Questões de Português - Pontuação para Concurso

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Q2094728 Português
Leia o texto a seguir e responda a questão.

Em termos gerais, parece haver dois métodos para reunir forças de combate – para convencer ou obrigar com sucesso coleções de homens a se envolverem no empreendimento violento, profano, sacrificial, incerto, masoquista e essencialmente absurdo conhecido como guerra. Os dois métodos levam a modos de guerrear distintos, e a distinção pode ser importante.

Intuitivamente, poderia parecer que o método mais fácil (e mais barato) para recrutar combatentes é alistar indivíduos que se deleitam com violência e a adotam rotineiramente, ou que a empregam para se enriquecerem ou as duas coisas. Na vida civil, temos um nome para essas pessoas – criminosos... Os conflitos violentos em que pessoas desse tipo são maioria podem ser chamados de guerras criminais, uma forma em que os combatentes são induzidos a causar violência primeiramente pelo divertimento e pelo proveito material que tiram da experiência.

Os exércitos de criminosos parecem surgir por dois processos. Às vezes, os criminosos – assaltantes, bandidos, aventureiros, sequestradores de cargas, vândalos, arruaceiros, salteadores, piratas, gangsters, indivíduos fora da lei – se organizam ou se juntam em gangues, bando ou máfias. Quando essas organizações se tornam suficientemente grandes, podem ficar parecidas com verdadeiros exércitos e agir praticamente da mesma forma como estes o fariam.

Alternativamente, os exércitos criminosos podem ser formados quando um governante precisa de combatentes para levar a termo uma guerra e conclui que empregar ou recrutar criminosos e bandidos é o método mais eficaz para conseguir isso. Neste caso, os criminosos e bandidos agem essencialmente como mercenários. 

Acontece, porém, que criminosos e bandidos tendem a ser guerreiros indesejáveis. Para começar, são frequentemente difíceis de controlar. São desordeiros, indisciplinados, desobedientes e rebeldes, cometendo frequentemente, em serviço ou fora dele, crimes não autorizados que podem ser prejudiciais ou mesmo deletérios para a ação militar.

O mais importante é que criminosos tendem a ser pouco dispostos a resistir e combater quando as situações se tornam perigosas, e muitas vezes simplesmente desertam, quando há uma oportunidade que coincide com seus caprichos. O crime comum, afinal de contas, faz vítimas entre os fracos – velhinhas e não atletas sarados – e criminosos com frequência mostram ser executores prontos e eficientes de pessoas indefesas. Mas quando aparecem os guardas, estão sempre prontos para fugir. O lema para o criminoso, afinal, não é uma variante de “Sempre fiéis”, “Um por todos e todos por um”, “Dever, honra, pátria”, “Banzai” ou “Lembrem-se de Pearl Harbour”, mas “Pega a grana e dá no pé” ...

Esses problemas com o emprego de criminosos como combatentes levaram a esforços para recrutar pessoas comuns – pessoas que, à diferença dos criminosos e bandidos, não cometem violências em nenhum outro momento da vida.

O resultado tem sido o desenvolvimento de um guerrear disciplinado, no qual os homens se infligem a violência em geral não por diversão e interesse, mas porque seu treinamento e doutrinação incutiram neles a necessidade de obedecer ordens; de observar um código de honra coerentemente orientado e cuidadosamente restritivo; de buscar a glória e a reputação em combate; de amar, honrar ou temer seus oficiais; de acreditar numa causa; de temer a vergonha, humilhação e custos da rendição; ou, em particular, de ser leal a e merecer a lealdade de seus companheiros de armas.

(MUELLER, John. Os remanescentes da guerra. In: PINKER, Steven. Guia de escrita: como conceber um texto com clareza, precisão e elegância. São Paulo: Contexto, 2018, p. 233-234).
Sobre o segundo parágrafo do texto acima, analise os itens a seguir:
I. A primeira vírgula empregada no primeiro período tem a função de separar um adjunto adverbial e seu emprego nesse caso é facultativo. 
II. A vírgula empregada no segundo período tem a função de separar um adjunto adverbial e seu emprego nesse caso é facultativo.
III. O travessão empregado no segundo período tem a função de inserir uma explicação e poderia ser substituído por uma vírgula sem prejuízo sintático ou semântico do período.
Escolha a única alternativa correta
Alternativas
Q2094657 Português
Leia o texto.
Fragmento de uma crônica de Eça de Queirós.


Há em Portugal quatro partidos: o Partido Histórico, o Regenerador, o Reformista e o Constituinte. Há ainda outros, mas anônimos, conhecidos apenas de algumas famílias. Os quatro partidos oficiais, com jornal e porta para a rua, vivem num perpétuo antagonismo, irreconciliáveis, latindo ardentemente uns contra os outros de dentro de seus artigos de fundo. Tem-se tentado uma pacificação, uma união. Impossível! Eles só possuem de comum a lama do Chiado que todos pisam e a Arcada que a todos cobre. Quais são as irritadas divergências e princípio que os separam?

— Vejamos:

O Partido Regenerador é constitucional, monárquico, intimamente monárquico, e lembra a seus jornais a necessidade da economia.

O Partido Histórico é constitucional, imensamente monárquico e prova irrefutavelmente a urgência da economia.

O Partido Constituinte é constitucional, monárquico e dá subida atenção à economia.

O Partido Reformista é monárquico, é constitucional e doidinho pela economia!

1. Todos os quatro são católicos.
2. Todos os quatro são centralizadores.
3. Todos os quatro têm o mesmo afeto à ordem.
4. Todos os quatro querem o progresso, e citam a Bélgica.
5. Todos os quatro estimam a liberdade.

Quais são então as desinteligências? – Profundas! Assim, por exemplo, a ideia de liberdade entendem-na de diversos modos.

O Partido Histórico diz gravemente que é necessário respeitar as liberdades públicas. O Partido Regenerador nega, nega numa divergência absoluta, provando com abundância de argumentos que o que se deve respeitar são - as públicas liberdades.

A conflagração é manifesta!
Identifique abaixo as afirmativas verdadeiras ( V ) e as falsas ( F ).
( ) Em “A desavença política apalpava-lhe a consciência”, temos a presença de dois objetos para o verbo “apalpar”. Ambos são diretamente ligados a ele.
( ) Em “O presidente do partido, naquele momento mostrou-se avesso à ideia”, temos um sujeito simples e o uso correto da vírgula.
( ) Em “Os partidos anônimos esperam a sua vez”, há, pelo menos, dois adjuntos adnominais.
( ) Em “Em Portugal, meu jovem, as eleições são sérias”, há um vocativo, um adjunto adverbial e um predicado nominal.
( ) Em “Naquele dia, porém, ocorreu em uma praça pública apenas discursos inflamados de discórdia”, as vírgulas separam conjunção deslocada e há um erro de concordância verbal.
Assinale a alternativa que indica a sequência correta, de cima para baixo.
Alternativas
Q2094235 Português


Internet: <www.cnnbrasil.com.br> (com adaptações)

Quanto ao texto acima e a seus aspectos linguísticos, julgue o item.


No segundo parágrafo, deveria haver uma vírgula antes do “e”, em “Fraser não conteve as lágrimas em seu discurso e agradeceu ao diretor”, pois são orações com sujeitos diferentes.

Alternativas
Q2092861 Português
Atenção: Para responder à questão, leia a crônica O lendário país do recall, de Moacyr Scliar. 

1. Leitora manda boneca para recall e não a recebe de volta. Como explicar para uma criança que seus brinquedos foram embora há três meses e não voltaram? (Cotidiano, 25/02/2008)

2. “Minha querida dona: quem lhe escreve sou eu, a sua fiel e querida boneca, que você não vê há três meses. Sei que você sente muitas saudades, porque eu também sinto saudades de você. Lembro de você me pegando no colo, me chamando de filhinha, me dando papinha... Você era, e é, minha mãezinha querida, e é por isso que estou lhe mandando esta carta, por meio do cara que assina esta coluna e que, sendo escritor, acredita nas coisas da imaginação.

3. Posso lhe dizer, querida, que vivi uma tremenda aventura, uma aventura que em vários momentos me deixou apavorada. Porque tive de viajar para o distante país do recall. Aposto que você nem sabia da existência desse lugar; eu, pelo menos, não sabia. Para lá fui enviada. Não só eu: bonecas defeituosas, ursinhos idem, eletrodomésticos que não funcionavam e peças de automóvel quebradas. Nós todos ali, na traseira de um gigantesco caminhão que andava, andava sem parar. Finalmente chegamos, e ali estávamos, no misterioso e, para mim, assustador país do recall. Um homem nos recebeu e anunciou, muito secamente, que o nosso destino em breve seria traçado: as bonecas que tivessem conserto seriam consertadas e mandadas de volta para os donos; quanto tempo isso levaria era imprevisível, mas três meses era o mínimo. Uma boneca que estava do meu lado, a Liloca, perguntou, com os olhos arregalados, o que aconteceria a quem não tivesse conserto. O homem não disse nada, mas seu sorriso sinistro falava por si.

4. Passamos a noite num enorme pavilhão destinado especialmente às bonecas. Éramos centenas ali, algumas com probleminhas pequenos (um braço fora do lugar, por exemplo), outras já num estado lamentável. Estava muito claro que para várias de nós não haveria volta.

5. Naquela noite conversei muito com minha amiga Liloca − sim, querida dona, àquela altura já éramos amigas. O infortúnio tinha nos unido. Outras bonecas juntaram-se a nós e logo formamos um grande grupo. Estávamos preocupadas com o que poderia nos suceder. De repente a Liloca gritou: ‘Mas gente, nós não somos obrigados a aceitar isso! Vamos fazer alguma coisa!’. Nós a olhamos, espantadas: fazer alguma coisa? Mas fazer o quê? Liloca tinha uma resposta: vamos tomar o poder. Vamos nos apossar do país do recall.

6. No começo aquilo nos pareceu absurdo. Mas Liloca sabia do que estava falando. A mãe da dona dela tinha sido uma militante revolucionária e sempre falava nisso, na necessidade de mudar o mundo, de dar o poder aos mais fracos. Ora, dizia Liloca, ninguém mais fraco do que nós, pobres, desamparados e defeituosos brinquedos. Não deveríamos aguardar resignadamente que decidissem o que fazer com a gente.

7. De modo, querida dona, que estamos aqui preparando a revolução. Breve estaremos governando o país do recall. Mas não se preocupe, eu a convidarei para me visitar. Você poderá vir a qualquer hora. E não precisará de recall para isso.”
(Adaptado de: Moacyr Scliar. Histórias que os jornais não contam. Porto Alegre: L&PM, 2018)
Verifica-se o emprego de vírgulas para separar um vocativo no seguinte trecho:
Alternativas
Q2091346 Português
    Todos os retratos que tenho de minha mãe não me dão nunca a verdadeira fisionomia que eu guardo dela – a doce fisionomia daquele rosto, daquela melancólica beleza do seu olhar. Ela passava o dia inteiro comigo. Era pequena e tinha os cabelos pretos. Junto dela eu não sentia necessidade dos meus brinquedos. Dona Clarisse, como lhe chamavam os criados, parecia mesmo uma figura de estampa. Falava para todos com um tom de voz de quem pedisse um favor, mansa e terna como uma menina de internato. À noite ela fazia-me dormir. Adormecer nos seus braços, ouvindo a surdina daquela voz, era o meu requinte de criança.
    Ela enchia-me de carícias. E quando o meu pai chegava, nas suas crises, exasperado como um pé-de-vento, eu via-a chorar e pronta a esquecer todas as intemperanças verbais do seu marido. Os criados amavam-na. Ela também os tratava com uma bondade que não conhecia mau humor.
    Horas inteiras eu fico a pintar o retrato dessa mãe angélica, com as cores que tiro da imaginação, e vejo-a assim, ainda tomando conta de mim, dando-me banhos e vestindo­-me. A minha memória ainda guarda detalhes bem vivos que o tempo não conseguiu destruir.

(José Lins do Rego. Menino de engenho. 94ª ed. Rio de Janeiro:
José Olympio, 2007. Excerto adaptado)
Assinale a alternativa em que, com a inserção da vírgula, a frase do texto atende a norma-padrão de pontuação da língua portuguesa. 
Alternativas
Q2091061 Português
Assinale a oração que está pontuada incorretamente.
Alternativas
Q2089496 Português

O ciclo da vida


    Recorro à minha profissão de tradutora, que exerci intensamente por longo tempo, para apresentar aqui versos da poetisa americana Edna St. Vincent Millay, falecida, sobre a morte: “Não me resigno quando depositam corações amorosos na terra dura. É assim, assim será para sempre: entram na escuridão os sábios e os encantadores. Coroados de lírios e louros, lá se vão: mas eu não me conformo. Na treva da tumba lá se vão, com seu olhar sincero, o riso, o amor; vão docemente os belos, os ternos, os bondosos; vão‐se tranquilamente os inteligentes, os engraçados, os bravos. Eu sei. Mas não aprovo. E não me conformo”.

    Conformados ou não, a morte é algo que precisaríamos aceitar, com mais ou menos dor, mais ou menos resistência, mais ou menos inconformidade. E esse processo, mais ou menos demorado, mais ou menos cruel, depende da estrutura emocional e das crenças de cada um.

     O ciclo da vida e morte é um duro aprendizado. Nós, maus alunos.

    Não escrevo sobre o tema pela morte de um ou outro, em acidentes, por doença dolorosa, ou mesmo dormindo, morte abençoada. Morrem mais pessoas aqui de morte violenta do que em guerras atuais. A banalização da morte, portanto a desvalorização da vida, é espantosa. Escrevo porque ela, a senhora Morte, é cotidiana e estranha, ao menos para a maioria de nós. Há alguns anos, menininha ainda, uma de minhas netas me perguntou com a perturbadora simplicidade das crianças: “Por que eu não tenho vovô?”. Respondi, como costumo, da maneira mais natural possível, que o vovô tinha morrido antes de ela nascer, que estava em outro lugar, e, acreditava eu, ainda sabendo da gente, sempre cuidando de nós – também dela. Continuei dizendo que a vida das pessoas é como a das plantas e dos animais. Nascem, crescem, umas morrem muito cedo, outras ficam bem velhinhas, umas morrem por acidente, ou doença, ou simplesmente se acabam como uma vela se apaga.

    Falar é fácil, eu dizia a mim mesma enquanto comentava isso com a criança. O drama da vida não se encerra com o baque da morte, mas começa, nesse instante outra grande indagação.

    Recordo a frase, atribuída a Sócrates na hora em que bebia cicuta, condenado pelos cidadãos de Atenas a se matar: “Se a morte for um sono sem sonhos, será bom; se for um reencontro com pessoas que amei e se foram, será bom também. Então, não se desesperem tanto”. Precisamos de tempo para integrar a morte na vida. Talvez os mortos vivam enquanto lembrarmos suas ações, seu rosto, a voz, o gesto, a risada, a melancolia, os belos momentos e os difíceis. Enquanto eles se repetirem no milagre genético, em filhos, e netos, ou se perpetuarem em fotografias e filmes. Enquanto alguém os retiver no pensamento, os mortos estarão de certa forma vivos? Porque morrer é natural, deveria ser simples: mas para quase todos nós, é um grande e grave enigma.

(Lya Luft. Revista Veja. Em: agosto de 2014. Adaptado.)

A pontuação tem por objetivo estruturar os textos, estabelecer pausas e entonações da fala além de outros propósitos. No último parágrafo do texto, o uso de aspas indica que a alegação:
Alternativas
Q2088788 Português
Quanto ao uso da vírgula assinale a alternativa INCORRETA:
Alternativas
Q2088648 Português
Em se tratando de pontuação, assinale a alternativa incorreta, quanto ao ponto e vírgula.
Alternativas
Q2088622 Português

Trabalhe no que você gosta... e seja mais feliz e bem-sucedido


    Você gosta do que faz? De verdade? Seus olhos brilham quando você chega em casa e vai contar para a família como foi seu dia, os projetos que realizou, as metas que atingiu? Se este não é o seu caso, saiba que você não é o único. São poucas as pessoas que encontram realmente paixão naquilo que fazem, mas são justamente elas exemplos de profissionais bem-sucedidos, tanto no campo pessoal quanto no profissional.

    A possibilidade de fazer o que se gosta e unir prazer ao trabalho diário pode trazer, além de muita felicidade, entusiasmo e qualidade de vida, ganhos expressivos também financeiramente. É o que afirma Mark Albion, autor do livro Making a Life, Making a Living, ainda sem tradução para o português. Albion concedeu recentemente uma entrevista à Revista Você S.A., em que comentou a pesquisa que realizou sobre o assunto. Ele investigou a vida de 1.500 profissionais que obtiveram seu diploma de MBA (Master in Business Administration) nas melhores escolas americanas há 20 anos. Quando fizeram sua primeira opção de emprego após o curso, 83% (1.245 pessoas) afirmaram que ganhariam dinheiro primeiro, para depois fazer o que realmente desejavam. Escolheram o emprego por causa do salário. O restante, 17%, disse que faria aquilo que realmente lhe interessava, independente da questão financeira. Vinte anos depois, os resultados são surpreendentes: entre os 1.500 pesquisados, Albion encontrou 101 multimilionários. Apenas um deles pertence ao primeiro grupo. Os outros 100 faziam parte do segundo, de 255 profissionais que seguiram sua paixão. A experiência mostra que as chances de ficar milionário fazendo o que se gosta são 50 vezes maiores de quem trabalha apenas para ganhar dinheiro.

    O fato é que esse conceito de trabalhar fazendo o que gosta é relativamente novo. Até meados da década de 80, o trabalho era visto como uma forma de ganhar dinheiro – e só. “As pessoas escolhiam que carreira seguir pensando nas possibilidades de ganhar mais, sem saber que na verdade o dinheiro é só uma consequência de um trabalho bem feito, principalmente quando é feito com prazer”, analisa a psicóloga Rosângela Casseano. Somente nos últimos anos as pessoas começaram a ter uma preocupação maior com as suas carreiras e verdadeiros interesses profissionais, o que levou a uma procura por testes vocacionais e terapeutas que trabalhem com orientação profissional. “Hoje já existe uma infinidade de serviços para orientar os recém-formados e quem quiser informações sobre carreiras e profissões: são sites, universidades, pesquisas e estudos, terapeutas. Você tem menos chances de errar e fazer aquilo que não gosta”, diz Rosângela.


(Camila Micheletti. Em: 05/2014. Adaptado.) 

Em “Você gosta do que faz? De verdade? Seus olhos brilham quando você chega em casa e vai contar para a família como foi seu dia, os projetos que realizou, as metas que atingiu?” (1º§), os pontos de interrogação indicam:
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Q2088509 Português

Olhos para ver um mundo novo a cada dia


    Em maio de 2019, o quadro “Meules”, do pintor francês Claude Monet (1840-1926), foi vendido na tradicional casa de leilões Sotheby’s, em Nova York, por nada menos que US$ 110,7 milhões (mais de R$ 580 milhões), um recorde para quadros do Impressionismo. O estilo, segundo os leiloeiros, é marcado por, entre outras coisas, contornos pouco definidos, cores não misturadas e ênfase na representação precisa da luz natural.

    Mas Monet tinha ainda outra “característica” que o aproximava de outros expoentes do estilo, como Pierre Auguste Renoir, Paul Cezanne e Edgar Degas: eles eram míopes. E de acordo com artigo do neurocirurgião Noel Dan, publicado em 2003 no Journal of Clinical Neuroscience, é tentador atribuir o desenvolvimento do Impressionismo, “ao menos em parte, à visão míope de seus praticantes”. A afirmação, claro, desperta até hoje debates acalorados entre especialistas, tanto em oftalmologia quanto em arte.

    Já numa chave mais médica e menos romantizada, a miopia é um distúrbio visual que faz com que a imagem entre em foco antes de chegar à retina. Isso faz com que objetos vistos a alguma distância pareçam desfocados – a visão parece embaçada. Segundo a AAO (Academia Americana de Oftalmologia, na sigla em inglês), se nada for feito para impedir o avanço da miopia, até 2050 metade da população mundial (que, lembremos, no mês passado alcançou 8 bilhões de pessoas) poderá ter a visão afetada por ela. O problema nada tem de trivial: ainda, segundo a AAO, o custo da miopia em perda de produtividade está estimado em cerca de US$ 244 bilhões por ano.

    No Brasil, dados de um levantamento feito pelo Hospital de Olhos mostram um aumento de 23% nos diagnósticos de miopia para pacientes com idades entre zero e doze anos no primeiro semestre deste ano: foram 538, contra 425 no mesmo período de 2021. Especialistas apontam como possíveis causas o uso excessivo de aparelhos eletrônicos (celulares, tablets, computadores etc.). Alguns talvez tenham ouvido de mães, tias ou avós para não assistir TV muito perto da tela. Embora seja tentador achar que elas poderiam estar certas desde o início, não há comprovação científica para se estabelecer uma relação de causa e efeito entre a exposição a telas e mais casos de miopia. Mas uma meta-análise publicada na revista especializada The Lancet sugere uma associação desse tipo.

    O fato desse avanço da miopia entre crianças possivelmente ter relação com a exposição a telas de gadgets é causa para alguma preocupação. Afinal, estamos rumando a um futuro em que as telas serão cada vez mais presentes nas vidas de todos. A pandemia deu um vislumbre disso: aulas passaram a ser ministradas via on-line – e as crianças, então, ficaram bem mais tempo com olhos voltados às telinha. Sem poderem sair de casa, jogos de celular, ou em consoles ligados à TV, filmes, desenhos animados e outras formas de diversão se tornaram a regra. Até para os adultos foi assim, com as muitas reuniões de trabalho em videoconferências.  

    E não se trata de uma tendência vista apenas no Brasil e nem que tenha surgido agora, claro. Reportagem do The New York Times já do ano passado lembrava que, em 2020, o Jama (Jornal da Associação Médica Americana, na sigla em inglês) trouxe um editorial intitulado “2020 como o ano da miopia de quarentena” (em tradução livre). O texto diz que lockdowns precisam considerar “um planejamento cuidadoso de atividades internas e, de preferência, não restringir as brincadeiras ao ar livre em crianças pequenas”. Isso ajudaria a controlar “uma onda de miopia de quarentena”.

    Por mais que nossas atividades, no trabalho, no estudo e na vida pessoal, estejam atreladas a dispositivos digitais e suas telas, o corpo humano tem limites: não é sem consequências – como o avanço da miopia tem mostrado – que nos expomos a toda e qualquer inovação sem considerar possíveis desdobramentos. A moderação precisa encontrar espaço: para as crianças, isso pode significar algum tempo longe das telas. Brincar em espaços abertos, em que possam tentar enxergar coisas ao longe, é uma excelente alternativa para preservar seus olhos. Há muito mais lá fora para se ver do que cabe nas telinhas, e elas precisam ter olhos saudáveis para descobrir o mundo a cada dia.


(Cláudio L. Lottenberg*, Veja. Disponível em: https://veja.abril.com.br/ coluna/coluna-claudio-lottenberg/olhos-para-ver-um-mundo-novo-acada-dia/15 dez 2022. * Mestre e doutor em Oftalmologia pela Escola Paulista de Medicina (Unifesp), é presidente institucional do Instituto Coalizão Saúde e do conselho do Hospital Albert Einstein.)

Pode-se inferir acerca das aspas no texto delimitando o vocábulo “característica” em: Mas Monet tinha ainda outra “característica” que o aproximava de outros expoentes do estilo, como Pierre Auguste Renoir, Paul Cezanne e Edgar Degas: eles eram míopes. (2º§), que tal emprego indica:
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Q2088463 Português

Aquilo por que vivi


    Três paixões, simples, mas irresistivelmente fortes, governaram-me a vida: o anseio de amor, a busca do conhecimento e a dolorosa piedade pelo sofrimento da humanidade. Tais paixões, como grandes vendavais, impeliram-me para aqui e acolá, em curso instável, por sobre profundo oceano de angústia, chegando às raias do desespero.

    Busquei, primeiro, o amor, porque ele produz êxtase – um êxtase tão grande que, não raro, eu sacrificava todo o resto da minha vida por umas poucas horas dessa alegria. Ambicionava-o, ainda, porque o amor nos liberta da solidão – essa solidão terrível através da qual a nossa trêmula percepção observa, além dos limites do mundo, esse abismo frio e exânime.

    Com paixão igual, busquei o conhecimento. Eu queria compreender o coração dos homens. Gostaria de saber por que cintilam as estrelas. E procurei apreender a força pitagórica pela qual o número permanece acima do fluxo dos acontecimentos. Um pouco disto, mas não muito, eu o consegui.

    Amor e conhecimento, até ao ponto em que são possíveis, conduzem para o alto, rumo ao céu. Mas a piedade sempre me trazia de volta a terra. Ecos de gritos de dor ecoavam em meu coração. Crianças famintas, vítimas torturadas por opressores, velhos desvalidos a constituir um fardo para seus filhos, e todo o mundo de solidão, pobreza e sofrimentos, convertem numa irrisão o que deveria de ser a vida humana. Anseio por aliviar o mal, mas não posso, e também sofro.

    Eis o que tem sido a minha vida. Tenho-a considerado digna de ser vivida e, de bom grado, tornaria a vivê-la, se me fosse dada tal oportunidade.

(Bertrand Russel. Autobiografia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1967. Adaptado.)

No fragmento “Três paixões, simples, mas irresistivelmente fortes, governaram-me a vida: o anseio de amor, a busca do conhecimento e a dolorosa piedade pelo sofrimento da humanidade.” (1º§), os dois-pontos têm como finalidade:
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Q2088446 Português
Memórias de um aprendiz de escritor

    Escrevo há muito tempo. Costumo dizer que, se ainda não aprendi – e acho que não aprendi, a gente nunca para de aprender – não foi por falta de prática. Porque comecei muito cedo. Na verdade, todas as minhas recordações estão ligadas a isso, a ouvir e contar histórias. Não só as histórias dos personagens que me encantam, o Saci-Pererê, o Negrinho do Pastoreio, a Cuca, Hércules, Teseu, os Argonautas, Mickey Mouse, Tarzan, os Macabeus, os piratas, Tom Sawyer, Sacco e Vanzetti. Mas também as minhas próprias histórias, as histórias de meus personagens, estas criaturas reais ou imaginárias com quem convivi desde a infância.

    Na verdade, eu escrevi acima. Verdade é uma palavra muito relativa para um escritor de ficção. O que é verdade, o que é imaginação? No colégio onde fiz o segundo grau, o Júlio de Castilhos, havia um rapaz que tinha fama de mentiroso. Fama, não; ele era mentiroso. Todo mundo sabia que ele era mentiroso. Todo mundo, menos ele. 

    Uma vez, o rádio deu uma notícia alarmante: um avião em dificuldade sobrevoava Porto Alegre. Podia cair a qualquer momento. Fomos para o colégio, naquele dia, preocupados; e conversávamos sobre o assunto, quando apareceu ele, o mentiroso. Pálido:

     – Vocês não podem imaginar! 

    Uma pausa dramática, e logo em seguida:

     – Sabem este avião que estava em perigo? Caiu perto da minha casa. Escapamos por pouco. Gente, que coisa horrível! E começou a descrever o avião incendiando, o piloto gritando por socorro... Uma cena impressionante. Aí veio um colega correndo, com a notícia: o avião acabara de aterrizar, são e salvo. Todo mundo começou a rir. Todo mundo, menos o mentiroso:

    – Não pode ser! – Repetia, incrédulo, irritado. – Eu vi o avião cair!

     Agora, quando lembro este fato, concluo que não estava mentindo. Ele vira, realmente, o avião cair. Com os olhos da imaginação, decerto; mas para ele o avião tinha caído, e tinha incendiado, e tudo mais. E ele acreditava no que dizia, porque era um ficcionista. Tudo que precisava, naquele momento, era um lápis e papel. Se tivesse escrito o que dizia, seria um escritor; como não escrevera, tratava-se de um mentiroso. Uma questão de nomes, de palavras.

(SCLIAR, Moacyr. Memórias de um aprendiz de escritor. Editora Ibep Nacional. 2005.)
No fragmento “E começou a descrever o avião incendiando, o piloto gritando por socorro...” (7º§), as reticências foram empregadas para:
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Q2088259 Português
1.png (751×580) 

Moisés Zylbersztajn. Muito além do maker: esforços contemporâneos de produção de novos e efetivos espaços educativos. In: Clarissa Teixeira,
Ana Cristina Ehlers e Marcio de Souza. Educação fora da caixa: tendência para a educação no século XXI. Florianópolis-SC: Bukess, 2015,
p. 197-198 (com adaptações).

Julgue o item, referente a aspecto linguístico do texto. 


Estariam mantidas a correção gramatical e a coerência do texto, embora com alteração de seu sentido, caso fosse inserida uma vírgula imediatamente depois do termo “outros” (linha 30). 

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Q2087487 Português

Releia o trecho a seguir.

“Este projeto, chamado Radvac – sigla em inglês de ‘vacina colaborativa de implantação rápida’ – se define como ‘um necessário ato de compaixão’.”

Nesse trecho, os travessões foram utilizados para:

Alternativas
Q2087484 Português

Em algumas passagens, por questões estilísticas, o autor prescinde do uso de vírgulas em situações que seu uso é facultativo.


Assinale a alternativa em que a(s) vírgula(s) colocada(s) não esteja(m) correta(s) de acordo com a norma-padrão, por erro gramatical ou alteração de sentido do trecho.

Alternativas
Q2087347 Português

Festa íntima

    Nem todos têm a fortuna de comemorar o décimo aniversário de seu automóvel. Os que têm não se podem furtar ao prazer de uma festa íntima, com recordações amáveis e o elogio do aniversariante.

    O nosso encontro deu-se numa pequena e adorável cidade da Holanda. Pela avenida principal, vejo-lhe ainda as árvores, o vento que descia os degraus dourados do sol. Muitos adolescentes a caminho da escola. Um ritmo de alegria matinal, simples e comunicativo.

    O automóvel resplandecia na perfeição intacta da sua recente fabricação. O vendedor fitava-o com orgulho, amava- -o com um amor de especialista, grave e sincero. Nós o amávamos timidamente, ainda, contemplando-lhe linhas, esmaltes, metais, forro... – mas o vendedor proclamava, acima de tudo, a excelência da máquina. Era um homem sensível e engenhoso. Até nos queria vender um dispositivo especial que fazia descer uma leve cortina d’água para lavar o vidro da frente.

    Partimos emocionados. O vendedor dizia-nos adeus com bondade. Recomendava-nos certo óleo, moderação na rodagem... E quando nos voltamos, na derradeira despedida, continuava a acompanhar o carro com olhos de pai despedindo- -se de um filho.

    Ele aprendeu a rodar pela terra da Holanda, e seu padrinho foi um holandês. Entre as nuvens de bicicletas daquelas encantadoras cidades, sua presença era um pouco escandalosa.

    Em cada posto de gasolina, todos o vinham observar por dentro e por fora. Os entendidos em máquinas caíam em êxtase. Era um assombro, o que viam e o que adivinhavam.

    E assim foi ele vivendo a sua infância pelos campos floridos da Bélgica, fazendo levantar os olhos aos belos cavalos brancos que pasciam; e conheceu os castelos do Loire e a luz formosa do sul da França; e deslumbrou as donzelinhas espanholas que passavam pela tarde, abraçadas e risonhas, e deslizou pelas estradas de Portugal.

    E assim chegou ao Brasil, viu as paisagens cariocas, fluminenses, mineiras e paulistas. Talvez estranhasse, às vezes, o clima (ah! os patrões obrigam a tanto)!

     Mas logo as distâncias o seduziam e atirava-se por elas feliz e leve como se fosse voar.

    Carro tão sensato jamais houve: não cometeu nunca a menor infração e até se desvia a tempo para que os outros não as cometam. Com o tempo, tem tido suas pequenas crises: mas os mecânicos continuam a amá-lo tanto quanto seu vendedor, e tratam-no com o carinho de um médico devotado por um paciente precioso.

    E eis que agora cumpre dez anos. E jamais nos ocorreria trocá-lo por outro mais novo, fosse qual fosse a atração do modelo. Nós o amamos como a uma pessoa viva, a um amigo fiel, a um companheiro impecável. Faz parte da família. Vence todos os obstáculos das estradas e das ruas, resiste a todas as gasolinas; quando enguiça é porque as adversidades são enormes. Outros, quebravam-se. Ele para, espera que o ajudem, e logo recupera seu alento, sua coragem, sua vontade de bem servir. Mesmo entre as criaturas humanas, poucos se lhe podem comparar.

    Eis porque festejamos com ternura este aniversário. Que lhe podemos oferecer de presente? Uma boa lubrificação, um bom passeio por uma bela estrada, ao longo da qual se possa expandir seu coração trabalhador. E buzinaremos a nossa alegria por onde passarmos, celebrando as suas virtudes e proclamando-lhe a nossa gratidão.

(Cecília Meireles. Literatura Comentada. Inéditos, 1968. Editora Abril.)

No excerto “Carro tão sensato jamais houve: não cometeu nunca a menor infração e até se desvia a tempo para que os outros não as cometam.” (10º§), os dois-pontos indicam: 
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Q2087249 Português
Mensagem de final de ano aos jovens (des)informados

     O ano passou num piscar de olhos. Aliás, tem sido assim desde que a tecnologia e seus artefatos chegaram para tornarem-se peças indispensáveis no nosso cotidiano. A tecnologia acelerou a vida que, como diz a sábia boneca Emília em suas famosas “Memórias da Emília” do nosso imortal Monteiro Lobato, já é, por si só, um pisca-pisca. Segundo ela, que do alto de sua filosofia absolutamente genial narrou suas memórias ao Visconde de Sabugosa: “a gente nasce, isto é, começa a piscar. Quem para de piscar, chegou ao fim, morreu. Piscar é abrir e fechar os olhos – viver é isso. É um dorme-eacorda, dorme-e-acorda, até que dorme e não acorda mais. É, portanto, um pisca-pisca. (...) A vida das gentes neste mundo, senhor sabugo, é isso. Um rosário de piscadas. Cada pisco é um dia. Pisca e mama; pisca e anda; pisca e brinca; pisca e estuda; pisca e ama; pisca e cria filhos; pisca e geme os reumatismos, por fim, pisca pela última vez e morre.

    E depois que morre? – perguntou o Visconde.
    – Depois que morre vira hipótese. É ou não é?”.
    É. Piscamos e lá se foi 2022.

    O ser humano pisca de 15 a 20 vezes por minuto e, em condições normais, um olho chega a piscar 8.000 vezes por dia. Isso é necessário para que possamos lubrificar os olhos limpando-os de agentes externos, como poeira ou outros minúsculos elementos, que, a cada piscada, são impedidos de entrar em contato direto com a córnea. Estudos apontam que o ato de piscar está relacionado a um breve descanso da mente, além de servir para lubrificar essa área tão importante dos olhos. Piscamos para ver melhor, mais limpo e também para pensar com mais clareza. Nestes tempos em que nossos computadores, tablets e celulares fazem parte de quem somos, descobriu-se que estamos piscando cinco vezes menos do que deveríamos, a isso deram o nome de Síndrome do Uso Excessivo do Computador. Vejam só: estamos ficando doentes de tanto ver o mundo pelas telas! Fico aqui pensando o que diria Emília, se soubesse disso. Piscando menos, vivemos menos e logo, logo, talvez ela dissesse, de nós só sobrarão hipóteses!...

    Piscamos menos e mesmo assim o tempo passa célere, e temos nos preocupado cada vez mais com ele, ainda mais você, caro jovem leitor, que já reclama que não tem tempo para fazer nem metade do que gostaria! Na Era da (Des)Informação o tempo passa mais rápido porque as telas não dão descanso: entre um pisca e outro a gente vê um vídeo no TikTok, pisca e posta uma foto no Instagram, pisca de novo e comenta o post do amigo no Twitter e ainda dá tempo de piscar mais uma vez e entrar no YouTube para dar uma espiada no vídeo daquele influencer preferido. Parece muito pisca- -pisca, mas, pelo que nos mostram as pesquisas, no meio de tantas redes sociais não dá tempo de piscar o suficiente, e a vista fica cada dia mais cansada, embaçada e a gente, mais encurvado, com a perspectiva de, daqui a 800 anos, estarmos corcundas, com quatro pálpebras e com as mãos em forma de garra, como constatou estudo realizado pela empresa de telecomunicações Toll Free Forwarding. Ou então se nada disso se concretizar, nos restará apenas ser só uma hipótese...

    Sem querer ser pessimista ou alarmista demais, o propósito desta mensagem de final de ano a todos os jovens leitores é alertar para a nossa potência nesse mundo VUCA, ou mundo BANI, como queira, nessa sociedade do cansaço, nessa modernidade líquida. Precisamos piscar mais se quisermos continuar vivos. Podemos piscar mais vezes e sairmos das telas dos celulares. Podemos ler um livro impresso e exercer a liberdade suprema de pular páginas, de começar pelo meio, de parar de ler e olhar pela janela – aquela de verdade mesmo, que tem formatos mil, que fica entre nós, nossas casas e o mundo real. Precisamos conversar com as pessoas, encontrar os amigos, ir ao estádio de futebol, passear pelos parques, nadar nos rios – enquanto eles ainda existem e são “nadáveis” – navegar os mares ao invés de as redes sociais. Podemos nos enredar em outras redes, aquelas que construímos, na escola, no clube, na vizinhança, aquelas que de fato são laços e possuem o poder de destruir muros. Podemos dominar os algoritmos se ampliarmos as nossas experiências, porque eles ainda não prescindem do humano e tanto mais humanos nos tornamos, quanto mais experiências concretas conseguimos viver e compartilhar.

    Não se trata aqui de dar uma receita de ano novo – elas não funcionam, sabemos nós, que todos os anos fazemos listas repletas de promessas – mas apenas de lembrar que podemos seguir piscando, fazendo os nossos olhos brilharem com outras paisagens. Não tem sido fácil para você, jovem leitor, singrar mares tão desconhecidos, tão sem bússola como os grandes navegadores estavam quando desbravaram os continentes do chamado novo mundo. Mas se eles chegaram a outros lugares, provaram que é possível descobrir o desconhecido. Os instrumentos que os ajudaram servem perfeitamente para os dias de hoje: curiosidade, estratégia, pesquisa, resistência, resiliência, crença no sonho, no impossível, fé em si mesmo e um desejo recorrente de viver melhor. Como dizia o escritor Eduardo Galeano é para isso que serve a utopia: “para que eu não deixe de caminhar”.

    Aos jovens (des)informados desse futuro tão incerto desejo um tempo a mais entre uma piscada e outra, um tempo para fechar os olhos e descansar das telas, uma piscada mais elaborada que permita a construção de narrativas que não precisem ser postadas para tornarem-se relevantes, e muitas piscadas por conta da vivência de histórias inclusivas, diferentes, diversas e desiguais. Desejo que construam hipóteses – muitas! – e que possam referendá-las com rigor, ética e criticidade. E que assim tornem-se cada dia mais potentes, protagonistas e reais.

(ALVES, Januária Cristina. Mensagem de final de ano aos jovens (des)informados. Jornal Nexo, 2022. Disponível em: https://www.nexojornal.com.br/colunistas/2022/Mensagem-de-finalde-ano-aos-jovens-DesInformados. Acesso em: 21/12/2022. Adaptado.)
Releia: “A vida das gentes neste mundo, senhor sabugo, é isso.” (1º§) Aponte a passagem em que as vírgulas foram empregadas para separar termo de mesmo valor sintático que do excerto anterior
Alternativas
Q2087247 Português
Mensagem de final de ano aos jovens (des)informados

     O ano passou num piscar de olhos. Aliás, tem sido assim desde que a tecnologia e seus artefatos chegaram para tornarem-se peças indispensáveis no nosso cotidiano. A tecnologia acelerou a vida que, como diz a sábia boneca Emília em suas famosas “Memórias da Emília” do nosso imortal Monteiro Lobato, já é, por si só, um pisca-pisca. Segundo ela, que do alto de sua filosofia absolutamente genial narrou suas memórias ao Visconde de Sabugosa: “a gente nasce, isto é, começa a piscar. Quem para de piscar, chegou ao fim, morreu. Piscar é abrir e fechar os olhos – viver é isso. É um dorme-eacorda, dorme-e-acorda, até que dorme e não acorda mais. É, portanto, um pisca-pisca. (...) A vida das gentes neste mundo, senhor sabugo, é isso. Um rosário de piscadas. Cada pisco é um dia. Pisca e mama; pisca e anda; pisca e brinca; pisca e estuda; pisca e ama; pisca e cria filhos; pisca e geme os reumatismos, por fim, pisca pela última vez e morre.

    E depois que morre? – perguntou o Visconde.
    – Depois que morre vira hipótese. É ou não é?”.
    É. Piscamos e lá se foi 2022.

    O ser humano pisca de 15 a 20 vezes por minuto e, em condições normais, um olho chega a piscar 8.000 vezes por dia. Isso é necessário para que possamos lubrificar os olhos limpando-os de agentes externos, como poeira ou outros minúsculos elementos, que, a cada piscada, são impedidos de entrar em contato direto com a córnea. Estudos apontam que o ato de piscar está relacionado a um breve descanso da mente, além de servir para lubrificar essa área tão importante dos olhos. Piscamos para ver melhor, mais limpo e também para pensar com mais clareza. Nestes tempos em que nossos computadores, tablets e celulares fazem parte de quem somos, descobriu-se que estamos piscando cinco vezes menos do que deveríamos, a isso deram o nome de Síndrome do Uso Excessivo do Computador. Vejam só: estamos ficando doentes de tanto ver o mundo pelas telas! Fico aqui pensando o que diria Emília, se soubesse disso. Piscando menos, vivemos menos e logo, logo, talvez ela dissesse, de nós só sobrarão hipóteses!...

    Piscamos menos e mesmo assim o tempo passa célere, e temos nos preocupado cada vez mais com ele, ainda mais você, caro jovem leitor, que já reclama que não tem tempo para fazer nem metade do que gostaria! Na Era da (Des)Informação o tempo passa mais rápido porque as telas não dão descanso: entre um pisca e outro a gente vê um vídeo no TikTok, pisca e posta uma foto no Instagram, pisca de novo e comenta o post do amigo no Twitter e ainda dá tempo de piscar mais uma vez e entrar no YouTube para dar uma espiada no vídeo daquele influencer preferido. Parece muito pisca- -pisca, mas, pelo que nos mostram as pesquisas, no meio de tantas redes sociais não dá tempo de piscar o suficiente, e a vista fica cada dia mais cansada, embaçada e a gente, mais encurvado, com a perspectiva de, daqui a 800 anos, estarmos corcundas, com quatro pálpebras e com as mãos em forma de garra, como constatou estudo realizado pela empresa de telecomunicações Toll Free Forwarding. Ou então se nada disso se concretizar, nos restará apenas ser só uma hipótese...

    Sem querer ser pessimista ou alarmista demais, o propósito desta mensagem de final de ano a todos os jovens leitores é alertar para a nossa potência nesse mundo VUCA, ou mundo BANI, como queira, nessa sociedade do cansaço, nessa modernidade líquida. Precisamos piscar mais se quisermos continuar vivos. Podemos piscar mais vezes e sairmos das telas dos celulares. Podemos ler um livro impresso e exercer a liberdade suprema de pular páginas, de começar pelo meio, de parar de ler e olhar pela janela – aquela de verdade mesmo, que tem formatos mil, que fica entre nós, nossas casas e o mundo real. Precisamos conversar com as pessoas, encontrar os amigos, ir ao estádio de futebol, passear pelos parques, nadar nos rios – enquanto eles ainda existem e são “nadáveis” – navegar os mares ao invés de as redes sociais. Podemos nos enredar em outras redes, aquelas que construímos, na escola, no clube, na vizinhança, aquelas que de fato são laços e possuem o poder de destruir muros. Podemos dominar os algoritmos se ampliarmos as nossas experiências, porque eles ainda não prescindem do humano e tanto mais humanos nos tornamos, quanto mais experiências concretas conseguimos viver e compartilhar.

    Não se trata aqui de dar uma receita de ano novo – elas não funcionam, sabemos nós, que todos os anos fazemos listas repletas de promessas – mas apenas de lembrar que podemos seguir piscando, fazendo os nossos olhos brilharem com outras paisagens. Não tem sido fácil para você, jovem leitor, singrar mares tão desconhecidos, tão sem bússola como os grandes navegadores estavam quando desbravaram os continentes do chamado novo mundo. Mas se eles chegaram a outros lugares, provaram que é possível descobrir o desconhecido. Os instrumentos que os ajudaram servem perfeitamente para os dias de hoje: curiosidade, estratégia, pesquisa, resistência, resiliência, crença no sonho, no impossível, fé em si mesmo e um desejo recorrente de viver melhor. Como dizia o escritor Eduardo Galeano é para isso que serve a utopia: “para que eu não deixe de caminhar”.

    Aos jovens (des)informados desse futuro tão incerto desejo um tempo a mais entre uma piscada e outra, um tempo para fechar os olhos e descansar das telas, uma piscada mais elaborada que permita a construção de narrativas que não precisem ser postadas para tornarem-se relevantes, e muitas piscadas por conta da vivência de histórias inclusivas, diferentes, diversas e desiguais. Desejo que construam hipóteses – muitas! – e que possam referendá-las com rigor, ética e criticidade. E que assim tornem-se cada dia mais potentes, protagonistas e reais.

(ALVES, Januária Cristina. Mensagem de final de ano aos jovens (des)informados. Jornal Nexo, 2022. Disponível em: https://www.nexojornal.com.br/colunistas/2022/Mensagem-de-finalde-ano-aos-jovens-DesInformados. Acesso em: 21/12/2022. Adaptado.)
Em relação ao emprego dos sinais de pontuação, analise as afirmativas a seguir.
I. Os parênteses em “(des)informados” sinalizam a dupla possibilidade de leitura do termo. II. As aspas em “para que eu não deixe de caminhar’” (8º§) e em “‘a gente nasce (...) É ou não é?” (1º§ ao 3º§) foram empregadas com funções distintas. III. Em “Os instrumentos que os ajudaram servem perfeitamente para os dias de hoje: curiosidade, estratégia, pesquisa, resistência, resiliência [...]” (8º§), os dois-pontos foram utilizados para introduzir uma enumeração. IV. Em “Vejam só: estamos ficando doentes de tanto ver o mundo pelas telas!” (5º§), o ponto de exclamação foi usado para indicar entusiasmo. V. Em “A tecnologia acelerou a vida que, como diz a sábia boneca Emília em suas famosas ‘Memórias da Emília’ do nosso imortal Monteiro Lobato [...]” (1º§), a inserção de vírgula após as duas ocorrências da palavra “Emília” melhoraria a fluidez da leitura sem, contudo, alterar o sentido do enunciado.
Está correto o que se afirma em
Alternativas
Q2087172 Português

Viajando

    Viajar é a melhor coisa do mundo. Não importa para que lugar. Sair de onde você está e passar um tempo em outro, pra mim, já é suficiente. Claro que há lugares e lugares. Os brasileiros estão viajando, cada vez mais. Você, com certeza, já ouviu alguém dar o chilique que: em Nova York, agora, só tem brasileiro! Paris é um bairro nosso! Miami já faz parte da grande Salvador! Buenos Aires é de verdade a capital do Brasil.

    Mas tem um lugar que o brasileiro não costuma ir muito, que é o melhor de todos: o Brasil. Existe algum preconceito bobo na cabeça do brasileiro de que chique mesmo é ir pra Europa. Acho que chique mesmo é você conhecer o seu país de cabo a rabo! Um dos argumentos é que viajar para fora é o mesmo preço de uma viagem para o Nordeste. Ué, e daí? Você pode se divertir muito mais no Nordeste, tenha certeza.

    Se você já visitou os Lençóis Maranhenses, sabe do que estou falando. Um dos lugares mais lindos e diferentes do mundo. As pessoas, com razão, dizem que aqui nós não temos estrutura, os lugares são de difícil acesso, mas vou te dizer, faz um pouco parte da graça do passeio.

    Claro que queremos um mínimo e que isso não pode ser justificativa para a precariedade dos nossos cartões‐postais, mas ter que pegar um bugre e desbravar as ruas de terra/pedra de Fernando de Noronha, para chegar a uma praia deslumbrante como a do Sancho sem nenhum quiosque vendendo nem uma água é muito legal.

    Sou do ponto de vista de que a praia se fosse azulejada, com água doce e ar condicionado não seria o paraíso, seria a cozinha do seu apartamento. O Rio está caríssimo, é verdade, mas Grumari é de graça, a Lapa é de graça, o Aterro é de graça, Copacabana, Ipanema, a pedra da Gávea, a Floresta da Tijuca, é tudo “de grátis”! Foz do Iguaçu deixa Niagara Falls no chinelo. Mas lá é que é legal, é nos States, né? As dunas móveis de Natal, o Pantanal, Bonito, a Chapada, a Amazônia...

    O sonho de todo gringo é vir passar uma semana na floresta Amazônica. A maioria dos brasileiros acha floresta um programa de índio (mas adora passar 8 horas no trânsito pra ir ao Guarujá. Vai entender.). Temos dois dos melhores museus do mundo aqui no Brasil, um no Recife e outro em Minas. Inhotim é o maior museu a céu aberto de todos e das coisas mais impressionantes que eu já vi de artes plásticas, sonoras e visuais. Quando comento sobre ele, 95% das pessoas não têm ideia do que estou falando. Não vou nem entrar no quesito gastronomia para não humilhar qualquer país do planeta. Não estou falando tudo isso querendo dizer que ir ao Egito é bobagem, e que não vale a pena visitar Tóquio ou o Camboja. O que eu quero dizer é que, entre Barcelona e Roma, vale a pena descobrir o que é o Jalapão. Reserve dez dias do seu ano para viajar pelo Brasil. Você não vai se arrepender. Até porque, se é pra esbarrar com brasileiro nos Estados Unidos, esbarra com brasileiro por aqui mesmo, que tá tudo em casa!


(Fábio Porchat. Estadão Cultura. Em: 11/2014. Adaptado.)

No excerto “As dunas móveis de Natal, o Pantanal, Bonito, a Chapada, a Amazônia...” (5º§), as reticências indicam:
Alternativas
Respostas
2101: D
2102: E
2103: E
2104: D
2105: B
2106: B
2107: A
2108: A
2109: D
2110: D
2111: B
2112: B
2113: D
2114: E
2115: B
2116: D
2117: A
2118: D
2119: C
2120: B