinha que está comigo desde
ontem...
- Não imagina que desassossego causou cá em casa a ausência de Miss Dollar...
- Imagino, minha senhora? eu também sou apreciador de cães, e se me faltasse um sentiria profundamente. A
sua Miss Dollar ...
- Perdão! interrompeu a velha? minha não? Miss Dollar não é minha, é de minha sobrinha.
- Ah!...
- Ela aí vem.
Mendonça levantou-se
justamente quando entrava na sala a sobrinha em questão. Era uma moça que
representava vinte e oito anos, no pleno desenvolvimento da sua beleza, uma dessas mulheres que anunciam
velhice tardia e imponente. (...) Mendonça nunca vira olhos verdes em toda a sua vida? disseram-lhe
que
existiam olhos verdes, ele sabia de cor uns versos célebres de Gonçalves Dias? mas até então os olhos verdes
eram para ele a mesma coisa que a fênix dos antigos.
(...) Mendonça cumprimentou respeitosamente a recém-chegada,
e esta, com um gesto, convidou-o
a sentar-se
outra vez.
- Agradeço-lhe
infinitamente o ter-me
restituído este pobre animal, que me merece grande estima, disse
Margarida sentando-se.
- E eu dou graças a Deus por tê-lo
achado? podia ter caído em mãos que o não restituíssem. (...)
Mendonça apaixona-se
por Margarida e relata ao amigo:
- Compreendes agora, disse Mendonça, que eu preciso ir à casa dela? tenho necessidade de vê-la?
quero ver
se consigo...
Mendonça estacou.
- Acaba! disse Andrade? se consegues ser amado. Por que não? Mas desde já te digo que não será fácil.
- Por quê?
- Margarida tem rejeitado cinco casamentos.
- Naturalmente não amava os pretendentes, disse Mendonça com o ar de um geômetra que acha uma solução.
- Amava apaixonadamente o primeiro, respondeu Andrade, e não era indiferente ao último.
- Houve naturalmente intriga.
- Também não. Admiras-te?
É o que me acontece. É uma rapariga esquisita. Se te achas com força de ser o
Colombo daquele mundo, lança-te
ao mar com a armada? mas toma cuidado com a revolta das paixões, que são
os ferozes marujos destas navegações de descoberta. (...)

Imagem 001.jpg

As regras que explicam correta e respectivamente a acentuação das palavras: " Idêntico, fênix e recém" estão presentes na alternativa:
Alternativas
Q78037 Português
Leia atentamente alguns trechos adaptados do texto "Miss Dollar", de Machado de Assis, que relata como uma
cachorrinha pôde despertar a paixão do jovem médico Mendonça por Margarida, uma triste viúva que não
acredita mais no amor. O texto é dividido pelo autor em oito capítulos que não foram aqui reproduzidos.

CAPÍTULO PRIMEIRO

Era conveniente ao romance que o leitor ficasse muito tempo sem saber quem era Miss Dollar . Mas por outro
lado, sem a apresentação de Miss Dollar , seria o autor obrigado a longas digressões, que encheriam o papel
sem adiantar a ação. Não há hesitação possível: vou apresentar-lhes
Miss Dollar.
Se o leitor é rapaz e dado ao gênio melancólico, imagina que Miss Dollar é uma inglesa pálida e delgada,
escassa de carnes e de sangue, abrindo à flor do rosto dois grandes olhos azuis e sacudindo ao vento umas
longas tranças loiras. A moça em questão deve ser vaporosa e ideal como uma criação de Shakespeare? deve
ser o contraste do roastbeef britânico, com que se alimenta a liberdade do Reino Unido. (...)
Falha desta vez a proverbial perspicácia dos leitores? Miss Dollar é uma cadelinha galga. (...) Miss Dollar , apesar
de não ser mais que uma cadelinha galga, teve as honras de ver o seu nome nos papéis públicos, antes de
entrar para este livro. O Jornal do Comércio e o Correio Mercantil publicaram nas colunas dos anúncios as
seguintes linhas reverberantes de promessa:
"Desencaminhou-se
uma cadelinha galga, na noite de ontem, 30. Acode ao nome de Miss Dollar . Quem a achou
e quiser levar à Rua de Mata-cavalos
n o ..., receberá duzentos mil-réis
de recompensa.(...)."
Todas as pessoas que sentiam necessidade urgente de duzentos mil-réis,
e tiveram a felicidade de ler aquele
anúncio, andaram nesse dia com extremo cuidado nas ruas do Rio de Janeiro, a ver se davam com a fugitiva
Miss Dollar . (...)
Dr. Mendonça encontrou a cachorra (...).
Quais as razões que induziram o Dr. Mendonça a fazer coleção de cães, é coisa que ninguém podia dizer? uns
queriam que fosse simplesmente paixão por esse símbolo da fidelidade ou do servilismo? outros pensavam antes
que, cheio de profundo desgosto pelos homens, Mendonça achou que era de boa guerra adorar os cães.
Fossem quais fossem as razões, o certo é que ninguém possuía mais bonita e variada coleção do que ele.
Tinha-os
de todas as raças, tamanhos e cores. Cuidava deles como se fossem seus filhos? se algum lhe morria
ficava melancólico. Quase se pode dizer que, no espírito de Mendonça, o cão pesava tanto como o amor,
segundo uma expressão célebre: tirai do mundo o cão, e o mundo será um ermo.
O leitor superficial conclui daqui que o nosso Mendonça era um homem excêntrico. Não era. Mendonça era um
homem como os outros? gostava de cães como outros gostam de flores. Os cães eram as suas rosas e violetas?
cultivava-os
com o mesmíssimo esmero. De flores gostava também? mas gostava delas nas plantas em que
nasciam: cortar um jasmim ou prender um canário parecia-lhe
idêntico atentado. (...)
No dia seguinte, lendo os jornais, Mendonça viu o anúncio transcrito acima, prometendo duzentos mil-réis
a
quem entregasse a cadelinha fugitiva. A sua paixão pelos cães deu-lhe
a medida da dor que devia sofrer o dono
ou dona de Miss Dollar , visto que chegava a oferecer duzentos mil-réis
de gratificação a quem apresentasse a
galga. Conseqüentemente resolveu restituí-la,
com bastante mágoa do coração. (...)
Foi devolver a cachorra, a casa era bonita. (...) Veio um moleque saber quem estava? Mendonça disse que vinha
restituir a galga fugitiva. Expansão do rosto do moleque, que correu a anunciar a boa nova. Miss Dollar ,
aproveitando uma fresta, precipitou-se
pelas escadas acima. Dispunha-se
Mendonça a descer, pois estava
cumprida a sua tarefa, quando o moleque voltou dizendo-lhe
que subisse e entrasse para a sala. (...)
- Queira ter a bondade de sentar-se,
disse ela designando uma cadeira à Mendonça.
- A minha demora é pequena, disse o médico sentando-se.
Vim trazer-lhe
a cadelinha que está comigo desde
ontem...
- Não imagina que desassossego causou cá em casa a ausência de Miss Dollar...
- Imagino, minha senhora? eu também sou apreciador de cães, e se me faltasse um sentiria profundamente. A
sua Miss Dollar ...
- Perdão! interrompeu a velha? minha não? Miss Dollar não é minha, é de minha sobrinha.
- Ah!...
- Ela aí vem.
Mendonça levantou-se
justamente quando entrava na sala a sobrinha em questão. Era uma moça que
representava vinte e oito anos, no pleno desenvolvimento da sua beleza, uma dessas mulheres que anunciam
velhice tardia e imponente. (...) Mendonça nunca vira olhos verdes em toda a sua vida? disseram-lhe
que
existiam olhos verdes, ele sabia de cor uns versos célebres de Gonçalves Dias? mas até então os olhos verdes
eram para ele a mesma coisa que a fênix dos antigos.
(...) Mendonça cumprimentou respeitosamente a recém-chegada,
e esta, com um gesto, convidou-o
a sentar-se
outra vez.
- Agradeço-lhe
infinitamente o ter-me
restituído este pobre animal, que me merece grande estima, disse
Margarida sentando-se.
- E eu dou graças a Deus por tê-lo
achado? podia ter caído em mãos que o não restituíssem. (...)
Mendonça apaixona-se
por Margarida e relata ao amigo:
- Compreendes agora, disse Mendonça, que eu preciso ir à casa dela? tenho necessidade de vê-la?
quero ver
se consigo...
Mendonça estacou.
- Acaba! disse Andrade? se consegues ser amado. Por que não? Mas desde já te digo que não será fácil.
- Por quê?
- Margarida tem rejeitado cinco casamentos.
- Naturalmente não amava os pretendentes, disse Mendonça com o ar de um geômetra que acha uma solução.
- Amava apaixonadamente o primeiro, respondeu Andrade, e não era indiferente ao último.
- Houve naturalmente intriga.
- Também não. Admiras-te?
É o que me acontece. É uma rapariga esquisita. Se te achas com força de ser o
Colombo daquele mundo, lança-te
ao mar com a armada? mas toma cuidado com a revolta das paixões, que são
os ferozes marujos destas navegações de descoberta. (...)

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Releia: " Desencaminhou-se uma cadelinha galga, na noite de ontem, 30. Acode ao nome de Miss Dollar ." Leia as afirmações que analisam a sintaxe e a pontuação do enunciado, e a seguir, assinale a alternativa CORRETA:

I - É constituído de períodos simples.

II - É constituído de períodos compostos.

III -O sujeito da primeira oração é oculto.

IV -O sujeito da segunda oração é indeterminado.

V -O verbo desencaminhouse é classificado como verbo intransitivo.

VI -O uso da vírgula está de acordo com a norma padrão.
Alternativas
Q78036 Português
Leia atentamente alguns trechos adaptados do texto "Miss Dollar", de Machado de Assis, que relata como uma
cachorrinha pôde despertar a paixão do jovem médico Mendonça por Margarida, uma triste viúva que não
acredita mais no amor. O texto é dividido pelo autor em oito capítulos que não foram aqui reproduzidos.

CAPÍTULO PRIMEIRO

Era conveniente ao romance que o leitor ficasse muito tempo sem saber quem era Miss Dollar . Mas por outro
lado, sem a apresentação de Miss Dollar , seria o autor obrigado a longas digressões, que encheriam o papel
sem adiantar a ação. Não há hesitação possível: vou apresentar-lhes
Miss Dollar.
Se o leitor é rapaz e dado ao gênio melancólico, imagina que Miss Dollar é uma inglesa pálida e delgada,
escassa de carnes e de sangue, abrindo à flor do rosto dois grandes olhos azuis e sacudindo ao vento umas
longas tranças loiras. A moça em questão deve ser vaporosa e ideal como uma criação de Shakespeare? deve
ser o contraste do roastbeef britânico, com que se alimenta a liberdade do Reino Unido. (...)
Falha desta vez a proverbial perspicácia dos leitores? Miss Dollar é uma cadelinha galga. (...) Miss Dollar , apesar
de não ser mais que uma cadelinha galga, teve as honras de ver o seu nome nos papéis públicos, antes de
entrar para este livro. O Jornal do Comércio e o Correio Mercantil publicaram nas colunas dos anúncios as
seguintes linhas reverberantes de promessa:
"Desencaminhou-se
uma cadelinha galga, na noite de ontem, 30. Acode ao nome de Miss Dollar . Quem a achou
e quiser levar à Rua de Mata-cavalos
n o ..., receberá duzentos mil-réis
de recompensa.(...)."
Todas as pessoas que sentiam necessidade urgente de duzentos mil-réis,
e tiveram a felicidade de ler aquele
anúncio, andaram nesse dia com extremo cuidado nas ruas do Rio de Janeiro, a ver se davam com a fugitiva
Miss Dollar . (...)
Dr. Mendonça encontrou a cachorra (...).
Quais as razões que induziram o Dr. Mendonça a fazer coleção de cães, é coisa que ninguém podia dizer? uns
queriam que fosse simplesmente paixão por esse símbolo da fidelidade ou do servilismo? outros pensavam antes
que, cheio de profundo desgosto pelos homens, Mendonça achou que era de boa guerra adorar os cães.
Fossem quais fossem as razões, o certo é que ninguém possuía mais bonita e variada coleção do que ele.
Tinha-os
de todas as raças, tamanhos e cores. Cuidava deles como se fossem seus filhos? se algum lhe morria
ficava melancólico. Quase se pode dizer que, no espírito de Mendonça, o cão pesava tanto como o amor,
segundo uma expressão célebre: tirai do mundo o cão, e o mundo será um ermo.
O leitor superficial conclui daqui que o nosso Mendonça era um homem excêntrico. Não era. Mendonça era um
homem como os outros? gostava de cães como outros gostam de flores. Os cães eram as suas rosas e violetas?
cultivava-os
com o mesmíssimo esmero. De flores gostava também? mas gostava delas nas plantas em que
nasciam: cortar um jasmim ou prender um canário parecia-lhe
idêntico atentado. (...)
No dia seguinte, lendo os jornais, Mendonça viu o anúncio transcrito acima, prometendo duzentos mil-réis
a
quem entregasse a cadelinha fugitiva. A sua paixão pelos cães deu-lhe
a medida da dor que devia sofrer o dono
ou dona de Miss Dollar , visto que chegava a oferecer duzentos mil-réis
de gratificação a quem apresentasse a
galga. Conseqüentemente resolveu restituí-la,
com bastante mágoa do coração. (...)
Foi devolver a cachorra, a casa era bonita. (...) Veio um moleque saber quem estava? Mendonça disse que vinha
restituir a galga fugitiva. Expansão do rosto do moleque, que correu a anunciar a boa nova. Miss Dollar ,
aproveitando uma fresta, precipitou-se
pelas escadas acima. Dispunha-se
Mendonça a descer, pois estava
cumprida a sua tarefa, quando o moleque voltou dizendo-lhe
que subisse e entrasse para a sala. (...)
- Queira ter a bondade de sentar-se,
disse ela designando uma cadeira à Mendonça.
- A minha demora é pequena, disse o médico sentando-se.
Vim trazer-lhe
a cadelinha que está comigo desde
ontem...
- Não imagina que desassossego causou cá em casa a ausência de Miss Dollar...
- Imagino, minha senhora? eu também sou apreciador de cães, e se me faltasse um sentiria profundamente. A
sua Miss Dollar ...
- Perdão! interrompeu a velha? minha não? Miss Dollar não é minha, é de minha sobrinha.
- Ah!...
- Ela aí vem.
Mendonça levantou-se
justamente quando entrava na sala a sobrinha em questão. Era uma moça que
representava vinte e oito anos, no pleno desenvolvimento da sua beleza, uma dessas mulheres que anunciam
velhice tardia e imponente. (...) Mendonça nunca vira olhos verdes em toda a sua vida? disseram-lhe
que
existiam olhos verdes, ele sabia de cor uns versos célebres de Gonçalves Dias? mas até então os olhos verdes
eram para ele a mesma coisa que a fênix dos antigos.
(...) Mendonça cumprimentou respeitosamente a recém-chegada,
e esta, com um gesto, convidou-o
a sentar-se
outra vez.
- Agradeço-lhe
infinitamente o ter-me
restituído este pobre animal, que me merece grande estima, disse
Margarida sentando-se.
- E eu dou graças a Deus por tê-lo
achado? podia ter caído em mãos que o não restituíssem. (...)
Mendonça apaixona-se
por Margarida e relata ao amigo:
- Compreendes agora, disse Mendonça, que eu preciso ir à casa dela? tenho necessidade de vê-la?
quero ver
se consigo...
Mendonça estacou.
- Acaba! disse Andrade? se consegues ser amado. Por que não? Mas desde já te digo que não será fácil.
- Por quê?
- Margarida tem rejeitado cinco casamentos.
- Naturalmente não amava os pretendentes, disse Mendonça com o ar de um geômetra que acha uma solução.
- Amava apaixonadamente o primeiro, respondeu Andrade, e não era indiferente ao último.
- Houve naturalmente intriga.
- Também não. Admiras-te?
É o que me acontece. É uma rapariga esquisita. Se te achas com força de ser o
Colombo daquele mundo, lança-te
ao mar com a armada? mas toma cuidado com a revolta das paixões, que são
os ferozes marujos destas navegações de descoberta. (...)

Imagem 001.jpg

Leia: " Era isto o que principalmente retinha o médico aos pés da insensível viúva? não o abandonava a esperança de vencê-la." O elemento sublinhado constitui uma estratégia de:
Alternativas
Q78035 Português
Leia atentamente alguns trechos adaptados do texto "Miss Dollar", de Machado de Assis, que relata como uma
cachorrinha pôde despertar a paixão do jovem médico Mendonça por Margarida, uma triste viúva que não
acredita mais no amor. O texto é dividido pelo autor em oito capítulos que não foram aqui reproduzidos.

CAPÍTULO PRIMEIRO

Era conveniente ao romance que o leitor ficasse muito tempo sem saber quem era Miss Dollar . Mas por outro
lado, sem a apresentação de Miss Dollar , seria o autor obrigado a longas digressões, que encheriam o papel
sem adiantar a ação. Não há hesitação possível: vou apresentar-lhes
Miss Dollar.
Se o leitor é rapaz e dado ao gênio melancólico, imagina que Miss Dollar é uma inglesa pálida e delgada,
escassa de carnes e de sangue, abrindo à flor do rosto dois grandes olhos azuis e sacudindo ao vento umas
longas tranças loiras. A moça em questão deve ser vaporosa e ideal como uma criação de Shakespeare? deve
ser o contraste do roastbeef britânico, com que se alimenta a liberdade do Reino Unido. (...)
Falha desta vez a proverbial perspicácia dos leitores? Miss Dollar é uma cadelinha galga. (...) Miss Dollar , apesar
de não ser mais que uma cadelinha galga, teve as honras de ver o seu nome nos papéis públicos, antes de
entrar para este livro. O Jornal do Comércio e o Correio Mercantil publicaram nas colunas dos anúncios as
seguintes linhas reverberantes de promessa:
"Desencaminhou-se
uma cadelinha galga, na noite de ontem, 30. Acode ao nome de Miss Dollar . Quem a achou
e quiser levar à Rua de Mata-cavalos
n o ..., receberá duzentos mil-réis
de recompensa.(...)."
Todas as pessoas que sentiam necessidade urgente de duzentos mil-réis,
e tiveram a felicidade de ler aquele
anúncio, andaram nesse dia com extremo cuidado nas ruas do Rio de Janeiro, a ver se davam com a fugitiva
Miss Dollar . (...)
Dr. Mendonça encontrou a cachorra (...).
Quais as razões que induziram o Dr. Mendonça a fazer coleção de cães, é coisa que ninguém podia dizer? uns
queriam que fosse simplesmente paixão por esse símbolo da fidelidade ou do servilismo? outros pensavam antes
que, cheio de profundo desgosto pelos homens, Mendonça achou que era de boa guerra adorar os cães.
Fossem quais fossem as razões, o certo é que ninguém possuía mais bonita e variada coleção do que ele.
Tinha-os
de todas as raças, tamanhos e cores. Cuidava deles como se fossem seus filhos? se algum lhe morria
ficava melancólico. Quase se pode dizer que, no espírito de Mendonça, o cão pesava tanto como o amor,
segundo uma expressão célebre: tirai do mundo o cão, e o mundo será um ermo.
O leitor superficial conclui daqui que o nosso Mendonça era um homem excêntrico. Não era. Mendonça era um
homem como os outros? gostava de cães como outros gostam de flores. Os cães eram as suas rosas e violetas?
cultivava-os
com o mesmíssimo esmero. De flores gostava também? mas gostava delas nas plantas em que
nasciam: cortar um jasmim ou prender um canário parecia-lhe
idêntico atentado. (...)
No dia seguinte, lendo os jornais, Mendonça viu o anúncio transcrito acima, prometendo duzentos mil-réis
a
quem entregasse a cadelinha fugitiva. A sua paixão pelos cães deu-lhe
a medida da dor que devia sofrer o dono
ou dona de Miss Dollar , visto que chegava a oferecer duzentos mil-réis
de gratificação a quem apresentasse a
galga. Conseqüentemente resolveu restituí-la,
com bastante mágoa do coração. (...)
Foi devolver a cachorra, a casa era bonita. (...) Veio um moleque saber quem estava? Mendonça disse que vinha
restituir a galga fugitiva. Expansão do rosto do moleque, que correu a anunciar a boa nova. Miss Dollar ,
aproveitando uma fresta, precipitou-se
pelas escadas acima. Dispunha-se
Mendonça a descer, pois estava
cumprida a sua tarefa, quando o moleque voltou dizendo-lhe
que subisse e entrasse para a sala. (...)
- Queira ter a bondade de sentar-se,
disse ela designando uma cadeira à Mendonça.
- A minha demora é pequena, disse o médico sentando-se.
Vim trazer-lhe
a cadelinha que está comigo desde
ontem...
- Não imagina que desassossego causou cá em casa a ausência de Miss Dollar...
- Imagino, minha senhora? eu também sou apreciador de cães, e se me faltasse um sentiria profundamente. A
sua Miss Dollar ...
- Perdão! interrompeu a velha? minha não? Miss Dollar não é minha, é de minha sobrinha.
- Ah!...
- Ela aí vem.
Mendonça levantou-se
justamente quando entrava na sala a sobrinha em questão. Era uma moça que
representava vinte e oito anos, no pleno desenvolvimento da sua beleza, uma dessas mulheres que anunciam
velhice tardia e imponente. (...) Mendonça nunca vira olhos verdes em toda a sua vida? disseram-lhe
que
existiam olhos verdes, ele sabia de cor uns versos célebres de Gonçalves Dias? mas até então os olhos verdes
eram para ele a mesma coisa que a fênix dos antigos.
(...) Mendonça cumprimentou respeitosamente a recém-chegada,
e esta, com um gesto, convidou-o
a sentar-se
outra vez.
- Agradeço-lhe
infinitamente o ter-me
restituído este pobre animal, que me merece grande estima, disse
Margarida sentando-se.
- E eu dou graças a Deus por tê-lo
achado? podia ter caído em mãos que o não restituíssem. (...)
Mendonça apaixona-se
por Margarida e relata ao amigo:
- Compreendes agora, disse Mendonça, que eu preciso ir à casa dela? tenho necessidade de vê-la?
quero ver
se consigo...
Mendonça estacou.
- Acaba! disse Andrade? se consegues ser amado. Por que não? Mas desde já te digo que não será fácil.
- Por quê?
- Margarida tem rejeitado cinco casamentos.
- Naturalmente não amava os pretendentes, disse Mendonça com o ar de um geômetra que acha uma solução.
- Amava apaixonadamente o primeiro, respondeu Andrade, e não era indiferente ao último.
- Houve naturalmente intriga.
- Também não. Admiras-te?
É o que me acontece. É uma rapariga esquisita. Se te achas com força de ser o
Colombo daquele mundo, lança-te
ao mar com a armada? mas toma cuidado com a revolta das paixões, que são
os ferozes marujos destas navegações de descoberta. (...)

Imagem 001.jpg

O autor faz uma longa explanação a respeito da coleção de cães de Mendonça. A partir de tais afirmações, devese concluir que:
Alternativas
Q78034 Português
Leia atentamente alguns trechos adaptados do texto "Miss Dollar", de Machado de Assis, que relata como uma
cachorrinha pôde despertar a paixão do jovem médico Mendonça por Margarida, uma triste viúva que não
acredita mais no amor. O texto é dividido pelo autor em oito capítulos que não foram aqui reproduzidos.

CAPÍTULO PRIMEIRO

Era conveniente ao romance que o leitor ficasse muito tempo sem saber quem era Miss Dollar . Mas por outro
lado, sem a apresentação de Miss Dollar , seria o autor obrigado a longas digressões, que encheriam o papel
sem adiantar a ação. Não há hesitação possível: vou apresentar-lhes
Miss Dollar.
Se o leitor é rapaz e dado ao gênio melancólico, imagina que Miss Dollar é uma inglesa pálida e delgada,
escassa de carnes e de sangue, abrindo à flor do rosto dois grandes olhos azuis e sacudindo ao vento umas
longas tranças loiras. A moça em questão deve ser vaporosa e ideal como uma criação de Shakespeare? deve
ser o contraste do roastbeef britânico, com que se alimenta a liberdade do Reino Unido. (...)
Falha desta vez a proverbial perspicácia dos leitores? Miss Dollar é uma cadelinha galga. (...) Miss Dollar , apesar
de não ser mais que uma cadelinha galga, teve as honras de ver o seu nome nos papéis públicos, antes de
entrar para este livro. O Jornal do Comércio e o Correio Mercantil publicaram nas colunas dos anúncios as
seguintes linhas reverberantes de promessa:
"Desencaminhou-se
uma cadelinha galga, na noite de ontem, 30. Acode ao nome de Miss Dollar . Quem a achou
e quiser levar à Rua de Mata-cavalos
n o ..., receberá duzentos mil-réis
de recompensa.(...)."
Todas as pessoas que sentiam necessidade urgente de duzentos mil-réis,
e tiveram a felicidade de ler aquele
anúncio, andaram nesse dia com extremo cuidado nas ruas do Rio de Janeiro, a ver se davam com a fugitiva
Miss Dollar . (...)
Dr. Mendonça encontrou a cachorra (...).
Quais as razões que induziram o Dr. Mendonça a fazer coleção de cães, é coisa que ninguém podia dizer? uns
queriam que fosse simplesmente paixão por esse símbolo da fidelidade ou do servilismo? outros pensavam antes
que, cheio de profundo desgosto pelos homens, Mendonça achou que era de boa guerra adorar os cães.
Fossem quais fossem as razões, o certo é que ninguém possuía mais bonita e variada coleção do que ele.
Tinha-os
de todas as raças, tamanhos e cores. Cuidava deles como se fossem seus filhos? se algum lhe morria
ficava melancólico. Quase se pode dizer que, no espírito de Mendonça, o cão pesava tanto como o amor,
segundo uma expressão célebre: tirai do mundo o cão, e o mundo será um ermo.
O leitor superficial conclui daqui que o nosso Mendonça era um homem excêntrico. Não era. Mendonça era um
homem como os outros? gostava de cães como outros gostam de flores. Os cães eram as suas rosas e violetas?
cultivava-os
com o mesmíssimo esmero. De flores gostava também? mas gostava delas nas plantas em que
nasciam: cortar um jasmim ou prender um canário parecia-lhe
idêntico atentado. (...)
No dia seguinte, lendo os jornais, Mendonça viu o anúncio transcrito acima, prometendo duzentos mil-réis
a
quem entregasse a cadelinha fugitiva. A sua paixão pelos cães deu-lhe
a medida da dor que devia sofrer o dono
ou dona de Miss Dollar , visto que chegava a oferecer duzentos mil-réis
de gratificação a quem apresentasse a
galga. Conseqüentemente resolveu restituí-la,
com bastante mágoa do coração. (...)
Foi devolver a cachorra, a casa era bonita. (...) Veio um moleque saber quem estava? Mendonça disse que vinha
restituir a galga fugitiva. Expansão do rosto do moleque, que correu a anunciar a boa nova. Miss Dollar ,
aproveitando uma fresta, precipitou-se
pelas escadas acima. Dispunha-se
Mendonça a descer, pois estava
cumprida a sua tarefa, quando o moleque voltou dizendo-lhe
que subisse e entrasse para a sala. (...)
- Queira ter a bondade de sentar-se,
disse ela designando uma cadeira à Mendonça.
- A minha demora é pequena, disse o médico sentando-se.
Vim trazer-lhe
a cadelinha que está comigo desde
ontem...
- Não imagina que desassossego causou cá em casa a ausência de Miss Dollar...
- Imagino, minha senhora? eu também sou apreciador de cães, e se me faltasse um sentiria profundamente. A
sua Miss Dollar ...
- Perdão! interrompeu a velha? minha não? Miss Dollar não é minha, é de minha sobrinha.
- Ah!...
- Ela aí vem.
Mendonça levantou-se
justamente quando entrava na sala a sobrinha em questão. Era uma moça que
representava vinte e oito anos, no pleno desenvolvimento da sua beleza, uma dessas mulheres que anunciam
velhice tardia e imponente. (...) Mendonça nunca vira olhos verdes em toda a sua vida? disseram-lhe
que
existiam olhos verdes, ele sabia de cor uns versos célebres de Gonçalves Dias? mas até então os olhos verdes
eram para ele a mesma coisa que a fênix dos antigos.
(...) Mendonça cumprimentou respeitosamente a recém-chegada,
e esta, com um gesto, convidou-o
a sentar-se
outra vez.
- Agradeço-lhe
infinitamente o ter-me
restituído este pobre animal, que me merece grande estima, disse
Margarida sentando-se.
- E eu dou graças a Deus por tê-lo
achado? podia ter caído em mãos que o não restituíssem. (...)
Mendonça apaixona-se
por Margarida e relata ao amigo:
- Compreendes agora, disse Mendonça, que eu preciso ir à casa dela? tenho necessidade de vê-la?
quero ver
se consigo...
Mendonça estacou.
- Acaba! disse Andrade? se consegues ser amado. Por que não? Mas desde já te digo que não será fácil.
- Por quê?
- Margarida tem rejeitado cinco casamentos.
- Naturalmente não amava os pretendentes, disse Mendonça com o ar de um geômetra que acha uma solução.
- Amava apaixonadamente o primeiro, respondeu Andrade, e não era indiferente ao último.
- Houve naturalmente intriga.
- Também não. Admiras-te?
É o que me acontece. É uma rapariga esquisita. Se te achas com força de ser o
Colombo daquele mundo, lança-te
ao mar com a armada? mas toma cuidado com a revolta das paixões, que são
os ferozes marujos destas navegações de descoberta. (...)

Imagem 001.jpg

Releia: " É uma rapariga esquisita. Se te achas com força de ser o Colombo daquele mundo, lança-te ao mar com a armada? mas toma cuidado com a revolta das paixões, que são os ferozes marujos destas navegações de descoberta." Esta fala de Andrade revela que:
Alternativas
Q78033 Português
Leia atentamente alguns trechos adaptados do texto "Miss Dollar", de Machado de Assis, que relata como uma
cachorrinha pôde despertar a paixão do jovem médico Mendonça por Margarida, uma triste viúva que não
acredita mais no amor. O texto é dividido pelo autor em oito capítulos que não foram aqui reproduzidos.

CAPÍTULO PRIMEIRO

Era conveniente ao romance que o leitor ficasse muito tempo sem saber quem era Miss Dollar . Mas por outro
lado, sem a apresentação de Miss Dollar , seria o autor obrigado a longas digressões, que encheriam o papel
sem adiantar a ação. Não há hesitação possível: vou apresentar-lhes
Miss Dollar.
Se o leitor é rapaz e dado ao gênio melancólico, imagina que Miss Dollar é uma inglesa pálida e delgada,
escassa de carnes e de sangue, abrindo à flor do rosto dois grandes olhos azuis e sacudindo ao vento umas
longas tranças loiras. A moça em questão deve ser vaporosa e ideal como uma criação de Shakespeare? deve
ser o contraste do roastbeef britânico, com que se alimenta a liberdade do Reino Unido. (...)
Falha desta vez a proverbial perspicácia dos leitores? Miss Dollar é uma cadelinha galga. (...) Miss Dollar , apesar
de não ser mais que uma cadelinha galga, teve as honras de ver o seu nome nos papéis públicos, antes de
entrar para este livro. O Jornal do Comércio e o Correio Mercantil publicaram nas colunas dos anúncios as
seguintes linhas reverberantes de promessa:
"Desencaminhou-se
uma cadelinha galga, na noite de ontem, 30. Acode ao nome de Miss Dollar . Quem a achou
e quiser levar à Rua de Mata-cavalos
n o ..., receberá duzentos mil-réis
de recompensa.(...)."
Todas as pessoas que sentiam necessidade urgente de duzentos mil-réis,
e tiveram a felicidade de ler aquele
anúncio, andaram nesse dia com extremo cuidado nas ruas do Rio de Janeiro, a ver se davam com a fugitiva
Miss Dollar . (...)
Dr. Mendonça encontrou a cachorra (...).
Quais as razões que induziram o Dr. Mendonça a fazer coleção de cães, é coisa que ninguém podia dizer? uns
queriam que fosse simplesmente paixão por esse símbolo da fidelidade ou do servilismo? outros pensavam antes
que, cheio de profundo desgosto pelos homens, Mendonça achou que era de boa guerra adorar os cães.
Fossem quais fossem as razões, o certo é que ninguém possuía mais bonita e variada coleção do que ele.
Tinha-os
de todas as raças, tamanhos e cores. Cuidava deles como se fossem seus filhos? se algum lhe morria
ficava melancólico. Quase se pode dizer que, no espírito de Mendonça, o cão pesava tanto como o amor,
segundo uma expressão célebre: tirai do mundo o cão, e o mundo será um ermo.
O leitor superficial conclui daqui que o nosso Mendonça era um homem excêntrico. Não era. Mendonça era um
homem como os outros? gostava de cães como outros gostam de flores. Os cães eram as suas rosas e violetas?
cultivava-os
com o mesmíssimo esmero. De flores gostava também? mas gostava delas nas plantas em que
nasciam: cortar um jasmim ou prender um canário parecia-lhe
idêntico atentado. (...)
No dia seguinte, lendo os jornais, Mendonça viu o anúncio transcrito acima, prometendo duzentos mil-réis
a
quem entregasse a cadelinha fugitiva. A sua paixão pelos cães deu-lhe
a medida da dor que devia sofrer o dono
ou dona de Miss Dollar , visto que chegava a oferecer duzentos mil-réis
de gratificação a quem apresentasse a
galga. Conseqüentemente resolveu restituí-la,
com bastante mágoa do coração. (...)
Foi devolver a cachorra, a casa era bonita. (...) Veio um moleque saber quem estava? Mendonça disse que vinha
restituir a galga fugitiva. Expansão do rosto do moleque, que correu a anunciar a boa nova. Miss Dollar ,
aproveitando uma fresta, precipitou-se
pelas escadas acima. Dispunha-se
Mendonça a descer, pois estava
cumprida a sua tarefa, quando o moleque voltou dizendo-lhe
que subisse e entrasse para a sala. (...)
- Queira ter a bondade de sentar-se,
disse ela designando uma cadeira à Mendonça.
- A minha demora é pequena, disse o médico sentando-se.
Vim trazer-lhe
a cadelinha que está comigo desde
ontem...
- Não imagina que desassossego causou cá em casa a ausência de Miss Dollar...
- Imagino, minha senhora? eu também sou apreciador de cães, e se me faltasse um sentiria profundamente. A
sua Miss Dollar ...
- Perdão! interrompeu a velha? minha não? Miss Dollar não é minha, é de minha sobrinha.
- Ah!...
- Ela aí vem.
Mendonça levantou-se
justamente quando entrava na sala a sobrinha em questão. Era uma moça que
representava vinte e oito anos, no pleno desenvolvimento da sua beleza, uma dessas mulheres que anunciam
velhice tardia e imponente. (...) Mendonça nunca vira olhos verdes em toda a sua vida? disseram-lhe
que
existiam olhos verdes, ele sabia de cor uns versos célebres de Gonçalves Dias? mas até então os olhos verdes
eram para ele a mesma coisa que a fênix dos antigos.
(...) Mendonça cumprimentou respeitosamente a recém-chegada,
e esta, com um gesto, convidou-o
a sentar-se
outra vez.
- Agradeço-lhe
infinitamente o ter-me
restituído este pobre animal, que me merece grande estima, disse
Margarida sentando-se.
- E eu dou graças a Deus por tê-lo
achado? podia ter caído em mãos que o não restituíssem. (...)
Mendonça apaixona-se
por Margarida e relata ao amigo:
- Compreendes agora, disse Mendonça, que eu preciso ir à casa dela? tenho necessidade de vê-la?
quero ver
se consigo...
Mendonça estacou.
- Acaba! disse Andrade? se consegues ser amado. Por que não? Mas desde já te digo que não será fácil.
- Por quê?
- Margarida tem rejeitado cinco casamentos.
- Naturalmente não amava os pretendentes, disse Mendonça com o ar de um geômetra que acha uma solução.
- Amava apaixonadamente o primeiro, respondeu Andrade, e não era indiferente ao último.
- Houve naturalmente intriga.
- Também não. Admiras-te?
É o que me acontece. É uma rapariga esquisita. Se te achas com força de ser o
Colombo daquele mundo, lança-te
ao mar com a armada? mas toma cuidado com a revolta das paixões, que são
os ferozes marujos destas navegações de descoberta. (...)

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Releia: " Os cães eram as suas rosas e violetas? cultivava-os com o mesmíssimo esmero." No trecho, ocorre a seguinte figura de linguagem:
Alternativas
Q78032 Português
Leia atentamente alguns trechos adaptados do texto "Miss Dollar", de Machado de Assis, que relata como uma
cachorrinha pôde despertar a paixão do jovem médico Mendonça por Margarida, uma triste viúva que não
acredita mais no amor. O texto é dividido pelo autor em oito capítulos que não foram aqui reproduzidos.

CAPÍTULO PRIMEIRO

Era conveniente ao romance que o leitor ficasse muito tempo sem saber quem era Miss Dollar . Mas por outro
lado, sem a apresentação de Miss Dollar , seria o autor obrigado a longas digressões, que encheriam o papel
sem adiantar a ação. Não há hesitação possível: vou apresentar-lhes
Miss Dollar.
Se o leitor é rapaz e dado ao gênio melancólico, imagina que Miss Dollar é uma inglesa pálida e delgada,
escassa de carnes e de sangue, abrindo à flor do rosto dois grandes olhos azuis e sacudindo ao vento umas
longas tranças loiras. A moça em questão deve ser vaporosa e ideal como uma criação de Shakespeare? deve
ser o contraste do roastbeef britânico, com que se alimenta a liberdade do Reino Unido. (...)
Falha desta vez a proverbial perspicácia dos leitores? Miss Dollar é uma cadelinha galga. (...) Miss Dollar , apesar
de não ser mais que uma cadelinha galga, teve as honras de ver o seu nome nos papéis públicos, antes de
entrar para este livro. O Jornal do Comércio e o Correio Mercantil publicaram nas colunas dos anúncios as
seguintes linhas reverberantes de promessa:
"Desencaminhou-se
uma cadelinha galga, na noite de ontem, 30. Acode ao nome de Miss Dollar . Quem a achou
e quiser levar à Rua de Mata-cavalos
n o ..., receberá duzentos mil-réis
de recompensa.(...)."
Todas as pessoas que sentiam necessidade urgente de duzentos mil-réis,
e tiveram a felicidade de ler aquele
anúncio, andaram nesse dia com extremo cuidado nas ruas do Rio de Janeiro, a ver se davam com a fugitiva
Miss Dollar . (...)
Dr. Mendonça encontrou a cachorra (...).
Quais as razões que induziram o Dr. Mendonça a fazer coleção de cães, é coisa que ninguém podia dizer? uns
queriam que fosse simplesmente paixão por esse símbolo da fidelidade ou do servilismo? outros pensavam antes
que, cheio de profundo desgosto pelos homens, Mendonça achou que era de boa guerra adorar os cães.
Fossem quais fossem as razões, o certo é que ninguém possuía mais bonita e variada coleção do que ele.
Tinha-os
de todas as raças, tamanhos e cores. Cuidava deles como se fossem seus filhos? se algum lhe morria
ficava melancólico. Quase se pode dizer que, no espírito de Mendonça, o cão pesava tanto como o amor,
segundo uma expressão célebre: tirai do mundo o cão, e o mundo será um ermo.
O leitor superficial conclui daqui que o nosso Mendonça era um homem excêntrico. Não era. Mendonça era um
homem como os outros? gostava de cães como outros gostam de flores. Os cães eram as suas rosas e violetas?
cultivava-os
com o mesmíssimo esmero. De flores gostava também? mas gostava delas nas plantas em que
nasciam: cortar um jasmim ou prender um canário parecia-lhe
idêntico atentado. (...)
No dia seguinte, lendo os jornais, Mendonça viu o anúncio transcrito acima, prometendo duzentos mil-réis
a
quem entregasse a cadelinha fugitiva. A sua paixão pelos cães deu-lhe
a medida da dor que devia sofrer o dono
ou dona de Miss Dollar , visto que chegava a oferecer duzentos mil-réis
de gratificação a quem apresentasse a
galga. Conseqüentemente resolveu restituí-la,
com bastante mágoa do coração. (...)
Foi devolver a cachorra, a casa era bonita. (...) Veio um moleque saber quem estava? Mendonça disse que vinha
restituir a galga fugitiva. Expansão do rosto do moleque, que correu a anunciar a boa nova. Miss Dollar ,
aproveitando uma fresta, precipitou-se
pelas escadas acima. Dispunha-se
Mendonça a descer, pois estava
cumprida a sua tarefa, quando o moleque voltou dizendo-lhe
que subisse e entrasse para a sala. (...)
- Queira ter a bondade de sentar-se,
disse ela designando uma cadeira à Mendonça.
- A minha demora é pequena, disse o médico sentando-se.
Vim trazer-lhe
a cadelinha que está comigo desde
ontem...
- Não imagina que desassossego causou cá em casa a ausência de Miss Dollar...
- Imagino, minha senhora? eu também sou apreciador de cães, e se me faltasse um sentiria profundamente. A
sua Miss Dollar ...
- Perdão! interrompeu a velha? minha não? Miss Dollar não é minha, é de minha sobrinha.
- Ah!...
- Ela aí vem.
Mendonça levantou-se
justamente quando entrava na sala a sobrinha em questão. Era uma moça que
representava vinte e oito anos, no pleno desenvolvimento da sua beleza, uma dessas mulheres que anunciam
velhice tardia e imponente. (...) Mendonça nunca vira olhos verdes em toda a sua vida? disseram-lhe
que
existiam olhos verdes, ele sabia de cor uns versos célebres de Gonçalves Dias? mas até então os olhos verdes
eram para ele a mesma coisa que a fênix dos antigos.
(...) Mendonça cumprimentou respeitosamente a recém-chegada,
e esta, com um gesto, convidou-o
a sentar-se
outra vez.
- Agradeço-lhe
infinitamente o ter-me
restituído este pobre animal, que me merece grande estima, disse
Margarida sentando-se.
- E eu dou graças a Deus por tê-lo
achado? podia ter caído em mãos que o não restituíssem. (...)
Mendonça apaixona-se
por Margarida e relata ao amigo:
- Compreendes agora, disse Mendonça, que eu preciso ir à casa dela? tenho necessidade de vê-la?
quero ver
se consigo...
Mendonça estacou.
- Acaba! disse Andrade? se consegues ser amado. Por que não? Mas desde já te digo que não será fácil.
- Por quê?
- Margarida tem rejeitado cinco casamentos.
- Naturalmente não amava os pretendentes, disse Mendonça com o ar de um geômetra que acha uma solução.
- Amava apaixonadamente o primeiro, respondeu Andrade, e não era indiferente ao último.
- Houve naturalmente intriga.
- Também não. Admiras-te?
É o que me acontece. É uma rapariga esquisita. Se te achas com força de ser o
Colombo daquele mundo, lança-te
ao mar com a armada? mas toma cuidado com a revolta das paixões, que são
os ferozes marujos destas navegações de descoberta. (...)

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As atitudes e descrições de Mendonça no trecho o caracterizam como uma pessoa:
Alternativas
Q78031 Português
Leia atentamente alguns trechos adaptados do texto "Miss Dollar", de Machado de Assis, que relata como uma
cachorrinha pôde despertar a paixão do jovem médico Mendonça por Margarida, uma triste viúva que não
acredita mais no amor. O texto é dividido pelo autor em oito capítulos que não foram aqui reproduzidos.

CAPÍTULO PRIMEIRO

Era conveniente ao romance que o leitor ficasse muito tempo sem saber quem era Miss Dollar . Mas por outro
lado, sem a apresentação de Miss Dollar , seria o autor obrigado a longas digressões, que encheriam o papel
sem adiantar a ação. Não há hesitação possível: vou apresentar-lhes
Miss Dollar.
Se o leitor é rapaz e dado ao gênio melancólico, imagina que Miss Dollar é uma inglesa pálida e delgada,
escassa de carnes e de sangue, abrindo à flor do rosto dois grandes olhos azuis e sacudindo ao vento umas
longas tranças loiras. A moça em questão deve ser vaporosa e ideal como uma criação de Shakespeare? deve
ser o contraste do roastbeef britânico, com que se alimenta a liberdade do Reino Unido. (...)
Falha desta vez a proverbial perspicácia dos leitores? Miss Dollar é uma cadelinha galga. (...) Miss Dollar , apesar
de não ser mais que uma cadelinha galga, teve as honras de ver o seu nome nos papéis públicos, antes de
entrar para este livro. O Jornal do Comércio e o Correio Mercantil publicaram nas colunas dos anúncios as
seguintes linhas reverberantes de promessa:
"Desencaminhou-se
uma cadelinha galga, na noite de ontem, 30. Acode ao nome de Miss Dollar . Quem a achou
e quiser levar à Rua de Mata-cavalos
n o ..., receberá duzentos mil-réis
de recompensa.(...)."
Todas as pessoas que sentiam necessidade urgente de duzentos mil-réis,
e tiveram a felicidade de ler aquele
anúncio, andaram nesse dia com extremo cuidado nas ruas do Rio de Janeiro, a ver se davam com a fugitiva
Miss Dollar . (...)
Dr. Mendonça encontrou a cachorra (...).
Quais as razões que induziram o Dr. Mendonça a fazer coleção de cães, é coisa que ninguém podia dizer? uns
queriam que fosse simplesmente paixão por esse símbolo da fidelidade ou do servilismo? outros pensavam antes
que, cheio de profundo desgosto pelos homens, Mendonça achou que era de boa guerra adorar os cães.
Fossem quais fossem as razões, o certo é que ninguém possuía mais bonita e variada coleção do que ele.
Tinha-os
de todas as raças, tamanhos e cores. Cuidava deles como se fossem seus filhos? se algum lhe morria
ficava melancólico. Quase se pode dizer que, no espírito de Mendonça, o cão pesava tanto como o amor,
segundo uma expressão célebre: tirai do mundo o cão, e o mundo será um ermo.
O leitor superficial conclui daqui que o nosso Mendonça era um homem excêntrico. Não era. Mendonça era um
homem como os outros? gostava de cães como outros gostam de flores. Os cães eram as suas rosas e violetas?
cultivava-os
com o mesmíssimo esmero. De flores gostava também? mas gostava delas nas plantas em que
nasciam: cortar um jasmim ou prender um canário parecia-lhe
idêntico atentado. (...)
No dia seguinte, lendo os jornais, Mendonça viu o anúncio transcrito acima, prometendo duzentos mil-réis
a
quem entregasse a cadelinha fugitiva. A sua paixão pelos cães deu-lhe
a medida da dor que devia sofrer o dono
ou dona de Miss Dollar , visto que chegava a oferecer duzentos mil-réis
de gratificação a quem apresentasse a
galga. Conseqüentemente resolveu restituí-la,
com bastante mágoa do coração. (...)
Foi devolver a cachorra, a casa era bonita. (...) Veio um moleque saber quem estava? Mendonça disse que vinha
restituir a galga fugitiva. Expansão do rosto do moleque, que correu a anunciar a boa nova. Miss Dollar ,
aproveitando uma fresta, precipitou-se
pelas escadas acima. Dispunha-se
Mendonça a descer, pois estava
cumprida a sua tarefa, quando o moleque voltou dizendo-lhe
que subisse e entrasse para a sala. (...)
- Queira ter a bondade de sentar-se,
disse ela designando uma cadeira à Mendonça.
- A minha demora é pequena, disse o médico sentando-se.
Vim trazer-lhe
a cadelinha que está comigo desde
ontem...
- Não imagina que desassossego causou cá em casa a ausência de Miss Dollar...
- Imagino, minha senhora? eu também sou apreciador de cães, e se me faltasse um sentiria profundamente. A
sua Miss Dollar ...
- Perdão! interrompeu a velha? minha não? Miss Dollar não é minha, é de minha sobrinha.
- Ah!...
- Ela aí vem.
Mendonça levantou-se
justamente quando entrava na sala a sobrinha em questão. Era uma moça que
representava vinte e oito anos, no pleno desenvolvimento da sua beleza, uma dessas mulheres que anunciam
velhice tardia e imponente. (...) Mendonça nunca vira olhos verdes em toda a sua vida? disseram-lhe
que
existiam olhos verdes, ele sabia de cor uns versos célebres de Gonçalves Dias? mas até então os olhos verdes
eram para ele a mesma coisa que a fênix dos antigos.
(...) Mendonça cumprimentou respeitosamente a recém-chegada,
e esta, com um gesto, convidou-o
a sentar-se
outra vez.
- Agradeço-lhe
infinitamente o ter-me
restituído este pobre animal, que me merece grande estima, disse
Margarida sentando-se.
- E eu dou graças a Deus por tê-lo
achado? podia ter caído em mãos que o não restituíssem. (...)
Mendonça apaixona-se
por Margarida e relata ao amigo:
- Compreendes agora, disse Mendonça, que eu preciso ir à casa dela? tenho necessidade de vê-la?
quero ver
se consigo...
Mendonça estacou.
- Acaba! disse Andrade? se consegues ser amado. Por que não? Mas desde já te digo que não será fácil.
- Por quê?
- Margarida tem rejeitado cinco casamentos.
- Naturalmente não amava os pretendentes, disse Mendonça com o ar de um geômetra que acha uma solução.
- Amava apaixonadamente o primeiro, respondeu Andrade, e não era indiferente ao último.
- Houve naturalmente intriga.
- Também não. Admiras-te?
É o que me acontece. É uma rapariga esquisita. Se te achas com força de ser o
Colombo daquele mundo, lança-te
ao mar com a armada? mas toma cuidado com a revolta das paixões, que são
os ferozes marujos destas navegações de descoberta. (...)

Imagem 001.jpg

A palavra " galga" foi empregada para:
Alternativas
Q78030 Português
Leia atentamente alguns trechos adaptados do texto "Miss Dollar", de Machado de Assis, que relata como uma
cachorrinha pôde despertar a paixão do jovem médico Mendonça por Margarida, uma triste viúva que não
acredita mais no amor. O texto é dividido pelo autor em oito capítulos que não foram aqui reproduzidos.

CAPÍTULO PRIMEIRO

Era conveniente ao romance que o leitor ficasse muito tempo sem saber quem era Miss Dollar . Mas por outro
lado, sem a apresentação de Miss Dollar , seria o autor obrigado a longas digressões, que encheriam o papel
sem adiantar a ação. Não há hesitação possível: vou apresentar-lhes
Miss Dollar.
Se o leitor é rapaz e dado ao gênio melancólico, imagina que Miss Dollar é uma inglesa pálida e delgada,
escassa de carnes e de sangue, abrindo à flor do rosto dois grandes olhos azuis e sacudindo ao vento umas
longas tranças loiras. A moça em questão deve ser vaporosa e ideal como uma criação de Shakespeare? deve
ser o contraste do roastbeef britânico, com que se alimenta a liberdade do Reino Unido. (...)
Falha desta vez a proverbial perspicácia dos leitores? Miss Dollar é uma cadelinha galga. (...) Miss Dollar , apesar
de não ser mais que uma cadelinha galga, teve as honras de ver o seu nome nos papéis públicos, antes de
entrar para este livro. O Jornal do Comércio e o Correio Mercantil publicaram nas colunas dos anúncios as
seguintes linhas reverberantes de promessa:
"Desencaminhou-se
uma cadelinha galga, na noite de ontem, 30. Acode ao nome de Miss Dollar . Quem a achou
e quiser levar à Rua de Mata-cavalos
n o ..., receberá duzentos mil-réis
de recompensa.(...)."
Todas as pessoas que sentiam necessidade urgente de duzentos mil-réis,
e tiveram a felicidade de ler aquele
anúncio, andaram nesse dia com extremo cuidado nas ruas do Rio de Janeiro, a ver se davam com a fugitiva
Miss Dollar . (...)
Dr. Mendonça encontrou a cachorra (...).
Quais as razões que induziram o Dr. Mendonça a fazer coleção de cães, é coisa que ninguém podia dizer? uns
queriam que fosse simplesmente paixão por esse símbolo da fidelidade ou do servilismo? outros pensavam antes
que, cheio de profundo desgosto pelos homens, Mendonça achou que era de boa guerra adorar os cães.
Fossem quais fossem as razões, o certo é que ninguém possuía mais bonita e variada coleção do que ele.
Tinha-os
de todas as raças, tamanhos e cores. Cuidava deles como se fossem seus filhos? se algum lhe morria
ficava melancólico. Quase se pode dizer que, no espírito de Mendonça, o cão pesava tanto como o amor,
segundo uma expressão célebre: tirai do mundo o cão, e o mundo será um ermo.
O leitor superficial conclui daqui que o nosso Mendonça era um homem excêntrico. Não era. Mendonça era um
homem como os outros? gostava de cães como outros gostam de flores. Os cães eram as suas rosas e violetas?
cultivava-os
com o mesmíssimo esmero. De flores gostava também? mas gostava delas nas plantas em que
nasciam: cortar um jasmim ou prender um canário parecia-lhe
idêntico atentado. (...)
No dia seguinte, lendo os jornais, Mendonça viu o anúncio transcrito acima, prometendo duzentos mil-réis
a
quem entregasse a cadelinha fugitiva. A sua paixão pelos cães deu-lhe
a medida da dor que devia sofrer o dono
ou dona de Miss Dollar , visto que chegava a oferecer duzentos mil-réis
de gratificação a quem apresentasse a
galga. Conseqüentemente resolveu restituí-la,
com bastante mágoa do coração. (...)
Foi devolver a cachorra, a casa era bonita. (...) Veio um moleque saber quem estava? Mendonça disse que vinha
restituir a galga fugitiva. Expansão do rosto do moleque, que correu a anunciar a boa nova. Miss Dollar ,
aproveitando uma fresta, precipitou-se
pelas escadas acima. Dispunha-se
Mendonça a descer, pois estava
cumprida a sua tarefa, quando o moleque voltou dizendo-lhe
que subisse e entrasse para a sala. (...)
- Queira ter a bondade de sentar-se,
disse ela designando uma cadeira à Mendonça.
- A minha demora é pequena, disse o médico sentando-se.
Vim trazer-lhe
a cadelinha que está comigo desde
ontem...
- Não imagina que desassossego causou cá em casa a ausência de Miss Dollar...
- Imagino, minha senhora? eu também sou apreciador de cães, e se me faltasse um sentiria profundamente. A
sua Miss Dollar ...
- Perdão! interrompeu a velha? minha não? Miss Dollar não é minha, é de minha sobrinha.
- Ah!...
- Ela aí vem.
Mendonça levantou-se
justamente quando entrava na sala a sobrinha em questão. Era uma moça que
representava vinte e oito anos, no pleno desenvolvimento da sua beleza, uma dessas mulheres que anunciam
velhice tardia e imponente. (...) Mendonça nunca vira olhos verdes em toda a sua vida? disseram-lhe
que
existiam olhos verdes, ele sabia de cor uns versos célebres de Gonçalves Dias? mas até então os olhos verdes
eram para ele a mesma coisa que a fênix dos antigos.
(...) Mendonça cumprimentou respeitosamente a recém-chegada,
e esta, com um gesto, convidou-o
a sentar-se
outra vez.
- Agradeço-lhe
infinitamente o ter-me
restituído este pobre animal, que me merece grande estima, disse
Margarida sentando-se.
- E eu dou graças a Deus por tê-lo
achado? podia ter caído em mãos que o não restituíssem. (...)
Mendonça apaixona-se
por Margarida e relata ao amigo:
- Compreendes agora, disse Mendonça, que eu preciso ir à casa dela? tenho necessidade de vê-la?
quero ver
se consigo...
Mendonça estacou.
- Acaba! disse Andrade? se consegues ser amado. Por que não? Mas desde já te digo que não será fácil.
- Por quê?
- Margarida tem rejeitado cinco casamentos.
- Naturalmente não amava os pretendentes, disse Mendonça com o ar de um geômetra que acha uma solução.
- Amava apaixonadamente o primeiro, respondeu Andrade, e não era indiferente ao último.
- Houve naturalmente intriga.
- Também não. Admiras-te?
É o que me acontece. É uma rapariga esquisita. Se te achas com força de ser o
Colombo daquele mundo, lança-te
ao mar com a armada? mas toma cuidado com a revolta das paixões, que são
os ferozes marujos destas navegações de descoberta. (...)

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Devese relacionar a característica de Machado de Assis dialogar literalmente com seu leitor à seguinte afirmação de Koch e Elias (2008, p.7):
Alternativas
Q78029 Português
Leia atentamente alguns trechos adaptados do texto "Miss Dollar", de Machado de Assis, que relata como uma
cachorrinha pôde despertar a paixão do jovem médico Mendonça por Margarida, uma triste viúva que não
acredita mais no amor. O texto é dividido pelo autor em oito capítulos que não foram aqui reproduzidos.

CAPÍTULO PRIMEIRO

Era conveniente ao romance que o leitor ficasse muito tempo sem saber quem era Miss Dollar . Mas por outro
lado, sem a apresentação de Miss Dollar , seria o autor obrigado a longas digressões, que encheriam o papel
sem adiantar a ação. Não há hesitação possível: vou apresentar-lhes
Miss Dollar.
Se o leitor é rapaz e dado ao gênio melancólico, imagina que Miss Dollar é uma inglesa pálida e delgada,
escassa de carnes e de sangue, abrindo à flor do rosto dois grandes olhos azuis e sacudindo ao vento umas
longas tranças loiras. A moça em questão deve ser vaporosa e ideal como uma criação de Shakespeare? deve
ser o contraste do roastbeef britânico, com que se alimenta a liberdade do Reino Unido. (...)
Falha desta vez a proverbial perspicácia dos leitores? Miss Dollar é uma cadelinha galga. (...) Miss Dollar , apesar
de não ser mais que uma cadelinha galga, teve as honras de ver o seu nome nos papéis públicos, antes de
entrar para este livro. O Jornal do Comércio e o Correio Mercantil publicaram nas colunas dos anúncios as
seguintes linhas reverberantes de promessa:
"Desencaminhou-se
uma cadelinha galga, na noite de ontem, 30. Acode ao nome de Miss Dollar . Quem a achou
e quiser levar à Rua de Mata-cavalos
n o ..., receberá duzentos mil-réis
de recompensa.(...)."
Todas as pessoas que sentiam necessidade urgente de duzentos mil-réis,
e tiveram a felicidade de ler aquele
anúncio, andaram nesse dia com extremo cuidado nas ruas do Rio de Janeiro, a ver se davam com a fugitiva
Miss Dollar . (...)
Dr. Mendonça encontrou a cachorra (...).
Quais as razões que induziram o Dr. Mendonça a fazer coleção de cães, é coisa que ninguém podia dizer? uns
queriam que fosse simplesmente paixão por esse símbolo da fidelidade ou do servilismo? outros pensavam antes
que, cheio de profundo desgosto pelos homens, Mendonça achou que era de boa guerra adorar os cães.
Fossem quais fossem as razões, o certo é que ninguém possuía mais bonita e variada coleção do que ele.
Tinha-os
de todas as raças, tamanhos e cores. Cuidava deles como se fossem seus filhos? se algum lhe morria
ficava melancólico. Quase se pode dizer que, no espírito de Mendonça, o cão pesava tanto como o amor,
segundo uma expressão célebre: tirai do mundo o cão, e o mundo será um ermo.
O leitor superficial conclui daqui que o nosso Mendonça era um homem excêntrico. Não era. Mendonça era um
homem como os outros? gostava de cães como outros gostam de flores. Os cães eram as suas rosas e violetas?
cultivava-os
com o mesmíssimo esmero. De flores gostava também? mas gostava delas nas plantas em que
nasciam: cortar um jasmim ou prender um canário parecia-lhe
idêntico atentado. (...)
No dia seguinte, lendo os jornais, Mendonça viu o anúncio transcrito acima, prometendo duzentos mil-réis
a
quem entregasse a cadelinha fugitiva. A sua paixão pelos cães deu-lhe
a medida da dor que devia sofrer o dono
ou dona de Miss Dollar , visto que chegava a oferecer duzentos mil-réis
de gratificação a quem apresentasse a
galga. Conseqüentemente resolveu restituí-la,
com bastante mágoa do coração. (...)
Foi devolver a cachorra, a casa era bonita. (...) Veio um moleque saber quem estava? Mendonça disse que vinha
restituir a galga fugitiva. Expansão do rosto do moleque, que correu a anunciar a boa nova. Miss Dollar ,
aproveitando uma fresta, precipitou-se
pelas escadas acima. Dispunha-se
Mendonça a descer, pois estava
cumprida a sua tarefa, quando o moleque voltou dizendo-lhe
que subisse e entrasse para a sala. (...)
- Queira ter a bondade de sentar-se,
disse ela designando uma cadeira à Mendonça.
- A minha demora é pequena, disse o médico sentando-se.
Vim trazer-lhe
a cadelinha que está comigo desde
ontem...
- Não imagina que desassossego causou cá em casa a ausência de Miss Dollar...
- Imagino, minha senhora? eu também sou apreciador de cães, e se me faltasse um sentiria profundamente. A
sua Miss Dollar ...
- Perdão! interrompeu a velha? minha não? Miss Dollar não é minha, é de minha sobrinha.
- Ah!...
- Ela aí vem.
Mendonça levantou-se
justamente quando entrava na sala a sobrinha em questão. Era uma moça que
representava vinte e oito anos, no pleno desenvolvimento da sua beleza, uma dessas mulheres que anunciam
velhice tardia e imponente. (...) Mendonça nunca vira olhos verdes em toda a sua vida? disseram-lhe
que
existiam olhos verdes, ele sabia de cor uns versos célebres de Gonçalves Dias? mas até então os olhos verdes
eram para ele a mesma coisa que a fênix dos antigos.
(...) Mendonça cumprimentou respeitosamente a recém-chegada,
e esta, com um gesto, convidou-o
a sentar-se
outra vez.
- Agradeço-lhe
infinitamente o ter-me
restituído este pobre animal, que me merece grande estima, disse
Margarida sentando-se.
- E eu dou graças a Deus por tê-lo
achado? podia ter caído em mãos que o não restituíssem. (...)
Mendonça apaixona-se
por Margarida e relata ao amigo:
- Compreendes agora, disse Mendonça, que eu preciso ir à casa dela? tenho necessidade de vê-la?
quero ver
se consigo...
Mendonça estacou.
- Acaba! disse Andrade? se consegues ser amado. Por que não? Mas desde já te digo que não será fácil.
- Por quê?
- Margarida tem rejeitado cinco casamentos.
- Naturalmente não amava os pretendentes, disse Mendonça com o ar de um geômetra que acha uma solução.
- Amava apaixonadamente o primeiro, respondeu Andrade, e não era indiferente ao último.
- Houve naturalmente intriga.
- Também não. Admiras-te?
É o que me acontece. É uma rapariga esquisita. Se te achas com força de ser o
Colombo daquele mundo, lança-te
ao mar com a armada? mas toma cuidado com a revolta das paixões, que são
os ferozes marujos destas navegações de descoberta. (...)

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Da leitura atenta dos trechos acima, está CORRETO afirmar que constituem parte de um(a):
Alternativas
Q78216 Direito Administrativo
Com relação às licitações para a execução de obras e para a prestação de serviços, conforme artigo 7º da Lei 8.666/93, assinale a alternativa INCORRETA.
Alternativas
Q78214 Direito Administrativo
Com relação aos documentos e requisitos necessários à qualificação econômico-financeira para habilitação dos interessados nas licitações, conforme artigo 31 da lei 8.666/93, assinale a alternativa INCORRETA.
Alternativas
Q78213 Direito Administrativo
De acordo com a Lei 8.666/93, é inexigível a licitação quando houver inviabilidade de competição:
Alternativas
Q78195 Contabilidade Geral
As provisões, sejam do Ativo ou do Passivo, são determinadas com base em estimativas que envolvam incertezas de grau variável. Sabendo isso, são consideradas provisões do Passivo:
Alternativas
Q78078 Estatuto da Advocacia e da OAB, Regulamento Geral e Código de Ética e Disciplina da OAB
Quanto ao Estatuto da Advocacia e da OAB, marque a alternativa INCORRETA:
Alternativas
Q78073 Direito do Trabalho
Sobre os acordos e convenções coletivas do trabalho, assinale a alternativa CORRETA:
Alternativas
Q78071 Direito do Trabalho
De acordo com a Constituição Federal, Consolidação das Leis do Trabalho e jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho, no que concerne à licença maternidade, assinale a alternativa CORRETA:
Alternativas
Q78056 Direito Civil
No tocante ao conflito de leis no espaço e no tempo, regulado pela Lei de Introdução ao Código Civil, é CORRETO dizer que:
Alternativas
Q78049 Direito Administrativo
A licitação compreende as seguintes modalidades: concorrência, tomada de preços, convite, concurso, leilão e pregão. As alternativas abaixo elencam os requisitos da concorrência, EXCETO:
Alternativas
Respostas
141: C
142: D
143: B
144: A
145: E
146: C
147: C
148: B
149: D
150: E
151: A
152: B
153: A
154: E
155: D
156: E
157: D
158: B
159: B
160: B