Questões de Português - Pronomes relativos para Concurso

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Q2205854 Português
O texto seguinte servirá de base para responder à questão.

As armadilhas dos games para fazer crianças gastarem dinheiro sem parar

Leif pedia dinheiro à família para conseguir comprar moedas em um jogo, com as quais poderia incrementar seu personagem e comprar itens virtuais. Então, no Natal, os avós deram a ele mil reais em crédito em uma loja de aplicativos.

"Para minha surpresa, ele gastou tudo em questão de dias", recorda Nara Ward. "Depois disso, não dei a ele mais do que cinquenta reais em moedas do jogo por mês. Ele rapidamente ficou frustrado e entediado com o jogo."

Leif passou a usar outro jogo, que também exige que os jogadores atualizem seu armamento usando créditos. "No entanto, este jogo tem a opção de assistir a anúncios para ganhar crédito", explica a mãe. "Ele fazia isso por desespero quando esgotava sua mesada para jogos." Ward diz que seu filho mais novo ainda não dominou o autocontrole nem o uso de dinheiro. "É algo que tenho que policiar constantemente."

Em vez de apenas lucrar com a compra de um jogo de videogame, como antigamente, hoje, muitas empresas do segmento dependem da receita gerada por compras efetuadas durante o jogo e das chamadas microtransações. Esse conteúdo adquirido pode ser puramente estético, como passos de dança e novas roupas para um personagem.

Mas as compras podem trazer também uma vantagem tática, como vidas extras, melhorias no personagem e novas armas - ganhos em relação aos jogadores que não compram esses recursos adicionais. É previsto que o mercado global de microtransações online cresça cerca de R$ 330 bilhões em 2022 para R$ 370 bilhões em 2023.

No entanto, alguns especialistas e consumidores reagem a essa tendência. Algumas empresas prometem novos lançamentos que não trazem compras durante o jogo.

As empresas de jogos, diz a professora Sarah Mills, usam a psicologia comportamental para levar os usuários a gastar. A fronteira entre jogos e apostas, diz ela, torna-se cada vez mais confusa. Sua pesquisa indica que técnicas de jogos de azar são incorporadas nos games, fazendo os usuários jogarem por mais tempo e gastarem mais dinheiro, além de fazerem pequenas compras em sequência.

Ao gastar, os jogadores impedem a rotina: fazer uma compra evita ter que passar horas em um jogo monótono para que se possa subir de nível.

A estratégia por trás disso chama-se 'fun pain', algo como diversão dolorosa: você pode perder algo importante ou mais divertido se não fizer uma compra.

https://www.bbc.com/portuguese/articles/clw9xep49zgo. Adaptado.
Leif passou a usar outro jogo, 'que' também exige que os jogadores atualizem seu armamento usando créditos.
O termo destacado na frase em questão trata-se de:
Alternativas
Ano: 2023 Banca: CEFET-MG Órgão: CEFET-MG Prova: CEFET-MG - 2023 - CEFET-MG - Odontólogo |
Q2198776 Português
O texto “Gauchês, mineirês, carioquês, cearês e outras maravilhas nacionais” a seguir refere-se à questão.

Gauchês, mineirês, carioquês, cearês e outras maravilhas nacionais

Ana Elisa Ribeiro

Outro dia me disseram que eu falo diferente. É que eu estava entre gaúchos e paulistas, então fiquei sendo a diferentona da rodada. Mas aos meus ouvidos, eles pareciam todos diferentes em seus falares. É que tudo depende do referencial, não é isso? Não matei essa aula de Física.

Sempre amei sotaques. Qualquer um e todos. Sempre me intrigou a valoração social que damos a eles, assim sem pensar. É um sentir, um repetir, uma questão social e econômica ali misturada, produzindo às vezes um preconceito, às vezes um deslumbramento meio bobo. Ficava pau da vida quando um colega ou uma amiga passavam duas semanas de férias no Rio de Janeiro e voltavam falando carioquês advanced. “Precisa disso?”, pensava eu irritadinha. E às vezes falavam e explicavam: ah, é que tenho facilidade de pegar sotaque. Hum, sei.

Lembro-me bem da rodinha de discussões de amigos: o sotaque mais bonito é o gaúcho. E depois aqueles clichês engraçados: o português mais perfeito é o de São Luís. Aí alguém corrigia: não, é o de Belém do Pará. Ah, meus sais. O mineiro é o que não é: engolindo as metades das palavras. Um amigo paulista, recentemente, contou da história do gringo que lhe fez a pergunta do século: o que é isso que vocês dizem quando querem passar? Nem sei reproduzir aqui a dúvida do fulano. É que a gente aprende desde cedo, na escolinha, a pedir “licença”, não é mesmo? Mas, na real, o que a gente diz uns aos outros, bem sussurrado e surrado, é um “ss ss” ou no máximo um “cenççç”, que nada tem a ver com as aulinhas de português que o gringo teve na vida, lá no país dele. Como faz? Vai passando assim, meio empurradinho, e dizendo “cenççç”.

Sotaque é lindo. Poeticamente, fico pensando em como é bonito trazer sua terra no seu falar. Não pode haver coisa mais visceral, pode? Abro a boca e em segundos, juro, alguém manda esta: cê é mineira, né? Nem tento negar. Melhor: nem quero. Oh, Minas Gerais. Comendo sílabas, engolindo os pronomes reflexivos, emendando palavras umas nas outras, fazendo cordões de lexemas, anulando consoantes. Até a piadinha do cara falando com o mineiro me faz rir:

—- Diz que mineiro só fala vogal, né?
—- Uai, é? ó!

Eu de cá, reconheço paulistano de longe, carioca a quilômetros, gaúcho até debaixo d'água e baiano até fingindo de morto. O sotaque do interior de São Paulo se parece com o do interior de Minas, então pode ser que eu confunda um pouco. Mas, fico ali naquela área entre o norte de São Paulo, o sul e o triângulo mineiros e Goiás. Tenho grandes chances de acertar. Como Minas são muitas, é preciso considerar as fatias de variados sotaques, na parecença com baianos, paulistas interioranos, cariocas forçados e o tipiquíssimo sotaque da região metropolitana da capital, Belzonte. Bom, isso é lenda, falamos mesmo é Beagá.

O Nordeste é que sofre com a ignorância do resto do país. Até eu, que não sou de nenhum de seus maravilhosos estados, me arrepio quando ouço aquela do “sotaque nordestino”. Coisa de quem nunca andou por aquelas bandas imensas. Geralmente, o Sicrano que diz isso quer se referir ao sotaque da Bahia (que também não é único nem uno). Não sei assim certinho discernir, mas bem que identifico um pernambucano, uma paraibana, um cearense, em suas pujanças vocálicas, em seus usos do imperativo (coisa que a um mineiro parece o fim do mundo!) e em sua majestosa pronúncia consonantal. Na segunda sílaba de “bom dia” uma plateia inteira de paraibanos e paraibanas já sabe que venho de longe, geralmente das plagas de baixo. Meu “d” africado (djia) soa bem diferente lá, onde eles dizem “d” como “d” mesmo. Foi minha tristeza em duas gravações diferentes de uma canção pelo músico Lenine, recifense de nascença. Na primeira ele cantava “no toque da platinela” com esse “t” todo “t”; na segunda, anos depois, ele cantou “platchinela”, como nós aqui falamos. Entristeci, embora a canção tivesse continuado bonita.

Então, sotaque não é coisa simples. Sotaque é pronúncia, é melodia, é ginga, é palavra menos e mais usada, é como dizer nos mínimos detalhes, é cantando, é modo verbal, é como soa cada vogal ou consoante, é um jeito, é uma origem, é como aprendemos a falar com as nossas mães, em nossos lugares de convivência. Depois pode ser que mude, se misture, se altere, se alterne. Pode ser que até suma, seja substituído por outro. Sotaque é aquilo que volta quando a gente faz uma visitinha. É aquilo que a gente evita quando tem trauma. Conheço gente que mora fora do local natal faz tempo e tem um sotaque misturado. A Renata e o Nathan, por exemplo, que são cearenses, já misturam um pouco das bolas. Em Minas, são logo reconhecidos como estrangeiros; mas quando voltam a Fortaleza, são logo acusados de se terem “amineirado”. Nem cá, nem lá, todos, tudo. Um emaranhado no outro. Sotaque é o chão na voz, o gesto no jeito. Sotaque, estrangeiro ou dentro do Brasil, é lindo. Se não for, pode saber que é valoração de outra ordem.

Fonte: RIBEIRO, Ana Elisa. Nossa Língua e outras encrencas. Crônicas. V1. Editora Parábola. 2023.
Considerando as escolhas lexicais e as estruturas oracionais presentes no texto, avalie as afirmativas a seguir.
I- Os trechos “a diferentona da rodada” e “Ficava pau da vida.” demonstram o uso de expressões informais.
II- No trecho “Meu 'd' africado (djia) soa bem diferente lá, onde eles dizem 'd' como 'd' mesmo.”, o pronome relativo “onde” é usado para retomar um lugar físico.
III- No trecho “É que eu estava entre gaúchos e paulistas, então fiquei sendo a diferentona da rodada.”, o “que”, em sua forma coloquial, é empregado com valor de explicação e pode ser substituído por “porque”.
IV- No trecho “A Renata e o Nathan, por exemplo, que são cearenses, já misturam um pouco das bolas.”, o termo “por exemplo” exerce a função adverbial.
As afirmativas corretas são
Alternativas
Q2197172 Português
Os dentes dos pobres

por Olivier Cyran

        Em 1970, um jovem dentista de Autun, bafejado pelos ventos do Maio de 68, se lançou em um projeto audacioso: abrir, em Saône-et-Loire, um consultório destinado aos pobres. Bernard Jeault conseguiu obter um empréstimo bancário e aliciar para a aventura quatro colegas, prontos como ele a trair o evangelho de sua profissão: a prática liberal e o sucesso material. Trabalhariam juntos, com o mesmo equipamento e por um valor modesto. Adeus vida de figurões convidados para os saraus do subprefeito: socialização dos cuidados e bons dentes para todos!

        No entanto, a Ordem Nacional dos Cirurgiões-dentistas velava por seus interesses. Hostis à ideia de um atendimento com vocação social e temendo que essa subversão do modelo sacrossanto do pequeno empresário dentista abrisse uma brecha capaz de abalar todo o sistema, os sabichões travaram contra Jeault uma longa e implacável guerra. Arruinado, depois proibido de exercer a profissão em represália a uma obra em que relatava seus desenganos com os “arrancadores de dentes”, o “dentista dos pobres” amargou o desemprego, a assistência social e uma velhice com dificuldades, antes de morrer, em julho de 2019.

        Cinquenta anos após seu torpedeado projeto, as desigualdades de acesso aos serviços que ele esperava proporcionar continuam abissais. Os estragos podem ser observados desde a mais tenra idade. Segundo levantamentos de saúde escolar em cursos pré-primários da França, um quarto dos filhos de operários tem cáries não cuidadas, contra apenas 4% dos filhos de executivos, disparidade que aumenta na idade adulta. Estima-se que mais de um quarto dos casais de baixa renda não vai ao dentista por falta de meios. Como reconhecia o ministro da Saúde em 2011, “as desigualdades constatadas se traduzem, de um lado, por uma exposição desigual ao risco: os hábitos favoráveis à saúde bucodentária (escovação diária, exposição aos fluoretos, alimentação variada) são mais disseminados entre a população beneficiada por um melhor nível de educação e renda; de outro, um recurso também desigual aos tratamentos: os executivos consultam mais frequentemente o cirurgião-dentista que as categorias sociais pouco qualificadas”.

        Fraco consolo para os desfavorecidos do sistema francês, condenados a dores atrozes, a dificuldades de mastigação ou a um sorriso murcho que sabota sua vida amorosa, social e profissional: o fardo que carregam é largamente partilhado no mundo inteiro.

        Embora afetem milhões de pessoas e gerem sofrimentos consideráveis, essas desigualdades são muitas vezes negadas ou minimizadas. Os próprios dentistas repisam de bom grado o refrão, ventilado nas campanhas preventivas, segundo o qual a saúde dentária é essencialmente um problema de responsabilidade individual. Para ter uma dentição sadia, cabe a cada um respeitar as regras de higiene preconizadas desde o berço, seguir um regime alimentar equilibrado, evitar os doces, o álcool, o fumo e as drogas, não se expor ao cassetete do policial nem ao punho do marido violento – levar, em suma, uma existência virtuosa e protegida. Do contrário, a culpa será sua se seus dentes se estragarem.

        O sistema francês de cuidados dentários repousa em dois princípios: por um lado, a primazia do modelo liberal, que exige do profissional tirar o máximo de seu investimento; por outro, a organização de uma oferta de serviços de duas vias, na qual as intervenções reembolsadas a preço de “assistência social”, disponíveis para os pacientes modestos, rivalizam com as intervenções sem limite de preços, infinitamente mais lucrativas, como os implantes e as próteses. Entre o juramento que ele faz no primeiro dia de sua carreira – “Cuidarei do indigente e de quem quer que procure meus serviços” – e a tentação de privilegiar os clientes de alto valor agregado, o dentista se vê diante de um dilema que está pouco interessado em deslindar no interesse da saúde pública.

        Sem dúvida, a atração do ganho tem aí seu papel. Não é por acaso que, no jargão dos especialistas europeus em evasão fiscal, “o investidor privado que cruza a fronteira com seu dinheiro escuso para aplicá-lo em um ambiente fiscal mais favorável é conhecido como dentista belga” – uma homenagem à profissão, não à bandeira. A sede de euros acentua a repugnância por aqueles que não os têm. No fim de 2018, o Defensor dos Direitos (uma autoridade independente francesa de defesa dos direitos dos cidadãos) conclamou as plataformas de marcação de consultas on-line, como a Doctolib, a bloquear em seus sites menções abertamente discriminatórias feitas por numerosos dentistas, como “os beneficiários da CMU (Cobertura Médica Universal) não serão aceitos no consultório”. A recusa de cuidados – aos beneficiários da CMU, mas também aos pobres em geral, crianças, idosos e deficientes – é moeda corrente na profissão, ainda que em geral disfarçada.

        Mas, embora os dentistas endossem o primeiro papel nesse sistema de triagem, nem por isso foram seus criadores. É a nomenclatura dos pagamentos editada pelos poderes públicos que, pondo em concorrência serviços gratuitos e serviços lucrativos, incita-os a negligenciar os primeiros para melhor se consagrar aos segundos. “Se você me pede um orçamento bucodentário, serão 23 euros, isto é, uma ninharia”, explica-nos um profissional aborrecido com sua profissão. “Assim, posso resolver o caso em quinze minutos ou decidir trabalhar a sério e gastar 45. Se fizer isso várias vezes ao dia, vou acabar na miséria.” Acabrunhado de trabalho e consciente de sua missão, ele próprio mal consegue pagar suas contas e ganhar a vida. Ao contrário, um colega menos escrupuloso, que despacha uma limpeza de dentes em dez minutos cronometrados – quando seriam necessários trinta, no mínimo – ganha confortavelmente a sua. Como resume nosso interlocutor, “os que cuidam de você de qualquer jeito ou inventam um pretexto para não cuidar são os mais bem-sucedidos”.

        A esse respeito, a reforma chamada de “o resto a custo zero”, em vigor desde janeiro de 2020, não mudou fundamentalmente o sistema. Se ela permite que o plano de saúde pague integralmente algumas próteses de baixo custo (e os planos de saúde se aproveitaram disso para aumentar seus preços), deixa intacta a lógica de negligência e rentabilidade que rege o dispositivo. Sim, existem profissionais heroicos que não medem esforços para cuidar da melhor maneira possível de quem os procura, com risco de burn-out, mas não é certo que sejam os mais numerosos entre os 42 mil dentistas instalados na França – dos quais 35 mil são particulares.

        Reconhecer o direito de cada um de ter dentes que mordam, tornar público o serviço, pagar aos dentistas salários que lhes permitam exercer sua arte sem se preocupar com o ganho ou com o financiamento da piscina de bolinhas em sua segunda residência: o projeto imaginado por Bernard Jeault há meio século merece sem dúvida uma segunda oportunidade. Por enquanto, a única utopia que parece capaz de abalar o sacrossanto modelo liberal se mostra ainda mais mercantil que este último. Com efeito, nos termos de uma lei de desregulamentação adotada em 2009 sob a égide de Roselyne Bachelot, então ministra da Saúde, clínicas odontológicas de baixo custo foram surgindo às centenas. Dentego, Dentimad, Dentifree, Dentalvie, Dentymed, Dentasmile. Apesar dos nomes, que evocam um concurso de onomástica publicitária, seriam “associações sem fins lucrativos”, que não deveriam render nada. Mas as liberalidades proporcionadas pela lei lhes permitem superar isso.


Disponível em: <https://diplomatique.org.br/os-dentes-dos-pobres/> Acesso em: mar. 2023 [Adaptado]
Considere o trecho.
        Cinquenta anos após seu torpedeado projeto, as desigualdades de acesso aos serviços que [1] ele esperava proporcionar continuam abissais. Os estragos podem ser observados desde a mais tenra idade. Segundo levantamentos de saúde escolar em cursos pré-primários da França, um quarto dos filhos de operários tem cáries não cuidadas, contra apenas 4% dos filhos de executivos, disparidade que [2] aumenta na idade adulta. Estima-se que [3] mais de um quarto dos casais de baixa renda não vai ao dentista por falta de meios.

Os termos [1], [2] e [3] são classificados, respectivamente, como
Alternativas
Q2196261 Português
Texto 1

O mundo: um espaço construído

O mundo, para Hannah Arendt, não é simplesmente o que nos rodeia, mas um espaço construído pelo trabalho e constituído pela ação. Construções e artefatos garantem aos seres humanos um lugar duradouro no meio da vida e da natureza, onde tudo aparece e desaparece, isto é, vida e morte se alternam constantemente. Nesse espaço construído, os seres humanos podem criar formas de convivência e interação que vão além da preocupação com a mera sobrevivência ou continuidade da espécie, embora as necessidades básicas não deixem de existir e precisem ser supridas antes de termos a possibilidade de participar no mundo.

Arendt distingue entre a atividade humana que se preocupa com as necessidades vitais – o labor – e as atividades que dizem respeito ao mundo humano – o trabalho, a ação e o pensamento. O labor corresponde a uma das condições da nossa existência na Terra: a vida. Para cuidar da nossa vida, precisamos satisfazer nossas necessidades, assim como o faz também qualquer outra espécie de seres vivos. Para satisfazer a fome, por exemplo, produzimos alimentos que, em seguida, consumimos. Esse ciclo de produção e consumo, originariamente ligado aos processos biológicos, na modernidade, extrapola cada vez mais a satisfação das necessidades meramente biológicas e se estende a outras. Não consumimos apenas alimentos, mas estilos de vida, produtos “culturais”, emoções, imagens. Contudo, embora o processo de produção e consumo seja cada vez mais exacerbado, a lógica que lhe é inerente continua sendo a mesma: a satisfação das necessidades sejam essas biológicas ou não.

O trabalho, por sua vez, está relacionado à mundanidade do ser humano, isto é, à necessidade de construir um espaço duradouro no meio de uma natureza onde tudo aparece e desaparece constantemente. Assim, o ser humano fabrica artefatos, objetos de uso e espaços que não se destinam ao consumo imediato, mas que lhe possam ser úteis e que lhe garantem uma estabilidade para ter um lar que ele não possui por natureza. A ação é a atividade mais especificamente humana. O que nos impele a agir é a condição da pluralidade dos seres humanos. A ação diz respeito à convivência entre seres humanos, que são singulares, mas não vivem no singular e sim no plural, ou seja, com outros. Essa é a característica fundamental da existência humana.

A pluralidade possibilita aos seres humanos constituírem um âmbito de ação no qual cada um pode se revelar em atos e palavras, o que não faria sentido de modo isolado, mas ganha sua relevância numa esfera que se estabelece entre as pessoas. É com suas ações que as pessoas constantemente criam e recriam o “espaço-entre” e, assim, estabelecem um mundo comum. A comunicação é fundamental para que possamos estabelecer algo compartilhado por todos. É por meio dela que a subjetividade de nossas percepções adquire uma objetividade. Assim, a existência de uma diversidade de pontos de vista é constitutiva para o mundo comum, que partilhamos com nossos contemporâneos, mas também com aqueles que nos anteciparam e com os que darão continuidade à nossa ação depois de nós.

ALMEIDA, Vanessa Sievers de. Educação e liberdade em Hannah Arendt. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 34, n.3, p. 465-479, set./ dez. 2008. [Adaptado]
Identifique abaixo as afirmativas verdadeiras ( V ) e as falsas ( F ), considerando o seu contexto (texto 1).
( ) Em “não é simplesmente o que nos rodeia” (1º parágrafo) e em “espaços que não se destinam” (3º parágrafo), os pronomes oblíquos sublinhados podem ser pospostos às formas verbais “rodeia” e “destinam”, respectivamente, sem desvio da norma culta da língua escrita.
( ) Em “mas um espaço construído” (1º parágrafo) e “mas também com aqueles que nos anteciparam” (5º parágrafo), o vocábulo “mas” pode ser substituído por “e sim”, sem prejuízo de significado e sem desvio da norma culta da língua escrita.
( ) Em “não é simplesmente o que nos rodeia” e “onde tudo aparece e desaparece” (1º parágrafo), os vocábulos sublinhados funcionam como pronome relativo.
( ) Em “que lhe possam ser úteis e que lhe garantem uma estabilidade” (3º parágrafo), o pronome “lhe” funciona como objeto indireto nas duas ocorrências, da mesma maneira que em “a lógica que lhe é inerente” (2º parágrafo).
( ) O sinal de dois-pontos é usado nas duas ocorrências (2º parágrafo) para introduzir um esclarecimento acerca de algo mencionado anteriormente.

Assinale a alternativa que indica a sequência correta, de cima para baixo.
Alternativas
Q2195833 Português
Assinale a alternativa na qual a palavra "que" exerce a função de pronome relativo. 
Alternativas
Respostas
196: B
197: B
198: D
199: E
200: B