Questões Militares de Português - Interpretação de Textos

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Q2025959 Português

Texto I


A percepção que temos de nossa memória


[...] Você acha que tem má memória? Por quê? Espera que sua memória seja perfeita? Demora para se lembrar das coisas, mais do que costumava demorar em outros tempos? Esquece o nome de pessoas conhecidas com mais frequência do que no passado? Precisa escrever tudo para não se esquecer de nada? Se respondeu “sim” a essas perguntas, podemos afirmar com segurança que você acredita realmente que tem “má” memória”.
Nesta nossa era tecnológica, em que tudo acontece depressa, talvez você veja sua memória como um tipo de dispositivo gravador que serve para guardar os dados históricos de sua vida. Talvez espere que sua memória seja perfeita, que armazene o nome de cada pessoa que você conheceu na vida, que não o deixe esquecer seus compromissos, ocasiões e acontecimentos especiais, que o lembre das exigências de um determinado trabalho e do prazo para entregá-lo, que saiba o que há na geladeira e quais são os ingredientes necessários para o preparo de um prato para o jantar, que memorize a agenda de seu cônjuge, de seus filhos e de outras pessoas queridas. [...] A lista de coisas que esperamos que nossa memória guarde é infinita. E quando esquecemos uma única coisa, reclamamos de nossa capacidade de lembrar. Dizemos que temos “má memória” ou, pior ainda, nos convencemos de que estamos nos primeiros estágios do mal de Alzheimer.
Esses pensamentos apresentam alguns problemas. Primeiro, são percepções subjetivas que temos de nossa própria memória, e não avaliações objetivas de nossa real capacidade mental. Assim, são imensuráveis, não podem ser testados e levam à negatividade. Mais ainda, essa negatividade cria ansiedade e diminui a autoestima, agravando os problemas de memória. Ansiedade e outras emoções negativas prejudicam a capacidade de lembrar [...] Esses pensamentos negativos também tornam impossível o desenvolvimento da necessária habilidade de melhorar a memória, porque eliminam a possibilidade de mudança. Quanto mais nos convencemos de que temos “má memória”, mais cresce a probabilidade de simplesmente aceitarmos isso como um fato e deixarmos de trabalhar para melhorá-la.


(Douglas J. Mason e Spencer X. Smith. Cuide de sua memória. Trad. Vera Martins. São Paulo: Arx, 2006. p.33-5.)
Após a leitura do texto e considerando o título, é possível afirmar que as opções abaixo estão relacionadas à percepção que o indivíduo tem sobre a memória, exceto uma. Assinale-a.
Alternativas
Q2025861 Português
Marque a alternativa CORRETA que se relaciona ao emprego adequado da estrutura contendo o verbo bater com o sentido apresentado entre parênteses: 
Alternativas
Q2025856 Português

Uma Galinha


Clarice Lispector


Era uma galinha de domingo. Ainda viva porque não passava de nove horas da manhã.

Parecia calma. Desde sábado encolhera-se num canto da cozinha. Não olhava para ninguém, ninguém olhava para ela. Mesmo quando a escolheram, apalpando sua intimidade com indiferença, não souberam dizer se era gorda ou magra. Nunca se adivinharia nela um anseio.

Foi pois uma surpresa quando a viram abrir as asas de curto vôo, inchar o peito e, em dois ou três lances, alcançar a murada do terraço. Um instante ainda vacilou — o tempo da cozinheira dar um grito — e em breve estava no terraço do vizinho, de onde, em outro vôo desajeitado, alcançou um telhado. Lá ficou em adorno deslocado, hesitando ora num, ora noutro pé. A família foi chamada com urgência e consternada viu o almoço junto de uma chaminé. O dono da casa, lembrando-se da dupla necessidade de fazer esporadicamente algum esporte e de almoçar, vestiu radiante um calção de banho e resolveu seguir o itinerário da galinha: em pulos cautelosos alcançou o telhado onde esta, hesitante e trêmula, escolhia com urgência outro rumo. A perseguição tornou-se mais intensa. De telhado a telhado foi percorrido mais de um quarteirão da rua. Pouco afeita a uma luta mais selvagem pela vida, a galinha tinha que decidir por si mesma os caminhos a tomar, sem nenhum auxílio de sua raça. O rapaz, porém, era um caçador adormecido. E por mais ínfima que fosse a presa o grito de conquista havia soado.

Sozinha no mundo, sem pai nem mãe, ela corria, arfava, muda, concentrada. Às vezes, na fuga, pairava ofegante num beiral de telhado e enquanto o rapaz galgava outros com dificuldade tinha tempo de se refazer por um momento. E então parecia tão livre.

Estúpida, tímida e livre. Não vitoriosa como seria um galo em fuga. Que é que havia nas suas vísceras que fazia dela um ser? A galinha é um ser. É verdade que não se poderia contar com ela para nada. Nem ela própria contava consigo, como o galo crê na sua crista. Sua única vantagem é que havia tantas galinhas que morrendo uma surgiria no mesmo instante outra tão igual como se fora a mesma.

Afinal, numa das vezes em que parou para gozar sua fuga, o rapaz alcançou-a. Entre gritos e penas, ela foi presa. Em seguida carregada em triunfo por uma asa através das telhas e pousada no chão da cozinha com certa violência. Ainda tonta, sacudiu-se um pouco, em cacarejos roucos e indecisos. Foi então que aconteceu. De pura afobação a galinha pôs um ovo. Surpreendida, exausta. Talvez fosse prematuro. Mas logo depois, nascida que fora para a maternidade, parecia uma velha mãe habituada. Sentou-se sobre o ovo e assim ficou, respirando, abotoando e desabotoando os olhos. Seu coração, tão pequeno num prato, solevava e abaixava as penas, enchendo de tepidez aquilo que nunca passaria de um ovo. Só a menina estava perto e assistiu a tudo estarrecida. Mal porém conseguiu desvencilhar-se do acontecimento, despregou-se do chão e saiu aos gritos:

— Mamãe, mamãe, não mate mais a galinha, ela pôs um ovo! ela quer o nosso bem!

Todos correram de novo à cozinha e rodearam mudos a jovem parturiente. Esquentando seu filho, esta não era nem suave nem arisca, nem alegre, nem triste, não era nada, era uma galinha. O que não sugeria nenhum sentimento especial. O pai, a mãe e a filha olhavam já há algum tempo, sem propriamente um pensamento qualquer. Nunca ninguém acariciou uma cabeça de galinha. O pai afinal decidiu-se com certa brusquidão:

— Se você mandar matar esta galinha nunca mais comerei galinha na minha vida!

— Eu também! jurou a menina com ardor. A mãe, cansada, deu de ombros.

Inconsciente da vida que lhe fora entregue, a galinha passou a morar com a família. A menina, de volta do colégio, jogava a pasta longe sem interromper a corrida para a cozinha. O pai de vez em quando ainda se lembrava: "E dizer que a obriguei a correr naquele estado!" A galinha tornara-se a rainha da casa. Todos, menos ela, o sabiam. Continuou entre a cozinha e o terraço dos fundos, usando suas duas capacidades: a de apatia e a do sobressalto.

Mas quando todos estavam quietos na casa e pareciam tê-la esquecido, enchia-se de uma pequena coragem, resquícios da grande fuga — e circulava pelo ladrilho, o corpo avançando atrás da cabeça, pausado como num campo, embora a pequena cabeça a traísse: mexendo-se rápida e vibrátil, com o velho susto de sua espécie já mecanizado.

Uma vez ou outra, sempre mais raramente, lembrava de novo a galinha que se recortara contra o ar à beira do telhado, prestes a anunciar. Nesses momentos enchia os pulmões com o ar impuro da cozinha e, se fosse dado às fêmeas cantar, ela não cantaria mas ficaria muito mais contente. Embora nem nesses instantes a expressão de sua vazia cabeça se alterasse. Na fuga, no descanso, quando deu à luz ou bicando milho — era uma cabeça de galinha, a mesma que fora desenhada no começo dos séculos.

Até que um dia mataram-na, comeram-na e passaram-se anos.


Texto extraído do livro “Laços de Família”, Editora Rocco - Rio de Janeiro, 1998, pág. 30. Selecionado por Ítalo Moriconi, figura na publicação “Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século”

Marque a alternativa CORRETA com relação ao que propiciou o desfecho da história da galinha:
Alternativas
Q2025855 Português

Uma Galinha


Clarice Lispector


Era uma galinha de domingo. Ainda viva porque não passava de nove horas da manhã.

Parecia calma. Desde sábado encolhera-se num canto da cozinha. Não olhava para ninguém, ninguém olhava para ela. Mesmo quando a escolheram, apalpando sua intimidade com indiferença, não souberam dizer se era gorda ou magra. Nunca se adivinharia nela um anseio.

Foi pois uma surpresa quando a viram abrir as asas de curto vôo, inchar o peito e, em dois ou três lances, alcançar a murada do terraço. Um instante ainda vacilou — o tempo da cozinheira dar um grito — e em breve estava no terraço do vizinho, de onde, em outro vôo desajeitado, alcançou um telhado. Lá ficou em adorno deslocado, hesitando ora num, ora noutro pé. A família foi chamada com urgência e consternada viu o almoço junto de uma chaminé. O dono da casa, lembrando-se da dupla necessidade de fazer esporadicamente algum esporte e de almoçar, vestiu radiante um calção de banho e resolveu seguir o itinerário da galinha: em pulos cautelosos alcançou o telhado onde esta, hesitante e trêmula, escolhia com urgência outro rumo. A perseguição tornou-se mais intensa. De telhado a telhado foi percorrido mais de um quarteirão da rua. Pouco afeita a uma luta mais selvagem pela vida, a galinha tinha que decidir por si mesma os caminhos a tomar, sem nenhum auxílio de sua raça. O rapaz, porém, era um caçador adormecido. E por mais ínfima que fosse a presa o grito de conquista havia soado.

Sozinha no mundo, sem pai nem mãe, ela corria, arfava, muda, concentrada. Às vezes, na fuga, pairava ofegante num beiral de telhado e enquanto o rapaz galgava outros com dificuldade tinha tempo de se refazer por um momento. E então parecia tão livre.

Estúpida, tímida e livre. Não vitoriosa como seria um galo em fuga. Que é que havia nas suas vísceras que fazia dela um ser? A galinha é um ser. É verdade que não se poderia contar com ela para nada. Nem ela própria contava consigo, como o galo crê na sua crista. Sua única vantagem é que havia tantas galinhas que morrendo uma surgiria no mesmo instante outra tão igual como se fora a mesma.

Afinal, numa das vezes em que parou para gozar sua fuga, o rapaz alcançou-a. Entre gritos e penas, ela foi presa. Em seguida carregada em triunfo por uma asa através das telhas e pousada no chão da cozinha com certa violência. Ainda tonta, sacudiu-se um pouco, em cacarejos roucos e indecisos. Foi então que aconteceu. De pura afobação a galinha pôs um ovo. Surpreendida, exausta. Talvez fosse prematuro. Mas logo depois, nascida que fora para a maternidade, parecia uma velha mãe habituada. Sentou-se sobre o ovo e assim ficou, respirando, abotoando e desabotoando os olhos. Seu coração, tão pequeno num prato, solevava e abaixava as penas, enchendo de tepidez aquilo que nunca passaria de um ovo. Só a menina estava perto e assistiu a tudo estarrecida. Mal porém conseguiu desvencilhar-se do acontecimento, despregou-se do chão e saiu aos gritos:

— Mamãe, mamãe, não mate mais a galinha, ela pôs um ovo! ela quer o nosso bem!

Todos correram de novo à cozinha e rodearam mudos a jovem parturiente. Esquentando seu filho, esta não era nem suave nem arisca, nem alegre, nem triste, não era nada, era uma galinha. O que não sugeria nenhum sentimento especial. O pai, a mãe e a filha olhavam já há algum tempo, sem propriamente um pensamento qualquer. Nunca ninguém acariciou uma cabeça de galinha. O pai afinal decidiu-se com certa brusquidão:

— Se você mandar matar esta galinha nunca mais comerei galinha na minha vida!

— Eu também! jurou a menina com ardor. A mãe, cansada, deu de ombros.

Inconsciente da vida que lhe fora entregue, a galinha passou a morar com a família. A menina, de volta do colégio, jogava a pasta longe sem interromper a corrida para a cozinha. O pai de vez em quando ainda se lembrava: "E dizer que a obriguei a correr naquele estado!" A galinha tornara-se a rainha da casa. Todos, menos ela, o sabiam. Continuou entre a cozinha e o terraço dos fundos, usando suas duas capacidades: a de apatia e a do sobressalto.

Mas quando todos estavam quietos na casa e pareciam tê-la esquecido, enchia-se de uma pequena coragem, resquícios da grande fuga — e circulava pelo ladrilho, o corpo avançando atrás da cabeça, pausado como num campo, embora a pequena cabeça a traísse: mexendo-se rápida e vibrátil, com o velho susto de sua espécie já mecanizado.

Uma vez ou outra, sempre mais raramente, lembrava de novo a galinha que se recortara contra o ar à beira do telhado, prestes a anunciar. Nesses momentos enchia os pulmões com o ar impuro da cozinha e, se fosse dado às fêmeas cantar, ela não cantaria mas ficaria muito mais contente. Embora nem nesses instantes a expressão de sua vazia cabeça se alterasse. Na fuga, no descanso, quando deu à luz ou bicando milho — era uma cabeça de galinha, a mesma que fora desenhada no começo dos séculos.

Até que um dia mataram-na, comeram-na e passaram-se anos.


Texto extraído do livro “Laços de Família”, Editora Rocco - Rio de Janeiro, 1998, pág. 30. Selecionado por Ítalo Moriconi, figura na publicação “Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século”

Marque a alternativa CORRETA que corresponda ao sentido dado à palavra apatia, na passagem do texto relacionada ao comportamento da galinha quando ela passou a viver com a família: 
Alternativas
Ano: 2013 Banca: PM-SC Órgão: PM-SC Prova: PM-SC - 2013 - PM-SC - Cabo da Polícia Militar |
Q2025762 Português
Assinale a alternativa CORRETA:
POLÍCIA. Definição: É uma função do Estado que se concretisa numa instituição de administração positiva e visa pôr em ação as limitações que a lei impõe à liberdade dos indivíduos e dos grupos para salvaguarda e manutenção da ordem pública, em suas várias manifestações: da segurança das pessoas à segurança da propriedade, da tranquilidade dos agregados humanos à proteção de qualquer outro bem tutelado com disposições penais.
(BOBBIO, Norberto. Dicionário de política. Ed. UNB: 2000, p. 944, com alterações)
I - A expressão visa pôr, segundo o Novo Acordo Ortográfico, deveria ser grafada da seguinte forma: visa por. II- Todas as ocorrências de crase estão corretamente grafadas. III- As palavras concretisa e tranquilidade estão escritas corretamente, de acordo com o Novo Acordo Ortográfico. IV- Tutelado significa protegido. 
Alternativas
Q2025553 Português

Uma Galinha


Clarice Lispector



Era uma galinha de domingo. Ainda viva porque não passava de nove horas da manhã.

Parecia calma. Desde sábado encolhera-se num canto da cozinha. Não olhava para ninguém, ninguém olhava para ela. Mesmo quando a escolheram, apalpando sua intimidade com indiferença, não souberam dizer se era gorda ou magra. Nunca se adivinharia nela um anseio.

Foi pois uma surpresa quando a viram abrir as asas de curto vôo, inchar o peito e, em dois ou três lances, alcançar a murada do terraço. Um instante ainda vacilou — o tempo da cozinheira dar um grito — e em breve estava no terraço do vizinho, de onde, em outro vôo desajeitado, alcançou um telhado. Lá ficou em adorno deslocado, hesitando ora num, ora noutro pé. A família foi chamada com urgência e consternada viu o almoço junto de uma chaminé. O dono da casa, lembrando-se da dupla necessidade de fazer esporadicamente algum esporte e de almoçar, vestiu radiante um calção de banho e resolveu seguir o itinerário da galinha: em pulos cautelosos alcançou o telhado onde esta, hesitante e trêmula, escolhia com urgência outro rumo. A perseguição tornou-se mais intensa. De telhado a telhado foi percorrido mais de um quarteirão da rua. Pouco afeita a uma luta mais selvagem pela vida, a galinha tinha que decidir por si mesma os caminhos a tomar, sem nenhum auxílio de sua raça. O rapaz, porém, era um caçador adormecido. E por mais ínfima que fosse a presa o grito de conquista havia soado.

Sozinha no mundo, sem pai nem mãe, ela corria, arfava, muda, concentrada. Às vezes, na fuga, pairava ofegante num beiral de telhado e enquanto o rapaz galgava outros com dificuldade tinha tempo de se refazer por um momento. E então parecia tão livre.

Estúpida, tímida e livre. Não vitoriosa como seria um galo em fuga. Que é que havia nas suas vísceras que fazia dela um ser? A galinha é um ser. É verdade que não se poderia contar com ela para nada. Nem ela própria contava consigo, como o galo crê na sua crista. Sua única vantagem é que havia tantas galinhas que morrendo uma surgiria no mesmo instante outra tão igual como se fora a mesma.

Afinal, numa das vezes em que parou para gozar sua fuga, o rapaz alcançou-a. Entre gritos e penas, ela foi presa. Em seguida carregada em triunfo por uma asa através das telhas e pousada no chão da cozinha com certa violência. Ainda tonta, sacudiu-se um pouco, em cacarejos roucos e indecisos. Foi então que aconteceu. De pura afobação a galinha pôs um ovo. Surpreendida, exausta. Talvez fosse prematuro. Mas logo depois, nascida que fora para a maternidade, parecia uma velha mãe habituada. Sentou-se sobre o ovo e assim ficou, respirando, abotoando e desabotoando os olhos. Seu coração, tão pequeno num prato, solevava e abaixava as penas, enchendo de tepidez aquilo que nunca passaria de um ovo. Só a menina estava perto e assistiu a tudo estarrecida. Mal porém conseguiu desvencilhar-se do acontecimento, despregou-se do chão e saiu aos gritos:

— Mamãe, mamãe, não mate mais a galinha, ela pôs um ovo! ela quer o nosso bem!

Todos correram de novo à cozinha e rodearam mudos a jovem parturiente. Esquentando seu filho, esta não era nem suave nem arisca, nem alegre, nem triste, não era nada, era uma galinha. O que não sugeria nenhum sentimento especial. O pai, a mãe e a filha olhavam já há algum tempo, sem propriamente um pensamento qualquer. Nunca ninguém acariciou uma cabeça de galinha. O pai afinal decidiu-se com certa brusquidão:

— Se você mandar matar esta galinha nunca mais comerei galinha na minha vida!

— Eu também! jurou a menina com ardor. A mãe, cansada, deu de ombros.

Inconsciente da vida que lhe fora entregue, a galinha passou a morar com a família. A menina, de volta do colégio, jogava a pasta longe sem interromper a corrida para a cozinha. O pai de vez em quando ainda se lembrava: "E dizer que a obriguei a correr naquele estado!" A galinha tornara-se a rainha da casa. Todos, menos ela, o sabiam. Continuou entre a cozinha e o terraço dos fundos, usando suas duas capacidades: a de apatia e a do sobressalto.

Mas quando todos estavam quietos na casa e pareciam tê-la esquecido, enchia-se de uma pequena coragem, resquícios da grande fuga — e circulava pelo ladrilho, o corpo avançando atrás da cabeça, pausado como num campo, embora a pequena cabeça a traísse: mexendo-se rápida e vibrátil, com o velho susto de sua espécie já mecanizado.

Uma vez ou outra, sempre mais raramente, lembrava de novo a galinha que se recortara contra o ar à beira do telhado, prestes a anunciar. Nesses momentos enchia os pulmões com o ar impuro da cozinha e, se fosse dado às fêmeas cantar, ela não cantaria mas ficaria muito mais contente. Embora nem nesses instantes a expressão de sua vazia cabeça se alterasse. Na fuga, no descanso, quando deu à luz ou bicando milho — era uma cabeça de galinha, a mesma que fora desenhada no começo dos séculos.

Até que um dia mataram-na, comeram-na e passaram-se anos.


Texto extraído do livro “Laços de Família”, Editora Rocco - Rio de Janeiro, 1998, pág. 30. Selecionado por Ítalo Moriconi, figura na publicação “Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século

 De acordo com o texto é CORRETO afirmar que: 
Alternativas
Ano: 2014 Banca: NC-UFPR Órgão: PM-PR Prova: NC-UFPR - 2014 - PM-PR - Bombeiro Militar |
Q2024780 Português
O poema “Legado” integra a primeira parte do livro Claro enigma (1951), a que o autor denominou “Entre lobo e cão”.
                        Legado
Que lembrança darei ao país que me deu tudo que lembro e sei, tudo quanto senti? Na noite do sem-fim, breve o tempo esqueceu minha incerta medalha, e a meu nome se ri.
E mereço esperar mais do que os outros, eu? Tu não me enganas, mundo, e não te engano a ti. Esses monstros atuais, não os cativa Orfeu, a vagar, taciturno, entre o talvez e o se.
Não deixarei de mim nenhum canto radioso, uma voz matinal palpitando na bruma e que arranque de alguém seu mais secreto espinho.
De tudo quanto foi meu passo caprichoso na vida, restará, pois o resto se esfuma, uma pedra que havia em meio do caminho.
ANDRADE, Carlos Drummond de, Claro enigma. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 19.
Considerando o poema, sua relação com o livro, e a poética de Carlos Drummond de Andrade, assinale a alternativa correta.k
Alternativas
Ano: 2022 Banca: VUNESP Órgão: EsFCEx Prova: VUNESP - 2022 - EsFCEx - Capelão Católico |
Q2021092 Português

O retrato


Eu quero a fotografia,

os olhos cheios d’água sob as lentes,

caminhando de terno e gravata,

o braço dado com a filha.

Eu quero a cada vez olhar e dizer:

estava chorando. E chorar,

Eu quero a dor do homem na festa de casamento,

seu passo guardado, quando pensou:

a vida é amarga e doce?

Eu quero o que ele viu e aceitou corajoso,

os olhos cheios d’água sob as lentes.


(Adélia Prado, Reunião de poesia.)

No poema, o elemento que se destaca na progressão sequencial é
Alternativas
Ano: 2022 Banca: VUNESP Órgão: EsFCEx Prova: VUNESP - 2022 - EsFCEx - Capelão Católico |
Q2021090 Português
        Nos primórdios da humanidade, a família nasceu da necessidade de segurança, como forma de, juntos, pais e filhos terem mais chance de sobreviver aos perigos do ambiente hostil. Milênios depois da era dos mamutes, em um mundo onde os riscos são outros, mas ainda preocupantes – e potencializados pela onipresença da internet –, pai e mãe seguem compelidos a proteger suas crias dos predadores com as armas disponíveis. Entram em campo os aplicativos de controle, que documentam e informam, passo a passo, os movimentos da garotada tanto no universo digital quanto no físico, uma ferramenta cada vez mais usada planeta afora.  

    É invasivo? É, sem dúvida. É justificável? Também. Faz parte do trabalho de quem tem filho menor de idade saber onde e como passa o dia essa pessoa que ainda depende da maturidade alheia para crescer e se tornar independente.

      Apesar de a preocupação dos pais ser legítima, os especialistas alertam sobre o fato de que um excesso de vigilância pode acarretar problemas de relacionamento e levar os filhos – muito mais proficientes na internet do que seus velhos progenitores – a tomar providências para desafiar o controle. A reação vem a jato – e não faltam trends do TikTok ensinando os jovens a burlar o sistema de localização e despistar os adultos.

       Para que o aplicativo efetivamente garanta a segurança dos filhos e tranquilize o coração dos pais é necessário que se estabeleça, antes de tudo, uma sólida relação de confiança e diálogo. Bem usados, esses aplicativos servem inclusive de guia para avaliar a hora certa de dar autonomia aos filhos. Lembrando que andar pelas próprias pernas acarreta, por mais que isso doa aos pais, desinstalar algum dia o aplicativo.


(Duda Monteiro de Barros e Camille Mello, Estamos de olho.

Veja, 22.06.2022. Adaptado)

Assinale a alternativa que identifica a relação de sentido exposta nas passagens destacadas (1º e 3º parágrafos) e traz os trechos reescritos de forma a preservar a relação presente no texto original.
Alternativas
Ano: 2022 Banca: VUNESP Órgão: EsFCEx Prova: VUNESP - 2022 - EsFCEx - Capelão Católico |
Q2021089 Português
        Nos primórdios da humanidade, a família nasceu da necessidade de segurança, como forma de, juntos, pais e filhos terem mais chance de sobreviver aos perigos do ambiente hostil. Milênios depois da era dos mamutes, em um mundo onde os riscos são outros, mas ainda preocupantes – e potencializados pela onipresença da internet –, pai e mãe seguem compelidos a proteger suas crias dos predadores com as armas disponíveis. Entram em campo os aplicativos de controle, que documentam e informam, passo a passo, os movimentos da garotada tanto no universo digital quanto no físico, uma ferramenta cada vez mais usada planeta afora.  

    É invasivo? É, sem dúvida. É justificável? Também. Faz parte do trabalho de quem tem filho menor de idade saber onde e como passa o dia essa pessoa que ainda depende da maturidade alheia para crescer e se tornar independente.

      Apesar de a preocupação dos pais ser legítima, os especialistas alertam sobre o fato de que um excesso de vigilância pode acarretar problemas de relacionamento e levar os filhos – muito mais proficientes na internet do que seus velhos progenitores – a tomar providências para desafiar o controle. A reação vem a jato – e não faltam trends do TikTok ensinando os jovens a burlar o sistema de localização e despistar os adultos.

       Para que o aplicativo efetivamente garanta a segurança dos filhos e tranquilize o coração dos pais é necessário que se estabeleça, antes de tudo, uma sólida relação de confiança e diálogo. Bem usados, esses aplicativos servem inclusive de guia para avaliar a hora certa de dar autonomia aos filhos. Lembrando que andar pelas próprias pernas acarreta, por mais que isso doa aos pais, desinstalar algum dia o aplicativo.


(Duda Monteiro de Barros e Camille Mello, Estamos de olho.

Veja, 22.06.2022. Adaptado)

Assinale a alternativa em que a expressão destacada no enunciado é um elemento de referenciação textual, retomando informação anterior.
Alternativas
Ano: 2022 Banca: VUNESP Órgão: EsFCEx Prova: VUNESP - 2022 - EsFCEx - Capelão Católico |
Q2021088 Português
        Nos primórdios da humanidade, a família nasceu da necessidade de segurança, como forma de, juntos, pais e filhos terem mais chance de sobreviver aos perigos do ambiente hostil. Milênios depois da era dos mamutes, em um mundo onde os riscos são outros, mas ainda preocupantes – e potencializados pela onipresença da internet –, pai e mãe seguem compelidos a proteger suas crias dos predadores com as armas disponíveis. Entram em campo os aplicativos de controle, que documentam e informam, passo a passo, os movimentos da garotada tanto no universo digital quanto no físico, uma ferramenta cada vez mais usada planeta afora.  

    É invasivo? É, sem dúvida. É justificável? Também. Faz parte do trabalho de quem tem filho menor de idade saber onde e como passa o dia essa pessoa que ainda depende da maturidade alheia para crescer e se tornar independente.

      Apesar de a preocupação dos pais ser legítima, os especialistas alertam sobre o fato de que um excesso de vigilância pode acarretar problemas de relacionamento e levar os filhos – muito mais proficientes na internet do que seus velhos progenitores – a tomar providências para desafiar o controle. A reação vem a jato – e não faltam trends do TikTok ensinando os jovens a burlar o sistema de localização e despistar os adultos.

       Para que o aplicativo efetivamente garanta a segurança dos filhos e tranquilize o coração dos pais é necessário que se estabeleça, antes de tudo, uma sólida relação de confiança e diálogo. Bem usados, esses aplicativos servem inclusive de guia para avaliar a hora certa de dar autonomia aos filhos. Lembrando que andar pelas próprias pernas acarreta, por mais que isso doa aos pais, desinstalar algum dia o aplicativo.


(Duda Monteiro de Barros e Camille Mello, Estamos de olho.

Veja, 22.06.2022. Adaptado)

São termos pertencentes a um mesmo campo lexical que evidenciam a progressão temática do texto os seguintes:
Alternativas
Ano: 2022 Banca: VUNESP Órgão: EsFCEx Prova: VUNESP - 2022 - EsFCEx - Capelão Católico |
Q2021085 Português
É correto concluir que a fala de Miguelito, introduzida pela conjunção “mas”, no último quadrinho,
Alternativas
Ano: 2022 Banca: VUNESP Órgão: EsFCEx Prova: VUNESP - 2022 - EsFCEx - Capelão Católico |
Q2021081 Português
        O medo, em seu estado mais bruto, é um sentimento que se assenta em circuitos neuronais tão antigos quanto os primeiros répteis da Terra. Existem evidências de que estruturas extremamente primitivas na escala evolutiva do cérebro humano, presentes desde a época dos dinossauros, desempenham tarefas fundamentais em situações de risco, potencial ou real. Apesar de estar na raiz biológica de vários distúrbios, o medo é vital para nossa sobrevivência e, ainda assim, lidamos mal com ele. Desde cedo, o homem é manipulado por seus temores.

        Uma das fobias mais peculiares é o medo dos espelhos. Na Inglaterra da era vitoriana, antes de um morto ser levado ao cemitério, todos os espelhos eram cobertos com tecidos, pois se acreditava que a alma da pessoa poderia ficar presa nos espelhos.

        O medo é pessoal e reflete a resposta do coração às inseguranças que cada um carrega dentro de si. Paradigmas que sustentavam a sociedade em décadas anteriores estão em crise: preocupações crescentes, solidão, desesperança, ressentimentos, um mundo cada vez mais líquido onde amores / sentimentos escorrem por nossas mãos, intolerância e agressividade nos parecem mais evidentes.

    Quer gostemos ou não, a vida vai sempre seguindo. Uma vida plenamente feliz é uma dádiva temporária, vale dizer, não dura para sempre. E sim, às vezes, dói, é triste ou, outras vezes, é surpreendente. E quando a vida o machucar (porque certamente irá), lembre-se da dor. A dor sempre tem seu lado positivo. Significa que estamos fora da caverna. A real tragédia da vida é os homens terem medo da luz. Diante da fragilidade e da brevidade da vida, é preciso lembrar-se da água: ela abre seu caminho e encontra seu rumo mesmo diante de algum obstáculo. Talvez para ela fosse mais perigoso permanecer parada.

        Ainda se está explorando o terreno movediço e desafiador do quebra-cabeça neuronal envolvido com os sentimentos e as emoções. Nada nos humilha mais do que a coragem alheia. Aceitemos o medo, mas que ele não nos limite.


(Rafael Delsin. Os homens maus estão chegando. BE Revista Bem-Estar, 10.07.2022. Adaptado)

A alternativa que reescreve o trecho destacado na passagem “Existem evidências de que estruturas extremamente primitivas...” de acordo com a norma-padrão de concordância verbal é:
Alternativas
Ano: 2022 Banca: VUNESP Órgão: EsFCEx Prova: VUNESP - 2022 - EsFCEx - Capelão Católico |
Q2021076 Português
        O medo, em seu estado mais bruto, é um sentimento que se assenta em circuitos neuronais tão antigos quanto os primeiros répteis da Terra. Existem evidências de que estruturas extremamente primitivas na escala evolutiva do cérebro humano, presentes desde a época dos dinossauros, desempenham tarefas fundamentais em situações de risco, potencial ou real. Apesar de estar na raiz biológica de vários distúrbios, o medo é vital para nossa sobrevivência e, ainda assim, lidamos mal com ele. Desde cedo, o homem é manipulado por seus temores.

        Uma das fobias mais peculiares é o medo dos espelhos. Na Inglaterra da era vitoriana, antes de um morto ser levado ao cemitério, todos os espelhos eram cobertos com tecidos, pois se acreditava que a alma da pessoa poderia ficar presa nos espelhos.

        O medo é pessoal e reflete a resposta do coração às inseguranças que cada um carrega dentro de si. Paradigmas que sustentavam a sociedade em décadas anteriores estão em crise: preocupações crescentes, solidão, desesperança, ressentimentos, um mundo cada vez mais líquido onde amores / sentimentos escorrem por nossas mãos, intolerância e agressividade nos parecem mais evidentes.

    Quer gostemos ou não, a vida vai sempre seguindo. Uma vida plenamente feliz é uma dádiva temporária, vale dizer, não dura para sempre. E sim, às vezes, dói, é triste ou, outras vezes, é surpreendente. E quando a vida o machucar (porque certamente irá), lembre-se da dor. A dor sempre tem seu lado positivo. Significa que estamos fora da caverna. A real tragédia da vida é os homens terem medo da luz. Diante da fragilidade e da brevidade da vida, é preciso lembrar-se da água: ela abre seu caminho e encontra seu rumo mesmo diante de algum obstáculo. Talvez para ela fosse mais perigoso permanecer parada.

        Ainda se está explorando o terreno movediço e desafiador do quebra-cabeça neuronal envolvido com os sentimentos e as emoções. Nada nos humilha mais do que a coragem alheia. Aceitemos o medo, mas que ele não nos limite.


(Rafael Delsin. Os homens maus estão chegando. BE Revista Bem-Estar, 10.07.2022. Adaptado)

É correto concluir que, do ponto de vista do autor,
Alternativas
Ano: 2022 Banca: VUNESP Órgão: EsFCEx Prova: VUNESP - 2022 - EsFCEx - Capelão Evangélico |
Q2020713 Português

O retrato


Eu quero a fotografia,

os olhos cheios d’água sob as lentes,

caminhando de terno e gravata,

o braço dado com a filha.

Eu quero a cada vez olhar e dizer:

estava chorando. E chorar,

Eu quero a dor do homem na festa de casamento,

seu passo guardado, quando pensou:

a vida é amarga e doce?

Eu quero o que ele viu e aceitou corajoso,

os olhos cheios d’água sob as lentes.


(Adélia Prado, Reunião de poesia.)

Do ponto de vista estilístico, a referência a retrato
Alternativas
Ano: 2022 Banca: VUNESP Órgão: EsFCEx Prova: VUNESP - 2022 - EsFCEx - Capelão Evangélico |
Q2020704 Português
É correto concluir que o efeito de sentido da tira consiste em
Alternativas
Ano: 2022 Banca: VUNESP Órgão: EsFCEx Prova: VUNESP - 2022 - EsFCEx - Capelão Evangélico |
Q2020700 Português
        O medo, em seu estado mais bruto, é um sentimento que se assenta em circuitos neuronais tão antigos quanto os primeiros répteis da Terra. Existem evidências de que estruturas extremamente primitivas na escala evolutiva do cérebro humano, presentes desde a época dos dinossauros, desempenham tarefas fundamentais em situações de risco, potencial ou real. Apesar de estar na raiz biológica de vários distúrbios, o medo é vital para nossa sobrevivência e, ainda assim, lidamos mal com ele. Desde cedo, o homem é manipulado por seus temores.

       Uma das fobias mais peculiares é o medo dos espelhos. Na Inglaterra da era vitoriana, antes de um morto ser levado ao cemitério, todos os espelhos eram cobertos com tecidos, pois se acreditava que a alma da pessoa poderia ficar presa nos espelhos.

      O medo é pessoal e reflete a resposta do coração às inseguranças que cada um carrega dentro de si. Paradigmas que sustentavam a sociedade em décadas anteriores estão em crise: preocupações crescentes, solidão, desesperança, ressentimentos, um mundo cada vez mais líquido onde amores / sentimentos escorrem por nossas mãos, intolerância e agressividade nos parecem mais evidentes.

    Quer gostemos ou não, a vida vai sempre seguindo. Uma vida plenamente feliz é uma dádiva temporária, vale dizer, não dura para sempre. E sim, às vezes, dói, é triste ou, outras vezes, é surpreendente. E quando a vida o machucar (porque certamente irá), lembre-se da dor. A dor sempre tem seu lado positivo. Significa que estamos fora da caverna. A real tragédia da vida é os homens terem medo da luz. Diante da fragilidade e da brevidade da vida, é preciso lembrar-se da água: ela abre seu caminho e encontra seu rumo mesmo diante de algum obstáculo. Talvez para ela fosse mais perigoso permanecer parada.

        Ainda se está explorando o terreno movediço e desafiador do quebra-cabeça neuronal envolvido com os sentimentos e as emoções. Nada nos humilha mais do que a coragem alheia. Aceitemos o medo, mas que ele não nos limite.

(Rafael Delsin. Os homens maus estão chegando. BE Revista Bem-Estar, 10.07.2022. Adaptado)

Assinale a alternativa em que a expressão destacada é, na sequenciação textual, um marcador que introduz uma paráfrase.
Alternativas
Ano: 2022 Banca: VUNESP Órgão: EsFCEx Prova: VUNESP - 2022 - EsFCEx - Capelão Evangélico |
Q2020698 Português
        O medo, em seu estado mais bruto, é um sentimento que se assenta em circuitos neuronais tão antigos quanto os primeiros répteis da Terra. Existem evidências de que estruturas extremamente primitivas na escala evolutiva do cérebro humano, presentes desde a época dos dinossauros, desempenham tarefas fundamentais em situações de risco, potencial ou real. Apesar de estar na raiz biológica de vários distúrbios, o medo é vital para nossa sobrevivência e, ainda assim, lidamos mal com ele. Desde cedo, o homem é manipulado por seus temores.

       Uma das fobias mais peculiares é o medo dos espelhos. Na Inglaterra da era vitoriana, antes de um morto ser levado ao cemitério, todos os espelhos eram cobertos com tecidos, pois se acreditava que a alma da pessoa poderia ficar presa nos espelhos.

      O medo é pessoal e reflete a resposta do coração às inseguranças que cada um carrega dentro de si. Paradigmas que sustentavam a sociedade em décadas anteriores estão em crise: preocupações crescentes, solidão, desesperança, ressentimentos, um mundo cada vez mais líquido onde amores / sentimentos escorrem por nossas mãos, intolerância e agressividade nos parecem mais evidentes.

    Quer gostemos ou não, a vida vai sempre seguindo. Uma vida plenamente feliz é uma dádiva temporária, vale dizer, não dura para sempre. E sim, às vezes, dói, é triste ou, outras vezes, é surpreendente. E quando a vida o machucar (porque certamente irá), lembre-se da dor. A dor sempre tem seu lado positivo. Significa que estamos fora da caverna. A real tragédia da vida é os homens terem medo da luz. Diante da fragilidade e da brevidade da vida, é preciso lembrar-se da água: ela abre seu caminho e encontra seu rumo mesmo diante de algum obstáculo. Talvez para ela fosse mais perigoso permanecer parada.

        Ainda se está explorando o terreno movediço e desafiador do quebra-cabeça neuronal envolvido com os sentimentos e as emoções. Nada nos humilha mais do que a coragem alheia. Aceitemos o medo, mas que ele não nos limite.

(Rafael Delsin. Os homens maus estão chegando. BE Revista Bem-Estar, 10.07.2022. Adaptado)

Pelas características que apresenta, o texto se identifica com o gênero
Alternativas
Ano: 2022 Banca: VUNESP Órgão: EsFCEx Prova: VUNESP - 2022 - EsFCEx - Capelão Evangélico |
Q2020697 Português
        O medo, em seu estado mais bruto, é um sentimento que se assenta em circuitos neuronais tão antigos quanto os primeiros répteis da Terra. Existem evidências de que estruturas extremamente primitivas na escala evolutiva do cérebro humano, presentes desde a época dos dinossauros, desempenham tarefas fundamentais em situações de risco, potencial ou real. Apesar de estar na raiz biológica de vários distúrbios, o medo é vital para nossa sobrevivência e, ainda assim, lidamos mal com ele. Desde cedo, o homem é manipulado por seus temores.

       Uma das fobias mais peculiares é o medo dos espelhos. Na Inglaterra da era vitoriana, antes de um morto ser levado ao cemitério, todos os espelhos eram cobertos com tecidos, pois se acreditava que a alma da pessoa poderia ficar presa nos espelhos.

      O medo é pessoal e reflete a resposta do coração às inseguranças que cada um carrega dentro de si. Paradigmas que sustentavam a sociedade em décadas anteriores estão em crise: preocupações crescentes, solidão, desesperança, ressentimentos, um mundo cada vez mais líquido onde amores / sentimentos escorrem por nossas mãos, intolerância e agressividade nos parecem mais evidentes.

    Quer gostemos ou não, a vida vai sempre seguindo. Uma vida plenamente feliz é uma dádiva temporária, vale dizer, não dura para sempre. E sim, às vezes, dói, é triste ou, outras vezes, é surpreendente. E quando a vida o machucar (porque certamente irá), lembre-se da dor. A dor sempre tem seu lado positivo. Significa que estamos fora da caverna. A real tragédia da vida é os homens terem medo da luz. Diante da fragilidade e da brevidade da vida, é preciso lembrar-se da água: ela abre seu caminho e encontra seu rumo mesmo diante de algum obstáculo. Talvez para ela fosse mais perigoso permanecer parada.

        Ainda se está explorando o terreno movediço e desafiador do quebra-cabeça neuronal envolvido com os sentimentos e as emoções. Nada nos humilha mais do que a coragem alheia. Aceitemos o medo, mas que ele não nos limite.

(Rafael Delsin. Os homens maus estão chegando. BE Revista Bem-Estar, 10.07.2022. Adaptado)

A passagem do segundo parágrafo consiste em
Alternativas
Q2017794 Português

Leia o fragmento a seguir.


Oscar tinha um sítio. Um dia Oscar resolveu levar na camioneta um pouco de esterco do sítio, que era no interior de Minas, para o jardim de sua casa na capital. Na barreira foi interpelado pelo guarda:

— O que é que o senhor está levando aí nesse saco?

— Esterco. Por quê? Não lhe cheira bem?

— O senhor tem a guia?

— Guia?

— É preciso de uma guia, o senhor não sabia disso?


SABINO, Fernando. Milho e fubá. In: A mulher do vizinho. Rio de Janeiro: Record, 1962.


Sobre o fragmento acima, assinale a afirmativa incorreta.

Alternativas
Respostas
601: D
602: B
603: C
604: B
605: C
606: D
607: A
608: C
609: A
610: B
611: D
612: E
613: B
614: E
615: C
616: C
617: B
618: A
619: E
620: D