Questões de Vestibular
Sobre variação linguística em português
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“Machado de Assis com sotaque carioca? ‘Brás Cubas’ ganha um novo viral.”
Mais de cem anos após sua primeira publicação, o livro Memórias Póstumas de Brás Cubas voltou a ser assunto no Brasil. Com o sucesso de um TikTok, em que uma leitora americana se encantava pela obra de Machado de Assis, mais discussões sobre o livro e o autor vieram à tona – e uma nova brincadeira tomou conta das redes sociais.
Como relembrado por internautas, Machado de Assis nasceu e viveu no Rio de Janeiro. Com isso, muitos retomaram uma discussão que surgiu em 2021: qual era o sotaque do escritor? “Ele provavelmente falava ‘Memóriax Poxtumax de Braix Cubax’”, brincou um usuário do X (antigo Twitter).
Conhecida por seu sotaque carregado, a influenciadora Baueny Barroco entrou na brincadeira e releu o primeiro trecho de Memórias Póstumas de Brás Cubas em “carioquês”. O áudio rapidamente viralizou e, no último sábado, 25, até a apresentadora Maria Beltrão entrou na brincadeira.
Disponível em: https://www.estadao.com.br/cultura/literatura/machado-de-assis-com-sotaque-carioca-trecho-de-bras-cubas-viranovo-meme-viral-entenda-nprec/. Acesso em: 27 jun. 2024.
A notícia, ao abordar o possível sotaque de Machado de Assis, remete ao fenômeno da variação geográfica ou diatópica. Sobre o fenômeno da variação linguística, é correto afirmar que uma língua se constitui
“Vossa mercê” virou “vossemecê” que virou “vosmecê” que virou “você” que virou “ocê” que virou “cê”. Caetano Veloso dedicou todo um álbum a essa redução brasileiríssima. Ao longo das faixas, ouvimos versos como “Mas cê foi mesmo rata demais” e “Vi cê me fazer crescer também”. Com duas letras, o pronome de segunda pessoa finalmente se igualou ao “tu” na brevidade. Assim também é a história do “cadê”, uma redução tipicamente brasileira da expressão interrogativa “que é de”, que poderia ser traduzida por “o que foi feito de” ou “onde está”. A princípio, o “e” e o “é” de “que é” se contraíram em “quede”; depois, por expressividade, a acentuação se deslocou para a sílaba final, em “quedê”; por fim, a primeira sílaba se abriu em “cadê”. Ainda considerado informal, o advérbio data do fim do século 19, e tem como principal vantagem a economia; diferente de “onde”, “cadê” dispensa o uso do verbo. É uma palavra só, de apenas quatro letras, que dá conta de todo o sentido do desaparecimento. A língua valoriza o mínimo esforço.
Disponível em: https://www.nexojornal.com.br/lexico/2019/09/01/tipicamente-brasileira-e-uma-das- primeiras-que-aprendemos.
Acesso em: 22 maio 2024 (fragmento).
De acordo com o texto, é correto afirmar que
Macetar, verbo transitivo: “golpear (alguém ou algo) com maceta ou macete, um martelo de cabo curto”. A definição está nos dicionários, mas o carnaval, como de praxe, mascarou o significado a seu bel-prazer. O coro da multidão que acompanhou Ivete Sangalo na abertura da folia de Salvador comprova que essa é a época ideal para enriquecer o vocabulário. Música gravada pela cantora baiana com participação de Ludmilla, “Macetando” despontou como hit nacional ao encher a boca do povo com o refrão-chiclete: “Ah, bebê, é a Veveta que tá no comando / Macetando, macetando, macetando...”.
(Adaptado de CUNHA, G. Qual o macete de ‘macetando’? O Globo (versão online), 10/02/2024.)
Na letra da música em questão, um dos aspectos que contribuem para o mascaramento do significado de macetar é
Com relação às ideias e aos aspectos linguísticos da charge precedente, julgue o item seguinte.
Comparando-se os quadrinhos “Quem acha” e “Quem se
informa”, no primeiro, verificam-se características de um
nível de linguagem mais coloquial, ao passo que, no
segundo, identificam-se termos técnicos característicos de
uma área do conhecimento.
Julgue o item que se segue, com base nas ideias e nos sentidos do texto 1A1-I.
No primeiro parágrafo, ao fazer a pergunta “Quer dois
exemplos?”, típica da modalidade informal, o autor do texto
busca uma aproximação com o leitor.
[...] — Mãe, quem que leva nossa casa pra outra banda do rio no banhado, quem que leva? Pergunta assim! A velha fez. Macunaíma pediu pra ela ficar com os olhos fechados e carregou todos os carregos, tudo, pro lugar em que estavam de já-hoje no mondongo imundado. Quando a velha abriu os olhos tudo estava no lugar de dantes, vizinhando com os tejupares de mano Maanape e de mano Jiguê com a linda Iriqui. E todos ficaram roncando de fome outra vez. Então a velha teve uma raiva malvada. Carregou o herói na cintura e partiu. Atravessou o mato e chegou no capoeirão chamado Cafundó do Judas. Andou légua e meia nele, nem se enxergava mato mais, era um coberto plano apenas movimentado com o pulinho dos cajueiros. Nem guaxe animava a solidão. A velha botou o curumim no campo onde ele podia crescer mais não e falou: — Agora vossa mãe vai embora. Tu ficas perdido no coberto e podes crescer mais não.
Andrade, M. Macunaíma. Porto Alegre: L&PM, 2018.
Em Macunaíma, Mário de Andrade inova nos padrões linguísticos, nos níveis lexical, morfológico e sintático, ao empregar a linguagem coloquial popular falada como marca de identidade nacional. No trecho acima, essa brasilidade está presente no(a)
(Adaptado de Xico Sá, A vidinha sururu da desigualdade brasileira. Em El País, 28/10/2019. Disponível em https://brasil.elpais.com/brasil/2019/10/28/opinion/1572287747_637859.html?fbclid=IwAR1VPA7qDYs1Q0Ilcdy6UGAJTwBO_snM DUAw4yZpZ3zyA1ExQx_XB9Kq2qU. Acessado em 25/05/2020.)
Assinale a alternativa que identifica corretamente recursos linguísticos explorados pelo autor nessa crônica.
— Agora você vai me contar uma história de amor — disse o rapaz à moça. — Quero ouvir uma história de amor em que entrem caravelas, pedras preciosas e satélites artificiais.
— Pois não — respondeu a moça, que acabara de concluir o mestrado de contador de histórias, e estava com a imaginação na ponta da língua. — Era uma vez um país onde só havia água, eram águas e mais águas, e o governo como tudo mais se fazia em embarcações atracadas ou em movimento, conforme o tempo. Osmundo mantinha uma grande indústria de barcos, mas não era feliz, porque Sertória, objeto dos seus sonhos, se recusava a casar com ele. Osmundo ofereceu-lhe um belo navio embandeirado, que ela recusou. Só aceitaria uma frota de dez caravelas, para si e para seus familiares.
Ora, ninguém sabia fazer caravelas, era um tipo de embarcação há muito fora de uso. Osmundo apresentou um mau produto, que Sertória não aceitou, enumerando os defeitos, a começar pelas velas latinas, que de latinas não tinham um centavo. Osmundo, desesperado, pensou em afogar-se, o que fez sem êxito, pois desceu no fundo das águas e lá encontrou um cofre cheio de esmeraldas, topázios, rubis, diamantes e o mais que você imagina. Voltou à tona para oferecê-lo à rígida Sertória, que virou o rosto. Nada a fazer, pensou Osmundo; vou transformar-me em satélite artificial. Mas os satélites artificiais ainda não tinham sido inventados. Continuou humilde satélite de Sertória, que ultimamente passeava de uma lancha para outra, levando-o preso a um cordão de seda, com a inscrição “Amor imortal”. Acabou.
— Mas que significa isso? — perguntou o moço, insatisfeito. — Não entendi nada.
— Nem eu — respondeu a moça —, mas os contos devem ser contados, e não entendidos; exatamente como a vida.
I. Este tipo de linguagem revela, no texto, uma escrita de estilo coloquial marcada pelo uso consciente de palavras próprias da fala. II. As expressões coloquiais utilizadas no texto revelam o lugar de onde veio o poeta e sua história, deixando claro que a poesia que produz é sobre as coisas simples da vida. III. O emprego destes coloquialismos revela a cultura local em que o autor está inserido.
Está correto o que se afirma em
I. As línguas têm formas variáveis e há usos de determinada variedade em uma sociedade formada por uma heterogeneidade de falantes advindos de lugares distintos, a exemplo de São Paulo.
II. Os aspectos mais perceptíveis da variação linguística são a pronúncia e o vocabulário, mas pode-se apontar, no texto 2, variações em todos os níveis da língua.
III. O fenômeno da variação é complexo e o princípio de adequação à identidade de quem utiliza, a situação comunicativa e outros fatores podem intervir.
É correto o que se afirma em
“Cuitelinho” é o título de belíssima canção “folclórica”, já gravada por dezenas de cantores. Sua letra é corpus muito interessante para quem quiser saber como é o português falado no Brasil. Sendo música do folclore, tem evidentemente muitas características da gramática do português popular. Ouvindo as diversas gravações, descobrem-se pelo menos duas coisas: a primeira é que há muita variação, especialmente de pronúncia ou sotaque; a segunda, bem mais curiosa, deixando os detalhes de lado, refere-se ao fato de que, quanto menos “letrados” são os cantores, mais eles corrigem a letra, confirmando a tese de que a ideologia dominante é a ideologia da classe dominante.
(http://goo.gl/QTUzd. Acesso: 28/03/2013. Adaptado.)
O que as correções feitas pelos intérpretes na pronúncia da letra “Cuitelinho” revelam acerca da relação entre ideologia e variação linguística?
O intérprete dos perdedores
(Antônio Gonçalves Filho)
No mundo de João Antônio, os personagens são os marginalizados e andam de um lado para outro, sem rumo. Os diálogos são secos e a narrativa é circular. A exclusão desses marginais é total numa cidade dividida, fragmentada e avessa ao diálogo entre diferentes classes sociais. Antonio Candido, num texto publicado no Estado por ocasião da morte do escritor João Antônio, ocorrida em outubro de 1996, evoca Lima Barreto para dizer que, assim como o ídolo do autor, João Antônio passou por cima das normas (também gramaticais) para criar um mundo de leis próprias, “transfigurando” a noite paulistana e fazendo da transgressão “um instrumento que nos humaniza”.
(http://goo.gl/BQVYD. Acesso: 14/03/2013. Adaptado.)
Com base na leitura do texto, qual a importância da variação linguística na obra do escritor
João Antônio?
A Bela e a Fera
Uma bela atriz reaparece em um famoso programa de auditório. Os telespectadores vibram com os olhos da musa, que responde às perguntas do apresentador.
Como está o seu relacionamento com a imprensa?, pergunta a fera. Há repórteres bons e maus. Eu prefiro muito mais me lembrar das pessoas sérias do que das outras.
(Luis Carlos Rocha. Norma culta escrita: tentativa de caracterização.)
O uso que a atriz fez do verbo preferir
Assum preto
Tudo em vorta é só beleza
Sol de abril e a mata em frô
Mas Assum preto, cego dos óio
Num vendo a luz, ai, canta de dô.
Tarvez por ignorança
Ou mardade das pió
Furaro os óio do Assum preto
Pra ele assim, ai, cantá mió.
Assum preto veve sorto
Mas num pode avuá
Mil vez a sina de uma gaiola
Desde que o céu, ai, pudesse oiá.
Assum preto, o meu cantar
É tão triste como o teu
Também robaro o meu amor
Que era a luz, ai, dos óio meu.
GONZAGA, L.; TEIXEIRA, H. Disponível em:
www.vagalume.com.br. Acesso em: 17 jul. 2014.