Questões de Vestibular de Português - Figuras de Linguagem
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Texto para a questão
Escrevo neste instante com algum prévio pudor por vos estar invadindo com tal narrativa tão exterior e explícita. De onde no entanto até sangue arfante de tão vivo de vida poderá quem sabe escorrer e logo se coagular em cubos de geleia trêmula. Será essa história um dia o meu coágulo? Que sei eu. Se há veracidade nela – e é claro que a história é verdadeira embora inventada –, que cada um a reconheça em si mesmo porque todos nós somos um e quem não tem pobreza de dinheiro tem pobreza de espírito ou saudade por lhe faltar coisa mais preciosa que ouro – existe a quem falte o delicado essencial.
Clarice Lispector, A hora da estrela.
Texto para a questão
Evanildo Bechara, Na ponta da língua. Adaptado.
(Dicionário Porto Editora da Língua Portuguesa. www.infopedia.pt. Adaptado.)
Verifica-se a ocorrência desse recurso no seguinte verso:
(Celso Cunha. Gramática essencial, 2013.)
Verifica-se a ocorrência desse recurso no seguinte verso:
Leia atentamente o soneto a seguir.
Grinaldas e véus brancos, véus de neve,
Véus e grinaldas purificadores,
Vão as Flores carnais, as alvas Flores
Do sentimento delicado e leve.
Um luar de pudor, sereno e breve,
De ignotos e de prônubos pudores,
Erra nos pulcros, virginais brancores
Por onde o amor parábolas descreve...
Luzes claras e augustas, luzes claras
Douram dos templos as sagradas aras,
Na comunhão das níveas hóstias frias...
Quando seios pubentes estremecem,
Silfos de sonhos de volúpia crescem,
Ondulantes, em formas alvadias...
(CRUZ e SOUSA. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997)
Vocabulário
prônubos: que dizem respeito a noivo ou noiva.
pulcros: belos; formosos.
parábolas: narrações alegóricas.
aras: pedras de altar.
pubentes: termo sem registro no dicionário, provavelmente seu sentido pode ser entendido como relativo à puberdade, passagem da infância à adolescência.
silfos: figuras mitológicas que vivem nos ares; seres vaporosos, delicados.
alvadias: brancas; alvas.
Esse soneto é de autoria do poeta simbolista Cruz e
Sousa e nele se encontram as principais
características da poesia simbolista brasileira. Com
relação ao poeta Cruz e Sousa e ao soneto,
assinale a alternativa correta.
Leia o texto de Claudia Wallin para responder à questão.
Vossas excelências, ilustríssimos senhores e senhoras, trago notícias urgentes de um reino distante. É mister vos alertar, Vossas Excelências, que nesta estranha terra os habitantes criaram um país onde os mui digníssimos e respeitáveis representantes do povo são tratados, imaginem Vossas Senhorias, como o próprio povo. Insânia! Dirão que as histórias que aqui relato são meras alucinações de contos de fada, pois há neste rico reino, que chamam de Suécia, rei, rainha e princesas. Mas não se iludam! Os habitantes desta terra já tiraram todos os poderes do rei, em nome de uma democracia que proclama uma tal igualdade entre todos, e o que digo são coisas que tenho visto com os olhos que esta mesma terra um dia há de comer.
Nestas longínquas comarcas, os mui distintos parlamentares, ministros e prefeitos viajam de trem ou de ônibus para o trabalho, em sua labuta para adoçar as mazelas do povo. De ônibus, Eminências! E muitos castelos há pelos quatro cantos deste próspero reino, mas aos egrégios representantes do povo é oferecido abrigo apenas em pífias habitações de um cômodo, indignas dos ilustríssimos defensores dos direitos dos cidadãos e da democracia.
Este reino está cercado por outros ricos reinos, numa península chamada Escandinávia, onde também há príncipes e reis, e onde os representantes do povo vivem como sobrevive um súdito qualquer. E isto eu também vi, com os olhos que esta terra há de comer: em um dos povos vizinhos, conhecido como o reino dos noruegueses, os nobres representantes do povo chegam a almoçar sanduíches que trazem de casa, e que tiram dos bolsos dos paletós quando a fome aperta.
É preciso cautela, Vossas Excelências. Deste reino, que chamam de Suécia ainda pouco se ouve falar. Mas as notícias sobre o igualitário reino dos suecos se espalham.
Estocolmo, 6 de janeiro de 2013.
(Um país sem excelências e mordomias, 2014. Adaptado.)
Para convencer o receptor, observa-se a combinação entre as figuras
Ao coração que sofre, separado
Do teu, no exílio em que a chorar me vejo,
Não basta o afeto simples e sagrado
Com que das desventuras me protejo.
Não me basta saber que sou amado,
Nem só desejo o teu amor: desejo
Ter nos braços teu corpo delicado,
Ter na boca a doçura de teu beijo.
E as justas ambições que me consomem
Não me envergonham: pois maior baixeza
Não há que a terra pelo céu trocar;
E mais eleva o coração de um homem
Ser de homem sempre e, na maior pureza,
Ficar na terra e humanamente amar.
(Melhores poemas, 2000.)
Leia o poema “Namorados” de Manuel Bandeira (1886-1968).
O rapaz chegou-se para junto da moça e disse:
– Antônia, ainda não me acostumei com o seu corpo, com
[a sua cara.
A moça olhou de lado e esperou.
– Você não sabe quando a gente é criança e de repente
[vê uma lagarta listada?
A moça se lembrava:
– A gente fica olhando...
A meninice brincou de novo nos olhos dela.
O rapaz prosseguiu com muita doçura:
– Antônia, você parece uma lagarta listada.
A moça arregalou os olhos, fez exclamações.
O rapaz concluiu:
– Antônia, você é engraçada! Você parece louca.
(Estrela da vida inteira, 2009.)
Verifica-se a ocorrência de personificação no seguinte verso:
Texto para a questão
I. Evidência de metáforas na composição do discurso descritivo.
II. Marca linguística que denuncia a presença do interlocutor no texto.
III. Sinais explícitos de reflexão metalinguística, ou seja, discurso que tematiza o próprio fazer literário.
No texto,
Leia o trecho inicial de Raízes do Brasil, do historiador brasileiro Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982), para responder à questão.
A tentativa de implantação da cultura europeia em extenso território, dotado de condições naturais, se não adversas,
largamente estranhas à sua tradição milenar, é, nas origens
da sociedade brasileira, o fato dominante e mais rico em consequências. Trazendo de países distantes nossas formas de
convívio, nossas instituições, nossas ideias, e timbrando em
manter tudo isso em ambiente muitas vezes desfavorável e
hostil, somos ainda hoje uns desterrados em nossa terra. Podemos construir obras excelentes, enriquecer nossa humanidade de aspectos novos e imprevistos, elevar à perfeição o
tipo de civilização que representamos: o certo é que todo o
fruto de nosso trabalho ou de nossa preguiça parece participar de um sistema de evolução próprio de outro clima e de
outra paisagem.
Assim, antes de perguntar até que ponto poderá alcançar bom êxito a tentativa, caberia averiguar até onde temos
podido representar aquelas formas de convívio, instituições e
ideias de que somos herdeiros.
É significativa, em primeiro lugar, a circunstância de termos recebido a herança através de uma nação ibérica. A Espanha e Portugal são, com a Rússia e os países balcânicos
(e em certo sentido também a Inglaterra), um dos territórios-
-ponte pelos quais a Europa se comunica com os outros mundos. Assim, eles constituem uma zona fronteiriça, de transição, menos carregada, em alguns casos, desse europeísmo que, não obstante, mantêm como um patrimônio necessário.
Foi a partir da época dos grandes descobrimentos marítimos que os dois países entraram mais decididamente no
coro europeu. Esse ingresso tardio deveria repercutir intensamente em seus destinos, determinando muitos aspectos
peculiares de sua história e de sua formação espiritual. Surgiu, assim, um tipo de sociedade que se desenvolveria, em
alguns sentidos, quase à margem das congêneres europeias,
e sem delas receber qualquer incitamento que já não trouxesse em germe.
Quais os fundamentos em que assentam de preferência
as formas de vida social nessa região indecisa entre a Europa e a África, que se estende dos Pireneus a Gibraltar? Como
explicar muitas daquelas formas, sem recorrer a indicações
mais ou menos vagas e que jamais nos conduziriam a uma
estrita objetividade?
Precisamente a comparação entre elas e as da Europa
de além-Pireneus faz ressaltar uma característica bem peculiar à gente da península Ibérica, uma característica que ela
está longe de partilhar, pelo menos na mesma intensidade,
com qualquer de seus vizinhos do continente. É que nenhum
desses vizinhos soube desenvolver a tal extremo essa cultura
da personalidade, que parece constituir o traço mais decisivo
na evolução da gente hispânica, desde tempos imemoriais.
Pode dizer-se, realmente, que pela importância particular que
atribuem ao valor próprio da pessoa humana, à autonomia de
cada um dos homens em relação aos semelhantes no tempo
e no espaço, devem os espanhóis e portugueses muito de
sua originalidade nacional. [...]
É dela que resulta largamente a singular tibieza das formas de organização, de todas as associações que impliquem
solidariedade e ordenação entre esses povos. Em terra onde
todos são barões não é possível acordo coletivo durável, a
não ser por uma força exterior respeitável e temida.
(Raízes do Brasil, 2000.)
Leia o trecho inicial de Raízes do Brasil, do historiador brasileiro Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982), para responder à questão.
A tentativa de implantação da cultura europeia em extenso território, dotado de condições naturais, se não adversas,
largamente estranhas à sua tradição milenar, é, nas origens
da sociedade brasileira, o fato dominante e mais rico em consequências. Trazendo de países distantes nossas formas de
convívio, nossas instituições, nossas ideias, e timbrando em
manter tudo isso em ambiente muitas vezes desfavorável e
hostil, somos ainda hoje uns desterrados em nossa terra. Podemos construir obras excelentes, enriquecer nossa humanidade de aspectos novos e imprevistos, elevar à perfeição o
tipo de civilização que representamos: o certo é que todo o
fruto de nosso trabalho ou de nossa preguiça parece participar de um sistema de evolução próprio de outro clima e de
outra paisagem.
Assim, antes de perguntar até que ponto poderá alcançar bom êxito a tentativa, caberia averiguar até onde temos
podido representar aquelas formas de convívio, instituições e
ideias de que somos herdeiros.
É significativa, em primeiro lugar, a circunstância de termos recebido a herança através de uma nação ibérica. A Espanha e Portugal são, com a Rússia e os países balcânicos
(e em certo sentido também a Inglaterra), um dos territórios-
-ponte pelos quais a Europa se comunica com os outros mundos. Assim, eles constituem uma zona fronteiriça, de transição, menos carregada, em alguns casos, desse europeísmo que, não obstante, mantêm como um patrimônio necessário.
Foi a partir da época dos grandes descobrimentos marítimos que os dois países entraram mais decididamente no
coro europeu. Esse ingresso tardio deveria repercutir intensamente em seus destinos, determinando muitos aspectos
peculiares de sua história e de sua formação espiritual. Surgiu, assim, um tipo de sociedade que se desenvolveria, em
alguns sentidos, quase à margem das congêneres europeias,
e sem delas receber qualquer incitamento que já não trouxesse em germe.
Quais os fundamentos em que assentam de preferência
as formas de vida social nessa região indecisa entre a Europa e a África, que se estende dos Pireneus a Gibraltar? Como
explicar muitas daquelas formas, sem recorrer a indicações
mais ou menos vagas e que jamais nos conduziriam a uma
estrita objetividade?
Precisamente a comparação entre elas e as da Europa
de além-Pireneus faz ressaltar uma característica bem peculiar à gente da península Ibérica, uma característica que ela
está longe de partilhar, pelo menos na mesma intensidade,
com qualquer de seus vizinhos do continente. É que nenhum
desses vizinhos soube desenvolver a tal extremo essa cultura
da personalidade, que parece constituir o traço mais decisivo
na evolução da gente hispânica, desde tempos imemoriais.
Pode dizer-se, realmente, que pela importância particular que
atribuem ao valor próprio da pessoa humana, à autonomia de
cada um dos homens em relação aos semelhantes no tempo
e no espaço, devem os espanhóis e portugueses muito de
sua originalidade nacional. [...]
É dela que resulta largamente a singular tibieza das formas de organização, de todas as associações que impliquem
solidariedade e ordenação entre esses povos. Em terra onde
todos são barões não é possível acordo coletivo durável, a
não ser por uma força exterior respeitável e temida.
(Raízes do Brasil, 2000.)
Trocar o dia pela noite, dizia Luís Soares, é restaurar o império da natureza corrigindo a obra da sociedade. O calor do sol está dizendo aos homens que vão descansar e dormir, ao passo que a frescura relativa da noite é a verdadeira estação em que se deve viver. Livre em todas as minhas ações, não quero sujeitar-me à lei absurda que a sociedade me impõe: velarei de noite, dormirei de dia.
Contrariamente a vários ministérios, Soares cumpria este programa com um escrúpulo digno de uma grande consciência. A aurora para ele era o crepúsculo, o crepúsculo era a aurora. Dormia 12 horas consecutivas durante o dia, quer dizer das seis da manhã às seis da tarde. Almoçava às sete e jantava às duas da madrugada. Não ceava. A sua ceia limitava-se a uma xícara de chocolate que o criado lhe dava às cinco horas da manhã quando ele entrava para casa. Soares engolia o chocolate, fumava dois charutos, fazia alguns trocadilhos com o criado, lia uma página de algum romance, e deitava-se.
Não lia jornais. Achava que um jornal era a cousa mais inútil deste mundo, depois da Câmara dos Deputados, das obras dos poetas e das missas. Não quer isto dizer que Soares fosse ateu em religião, política e poesia. Não. Soares era apenas indiferente. Olhava para todas as grandes cousas com a mesma cara com que via uma mulher feia. Podia vir a ser um grande perverso; até então era apenas uma grande inutilidade.
TEXTO
A minha mãe falava sério!
Thalita Rebouças
(Adaptação do capítulo do livro Fala sério, professor! Rio de Janeiro: Rocco, 2006)
Ao afirmar que o apartamento onde a filha mora é um “chiqueiro” (linha 1), a mãe da narradora-personagem Malu emprega uma metáfora, utilizando o conhecimento extralinguístico que se tem de um curral de porcos.