Questões de Vestibular de Português - Figuras de Linguagem

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Q1352233 Português

Texto para a questão 


        Escrevo neste instante com algum prévio pudor por vos estar invadindo com tal narrativa tão exterior e explícita. De onde no entanto até sangue arfante de tão vivo de vida poderá quem sabe escorrer e logo se coagular em cubos de geleia trêmula. Será essa história um dia o meu coágulo? Que sei eu. Se há veracidade nela – e é claro que a história é verdadeira embora inventada –, que cada um a reconheça em si mesmo porque todos nós somos um e quem não tem pobreza de dinheiro tem pobreza de espírito ou saudade por lhe faltar coisa mais preciosa que ouro – existe a quem falte o delicado essencial.

Clarice Lispector, A hora da estrela. 

Dos efeitos expressivos presentes nos trechos do texto reproduzidos abaixo, o único que NÃO está corretamente identificado é:
Alternativas
Q1352228 Português

Texto para a questão


Evanildo Bechara, Na ponta da língua. Adaptado. 

Sobre os verbos “boiar” e “nadar”, empregados metaforicamente no texto, é correto afirmar:
Alternativas
Ano: 2016 Banca: VUNESP Órgão: UNIFESP Prova: VUNESP - 2016 - UNIFESP - Vestibular - Português \ Inglês \ Redação |
Q1351590 Português
Para responder à questão, leia o poema “Dissolução”, de Carlos Drummond de Andrade (1902- 1987), que integra o livro Claro enigma, publicado originalmente em 1951.

Escurece, e não me seduz
tatear sequer uma lâmpada.
Pois que aprouve1 ao dia findar,
aceito a noite.

E com ela aceito que brote
uma ordem outra de seres
e coisas não figuradas.
Braços cruzados.

Vazio de quanto amávamos,
mais vasto é o céu. Povoações
surgem do vácuo.
Habito alguma?

E nem destaco minha pele
da confluente escuridão.
Um fim unânime concentra-se
e pousa no ar. Hesitando.

E aquele agressivo espírito
que o dia carreia2 consigo,
já não oprime. Assim a paz,
destroçada.

Vai durar mil anos, ou
extinguir-se na cor do galo?
Esta rosa é definitiva,
ainda que pobre.

Imaginação, falsa demente,
já te desprezo. E tu, palavra.
No mundo, perene trânsito,
calamo-nos.
E sem alma, corpo, és suave.

(Claro enigma, 2012.)

1 aprazer: causar ou sentir prazer; contentar(-se).
2 carrear: carregar.
Personificação: recurso expressivo que consiste em atribuir propriedades humanas a uma coisa, a um ser inanimado ou abstrato.
(Dicionário Porto Editora da Língua Portuguesa. www.infopedia.pt. Adaptado.)
Verifica-se a ocorrência desse recurso no seguinte verso:
Alternativas
Q1351572 Português
Leia o soneto “A uma dama dormindo junto a uma fonte”, do poeta barroco Gregório de Matos (1636-1696), para responder à questão.

À margem de uma fonte, que corria,
Lira doce dos pássaros cantores
A bela ocasião das minhas dores
Dormindo estava ao despertar do dia.

Mas como dorme Sílvia, não vestia
O céu seus horizontes de mil cores;
Dominava o silêncio entre as flores,
Calava o mar, e rio não se ouvia.

Não dão o parabém à nova Aurora
Flores canoras, pássaros fragrantes,
Nem seu âmbar respira a rica Flora.

Porém abrindo Sílvia os dois diamantes,
Tudo a Sílvia festeja, tudo adora
Aves cheirosas, flores ressonantes.

(Poemas escolhidos, 2010.) 
A sinestesia consiste em transferir percepções de um sentido para as de outro, resultando um cruzamento de sensações.
(Celso Cunha. Gramática essencial, 2013.)
Verifica-se a ocorrência desse recurso no seguinte verso:
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Ano: 2012 Banca: Universidade Presbiteriana Mackenzie Órgão: MACKENZIE Prova: Universidade Presbiteriana Mackenzie - 2012 - MACKENZIE - Vestibular 2013 - Primeiro Semestre - Grupos II e III |
Q1350699 Português
Assinale a alternativa INCORRETA
Alternativas
Q1350257 Português
Leia o fragmento de Marília de Dirceu, de Tomás Antônio Gonzaga e, a seguir, assinale a alternativa correta.

Acaso são estes
Os sítios formosos,
Aonde passava
Os anos gostosos?
São estes os prados,
Aonde brincava,
Enquanto pastava,
O manso rebanho?
Que Alceu nos deixou?
        São estes os sítios?
        São estes; mas eu
        O mesmo não sou.
        Marília, tu chamas?
        Espera, que eu vou.
                 *

Daquele penhasco
Um rio caía;
Ao som do sussurro
Que vezes dormia!
Agora não cobrem
Espumas nevadas
As pedras quebradas:
Parece que o rio
Ao curso voltou.
        São estes os sítios?
        São estes; mas eu
        O mesmo não sou.
        Marília, tu chamas?
        Espera, que eu vou.

(GONZAGA, T. A.. Marília de Dirceu. São Paulo: Martin Claret, 2009, p. 25-26)
Nos versos transcritos, observa-se a busca de Tomás Antônio Gonzaga pela expressão adequada ao sentimento religioso associado à natureza, aspecto que reveste os versos de intensa simbologia cristã, como o emprego de “rebanho”, metáfora do homem temente a Deus e em harmonia com a natureza.
Alternativas
Q1350059 Português

Leia atentamente o soneto a seguir.


Grinaldas e véus brancos, véus de neve,

Véus e grinaldas purificadores,

Vão as Flores carnais, as alvas Flores

Do sentimento delicado e leve.


Um luar de pudor, sereno e breve,

De ignotos e de prônubos pudores,

Erra nos pulcros, virginais brancores

Por onde o amor parábolas descreve...


Luzes claras e augustas, luzes claras

Douram dos templos as sagradas aras,

Na comunhão das níveas hóstias frias...


Quando seios pubentes estremecem,

Silfos de sonhos de volúpia crescem,

Ondulantes, em formas alvadias...

(CRUZ e SOUSA. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997)

Vocabulário

ignotos: ignorados; desconhecidos.

prônubos: que dizem respeito a noivo ou noiva.

pulcros: belos; formosos.

parábolas: narrações alegóricas.

aras: pedras de altar.

pubentes: termo sem registro no dicionário, provavelmente seu sentido pode ser entendido como relativo à puberdade, passagem da infância à adolescência.

silfos: figuras mitológicas que vivem nos ares; seres vaporosos, delicados.

alvadias: brancas; alvas.


Esse soneto é de autoria do poeta simbolista Cruz e Sousa e nele se encontram as principais características da poesia simbolista brasileira. Com relação ao poeta Cruz e Sousa e ao soneto, assinale a alternativa correta.

O soneto apresenta na primeira estrofe o uso constante das aliterações, como a repetição do l e v e sua combinação com as vogais (al, flo, li, le, va, ve, vão), sugerindo musicalidade e leveza. 
Alternativas
Ano: 2013 Banca: Esamc Órgão: Esamc Prova: Esamc - 2013 - Esamc - Vestibular |
Q1348052 Português
Texto para a questão:


Tecendo a Manhã

Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
(João Cabral de Melo Neto, A educação pela pedra)
Uma das características da poesia é o uso de imagens metafóricas. No excerto do poema de João Cabral transcrito acima, as imagens elaboradas representam:
Alternativas
Ano: 2016 Banca: VUNESP Órgão: FAMEMA Prova: VUNESP - 2016 - FAMEMA - Vestibular 2017 - Prova II |
Q1346742 Português

Leia o texto de Claudia Wallin para responder à questão.


    Vossas excelências, ilustríssimos senhores e senhoras, trago notícias urgentes de um reino distante. É mister vos alertar, Vossas Excelências, que nesta estranha terra os habitantes criaram um país onde os mui digníssimos e respeitáveis representantes do povo são tratados, imaginem Vossas Senhorias, como o próprio povo. Insânia! Dirão que as histórias que aqui relato são meras alucinações de contos de fada, pois há neste rico reino, que chamam de Suécia, rei, rainha e princesas. Mas não se iludam! Os habitantes desta terra já tiraram todos os poderes do rei, em nome de uma democracia que proclama uma tal igualdade entre todos, e o que digo são coisas que tenho visto com os olhos que esta mesma terra um dia há de comer.

    Nestas longínquas comarcas, os mui distintos parlamentares, ministros e prefeitos viajam de trem ou de ônibus para o trabalho, em sua labuta para adoçar as mazelas do povo. De ônibus, Eminências! E muitos castelos há pelos quatro cantos deste próspero reino, mas aos egrégios representantes do povo é oferecido abrigo apenas em pífias habitações de um cômodo, indignas dos ilustríssimos defensores dos direitos dos cidadãos e da democracia.

    Este reino está cercado por outros ricos reinos, numa península chamada Escandinávia, onde também há príncipes e reis, e onde os representantes do povo vivem como sobrevive um súdito qualquer. E isto eu também vi, com os olhos que esta terra há de comer: em um dos povos vizinhos, conhecido como o reino dos noruegueses, os nobres representantes do povo chegam a almoçar sanduíches que trazem de casa, e que tiram dos bolsos dos paletós quando a fome aperta.

    É preciso cautela, Vossas Excelências. Deste reino, que chamam de Suécia ainda pouco se ouve falar. Mas as notícias sobre o igualitário reino dos suecos se espalham.

Estocolmo, 6 de janeiro de 2013.

(Um país sem excelências e mordomias, 2014. Adaptado.)

Assinale a alternativa em que ocorre um pleonasmo.
Alternativas
Q1346690 Português
A linguagem da propaganda enfrenta o desafio de prender a atenção do destinatário e, por isso, dentre outros recursos, valese de meios estilísticos.
Imagem associada para resolução da questão
Para convencer o receptor, observa-se a combinação entre as figuras
Alternativas
Ano: 2010 Banca: UEM Órgão: UEM Prova: UEM - 2010 - UEM - Vestibular - PAS - Etapa 2 - Inglês |
Q1346544 Português
Leia atentamente o trecho selecionado e, em seguida, assinale a alternativa correta.

Se se morrre de amor
(...)
Amor é vida; é ter constantemente
Alma, sentidos, coração – abertos
Ao grande, ao belo; é ser capaz d’extremos,
D’ altas virtudes, té capaz de crimes!
Compr’ender o infinito, a imensidade,
E a natureza e Deus; gostar dos campos,
D’ aves, flores, murmúrios solitários;
Buscar tristeza, a soledade, o ermo,
E ter o coração em riso e festa;
(...)
DIAS, Gonçalves. Poesia e prosa completas. Volume único. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2006, p. 293.

Vocabulário
ermo: descampado, deserto.
soledade: solidão. 
Nos versos “Amor é vida; é ter constantemente/ Alma, sentidos, coração – abertos”, encontram-se duas figuras: uma metáfora e uma hipérbole.
Alternativas
Ano: 2017 Banca: VUNESP Órgão: FAMEMA Prova: VUNESP - 2017 - FAMEMA - Vestibular 2018 - Prova II |
Q1345422 Português

Ao coração que sofre, separado

Do teu, no exílio em que a chorar me vejo,

Não basta o afeto simples e sagrado

Com que das desventuras me protejo.


Não me basta saber que sou amado,

Nem só desejo o teu amor: desejo

Ter nos braços teu corpo delicado,

Ter na boca a doçura de teu beijo.


E as justas ambições que me consomem

Não me envergonham: pois maior baixeza

Não há que a terra pelo céu trocar;


E mais eleva o coração de um homem

Ser de homem sempre e, na maior pureza,

Ficar na terra e humanamente amar.


(Melhores poemas, 2000.)

A preocupação formal com a musicalidade dos versos é confirmada pelo emprego da
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Ano: 2018 Banca: VUNESP Órgão: FAMEMA Prova: VUNESP - 2018 - FAMEMA - Vestibular 2019 - Prova II |
Q1344586 Português

Leia o poema “Namorados” de Manuel Bandeira (1886-1968).


O rapaz chegou-se para junto da moça e disse:

– Antônia, ainda não me acostumei com o seu corpo, com

                                                                           [a sua cara.


A moça olhou de lado e esperou.

– Você não sabe quando a gente é criança e de repente

                                                     [vê uma lagarta listada?

A moça se lembrava:

– A gente fica olhando...


A meninice brincou de novo nos olhos dela.


O rapaz prosseguiu com muita doçura:


– Antônia, você parece uma lagarta listada.


A moça arregalou os olhos, fez exclamações.


O rapaz concluiu:

– Antônia, você é engraçada! Você parece louca.

(Estrela da vida inteira, 2009.)




Verifica-se a ocorrência de personificação no seguinte verso:

Alternativas
Ano: 2012 Banca: Universidade Presbiteriana Mackenzie Órgão: MACKENZIE Prova: Universidade Presbiteriana Mackenzie - 2012 - MACKENZIE - vestibular |
Q1343469 Português

Texto para a questão


Machado de Assis, A mão e a luva
Considere os seguintes traços de estilo:

I. Evidência de metáforas na composição do discurso descritivo.
II. Marca linguística que denuncia a presença do interlocutor no texto.
III. Sinais explícitos de reflexão metalinguística, ou seja, discurso que tematiza o próprio fazer literário.

No texto,
Alternativas
Q1342583 Português

Leia o trecho inicial de Raízes do Brasil, do historiador brasileiro Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982), para responder à questão.

    A tentativa de implantação da cultura europeia em extenso território, dotado de condições naturais, se não adversas, largamente estranhas à sua tradição milenar, é, nas origens da sociedade brasileira, o fato dominante e mais rico em consequências. Trazendo de países distantes nossas formas de convívio, nossas instituições, nossas ideias, e timbrando em manter tudo isso em ambiente muitas vezes desfavorável e hostil, somos ainda hoje uns desterrados em nossa terra. Podemos construir obras excelentes, enriquecer nossa humanidade de aspectos novos e imprevistos, elevar à perfeição o tipo de civilização que representamos: o certo é que todo o fruto de nosso trabalho ou de nossa preguiça parece participar de um sistema de evolução próprio de outro clima e de outra paisagem.
    Assim, antes de perguntar até que ponto poderá alcançar bom êxito a tentativa, caberia averiguar até onde temos podido representar aquelas formas de convívio, instituições e ideias de que somos herdeiros.
    É significativa, em primeiro lugar, a circunstância de termos recebido a herança através de uma nação ibérica. A Espanha e Portugal são, com a Rússia e os países balcânicos (e em certo sentido também a Inglaterra), um dos territórios- -ponte pelos quais a Europa se comunica com os outros mundos. Assim, eles constituem uma zona fronteiriça, de transição, menos carregada, em alguns casos, desse europeísmo que, não obstante, mantêm como um patrimônio necessário.
    Foi a partir da época dos grandes descobrimentos marítimos que os dois países entraram mais decididamente no coro europeu. Esse ingresso tardio deveria repercutir intensamente em seus destinos, determinando muitos aspectos peculiares de sua história e de sua formação espiritual. Surgiu, assim, um tipo de sociedade que se desenvolveria, em alguns sentidos, quase à margem das congêneres europeias, e sem delas receber qualquer incitamento que já não trouxesse em germe.
    Quais os fundamentos em que assentam de preferência as formas de vida social nessa região indecisa entre a Europa e a África, que se estende dos Pireneus a Gibraltar? Como explicar muitas daquelas formas, sem recorrer a indicações mais ou menos vagas e que jamais nos conduziriam a uma estrita objetividade?
    Precisamente a comparação entre elas e as da Europa de além-Pireneus faz ressaltar uma característica bem peculiar à gente da península Ibérica, uma característica que ela está longe de partilhar, pelo menos na mesma intensidade, com qualquer de seus vizinhos do continente. É que nenhum desses vizinhos soube desenvolver a tal extremo essa cultura da personalidade, que parece constituir o traço mais decisivo na evolução da gente hispânica, desde tempos imemoriais. Pode dizer-se, realmente, que pela importância particular que atribuem ao valor próprio da pessoa humana, à autonomia de cada um dos homens em relação aos semelhantes no tempo e no espaço, devem os espanhóis e portugueses muito de sua originalidade nacional. [...]
    É dela que resulta largamente a singular tibieza das formas de organização, de todas as associações que impliquem solidariedade e ordenação entre esses povos. Em terra onde todos são barões não é possível acordo coletivo durável, a não ser por uma força exterior respeitável e temida.

(Raízes do Brasil, 2000.)

O Dicionário Houaiss de língua portuguesa define “elipse” como “supressão, num enunciado, de um termo que pode ser facilmente subentendido pelo contexto linguístico”. Verifica-se a ocorrência desse recurso em:
Alternativas
Q1342579 Português

Leia o trecho inicial de Raízes do Brasil, do historiador brasileiro Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982), para responder à questão.

    A tentativa de implantação da cultura europeia em extenso território, dotado de condições naturais, se não adversas, largamente estranhas à sua tradição milenar, é, nas origens da sociedade brasileira, o fato dominante e mais rico em consequências. Trazendo de países distantes nossas formas de convívio, nossas instituições, nossas ideias, e timbrando em manter tudo isso em ambiente muitas vezes desfavorável e hostil, somos ainda hoje uns desterrados em nossa terra. Podemos construir obras excelentes, enriquecer nossa humanidade de aspectos novos e imprevistos, elevar à perfeição o tipo de civilização que representamos: o certo é que todo o fruto de nosso trabalho ou de nossa preguiça parece participar de um sistema de evolução próprio de outro clima e de outra paisagem.
    Assim, antes de perguntar até que ponto poderá alcançar bom êxito a tentativa, caberia averiguar até onde temos podido representar aquelas formas de convívio, instituições e ideias de que somos herdeiros.
    É significativa, em primeiro lugar, a circunstância de termos recebido a herança através de uma nação ibérica. A Espanha e Portugal são, com a Rússia e os países balcânicos (e em certo sentido também a Inglaterra), um dos territórios- -ponte pelos quais a Europa se comunica com os outros mundos. Assim, eles constituem uma zona fronteiriça, de transição, menos carregada, em alguns casos, desse europeísmo que, não obstante, mantêm como um patrimônio necessário.
    Foi a partir da época dos grandes descobrimentos marítimos que os dois países entraram mais decididamente no coro europeu. Esse ingresso tardio deveria repercutir intensamente em seus destinos, determinando muitos aspectos peculiares de sua história e de sua formação espiritual. Surgiu, assim, um tipo de sociedade que se desenvolveria, em alguns sentidos, quase à margem das congêneres europeias, e sem delas receber qualquer incitamento que já não trouxesse em germe.
    Quais os fundamentos em que assentam de preferência as formas de vida social nessa região indecisa entre a Europa e a África, que se estende dos Pireneus a Gibraltar? Como explicar muitas daquelas formas, sem recorrer a indicações mais ou menos vagas e que jamais nos conduziriam a uma estrita objetividade?
    Precisamente a comparação entre elas e as da Europa de além-Pireneus faz ressaltar uma característica bem peculiar à gente da península Ibérica, uma característica que ela está longe de partilhar, pelo menos na mesma intensidade, com qualquer de seus vizinhos do continente. É que nenhum desses vizinhos soube desenvolver a tal extremo essa cultura da personalidade, que parece constituir o traço mais decisivo na evolução da gente hispânica, desde tempos imemoriais. Pode dizer-se, realmente, que pela importância particular que atribuem ao valor próprio da pessoa humana, à autonomia de cada um dos homens em relação aos semelhantes no tempo e no espaço, devem os espanhóis e portugueses muito de sua originalidade nacional. [...]
    É dela que resulta largamente a singular tibieza das formas de organização, de todas as associações que impliquem solidariedade e ordenação entre esses povos. Em terra onde todos são barões não é possível acordo coletivo durável, a não ser por uma força exterior respeitável e temida.

(Raízes do Brasil, 2000.)

No primeiro parágrafo, o autor recorre a uma construção paradoxal em:
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Ano: 2019 Banca: UniCEUB Órgão: UniCEUB Prova: UniCEUB - 2019 - UniCEUB - Vestibular de Medicina |
Q1342526 Português
Leia o trecho do romance Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida, para responder à questão.

    Em certas casas os agregados eram muito úteis, porque a família tirava grande proveito de seus serviços [...]; outras vezes porém e estas eram em maior número, o agregado, refinado vadio, era uma verdadeira parasita que se prendia à árvore familiar, que lhe participava da seiva sem ajudá-la a dar os frutos, e o que é mais ainda, chegava mesmo a dar cabo dela. E o caso é que, apesar de tudo, se na primeira hipótese o esmagavam com o peso de mil exigências, se lhe batiam a cada passo com os favores na cara, se o filho mais velho da casa, por exemplo, o tomava por seu divertimento, e à menor e mais justa queixa saltavam-lhe os pais em cima tomando o partido de seu filho, no segundo aturavam quanto desconforto havia com paciência de mártir; o agregado tornava-se quase rei em casa, punha, dispunha, castigava os escravos, ralhava com os filhos, intervinha enfim nos mais particulares negócios.

             (Memórias de um sargento de milícias, 2016.)
Assinale a alternativa em que há uma análise adequada do trecho apresentado.
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Ano: 2019 Banca: VUNESP Órgão: FAMERP Prova: VUNESP - 2019 - FAMERP - Conhecimentos Gerais |
Q1342388 Português
Leia o início do conto “Luís Soares”, de Machado de Assis, para responder à questão. 

    Trocar o dia pela noite, dizia Luís Soares, é restaurar o império da natureza corrigindo a obra da sociedade. O calor do sol está dizendo aos homens que vão descansar e dormir, ao passo que a frescura relativa da noite é a verdadeira estação em que se deve viver. Livre em todas as minhas ações, não quero sujeitar-me à lei absurda que a sociedade me impõe: velarei de noite, dormirei de dia.
    Contrariamente a vários ministérios, Soares cumpria este programa com um escrúpulo digno de uma grande consciência. A aurora para ele era o crepúsculo, o crepúsculo era a aurora. Dormia 12 horas consecutivas durante o dia, quer dizer das seis da manhã às seis da tarde. Almoçava às sete e jantava às duas da madrugada. Não ceava. A sua ceia limitava-se a uma xícara de chocolate que o criado lhe dava às cinco horas da manhã quando ele entrava para casa. Soares engolia o chocolate, fumava dois charutos, fazia alguns trocadilhos com o criado, lia uma página de algum romance, e deitava-se.
    Não lia jornais. Achava que um jornal era a cousa mais inútil deste mundo, depois da Câmara dos Deputados, das obras dos poetas e das missas. Não quer isto dizer que Soares fosse ateu em religião, política e poesia. Não. Soares era apenas indiferente. Olhava para todas as grandes cousas com a mesma cara com que via uma mulher feia. Podia vir a ser um grande perverso; até então era apenas uma grande inutilidade.

(Contos fluminenses, 2006.)
Assinale a alternativa que apresenta um trecho do texto e uma figura de linguagem que nele ocorre.
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Q1342059 Português

TEXTO

A minha mãe falava sério!

Thalita Rebouças

(Adaptação do capítulo do livro Fala sério, professor! Rio de Janeiro: Rocco, 2006)

Os vocábulos que se utilizam para fazer referência a seres, lugares, eventos podem não apenas nomeá-los, mas também demonstrar o que se pensa sobre eles. Assinale o que for correto a respeito dos vocábulos utilizados no texto
Ao afirmar que o apartamento onde a filha mora é um “chiqueiro” (linha 1), a mãe da narradora-personagem Malu emprega uma metáfora, utilizando o conhecimento extralinguístico que se tem de um curral de porcos. 
Alternativas
Q1342000 Português
Leia atentamente o soneto abaixo:

SONÊTO
Triste Bahia! oh quão dessemelhante
Estás, e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,
Rica te vejo eu já, tu a mi abundante.

A ti tocou-te a máquina mercante,
Que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando, e tem trocado
Tanto negócio, e tanto negociante.

Deste em dar tanto açúcar excelente
Pelas drogas inúteis, que abelhuda
Simples aceitas do sangaz Brichote.

Oh se quisera Deus, que de repente
Um dia amanheceras tão sisuda
Que fôra de algodão o teu capote!
MATOS, Gregório. Antologia. Porto Alegre: L&M, 2009, p. 103- 104.

Vocabulário
dessemelhante: diferente.
sangaz: sagaz, astuto, malicioso.
Brichote: palavra depreciativa para designar o estrangeiro.
sisuda: sensata, prudente.
capote: casaco.

Esse soneto é de autoria do poeta barroco Gregório de Matos e nele se encontram as principais características da poesia barroca brasileira. Com relação ao poeta Gregório de Matos e ao soneto, assinale a alternativa correta
No soneto, as expressões “Pobre te vejo a ti” e “Rica te vejo eu já” exemplificam uma das características da linguagem barroca de Gregório de Matos: o uso das antíteses.
Alternativas
Respostas
121: C
122: C
123: D
124: A
125: A
126: E
127: C
128: B
129: D
130: B
131: E
132: B
133: C
134: A
135: C
136: B
137: A
138: A
139: C
140: C