Questões de Concurso
Sobre crase em português
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Marque a alternativa correta quanto ao uso ou não da crase nos três enunciados abaixo, respectivamente.
As Coordenações do IFTO se propõem bastante ___ construir uma educação de qualidade.
Nós, alunos do IFTO, aspiramos ___ pesquisa voltada para melhoria da vida das pessoas.
As queimadas em Palmas ultrapassam ___ capacidade de se suportar as fumaças constantes.
Texto CB1A1AAA
Clarice Lispector. Amor. In: Laços de família.
Rio de Janeiro: Rocco, 2009, p. 20-1
Acerca dos aspectos linguísticos e dos sentidos do texto CB1A1AAA, julgue o item que se segue.
A introdução do sinal grave indicativo de crase em “a noite”
(l.26) manteria a correção gramatical do texto, mas
prejudicaria seu sentido original.
Texto CB3A1AAA
Virginia Woolf. Um teto todo seu. Trad. de Vera Ribeiro.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985 (com adaptações).
Acerca dos aspectos linguísticos e dos sentidos do texto CB3A1AAA, julgue o seguinte item.
O sinal indicativo de crase em “às mulheres” (l. 4) é facultativo.
De Gutenberg a Zuckerberg
Após cinco anos e meio dedicados apenas a funções executivas, volto a ter um espaço para troca de ideias e informações. Desta vez, sobre o mercado digital com suas histórias de bastidores, dados infindáveis, surpresas, o dia a dia de start ups aqui e lá no Vale (sim, o do Silício) e entrevistas com quem sacode este mercado ou é sacudido por ele.
O título do blog (seria blog, vlog, site, plataforma digital?) vem de From Gutenberg to Zuckerberg: Leveraging Technology to Get Your Message Heard, palestra de Michael Eisner que passa bem além do trocadilho engraçadinho.
O fato é que não são poucas as vezes em que ouço que nós, os caras de internet, os bichos de tecnologia criamos todos os problemas que a humanidade não tinha antes de inventarmos os nossos gadgets, softwares, redes e o que mais pudesse ser desenvolvido em nossas garagens (imaginárias, Wozniak?). Errado. Explico.
Não criamos nada. Desculpe, amigos, mas é a verdade. Ferramentamos, apenas. Como Gutenberg o fez pelos idos de 1450. No big deal. Repetimos a história. Se o poder saía das mãos de dedos manchados dos monges copistas e passava a um tipo que podia multiplicar exponencialmente os caracteres que formavam a informação, com Zuck e seus contemporâneos deu‐se o mesmo. O jornalista, até então dono absoluto do palco italiano, da bola e do campo, teve que deitar a régua. O que era vertical, top down, passou a ser horizontal, em uma distribuição de informações via iguais.
Nenhuma novidade aqui. O que as redes sociais fizeram foi repetir o fenômeno evolutivo. Is revolução digital the new revolução industrial? É provável sob muitos aspectos, mas uma revolução somente se conhece a posteriori, contentemo‐nos em evoluir por ora. Não é pouco.
E sobre criarmos plataformas‐problema, qual foi a primeira rede social que você conheceu? A fofoqueira de sua rua. Ficava na janela, ouvia no máximo 140 caracteres de qualquer conversa, tempo necessário para que o transeunte desavisado percorresse o espaço da fachada da casa da moça. Retuitava ao marido, à filha, compartilhava. De vez em quando, curtia. E quando ia ao salão de beleza, viralizava.
Não, esta criação não nos pertence. Ferramentamos, ajudamos e até atrapalhamos, ok. Mas como sempre fizeram estes seres humanos, gregários, que insistem em viver em uma sociedade em rede.
Mas agora resolveram chamar de rede social.
(Antonio Guerreiro. Disponível em: http://gutzuck.com/de‐gutenberg‐a‐zuckerberg‐20150105/)
Risco de despejo
Apaixonado é um atentado, uma fábrica de vazios, uma usina de distrações. Não peça nenhum favor a ele. Não lembrará nem que você existe. Nem que ele existe. É uma ausência feliz. Só pensa em beijar e rebobinar os beijos com os suspiros.
O apaixonado colecionará desatenções, das mais banais às sublimes. Eu consegui esquecer uma mala na recepção da TV Gazeta, em São Paulo. Uma mala não é pouca coisa. Simplesmente fiz de conta que não era minha, e abandonei a cena sem nenhum tormento. Não fiquei desesperado quando descobri o extravio. Conclui que poderia comprar mudas de roupas e buscaria de volta na semana seguinte. Beatriz esqueceu a chave de casa num táxi. Ela não transparecia a menor preocupação. Primeiro me deu carinho, depois telefonou para o motorista e perguntou calmamente se tinha a possibilidade de entregar o molho na residência de uma amiga. Não surtou imaginando furtos. Confiava nas casualidades e na amizade dos anjos da guarda.
O apaixonado não está nem aí para o mundo material, na posse e nos seus pertences. Tudo pode ser acomodado, reposto, transferido, adiado, substituído. O sexo é o seu Rivotril. Nenhuma tragédia é significativa para lhe arrancar da paciência e do olhar boiando fixamente ao infinito.
Eu e Beatriz, somando as nossas duas últimas semanas, perdemos quatro voos. Perdemos livros. Perdemos sacolas de roupas em restaurantes. Perdemos um celular no bar. Perdemos dezenas de carregadores. Perdemos o vencimento das contas. Perdemos promoções no trabalho. Perdemos filmes, shows, peças de teatro. Perdemos consultas, aulas na academia, alguns amigos nos esperando em cafés.
Perdemos o mundo porque ganhamos um ao outro.
É a gente se encontrar que as horas voam, o vento rasteja, a noite não avisa que chegou, e não escutamos mais nada, a não ser os próprios pensamentos.
Corremos o risco de despejo, de entrar no SPC, de sermos fichados pelo Serasa. Sorte que não temos cachorros e gatos.
A força da paixão é diretamente proporcional ao tamanho do esquecimento dos apaixonados.
CARPINEJAR.Fabrício. Risco de despejo. Disponível em: http://blogs.oglobo.globo.com/fabricio-carpinejar/post/risco-de-despejo.html. Acessado em: 27 mar. 2016
Assinale a opção que corresponde a erro gramatical inserido na transcrição do texto.
A existência de um grande número de candidaturas pendentes de julgamento às(1) vésperas da eleição gera(2) insegurança nos dois lados em que o voto está em questão. Da parte dos candidatos, obedecidos(3) o princípio da presunção de inocência até que a Justiça se pronuncie, criam-se(4) dificuldades de campanha; no que diz respeito aos eleitores, fica o receio de desperdiçar o voto sufragando(5) alguém que, vitorioso nas urnas, venha a ter sua eleição indeferida após o pleito.
(Adaptado de O Globo, Editorial, 7/9/2012)
São os meios de comunicação, em especial a
televisão, que divulgam, em escala mundial,
informações (fragmentadas) hoje tomadas como
conhecimento, construindo, desse modo, o mundo
que conhecemos. Trata-se, na verdade, de processo
metonímico – a parte escolhida para ser divulgada,
para ser conhecida, vale pelo todo. É como se “o
mundo todo” fosse constituído apenas por aqueles
fatos/notícias que chegam até nós.
Informação, porém, não é conhecimento, podendo até ser um passo importante. O conhecimento implica crítica. Ele se baseia na inter-relação e não na fragmentação. Todos temos observado que essa troca do conhecimento pela informação tem resultado na diminuição da criticidade.
O conhecimento é um processo que prevê a condição de reelaborar o que vem como um “dado”, possibilitando que não sejamos meros reprodutores; inclui a capacidade de elaborações novas, permitindo reconhecer, trazer à superfície o que ainda é virtual, o que, na sociedade, está ainda mal desenhado, com contornos borrados. Para tanto, o conhecimento prevê a construção de uma visão que totalize os fatos, inter-relacionando todas as esferas da sociedade, percebendo que o que está acontecendo em cada uma delas é resultado da dinâmica que faz com que todas interajam, de acordo com as possibilidades daquela formação social, naquele momento histórico; permite perceber, enfim, que os diversos fenômenos da vida social estabelecem suas relações tendo como referência a sociedade como um todo. Para tanto, podemos perceber, as informações – fragmentadas – não são suficientes.
Os meios de comunicação, sobretudo a televisão, ao produzirem essas informações, transformam em verdadeiros espetáculos os acontecimentos selecionados para se tornar notícias. Já na década de 1960, Guy Debord percebia “na vida contemporânea uma ‘sociedade de espetáculo’, em que a forma mais desenvolvida de mercadoria era antes a imagem que o produto material concreto”, e que “na segunda metade do século XX, a imagem substituiria a estrada de ferro e o automóvel como força motriz da economia”.
Por sua condição de “espetáculo”, parece que o mais importante na informação passa a ser aquilo que ela tem de atração, de entretenimento. Não podemos nos esquecer, porém, de que as coisas se passam desse modo exatamente para que o conhecimento – e, portanto, a crítica – da realidade fique bastante embaçada ou simplesmente não se dê.
O conhecimento continua a ser condição indispensável para a crítica. A informação, que parece ocupar o lugar desse conhecimento, tornou-se, ela própria, a base para a reprodução do sistema, uma mercadoria a mais em circulação nessa totalidade.
A confusão entre conhecimento e informação, entre totalidade e fragmentação, leva à concepção de que a informação veiculada pelos meios é suficiente para a formação do cidadão, de que há um pressuposto de interação entre os meios e os cidadãos e de que todas as vozes circulam igualmente na sociedade.
É a chamada posição liberal, a qual parece esquecer-se de que ideias, para circular, precisam de instrumentos, de suportes – rádio, televisão, jornal etc. – que custam caro e que, por isso, estão nas mãos daqueles que detêm o capital. [...]
BACCEGA. Maria Aparecida. In: A TV aos 50 – Criticando a televisão brasileira no seu cinquentenário. São Paulo: PerseuAbramo, 2000, p. 106-7.
“Volta à mala e sai lá de dentro com uma faca...” (§ 2)
No fragmento acima, o acento indicativo da crase é de emprego obrigatório, pelas normas da língua culta. Das alterações feitas na redação do fragmento, é facultativo empregar o acento indicativo da crase em:
Considere a oração abaixo e as afirmações que seguem.
São desnecessário as suas observações maldosas.
I. Há um erro de concordância nominal, pois o correto seria “desnecessárias”.
II. Falta o sinal indicativo de crase em “as”.
Está correto o que se afirma em:
Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.
Há um comentário frequentemente encontrado nos meios de comunicação ou mesmo em conversas cotidianas: “O carnaval de hoje não é mais o mesmo. Transformou-se em um grande empreendimento turístico. Perdeu a autenticidade.” Em seu sentido amplo, esse comentário aplica-se a diversas modalidades de cultura popular: não só às festas, mas também ao artesanato, à música, à dança, à culinária. Pode ser expresso na forma de um lamento e de um incontido sentimento de nostalgia.
Em outras palavras, circula de modo amplo e difuso em nosso cotidiano uma perspectiva sobre as culturas populares na qual estas são apresentadas sob o signo da perda. Supõe-se que elas conheceram em sua longa história um momento no qual teriam florescido na sua forma mais autêntica e próxima às expectativas daqueles que as produzem. Mas desde então, como consequência das transformações históricas e em especial da chamada modernização, essas formas socioculturais teriam cada vez mais perdido seus atributos definidores.
Essa narrativa é seguramente poderosa e tem notável capacidade de convencimento. No entanto, um fantasma ronda os estudos sobre as culturas populares. Elas não desapareceram; continuam a existir e se reproduzir: festas regionais, como o bumba meu boi; as festas do Divino Espírito Santo; as festas de Reis; as inúmeras modalidades de música popular ou folclórica produzidas em diversas regiões do Brasil. Os exemplos podem se estender facilmente. O que importa assinalar, no entanto, é que essas formas de cultura popular continuam a ser produzidas no tempo presente e de modo criativo; e não parecem indicar, ao contrário do que se afirma obsessivamente, que estejam em processo de desaparecimento.
O problema evidentemente não está na cultura popular, mas nas perspectivas que postulam sua existência arcaica e seu inevitável desaparecimento. Trata-se de um fantasma produzido pelos que se recusam a reconhecer que elas expressam visões de mundo diferentes.
Muitas vezes, essas formas socioculturais estão associadas à oposição entre um mundo rural estável e harmônico e um mundo urbano industrializado e “inautêntico”. Contudo, pesquisas de antropologia social ou cultural já demonstraram que as culturas populares, estejam elas situadas no mundo rural ou nas grandes cidades, desempenham funções sociais e simbólicas fundamentais para sua persistência e reprodução. Desse modo, festas, artesanatos, lendas, formas musicais, dança, culinária articulam simbolicamente concepções coletivas de sociedade.
As culturas populares não se constituem em agregados de traços culturais passíveis de serem inventariados. Elas consistem efetivamente em sistemas de práticas sociais. Os comentários usuais sobre uma suposta perda de autenticidade das culturas populares na atualidade esquecem que elas não são o espelho de nossas categorias e classificações; o que elas oferecem de mais interessante não é nem o testemunho de um passado remoto, nem a catástrofe de seu desaparecimento, mas invenções alternativas e atuais dos modos de estar no mundo.
(Adaptado de: GONÇALVES, José Reginaldo Santos. “Culturas populares: patrimônio e autenticidade”. In: Agenda brasileira: temas de uma
sociedade em mudança. BOTELHO, André e SHWARCZ, Lilia Moritz (org.) São Paulo: Cia das Letras, 2011, p. 136-139)