Questões de Português - Coesão e coerência para Concurso
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Texto 6
Linguagem, Poder e Discriminação
A linguagem não é usada somente para veicular informações, isto é, a função referencial denotativa da linguagem não é senão uma entre outras; entre estas ocupa uma posição central a função de comunicar ao ouvinte a posição que o falante ocupa de fato ou acha que ocupa na sociedade em que vive. As pessoas falam para serem “ouvidas”, às vezes para serem respeitadas e também para exercer uma influência no ambiente em que realizam os atos linguísticos. O poder da palavra é o poder de mobilizar a autoridade acumulada pelo falante e concentrá-la num ato linguístico (Bordieu, 1977). Os casos mais evidentes em relação a tal afirmação são também os mais extremos: discurso político, sermão na igreja, aula etc. As produções linguísticas deste tipo, e também de outros tipos, adquirem valor de ser realizadas no contexto social e cultural apropriado. As regras que governam a produção apropriada dos atos de linguagem levam em conta as relações sociais entre o falante e o ouvinte.
GNERRE, Maurizzio, in Prática de Texto, FARACO, Carlos Alberto e
TEZZA, Cristovão, Ed. Vozes, 20ª edição, 2011, Petrópolis, RJ, p. 105.
Analise as afirmativas abaixo sobre as expressões e palavras sublinhadas no texto 6.
1. Todas funcionam como elementos referenciais de coesão textual.
2. A palavra para destacada funciona como elemento de relação lógica, pois estabelece ligação semântica, ou seja, com passagem de ideias.
3. A palavra esta funciona como elemento anafórico.
4. A expressão tal afirmação funciona como elemento catafórico.
Assinale a alternativa que indica todas as afirmativas corretas.
Leia o texto para responder à questão.
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De acordo com o contexto, assinale a alternativa que pode substituir “instou” sem alterar o sentido do texto.
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A respeito do texto, julgue o item a seguir.
Na linha 7, a referência de “este ano” é considerada
endofórica.
Para responder à questão, leia o texto IV.
Texto IV
Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/516999232226210857/. Acesso em: 15 jul. 2024.
Analise as assertivas abaixo.
I- A oração “Cortamos a sua carne” não apresenta um problema de coerência textual.
II- As relações lógico-semânticas presentes na oração “Cortamos a sua carne” em relação à frase “na hora e a seu gosto” geram um efeito de sentido humorístico não pretendido.
III- Ao reescrever “Cortamos a sua carne” por “Fatiamos a sua carne”, o problema de coerência textual é resolvido.
IV- A forma verbal Aperte está conjugada no modo subjuntivo.
É CORRETO o que se afirma apenas em:
Leia o texto III para responder à questão.
Texto III
Eloquência singular
Mal iniciara seu discurso, o deputado embatucou:
– Senhor Presidente: eu não sou daqueles que...
O verbo ia para o singular ou para o plural? Tudo indicava o plural. No entanto, podia perfeitamente ser o singular:
– Não sou daqueles que…
Não sou daqueles que recusam… No plural soava melhor. Mas era preciso precaver-se contra essas armadilhas da linguagem – que recusa? – ele que tão facilmente caía nelas, e era logo massacrado com um aparte. Não sou daqueles que… Resolveu ganhar tempo:
– …embora perfeitamente cônscio das minhas altas responsabilidades como representante do povo nesta Casa, não sou…
Daqueles que recusa, evidentemente. Como é que podia ter pensado em plural? Era um desses casos que os gramáticos registram nas suas questiúnculas de português: ia para o singular, não tinha dúvida. Idiotismo de linguagem, devia ser.
…daqueles que, em momentos de extrema gravidade, como este que o Brasil atravessa…
Safara-se porque nem se lembrava do verbo que pretendia usar:
– Não sou daqueles que…
Daqueles que o quê? Qualquer coisa, contanto que atravessasse de uma vez essa traiçoeira pinguela gramatical em que sua oratória lamentavelmente se havia metido logo de saída. Mas a concordância? Qualquer verbo servia, desde que conjugado corretamente, no singular. Ou no plural:
– Não sou daqueles que, dizia eu – e é bom que se repita sempre, senhor Presidente, para que possamos ser dignos da confiança em nós depositada…
Intercalava orações e mais orações, voltando sempre ao ponto de partida, incapaz de se definir por esta ou aquela concordância.
[...]
Intercalou mais uma oração e foi em frente com bravura, disposto a tudo, afirmando não ser daqueles que…
– Como?
Acolheu a interrupção com um suspiro de alívio:
– Não ouvi bem o aparte do nobre deputado.
Silêncio. Ninguém dera aparte nenhum.
– Vossa Excelência, por obséquio, queira falar mais alto, que não ouvi bem – e apontava, agoniado, um dos deputados mais próximos.
– Eu? Mas eu não disse nada…
– Terei o maior prazer em responder ao aparte do nobre colega. Qualquer aparte.
O silêncio continuava. Interessados, os demais deputados se agrupavam em torno do orador, aguardando o desfecho daquela agonia, que agora já era, como no verso de Bilac, a agonia do herói e a agonia da tarde.
– Que é que você acha? – cochichou um.
– Acho que vai para o singular.
– Pois eu não: para o plural, é lógico.
O orador seguia na sua luta:
– Como afirmava no começo de meu discurso, senhor Presidente…
Tirou o lenço do bolso e enxugou o suor da testa.
Vontade de aproveitar-se do gesto e pedir ajuda ao próprio Presidente da mesa: por favor, apura aí pra mim, como é que é, me tira desta…
– Quero comunicar ao nobre orador que o seu tempo se acha esgotado.
– Apenas algumas palavras, senhor Presidente, para terminar o meu discurso: e antes de terminar, quero deixar bem claro que, a esta altura de minha existência, depois de mais de vinte anos de vida pública…
E entrava por novos desvios:
– Muito embora… sabendo perfeitamente… os imperativos de minha consciência cívica… senhor Presidente… e o declaro peremptoriamente… não sou daqueles que…
O Presidente voltou a adverti-lo de que seu tempo se esgotara. Não havia mais por onde fugir:
– Senhor Presidente, meus nobres colegas!
Resolveu arrematar de qualquer maneira. Encheu o peito e desfechou:
– Em suma: não sou daqueles. Tenho dito.
Houve um suspiro de alívio em todo o plenário, as palmas romperam. Muito bem! Muito bem! O orador foi vivamente cumprimentado.
(SABINO, Fernando. Eloquência singular. In: A companheira de viagem. Rio de Janeiro: sabiá, 1965. Adaptado.)