Questões de Concurso Sobre significação contextual de palavras e expressões. sinônimos e antônimos. em português

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Ano: 2023 Banca: Instituto Consulplan Órgão: Prefeitura de Guarapari - ES Provas: Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional Especialista em Saúde C (PES-C) – Terapeuta Ocupacional | Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional em Engenharia e Arquitetura (PEA) – Engenheiro de Tráfego | Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional Especialista em Saúde B (PES-B) – Farmacêutico | Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional em Especialidades B (PE-B) – Nutricionista | Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional em Odontologia (PeO) – Odontólogo | Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional Especialista em Assistência Social – A (PEAS-A) – Psicólogo | Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional Especialista em Saúde A (PES-A) – Psicólogo | Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional em Medicina (PeM) – Médico Psiquiatra | Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional em Medicina (PeM) – Médico Cardiologista | Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional em Medicina (PeM) – Médico Clínico Geral 20h | Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional em Medicina (PeM) – Médico Clínico Geral 40h | Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional em Medicina (PeM) – Médico do Trabalho | Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional em Medicina (PeM) – Médico Ginecologista | Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional em Medicina (PeM) – Médico Infectologista | Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional em Medicina (PeM) – Médico Ortopedista | Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional em Medicina (PeM) – Médico Pediatra |
Q2304246 Português
A mídia realmente tem o poder
de manipular as pessoas?

          À primeira vista, a resposta para a pergunta que intitula este artigo parece simples e óbvia: sim, a mídia é um poderoso instrumento de manipulação. A ideia de que o frágil cidadão comum é onipotente frente aos gigantescos e poderosos conglomerados da comunicação é bastante atrativa intelectualmente. Influentes nomes, como Adorno e Horkheimer, os primeiros pensadores a realizar análises mais sistemáticas sobre o tema, concluíram que os meios de comunicação em larga escala moldavam e direcionavam as opiniões de seus receptores. Segundo eles, o rádio torna todos os ouvintes iguais ao sujeitá-los, autoritariamente, aos idênticos programas das várias estações. No livro Televisão e Consciência de Classe, Sarah Chucid da Viá afirma que o vídeo apresenta um conjunto de imagens trabalhadas, cuja apreensão é momentânea, de forma a persuadir rápida e transitoriamente o grande público. Por sua vez, o psicólogo social Gustav Le Bon considerava que, nas massas, o indivíduo deixava de ser ele próprio para ser um autômato sem vontade e os juízos aceitos pelas multidões seriam sempre impostos e nunca discutidos. Assim, fomentou-se a concepção de que a mídia seria capaz de manipular incondicionalmente uma audiência submissa, passiva e acrítica.
          Todavia, como bons cidadãos céticos, devemos duvidar (ou ao menos manter certa ressalva) de preposições imediatistas e aparentemente fáceis. As relações entre mídia e público são demasiadamente complexas, vão muito além de uma simples análise behaviorista de estímulo/resposta. As mensagens transmitidas pelos grandes veículos de comunicação não são recebidas automaticamente e da mesma maneira por todos os indivíduos. Na maioria das vezes, o discurso midiático perde seu significado original na controversa relação emissor/receptor. Cada indivíduo está envolto em uma “bolha ideológica”, apanágio de seu próprio processo de individuação, que condiciona sua maneira de interpretar e agir sobre o mundo. Todos nós, ao entrarmos em contato com o mundo exterior, construímos representações sobre a realidade. Cada um de nós forma juízos de valor a respeito dos vários âmbitos do real, seus personagens, acontecimentos e fenômenos e, consequentemente, acreditamos que esses juízos correspondem à “verdade”. [...]
          Não obstante, a mídia é apenas um, entre vários quadros ou grupos de referência, aos quais um indivíduo recorre como argumento para formular suas opiniões. Nesse sentido, competem com os veículos de comunicação como quadros ou grupos de referência fatores subjetivos/psicológicos (história familiar, trajetória pessoal, predisposição intelectual), o contexto social (renda, sexo, idade, grau de instrução, etnia, religião) e o ambiente informacional (associação comunitária, trabalho, igreja). “Os vários tipos de receptor situam-se numa complexa rede de referências em que a comunicação interpessoal e a midiática se completam e modificam”, afirmou a cientista social Alessandra Aldé em seu livro: “A construção da política: democracia, cidadania e meios de comunicação de massa”. Evidentemente, o peso de cada quadro de referência tende a variar de acordo com a realidade individual. [...]
          Recorrendo ao pensamento de Saussure, é importante ressaltar que o cidadão comum não tem o domínio completo da estrutura linguística. Até um analfabeto funcional não representa um alvo completamente vulnerável à persuasão midiática, pois suas próprias dificuldades interpretativas o impedem de replicar fielmente qualquer tipo de discurso ideológico que seja oriundo dos meios de comunicação em larga escala. Como bem asseverou Muniz Sodré, a mídia não manipula, mas sugere determinadas pautas e, em última instância, cabe aos seus receptores aceitarem ou não. Os grandes veículos de comunicação podem até ter expectativas manipuladoras ou idealizar um modelo de público, mas a recepção de um enunciado sempre vai ser individualizada e recriada pelo sujeito.
(Disponível em: https://www.observatoriodaimprensa.com.br/
imprensa-em-questao/a-midia-realmente-tem-o-poder-de-manipular-
as-pessoas/. Francisco Fernandes Ladeira. Em: 14/04/2015. Edição 846.
Adaptado.)
De acordo com as características textuais que constituem a estruturação do tipo textual apresentado, é possível reconhecer o emprego de estratégias argumentativas. Assinale a seguir o trecho que apresenta a utilização de um dos tipos referentes a tal recurso:
Alternativas
Ano: 2023 Banca: Instituto Consulplan Órgão: Prefeitura de Guarapari - ES Provas: Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional Especialista em Saúde C (PES-C) – Terapeuta Ocupacional | Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional em Engenharia e Arquitetura (PEA) – Engenheiro de Tráfego | Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional Especialista em Saúde B (PES-B) – Farmacêutico | Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional em Especialidades B (PE-B) – Nutricionista | Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional em Odontologia (PeO) – Odontólogo | Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional Especialista em Assistência Social – A (PEAS-A) – Psicólogo | Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional Especialista em Saúde A (PES-A) – Psicólogo | Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional em Medicina (PeM) – Médico Psiquiatra | Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional em Medicina (PeM) – Médico Cardiologista | Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional em Medicina (PeM) – Médico Clínico Geral 20h | Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional em Medicina (PeM) – Médico Clínico Geral 40h | Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional em Medicina (PeM) – Médico do Trabalho | Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional em Medicina (PeM) – Médico Ginecologista | Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional em Medicina (PeM) – Médico Infectologista | Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional em Medicina (PeM) – Médico Ortopedista | Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional em Medicina (PeM) – Médico Pediatra |
Q2304245 Português
A mídia realmente tem o poder
de manipular as pessoas?

          À primeira vista, a resposta para a pergunta que intitula este artigo parece simples e óbvia: sim, a mídia é um poderoso instrumento de manipulação. A ideia de que o frágil cidadão comum é onipotente frente aos gigantescos e poderosos conglomerados da comunicação é bastante atrativa intelectualmente. Influentes nomes, como Adorno e Horkheimer, os primeiros pensadores a realizar análises mais sistemáticas sobre o tema, concluíram que os meios de comunicação em larga escala moldavam e direcionavam as opiniões de seus receptores. Segundo eles, o rádio torna todos os ouvintes iguais ao sujeitá-los, autoritariamente, aos idênticos programas das várias estações. No livro Televisão e Consciência de Classe, Sarah Chucid da Viá afirma que o vídeo apresenta um conjunto de imagens trabalhadas, cuja apreensão é momentânea, de forma a persuadir rápida e transitoriamente o grande público. Por sua vez, o psicólogo social Gustav Le Bon considerava que, nas massas, o indivíduo deixava de ser ele próprio para ser um autômato sem vontade e os juízos aceitos pelas multidões seriam sempre impostos e nunca discutidos. Assim, fomentou-se a concepção de que a mídia seria capaz de manipular incondicionalmente uma audiência submissa, passiva e acrítica.
          Todavia, como bons cidadãos céticos, devemos duvidar (ou ao menos manter certa ressalva) de preposições imediatistas e aparentemente fáceis. As relações entre mídia e público são demasiadamente complexas, vão muito além de uma simples análise behaviorista de estímulo/resposta. As mensagens transmitidas pelos grandes veículos de comunicação não são recebidas automaticamente e da mesma maneira por todos os indivíduos. Na maioria das vezes, o discurso midiático perde seu significado original na controversa relação emissor/receptor. Cada indivíduo está envolto em uma “bolha ideológica”, apanágio de seu próprio processo de individuação, que condiciona sua maneira de interpretar e agir sobre o mundo. Todos nós, ao entrarmos em contato com o mundo exterior, construímos representações sobre a realidade. Cada um de nós forma juízos de valor a respeito dos vários âmbitos do real, seus personagens, acontecimentos e fenômenos e, consequentemente, acreditamos que esses juízos correspondem à “verdade”. [...]
          Não obstante, a mídia é apenas um, entre vários quadros ou grupos de referência, aos quais um indivíduo recorre como argumento para formular suas opiniões. Nesse sentido, competem com os veículos de comunicação como quadros ou grupos de referência fatores subjetivos/psicológicos (história familiar, trajetória pessoal, predisposição intelectual), o contexto social (renda, sexo, idade, grau de instrução, etnia, religião) e o ambiente informacional (associação comunitária, trabalho, igreja). “Os vários tipos de receptor situam-se numa complexa rede de referências em que a comunicação interpessoal e a midiática se completam e modificam”, afirmou a cientista social Alessandra Aldé em seu livro: “A construção da política: democracia, cidadania e meios de comunicação de massa”. Evidentemente, o peso de cada quadro de referência tende a variar de acordo com a realidade individual. [...]
          Recorrendo ao pensamento de Saussure, é importante ressaltar que o cidadão comum não tem o domínio completo da estrutura linguística. Até um analfabeto funcional não representa um alvo completamente vulnerável à persuasão midiática, pois suas próprias dificuldades interpretativas o impedem de replicar fielmente qualquer tipo de discurso ideológico que seja oriundo dos meios de comunicação em larga escala. Como bem asseverou Muniz Sodré, a mídia não manipula, mas sugere determinadas pautas e, em última instância, cabe aos seus receptores aceitarem ou não. Os grandes veículos de comunicação podem até ter expectativas manipuladoras ou idealizar um modelo de público, mas a recepção de um enunciado sempre vai ser individualizada e recriada pelo sujeito.
(Disponível em: https://www.observatoriodaimprensa.com.br/
imprensa-em-questao/a-midia-realmente-tem-o-poder-de-manipular-
as-pessoas/. Francisco Fernandes Ladeira. Em: 14/04/2015. Edição 846.
Adaptado.)
Em “Influentes nomes, como Adorno e Horkheimer, os primeiros pensadores a realizar análises mais sistemáticas sobre o tema, concluíram que os meios[...]” (1º§), o trecho grifado:
Alternativas
Ano: 2023 Banca: Instituto Consulplan Órgão: Prefeitura de Guarapari - ES Provas: Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional Especialista em Saúde C (PES-C) – Terapeuta Ocupacional | Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional em Engenharia e Arquitetura (PEA) – Engenheiro de Tráfego | Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional Especialista em Saúde B (PES-B) – Farmacêutico | Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional em Especialidades B (PE-B) – Nutricionista | Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional em Odontologia (PeO) – Odontólogo | Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional Especialista em Assistência Social – A (PEAS-A) – Psicólogo | Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional Especialista em Saúde A (PES-A) – Psicólogo | Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional em Medicina (PeM) – Médico Psiquiatra | Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional em Medicina (PeM) – Médico Cardiologista | Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional em Medicina (PeM) – Médico Clínico Geral 20h | Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional em Medicina (PeM) – Médico Clínico Geral 40h | Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional em Medicina (PeM) – Médico do Trabalho | Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional em Medicina (PeM) – Médico Ginecologista | Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional em Medicina (PeM) – Médico Infectologista | Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional em Medicina (PeM) – Médico Ortopedista | Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional em Medicina (PeM) – Médico Pediatra |
Q2304244 Português
A mídia realmente tem o poder
de manipular as pessoas?

          À primeira vista, a resposta para a pergunta que intitula este artigo parece simples e óbvia: sim, a mídia é um poderoso instrumento de manipulação. A ideia de que o frágil cidadão comum é onipotente frente aos gigantescos e poderosos conglomerados da comunicação é bastante atrativa intelectualmente. Influentes nomes, como Adorno e Horkheimer, os primeiros pensadores a realizar análises mais sistemáticas sobre o tema, concluíram que os meios de comunicação em larga escala moldavam e direcionavam as opiniões de seus receptores. Segundo eles, o rádio torna todos os ouvintes iguais ao sujeitá-los, autoritariamente, aos idênticos programas das várias estações. No livro Televisão e Consciência de Classe, Sarah Chucid da Viá afirma que o vídeo apresenta um conjunto de imagens trabalhadas, cuja apreensão é momentânea, de forma a persuadir rápida e transitoriamente o grande público. Por sua vez, o psicólogo social Gustav Le Bon considerava que, nas massas, o indivíduo deixava de ser ele próprio para ser um autômato sem vontade e os juízos aceitos pelas multidões seriam sempre impostos e nunca discutidos. Assim, fomentou-se a concepção de que a mídia seria capaz de manipular incondicionalmente uma audiência submissa, passiva e acrítica.
          Todavia, como bons cidadãos céticos, devemos duvidar (ou ao menos manter certa ressalva) de preposições imediatistas e aparentemente fáceis. As relações entre mídia e público são demasiadamente complexas, vão muito além de uma simples análise behaviorista de estímulo/resposta. As mensagens transmitidas pelos grandes veículos de comunicação não são recebidas automaticamente e da mesma maneira por todos os indivíduos. Na maioria das vezes, o discurso midiático perde seu significado original na controversa relação emissor/receptor. Cada indivíduo está envolto em uma “bolha ideológica”, apanágio de seu próprio processo de individuação, que condiciona sua maneira de interpretar e agir sobre o mundo. Todos nós, ao entrarmos em contato com o mundo exterior, construímos representações sobre a realidade. Cada um de nós forma juízos de valor a respeito dos vários âmbitos do real, seus personagens, acontecimentos e fenômenos e, consequentemente, acreditamos que esses juízos correspondem à “verdade”. [...]
          Não obstante, a mídia é apenas um, entre vários quadros ou grupos de referência, aos quais um indivíduo recorre como argumento para formular suas opiniões. Nesse sentido, competem com os veículos de comunicação como quadros ou grupos de referência fatores subjetivos/psicológicos (história familiar, trajetória pessoal, predisposição intelectual), o contexto social (renda, sexo, idade, grau de instrução, etnia, religião) e o ambiente informacional (associação comunitária, trabalho, igreja). “Os vários tipos de receptor situam-se numa complexa rede de referências em que a comunicação interpessoal e a midiática se completam e modificam”, afirmou a cientista social Alessandra Aldé em seu livro: “A construção da política: democracia, cidadania e meios de comunicação de massa”. Evidentemente, o peso de cada quadro de referência tende a variar de acordo com a realidade individual. [...]
          Recorrendo ao pensamento de Saussure, é importante ressaltar que o cidadão comum não tem o domínio completo da estrutura linguística. Até um analfabeto funcional não representa um alvo completamente vulnerável à persuasão midiática, pois suas próprias dificuldades interpretativas o impedem de replicar fielmente qualquer tipo de discurso ideológico que seja oriundo dos meios de comunicação em larga escala. Como bem asseverou Muniz Sodré, a mídia não manipula, mas sugere determinadas pautas e, em última instância, cabe aos seus receptores aceitarem ou não. Os grandes veículos de comunicação podem até ter expectativas manipuladoras ou idealizar um modelo de público, mas a recepção de um enunciado sempre vai ser individualizada e recriada pelo sujeito.
(Disponível em: https://www.observatoriodaimprensa.com.br/
imprensa-em-questao/a-midia-realmente-tem-o-poder-de-manipular-
as-pessoas/. Francisco Fernandes Ladeira. Em: 14/04/2015. Edição 846.
Adaptado.)
De acordo com o apresentado no texto em análise, pode-se afirmar que o tema abordado está corretamente indicado em:
Alternativas
Ano: 2023 Banca: Instituto Consulplan Órgão: Prefeitura de Guarapari - ES Provas: Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional Especialista em Saúde C (PES-C) – Terapeuta Ocupacional | Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional em Engenharia e Arquitetura (PEA) – Engenheiro de Tráfego | Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional Especialista em Saúde B (PES-B) – Farmacêutico | Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional em Especialidades B (PE-B) – Nutricionista | Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional em Odontologia (PeO) – Odontólogo | Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional Especialista em Assistência Social – A (PEAS-A) – Psicólogo | Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional Especialista em Saúde A (PES-A) – Psicólogo | Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional em Medicina (PeM) – Médico Psiquiatra | Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional em Medicina (PeM) – Médico Cardiologista | Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional em Medicina (PeM) – Médico Clínico Geral 20h | Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional em Medicina (PeM) – Médico Clínico Geral 40h | Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional em Medicina (PeM) – Médico do Trabalho | Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional em Medicina (PeM) – Médico Ginecologista | Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional em Medicina (PeM) – Médico Infectologista | Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional em Medicina (PeM) – Médico Ortopedista | Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Guarapari - ES - Profissional em Medicina (PeM) – Médico Pediatra |
Q2304243 Português
A mídia realmente tem o poder
de manipular as pessoas?

          À primeira vista, a resposta para a pergunta que intitula este artigo parece simples e óbvia: sim, a mídia é um poderoso instrumento de manipulação. A ideia de que o frágil cidadão comum é onipotente frente aos gigantescos e poderosos conglomerados da comunicação é bastante atrativa intelectualmente. Influentes nomes, como Adorno e Horkheimer, os primeiros pensadores a realizar análises mais sistemáticas sobre o tema, concluíram que os meios de comunicação em larga escala moldavam e direcionavam as opiniões de seus receptores. Segundo eles, o rádio torna todos os ouvintes iguais ao sujeitá-los, autoritariamente, aos idênticos programas das várias estações. No livro Televisão e Consciência de Classe, Sarah Chucid da Viá afirma que o vídeo apresenta um conjunto de imagens trabalhadas, cuja apreensão é momentânea, de forma a persuadir rápida e transitoriamente o grande público. Por sua vez, o psicólogo social Gustav Le Bon considerava que, nas massas, o indivíduo deixava de ser ele próprio para ser um autômato sem vontade e os juízos aceitos pelas multidões seriam sempre impostos e nunca discutidos. Assim, fomentou-se a concepção de que a mídia seria capaz de manipular incondicionalmente uma audiência submissa, passiva e acrítica.
          Todavia, como bons cidadãos céticos, devemos duvidar (ou ao menos manter certa ressalva) de preposições imediatistas e aparentemente fáceis. As relações entre mídia e público são demasiadamente complexas, vão muito além de uma simples análise behaviorista de estímulo/resposta. As mensagens transmitidas pelos grandes veículos de comunicação não são recebidas automaticamente e da mesma maneira por todos os indivíduos. Na maioria das vezes, o discurso midiático perde seu significado original na controversa relação emissor/receptor. Cada indivíduo está envolto em uma “bolha ideológica”, apanágio de seu próprio processo de individuação, que condiciona sua maneira de interpretar e agir sobre o mundo. Todos nós, ao entrarmos em contato com o mundo exterior, construímos representações sobre a realidade. Cada um de nós forma juízos de valor a respeito dos vários âmbitos do real, seus personagens, acontecimentos e fenômenos e, consequentemente, acreditamos que esses juízos correspondem à “verdade”. [...]
          Não obstante, a mídia é apenas um, entre vários quadros ou grupos de referência, aos quais um indivíduo recorre como argumento para formular suas opiniões. Nesse sentido, competem com os veículos de comunicação como quadros ou grupos de referência fatores subjetivos/psicológicos (história familiar, trajetória pessoal, predisposição intelectual), o contexto social (renda, sexo, idade, grau de instrução, etnia, religião) e o ambiente informacional (associação comunitária, trabalho, igreja). “Os vários tipos de receptor situam-se numa complexa rede de referências em que a comunicação interpessoal e a midiática se completam e modificam”, afirmou a cientista social Alessandra Aldé em seu livro: “A construção da política: democracia, cidadania e meios de comunicação de massa”. Evidentemente, o peso de cada quadro de referência tende a variar de acordo com a realidade individual. [...]
          Recorrendo ao pensamento de Saussure, é importante ressaltar que o cidadão comum não tem o domínio completo da estrutura linguística. Até um analfabeto funcional não representa um alvo completamente vulnerável à persuasão midiática, pois suas próprias dificuldades interpretativas o impedem de replicar fielmente qualquer tipo de discurso ideológico que seja oriundo dos meios de comunicação em larga escala. Como bem asseverou Muniz Sodré, a mídia não manipula, mas sugere determinadas pautas e, em última instância, cabe aos seus receptores aceitarem ou não. Os grandes veículos de comunicação podem até ter expectativas manipuladoras ou idealizar um modelo de público, mas a recepção de um enunciado sempre vai ser individualizada e recriada pelo sujeito.
(Disponível em: https://www.observatoriodaimprensa.com.br/
imprensa-em-questao/a-midia-realmente-tem-o-poder-de-manipular-
as-pessoas/. Francisco Fernandes Ladeira. Em: 14/04/2015. Edição 846.
Adaptado.)
De acordo com as informações e ideias trazidas ao texto, pode-se afirmar que, em relação à mídia e sua atuação na sociedade, há considerações que demonstram:
Alternativas
Q2303969 Português
A internet sem graça 

           Meninos, eu vi. Tenho idade suficiente para ser um dinossauro das redes sociais.
        Ou melhor, sou um pterodáctilo do pré-cambriano da internet, quando a internet era só e-mail e um punhado de sites.
           Quando não existia Google, só Netscape.
           Quando a gente se conectava a um site, depois do ruído áspero do modem, e vibrava de alegria.
           Sou da época que a internet necessitava do aposto “a rede mundial de computadores”.
           Da época que éramos chamados de “internautas” e as redes sociais eram “microblogs”.
           Desbravei esses mares.
       Vi o Orkut nascer, ser invadido por brasileiros, destruído por comunidades aleatórias, até perecer abandonado. Tive conta no MySpace. Baixei músicas no Napster.
          Blog? Tive também. Muito antes de blogs virarem moda de novo.
      Podcast a mesma coisa. No início do século gravei mais de 150 episódios, quando conteúdo não chamava “conteúdo”, nem dava dinheiro.
          Produzíamos por farra. Pela bagunça. Só por isso.
          Então nasceu o Facebook, mas não dei bola. Preferi o Twitter.
       E como criei minha conta no primeiro ou segundo dia de existência dessa rede, consegui o “arroba” Neto. Isso mesmo. Sou o @neto no Twitter até hoje, o que transforma meus domingos num mar de ofensas de torcedores que acreditam que sou comentarista de futebol.
          Um dia cansei de apenas textos curtos e comecei a escrever no jovem Facebook.
          Por anos escrevi aqui e ali, sobre tudo e porque era divertido.
          Acumulei uns 300 mil seguidores somando as duas redes.
          Aí apareceu o Instagram e eu, já veterano, disse:
         – Que bobagem. Isso não vai pegar. Quem é que tem tanta foto para postar? Isso é só um novo Fickr – o que prova que não faço ideia do que vai ou não ser sucesso.
         Foi assim que chegamos onde estamos hoje.
         E hoje, cada vez mais, está perdendo a graça.
        Eu sei que pode soar papo de dinossauro e provavelmente você, que é jovem, que é nativo das redes, vai dizer que a internet não é para ter ou não graça. Internet, para você, está e sempre esteve por aí.
       Minha decepção com a rede deve soar para você como se alguém dissesse “o ar que a gente respira anda muito sem graça”, eu entendo.
       Entendo como, para você, é impossível reconhecer que a Internet foi uma conquista incomparável da liberdade de expressão.
         Hoje mudou. Mudou para um lugar perigoso, cheio de riscos ocultos.
        Na internet de hoje, estamos sempre à beira de um conflito com quem não conhecemos. Passamos boa parte do tempo bombardeados com informações equivocadas ou descaradamente falsas. Comunidades baseadas em fake news. Gente de mentira divulgando notícias idem.
        A internet de hoje não é mais uma aventura para se entrar. O desafio agora é conseguir sair.
     Ou você nunca ouviu falar daquele sujeito que não pode sair de um grupo de WhatsApp porque vai “pegar mal”.
       Ou de uma amiga que não pode deixar de seguir fulano no Instagram porque ele ficará ofendido?
       Que ironia. Fomos escravizados pela mesma ferramenta que nos proveu liberdade.
       Mas isso é só a ponta do iceberg. E não sou eu quem está dizendo.
     Essa semana, em dois artigos diferentes, jornalistas norte-americanos endereçaram exatamente essa mudança que a internet está atravessando.
     Isabel Fattal e Charlie Warzel, ela do The Atlantic, ele, ex-Buzfeed, tratam de uma mudança muito sutil pela qual vem passando a rede mundial de computadores: a desumanização.
     Não me refiro à Inteligência Artificial. Falo dos algoritmos, da organização e controle que impedem o caos e dá cores pálidas às redes sociais, cada vez mais engajadas em compliances, conquista de audiência, controle de riscos e desumanidades.
      Inteligência Artificial vai piorar tudo, isso vai.
     Por isso, talvez, um maluco como Elon Musk, com seu Twitter sem tickezinho azul e sem censura consiga trazer de volta um pouco do caos que seduziu a todos nós, os internautas.
(MUNIZ NETO, Mentor. A internet sem graça. Disponível em: https:// istoe.com.br/a-internet-sem-graca/. Acesso em: 28/04/2023.)
“Meninos, eu vi. Tenho idade suficiente para ser um dinossauro das redes sociais.” (1º§). “Ou melhor, sou um pterodáctilo do pré-cambriano da internet, quando a internet era só e-mail e um punhado de sites.” (2º§) Há palavras ou expressões que exercem a função não só de ligar orações, como também de estabelecer relações semânticas entre elas. Assim, pode-se afirmar que a locução “ou melhor” estabelece, entre o 2º e o 1º parágrafos do texto, uma relação de 
Alternativas
Q2303961 Português
A internet sem graça 

           Meninos, eu vi. Tenho idade suficiente para ser um dinossauro das redes sociais.
        Ou melhor, sou um pterodáctilo do pré-cambriano da internet, quando a internet era só e-mail e um punhado de sites.
           Quando não existia Google, só Netscape.
           Quando a gente se conectava a um site, depois do ruído áspero do modem, e vibrava de alegria.
           Sou da época que a internet necessitava do aposto “a rede mundial de computadores”.
           Da época que éramos chamados de “internautas” e as redes sociais eram “microblogs”.
           Desbravei esses mares.
       Vi o Orkut nascer, ser invadido por brasileiros, destruído por comunidades aleatórias, até perecer abandonado. Tive conta no MySpace. Baixei músicas no Napster.
          Blog? Tive também. Muito antes de blogs virarem moda de novo.
      Podcast a mesma coisa. No início do século gravei mais de 150 episódios, quando conteúdo não chamava “conteúdo”, nem dava dinheiro.
          Produzíamos por farra. Pela bagunça. Só por isso.
          Então nasceu o Facebook, mas não dei bola. Preferi o Twitter.
       E como criei minha conta no primeiro ou segundo dia de existência dessa rede, consegui o “arroba” Neto. Isso mesmo. Sou o @neto no Twitter até hoje, o que transforma meus domingos num mar de ofensas de torcedores que acreditam que sou comentarista de futebol.
          Um dia cansei de apenas textos curtos e comecei a escrever no jovem Facebook.
          Por anos escrevi aqui e ali, sobre tudo e porque era divertido.
          Acumulei uns 300 mil seguidores somando as duas redes.
          Aí apareceu o Instagram e eu, já veterano, disse:
         – Que bobagem. Isso não vai pegar. Quem é que tem tanta foto para postar? Isso é só um novo Fickr – o que prova que não faço ideia do que vai ou não ser sucesso.
         Foi assim que chegamos onde estamos hoje.
         E hoje, cada vez mais, está perdendo a graça.
        Eu sei que pode soar papo de dinossauro e provavelmente você, que é jovem, que é nativo das redes, vai dizer que a internet não é para ter ou não graça. Internet, para você, está e sempre esteve por aí.
       Minha decepção com a rede deve soar para você como se alguém dissesse “o ar que a gente respira anda muito sem graça”, eu entendo.
       Entendo como, para você, é impossível reconhecer que a Internet foi uma conquista incomparável da liberdade de expressão.
         Hoje mudou. Mudou para um lugar perigoso, cheio de riscos ocultos.
        Na internet de hoje, estamos sempre à beira de um conflito com quem não conhecemos. Passamos boa parte do tempo bombardeados com informações equivocadas ou descaradamente falsas. Comunidades baseadas em fake news. Gente de mentira divulgando notícias idem.
        A internet de hoje não é mais uma aventura para se entrar. O desafio agora é conseguir sair.
     Ou você nunca ouviu falar daquele sujeito que não pode sair de um grupo de WhatsApp porque vai “pegar mal”.
       Ou de uma amiga que não pode deixar de seguir fulano no Instagram porque ele ficará ofendido?
       Que ironia. Fomos escravizados pela mesma ferramenta que nos proveu liberdade.
       Mas isso é só a ponta do iceberg. E não sou eu quem está dizendo.
     Essa semana, em dois artigos diferentes, jornalistas norte-americanos endereçaram exatamente essa mudança que a internet está atravessando.
     Isabel Fattal e Charlie Warzel, ela do The Atlantic, ele, ex-Buzfeed, tratam de uma mudança muito sutil pela qual vem passando a rede mundial de computadores: a desumanização.
     Não me refiro à Inteligência Artificial. Falo dos algoritmos, da organização e controle que impedem o caos e dá cores pálidas às redes sociais, cada vez mais engajadas em compliances, conquista de audiência, controle de riscos e desumanidades.
      Inteligência Artificial vai piorar tudo, isso vai.
     Por isso, talvez, um maluco como Elon Musk, com seu Twitter sem tickezinho azul e sem censura consiga trazer de volta um pouco do caos que seduziu a todos nós, os internautas.
(MUNIZ NETO, Mentor. A internet sem graça. Disponível em: https:// istoe.com.br/a-internet-sem-graca/. Acesso em: 28/04/2023.)
“Vi o Orkut nascer, ser invadido por brasileiros, destruído por comunidades aleatórias, até perecer abandonado.” (8º§). Assinale a alternativa em que a troca da palavra destacada, de acordo com o contexto, não acarreta ao excerto mudança substancial de sentido. 
Alternativas
Q2303924 Português
Amor de Passarinho

    Desde que mandei colocar na minha janela uns vasos de gerânio, eles começaram a aparecer. Dependurei ali um bebedouro, desses para beija-flor, mas são de outra espécie os que aparecem todas as manhãs e se fartam de água açucarada, na maior algazarra. Pude observar então que um deles só vem quando os demais já se foram.
    Vem todas as manhãs. Sei que é ele e não outro por um pormenor que o distingue dos demais: só tem uma perna. Segundo o dicionário, trata-se de “uma ave passeriforme de coloração verde-azeitonada em cima e amarela embaixo”. Na realidade, é uma graça, o meu passarinho perneta.
    Ao pousar, equilibra-se sem dificuldade na única perna, batendo asas e deixando à mostra, em lugar da outra, apenas um cotozinho. É de se ver as suas passarinhices no peitoril da janela, ou a saltitar de galho em galho, entre os gerânios, como se estivesse fazendo bonito para mim. Às vezes se atreve a passar voando pelo meu nariz e vai-se embora pela outra janela.
    Enquanto escrevo, ele acaba de chegar. Paro um pouco e fico a olhá-lo. Acostumado a ser observado por mim, já está perdendo a cerimônia. Finge que não me vê, beberica um pouco a sua aguinha, dá um pulo para lá, outro para cá, esvoaça sobre um gerânio, volta ao bebedouro apoiando-se num galho. Mas agora acaba de chegar outro que, prevalecendo-se da superioridade que lhe conferem as duas pernas, em vez de confraternizar, expulsa o pernetinha a bicadas, e passa a beber da sua água. A um canto da janela, meio jururu, ele fica aguardando os acontecimentos, enquanto eu enxoto o seu atrevido semelhante. Quer dizer que até entre eles predomina a lei do mais forte! De novo senhor absoluto da janela, meu amiguinho volta a bebericar e depois vai embora, não sem me fazer uma reverência de agradecimento.
    Desde então muita coisa aconteceu. Para começar, a comprovação de que não era amiguinho e sim amiguinha – segundo me informou o jardineiro: responsável pelos gerânios e pelo bebedouro, seu Lorival entende de muitas coisas, e também do sexo dos passarinhos.
    Só de uns dias para cá deixou de vir. Fiquei apreensivo, pois a última vez que veio foi num dia de chuva, estava toda molhada, as peninhas do peito arrepiadas. Talvez tivesse adoecido. Não sei se passarinho pega gripe ou pneumonia. Segundo me esclareceu Rubem Braga, o sádico, costuma morrer de gato. Ainda mais sendo perneta.
(SABINO, Fernando. As melhores crônicas. Ed. Record – 2000.
Adaptado.)
Considerando-se o significado das palavras no contexto apresentado, é correto afirmar que os vocábulos destacados poderiam ser substituídos pelos termos sugeridos, com EXCEÇÃO de:
Alternativas
Q2303498 Português
Dona Leonor

       Começou na mesa de almoço. De repente, a mãe virou-se para um lado, sorriu e disse:
       – Quero o melhor para minha família. Por isto, na nossa mesa, só usamos o arroz integral Rizobom.
      O pai virou-se rapidamente para ver com quem ela estava falando naquele tom tão estranho e não viu ninguém. O filho e a filha se entreolharam.
       – O que foi, Leonor? – perguntou o marido.
       – Ficou doida, mãe?
     Mas dona Leonor não respondeu. Parecia perdida em pensamento. Mais tarde o pai entrou na cozinha e encontrou dona Leonor segurando uma lata de óleo à altura do rosto e falando para uma parede:
       – Leonor...
      Sem deixar de fitar o mesmo ponto na parede e sem parar de sorrir, dona Leonor indicou o marido com a cabeça e disse:
      – Eles vão gostar.
     O marido achou melhor não dizer nada. Nunca vira dona Leonor assim. Talvez fosse melhor chamar um médico. Abriu a geladeira à procura de uma cerveja. Dona Leonor postou-se ao lado da geladeira e abriu ainda mais a porta. Parecia estar se dirigindo a uma plateia invisível.
      – Minha família não para de vir aqui. É o ponto de encontro de nossa casa. E todos encontram tudo o que procuram na nova Supergel Espacial, agora com prateleiras superdimensionadas e gavetas em vidro-glass. Supergel Espacial, a cabetudo.
       Pai e filhos reuniram-se para uma conferência secreta. O que estava acontecendo com dona Leonor?
      Decidiram não fazer nada. Ela estava nervosa, era isto. Mas não parecia nervosa. Ao contrário. Nunca estivera tão sorridente. Não passava pelos filhos ou pelo marido sem fazer um comentário alegre e afetuoso para o lado:
       – Ele passou a usar desodorante Silvester. E agora todos aqui em casa respiram aliviados.
     O filho estava escovando os dentes e levou um susto. Dona Leonor entrou no banheiro, de repente, pegou o tubo de pasta de dentes e começou a falar para o espelho.
       – O Jorginho tinha horror de escovar os dentes. Eu não sabia o que fazer até que o dentista me disse a palavra mágica: Zaz. E a mágica funcionou! Não é, Jorginho?
       – Mamãe, eu...
       – Diga você também a palavra mágica. Zaz! Com H30.
   Deitado na cama, o marido assistiu com alguma inquietação enquanto dona Leonor, sentada em frente ao espelho do seu toucador, passava creme no rosto e falava para sua plateia imaginária:
       – “Forever” não é apenas um creme hidratante. “Forever” devolve à sua pele aquele frescor que o tempo levou e que parecia perdido para sempre. Recupere o tempo perdido com “Forever”.
     Dona Leonor dirigiu-se para a cama, deixando cair seu robe de chambre no caminho. Deslizou para dentro dos lençóis e beijou o marido na boca. Depois, apoiando-se num braço, dirigiu-se para a câmera invisível.
    – Ele não sabe, mas os lençóis são da nova linha passional da Santex. Bons lençóis para maus pensamentos. Passional da Santex. Agora, tudo pode acontecer...
       Dona Leonor abraçou o marido. Ele recebeu os carinhos da mulher com apreensão e surpresa.
       No dia seguinte certamente a levaria a um médico. Mas, por enquanto, resolveu aproveitar. Fazia tempo. Também abraçou a mulher. Não sem antes olhar, preocupado, para o ponto da suposta câmera e apagar a luz. Prudentemente.
     (VERISSIMO, Luis Fernando. Novas comédias da vida privada. Porto Alegre: L&PM, 1996. p. 231-233.)
O vocábulo “chambre” (21º§) é considerado, a partir da perspectiva do uso corrente da linguagem, arcaico. É também um estrangeirismo, uma vez que sua origem remonta à língua francesa. No entanto, é possível inferir seu significado a partir do contexto no qual é empregado. Portanto, a alternativa que apresenta sinônimos pelos quais o termo poderia ser intercambiado sem alteração de sentido refere-se a 
Alternativas
Q2303287 Português
Debate é briga?


           Debater é ter o direito de expor livremente nossas ideias e o dever de ouvir e respeitar as ideias alheias, mesmo que diferentes das nossas. Quando debatemos, desejamos convencer nosso interlocutor de que temos razão. Por esse motivo, devemos nos esforçar para escolher argumentos persuasivos, isto é, capazes de modificar o ponto de vista de nosso interlocutor. Mas o contrário também pode ocorrer: sermos convencidos pelos argumentos do interlocutor ao vermos outros ângulos da questão. Independentemente do resultado do debate, porém, a troca de argumentos é uma experiência enriquecedora tanto para quem dele participa diretamente tanto para quem o presencia. Debater é modificar o outro e modificar a nós mesmos. É crescer com o outro e ajudá-lo a também crescer a partir de nossa experiência e de nossa visão de mundo. O debate é um exercício de cidadania.

CEREJA & MAGALHÃES. Português Linguagens. Atual. 2006. P 147.
Na expressão: “...argumentos persuasivos...”, assinale a alternativa INCORRETA, em relação ao significado da palavra grifada:
Alternativas
Q2303173 Português
Noruega...


     “...Em maio e junho a área do Dalsnibba é coberta de neve e do alto as pessoas veem as montanhas brancas e se deparam com o famoso inverno Norueguês. Já em agosto e setembro, quando os dias são mais longos, o céu estrelado é uma visão maravilhosa daqui. Muitas pessoas visitam o lugar para observar as estrelas com telescópios.
     A simplicidade do lugar com construções de madeira vermelha e branca emolduradas por grama verde esmeralda convidam o visitante a apreciar a beleza do lugar como a tela de um belo quadro: sem pressa.
       ... Pelo vilarejo, locais e turistas se misturam andando sem pressa, distraidamente pelas ruazinhas. Num charmoso café de cerca branca, com uma floreira carregada de flores cor de rosa, as pessoas conversam animadas enquanto na padaria, um delicioso aroma de pão fresquinho atrai mais e mais fregueses. Noruegueses possuem uma incrível habilidade de fazer pães deliciosos, portanto vá preparado para se esbaldar...”


Trecho retirado de Tuka Pereira. Catraca livre.com.br. Janeiro 2018.
Observe o trecho: “...portanto vá preparado para se esbaldar...”, e assinale a alternativa correta, em relação ao significado da palavra sublinhada.
Alternativas
Q2302516 Português
Aconselho‐o a se conformar

    Você viajou, veio de longe para conversar comigo. Queria que eu o ajudasse a colocar ordem no seu albergue. O corpo é um albergue, você sabe. Nele moram muitos pensionistas com a mesma cara. Lição que aprendi de um demônio que, respondendo a uma pergunta de Jesus sobre seu nome, respondeu que era Legião, porque eram muitos. O caso mais famoso é o de Fernando Pessoa, nome de batismo de um corpo em que muitas pessoas diferentes moraram, algumas ao mesmo tempo, outras sucessivamente, cada uma pensando e escrevendo de um jeito. Sobre o assunto aconselho você e todos os leitores a verem o filme Quero ser John Malcovitch.
    Você me contou sobre alguns dos seus pensionistas. Primeiro, o palhaço. Não por acidente, mas por vocação e profissão, com nariz vermelho e tudo o mais, que divertia as crianças. Eis aí um personagem que precisa viver sempre. O riso é, talvez, o remédio mais poderoso para nos ajudar a conviver com a tristeza. O riso do palhaço é sempre um raio de luz na escuridão. Nietzsche se dizia palhaço. Palhaço e poeta. As duas vocações se complementam.
    Outro foi um vendedor de cachorro‐quente. Para ganhar a vida. Diferente. Você se divertia com os seus cachorros e estava sempre inventando novas raças.
    Agora é um professor universitário com a terrível responsabilidade de escrever artigos científicos e se comportar devidamente. Advirto‐o de que palhaços e professores universitários não convivem bem. Você sabe disso por experiência própria. Palhaços são leves, flutuam; professores universitários são graves, afundam. É proibido fazer humor em teses de mestrado e doutorado.
    E há, por fim, o mais terrível de todos os personagens: o apaixonado. A paixão é uma perturbação da tranquilidade da alma. Abelardo, professor universitário, se deu muito mal, permitindo‐se ficar apaixonado pela Heloísa. Foi a sua desgraça. A estória dos seus amores está contada no filme Em nome de Deus. Ele mesmo, Abelardo, rigoroso professor de filosofia, confessou que, tomado pela paixão, deixou de preparar suas aulas e passou a dedicar‐se à poesia. Como você sabe, poesia não dá respeitabilidade acadêmica. 
    Tudo seria simples se cada um dos personagens tivesse morado no seu corpo numa temporada de curta duração, partindo depois para destino ignorado. Não é esse o seu caso. Na realidade,suspeito que haja muitos outros, sobre que você não falou. Falarei sobre um deles, no final. Acontece que todos eles continuam a morar no seu albergue, numa orgia que não lhe dá sossego. 
    Quero dizer‐lhe duas coisas. Pelo que ouvi, não me parece que qualquer um deles tenha disposição para mudar de casa. Isso é ruim, porque você nunca terá paz. Seria tão melhor se você fosse 100% cientista, que só pensasse em pesquisa e artigos! Você teria uma única direção – e mesmo as suas possíveis paixões seriam submetidas ao critério acadêmico. Você se casaria com uma cientista, trabalhariam os dois nos domingos em suas pesquisas, e nenhum reclamaria do outro. Nenhum estaria querendo ir ao cinema enquanto o outro está no computador tentando terminar um artigo. Mas esse não é o caso. Seria muito chato. 
    Não sendo esse o caso, aconselho‐o a se conformar. Ofereço‐lhe, como consolo, um aforismo de Nietzsche: “O preço da fertilidade é ser rico em oposições internas. A gente permanece jovem somente enquanto a alma não se espreguiça e deseja a paz”. Você está cheio de oposições internas. Se essas oposições lhe tiram a paz, você deve saber que são elas que o fazem interessante. É delas que surgem os pensamentos mais bonitos. 
    Não sei por que você não continua a ser palhaço e a alegrar as crianças. E por que não fazer isso na universidade? Você tem vergonha? Roupa de palhaço não combina com beca acadêmica?
     Quanto às suas habilidades de fazedor de cachorro‐quente, acho melhor cuidar delas com cuidado, em particular. Nunca se sabe o que o futuro nos reserva. Sei de professores que passaram a ganhar a vida fazendo suco e vendendo pão.
    E vi que seu personagem cientista está a serviço de um personagem artista. Você é um cientista de lagos. Para a ciência, lagos são laboratórios. Muito se pode aprender do seu estudo. Mas você, além disso, ama os lagos pela sua beleza. Você cuida dos lagos pela tranquilidade que eles comunicam. Você tem alma de jardineiro.
     Aceite a orgia dos pensionistas com alegria. São poucos os que têm esse privilégio. Apareça de novo quando quiser.

(ALVES, Rubem. Se eu pudesse viver minha vida novamente. Editora Verus. 2004. Adaptado.) 

Considerando-se o contexto, o sentido do termo destacado NÃO está corretamente identificado em:
Alternativas
Q2302101 Português
      Os perigos de beber e dirigir já são bem conhecidos. Agora, um estudo feito por um grupo de cientistas australianos mostra que, se você tiver dormido mal, também não deveria pegar o volante.
     Uma pesquisa de 2021 apontou que entre 10% e 20% dos acidentes de trânsito provavelmente eram causados, ao menos em parte, pelo cansaço.
       Diferente de um happy hour depois do serviço, as pessoas não costumam escolher dormir menos. Pessoas com distúrbios no sono, pais de recém-nascidos e trabalhadores de turnos noturnos podem, às vezes, não conseguir dormir a quantidade necessária por dia.
    Seria difícil controlar o nível de sono dos motoristas. Não existe um “teste de bafômetro” que avalie a fadiga na beira da estrada, o quanto você dormiu ou quão debilitado está.
      Alguns regulamentos já levam em conta o cansaço no trânsito. No estado norte-americano de Nova Jersey, uma lei determina que motoristas sejam legalmente prejudicados se, nas últimas 24 horas, não tiverem dormido nada. Não é o ideal, mas é alguma coisa.
       No Brasil, não há uma especificação sobre o sono; mas, segundo o art. 169 do CTB, dirigir sem atenção ou cuidados indispensáveis à segurança caracteriza uma infração leve e, para o art. 166, entregar a direção do veículo a alguém que não esteja em estado físico ou psíquico de conduzir é infração gravíssima.
      Já que a legislação não dá conta de regular esse tema, é útil seguir alguns conselhos práticos para decidir se você está ou não cansado demais para dirigir.
     Se você boceja com frequência, dá umas piscadas mais longas, está com a visão embaçada, tem dificuldade de manter a cabeça erguida e a velocidade estável e faz desvios na pista, talvez seja melhor passar o volante. E se você dormiu por menos de cinco horas, talvez seja melhor nem arriscar.


(Fonte: Abril — adaptado.)

Na tirinha abaixo, a palavra "parruda", no terceiro quadrinho, tem como significado:


Imagem associada para resolução da questão

Alternativas
Q2302100 Português
      Os perigos de beber e dirigir já são bem conhecidos. Agora, um estudo feito por um grupo de cientistas australianos mostra que, se você tiver dormido mal, também não deveria pegar o volante.
     Uma pesquisa de 2021 apontou que entre 10% e 20% dos acidentes de trânsito provavelmente eram causados, ao menos em parte, pelo cansaço.
       Diferente de um happy hour depois do serviço, as pessoas não costumam escolher dormir menos. Pessoas com distúrbios no sono, pais de recém-nascidos e trabalhadores de turnos noturnos podem, às vezes, não conseguir dormir a quantidade necessária por dia.
    Seria difícil controlar o nível de sono dos motoristas. Não existe um “teste de bafômetro” que avalie a fadiga na beira da estrada, o quanto você dormiu ou quão debilitado está.
      Alguns regulamentos já levam em conta o cansaço no trânsito. No estado norte-americano de Nova Jersey, uma lei determina que motoristas sejam legalmente prejudicados se, nas últimas 24 horas, não tiverem dormido nada. Não é o ideal, mas é alguma coisa.
       No Brasil, não há uma especificação sobre o sono; mas, segundo o art. 169 do CTB, dirigir sem atenção ou cuidados indispensáveis à segurança caracteriza uma infração leve e, para o art. 166, entregar a direção do veículo a alguém que não esteja em estado físico ou psíquico de conduzir é infração gravíssima.
      Já que a legislação não dá conta de regular esse tema, é útil seguir alguns conselhos práticos para decidir se você está ou não cansado demais para dirigir.
     Se você boceja com frequência, dá umas piscadas mais longas, está com a visão embaçada, tem dificuldade de manter a cabeça erguida e a velocidade estável e faz desvios na pista, talvez seja melhor passar o volante. E se você dormiu por menos de cinco horas, talvez seja melhor nem arriscar.


(Fonte: Abril — adaptado.)
Sobre o sinônimo das palavras, marcar C para as afirmativas Certas, E para as Erradas e, após, assinalar a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
( ) “Importante” é o sinônimo de “ilustre”. ( ) “Fundamental” é o sinônimo de “necessário”.
Alternativas
Q2302097 Português
      Os perigos de beber e dirigir já são bem conhecidos. Agora, um estudo feito por um grupo de cientistas australianos mostra que, se você tiver dormido mal, também não deveria pegar o volante.
     Uma pesquisa de 2021 apontou que entre 10% e 20% dos acidentes de trânsito provavelmente eram causados, ao menos em parte, pelo cansaço.
       Diferente de um happy hour depois do serviço, as pessoas não costumam escolher dormir menos. Pessoas com distúrbios no sono, pais de recém-nascidos e trabalhadores de turnos noturnos podem, às vezes, não conseguir dormir a quantidade necessária por dia.
    Seria difícil controlar o nível de sono dos motoristas. Não existe um “teste de bafômetro” que avalie a fadiga na beira da estrada, o quanto você dormiu ou quão debilitado está.
      Alguns regulamentos já levam em conta o cansaço no trânsito. No estado norte-americano de Nova Jersey, uma lei determina que motoristas sejam legalmente prejudicados se, nas últimas 24 horas, não tiverem dormido nada. Não é o ideal, mas é alguma coisa.
       No Brasil, não há uma especificação sobre o sono; mas, segundo o art. 169 do CTB, dirigir sem atenção ou cuidados indispensáveis à segurança caracteriza uma infração leve e, para o art. 166, entregar a direção do veículo a alguém que não esteja em estado físico ou psíquico de conduzir é infração gravíssima.
      Já que a legislação não dá conta de regular esse tema, é útil seguir alguns conselhos práticos para decidir se você está ou não cansado demais para dirigir.
     Se você boceja com frequência, dá umas piscadas mais longas, está com a visão embaçada, tem dificuldade de manter a cabeça erguida e a velocidade estável e faz desvios na pista, talvez seja melhor passar o volante. E se você dormiu por menos de cinco horas, talvez seja melhor nem arriscar.


(Fonte: Abril — adaptado.)
No trecho “[...] entre 10% e 20% dos acidentes de trânsito provavelmente eram causados, ao menos em parte, pelo cansaço.”, a palavra sublinhada tem o mesmo significado que:
Alternativas
Q2301538 Português
Apenas 3 em cada 10 alunos com deficiência participam efetivamente das aulas



Pesquisa sobre Educação Inclusiva feita pela Nova Escola revela ainda outros obstáculos enfrentados pelos professores das escolas brasileiras.


      Estrutura física limitada, atendimentos educacionais especializados restritos, falta de formação docente e ainda episódios de preconceito. A escola brasileira ainda enfrenta uma série de obstáculos para promover uma educação inclusiva. As conclusões constam na pesquisa “Inclusão na Educação”, realizada pela Nova Escola, que entrevistou 4.745 educadores em todo o Brasil.
       Entre os achados destaca-se que, para metade dos professores ouvidos, a estrutura física do ambiente escolar é inadequada às necessidades de uma educação inclusiva. As respostas coletadas também indicam que mais da metade das unidades de ensino do país não apresentam nenhuma estrutura física inclusiva. Por exemplo, as rampas de acesso estão presentes em apenas 44% das instituições.
          Já em relação ao apoio pedagógico, quatro em cada dez profissionais afirmam não ter recebido orientação especializada para o desenvolvimento das atividades com alunos com deficiência. Os Atendimentos Educacionais Especializados (AEEs) no contraturno das aulas regulares são realidade para apenas quatro em cada dez professores. A adaptação das atividades a serem realizadas pelos alunos – após a definição dos objetivos e conteúdos pelo professor da sala regular – acontece apenas em quatro de cada dez AEEs, segundo a percepção dos entrevistados.
            Quando questionados sobre a participação dos estudantes, a percepção dos professores é a de que apenas três de cada dez alunos com deficiência se envolvem efetivamente com as atividades em aula. E ainda: somente metade dos profissionais acredita na plena integração dos alunos com deficiência com os demais estudantes no ambiente escolar.

A realidade da educação inclusiva na sala de aula.

        Com 17 anos de magistério, a professora Cristina da Silva Brito trabalha em duas escolas municipais, uma na cidade de Cachoerinha (RS) e outra, em Gravataí (RS). Na primeira, leciona geografia para a Educação de Jovens e Adultos (EJA) e, na segunda, para o 1º ano com foco na alfabetização. Em ambas as instituições há alunos com algum tipo de deficiência. Ainda que a escola de Gravataí possua AEE estruturado, os obstáculos são grandes. A começar pelo tamanho da turma – são 26 alunos em uma sala que idealmente deveria abrigar 20 estudantes.
              “Os desafios são muitos. Todos eles precisam ser alfabetizados e do meu mesmo olhar. Então, preciso mesclar atividades para todos os alunos, mas sem diferenciar. Mesmo crianças de seis anos querem fazer as mesmas atividades que todo o grupo está fazendo. É buscar essa adaptação curricular, mas adequando de forma que o aluno com deficiência não fique fora do contexto dos demais”, analisa.
              Cristina sente falta de um apoio mais consistente das escolas e das secretarias municipais de ensino voltado para formações continuadas com o objetivo de entender mais profundamente as deficiências e a atuação na prática da educação inclusiva. Esse apoio, acredita, ajudaria na realização dos planejamentos e adaptações pedagógicas e também contribuiria para o entendimento de quais intervenções podem ser aplicadas para contornar problemas com questões comportamentais em sala, por exemplo. “A gente vai buscando uma coisa aqui e ali: uma colega que indica, outra que coloca alguma atividade no grupo, e assim a gente vai trocando figurinhas sobre experimentos. Mas muitas vezes não sabemos como atuar especificamente em alguns casos”, avalia.
              Para a professora Olinda Rosa Mariano da Silva, o desafio diário é conseguir dar a atenção, o suporte e o acolhimento necessários a todos os seus alunos, incluídos aqueles com deficiência, nos 45 minutos de aula. “Nesse tempo, temos que fazer toda a trajetória, todo o percurso da aula: fazer chamada, colocar o conteúdo na Secretaria Digital, porque somos cobrados por isso em tempo real. Então é complicado. A gente tenta dar o melhor de si”, diz. Olinda leciona para uma média de 38 estudantes por turma, considerando as seis salas com as quais trabalha em duas escolas da rede estadual paulista, em Atibaia (SP). Em uma, leciona Biologia para o 1º ano do Ensino Médio; na outra, Ciências para 6º e 7º anos.
           Para os alunos com deficiência, Olinda costuma preparar e imprimir atividades específicas e acompanhar sua execução. Quando há um professor de apoio presente na sala, ela passa os comandos e esse profissional faz o acompanhamento do exercício. “Não dá para simplesmente dar o comando de uma atividade. O aluno com deficiência não se sente estimulado”, avalia. A professora também reforça que é preciso atuação em conjunto entre professor, escola e familiares. “Temos de agir em equipe, senão esse aluno não vai ter desenvolvimento psicossocial, muito menos na aprendizagem.”
              Essa dificuldade de envolver todos na rotina escolar é percebida por Elizângela Santos Mota, professora de AEE. Ela atende toda a rede municipal de Cedro de São João (SE), que possui quatro escolas, e atua na única sala de recursos multifuncionais da cidade, localizada na EM Antônio Carlos Valadares, que hoje atende 52 estudantes laudados.
              “Pronto, lá vem ela dizer que a inclusão dá certo”, disse já ter ouvido de colegas educadores. Elizângela trabalha diariamente nesse processo de convencimento sobre a necessidade da educação inclusiva, tanto de professores quanto de pais e responsáveis que não acreditam em uma escola que atenda todos os estudantes nas suas necessidades específicas. “Quero entrar na cabeça dessas pessoas para que entendam que essas crianças aprendem, que conseguem”. Para ela, o professor regular precisa ser mais observador, fazer avaliações diagnósticas de aprendizagem da turma sem se prender aos laudos médicos dos alunos, além de se atentar melhor para o contexto familiar e social dos estudantes. “Tudo isso ajuda o educador a montar um planejamento bem articulado para os estudantes”, defende.

Um entendimento ainda em evolução.

             Para Maria Teresa Eglér Mantoan, coordenadora do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Ensino e Diferença da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Leped/Unicamp), além das questões estruturais que prejudicam a escola, apontadas pelos educadores ouvidos na pesquisa, outro desafio é a necessidade de amadurecer a compreensão sobre o que é educação inclusiva no país.
               “Até agora, no Brasil, a inclusão tem sido interpretada como a inserção de pessoas diferentes na escola comum. E é exatamente o que ela não é”, explica a especialista, que é uma das autoras do livro A escola que queremos para todos(Editora CRV, 2022). Com a Constituição de 1988, o acesso à Educação tornou-se um direito de todos e, portanto, genuinamente inclusivo, explica. “No entanto, isso não é interpretado dessa forma por professores e autoridades educacionais de níveis federal, estadual e municipal.”
           Além disso, desde os anos 1990, diversos marcos legais nacionais e internacionais têm garantido que todos os estudantes, independentemente de sua condição física ou neurológica, tenham direto à Educação escolar e acesso a instituições de ensino comum. Mas,mesmo com esse reconhecimento, os alunos com deficiência ainda são classificados – seja como especiais, excepcionais, com necessidades especiais – de forma a excluí-los, avalia a educadora. “A inclusão não é a inserção dos diferentes na escola. A inclusão é a escola de todos, porque todos são diferentes”, explica Maria Theresa. “O sujeito tem direito à escola não por causa dessa diferença. Ele tem direito à escola porque ele é um ser único, singular, como qualquer outro.”
           Maria Theresa questiona ainda a ideia da integração, comumente usada no contexto da educação inclusiva e tida como uma “inclusão responsável” ou “inclusão possível”. “A inclusão não deveria condicionar de forma alguma o acesso, a permanência e a participação de todos na escola”, explica. A educadora critica o modelo estabelecido pela educação brasileira de impor classificações e parâmetros de aprendizagens, de aproveitamento, de currículo para cada aluno a cada etapa de ensino etc. “A escola parece só aceitar aqueles que possuem as características admitidas pela escola”, pondera.
           Também por isso é contra mudanças ou flexibilizações nos currículos para alunos com deficiência. “O maior crime da educação dita inclusiva é adaptar currículo ou atividades. As adaptações precisam ser de natureza diferente. Por exemplo, uma pessoa cega não vai conseguir fazer uma prova com lápis e papel, mas ela pode fazer com braile ou via computador. O que menos interessa é o meio; o que importa é aquilo que ela vai dizer ou entender sobre o tema da atividade.”
             O desconhecimento sobre o tema, inclusive, pode alimentar uma série de preconceitos. Segundo a pesquisa realizada pela Nova Escola, oito em cada dez profissionais disseram ter percebido discriminação contra estudantes com deficiência. Ainda, segundo o levantamento, os principais agentes do preconceito foram outros alunos (58%) e familiares de estudantes (32%).

Boas práticas inclusivas em sala de aula.

                  Com mais de 25 anos de estudos na área, Maria Theresa acredita que a Educação potente é aquela que aplica práticas diversificadas em sala de aula para atender as necessidades de cada aluno – independentemente se ele tem deficiência ou não. Ela exemplifica que vários formatos e propostas podem ser apresentados e colocados para escolha dos alunos com o intuito de explorar um tema – por exemplo, produção de texto, desenho, música etc. A ideia é deixar o aluno livre para apostar no formato por meio do qual se sente mais confortável para aprender.
                 Trabalhar em grupo também é uma aposta certeira para enturmar e possibilitar trocas em sala e ajuda mútua. “Eu acredito muito no grupo como prática pedagógica, como uma ação que dá resultado”, conta a professora Olinda. Para ela, a metodologia ativa da sala de aula invertida também funciona com grupos diversos, especialmente com suas turmas dos Anos Finais do Fundamental. “Depende muito também do feeling de cada professor e das turmas com as quais está trabalhando na ocasião”, avalia.
                    Para a fase de alfabetização, a professora Cristina já reparou que consegue integrar bem as salas quando propõe atividades envolvendo jogos. “Percebo que é algo que une bastante. Acende aquele desejo de participar e de ganhar”, conta.
                    Em relação às famílias, a professora Olinda costuma alertar os pais e responsáveis para um aspecto importante: “Nas reuniões, lembro que não estou apenas fazendo o filho aprender [para a escola], mas também preparando-o para o mundo. Argumento que esse filho vai crescer e passar para outras fases da escola e da vida. E os pais precisam acompanhá-lo nessa trajetória”. Uma reflexão que também vale para a escola e educadores: como estamos nos preparando para melhor apoiá-los?

(Revista Nova Escola. Por: Rachael Bonino. Acesso em: 03/07/2023. Adaptado.)
De acordo com o texto, a significação da palavra “laudados” no contexto de “[...] atende 52 estudantes laudados.” (11º§) descreve os estudantes que
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Q2301481 Português
Estudo sugere que a poluição está causando a formação de
rochas feitas de material plástico 


      A quantidade de material poluente lançado pelo ser humano na natureza está impactando de tal forma o meio ambiente que até mesmo o ciclo geológico da Terra vem sendo alterado, provocando a formação de rochas a partir do material plástico despejado nos oceanos. É a esta a grave conclusão que chegou um estudo que acaba de ser publicado por cientistas da Universidade Federal do Paraná (UFPR) em parceria com outras instituições. Os dados levantados sugerem a incidência de rochas idênticas às de formação natural, compostas, no entanto, por plástico.
      Publicado na revista científica Marine Pollution Bulletin, o estudo encontrou plastiglomerados, como a formação foi batizada, no Parcel das Tartarugas, na Ilha da Trindade, localizada a 1.140 quilômetros de Vitória, no Espírito Santo. Administrada pela Marinha do Brasil, a ilha é uma reserva do Atlântico Sul e uma importante Unidade de Monumento Natural Brasileiro. De acordo com o estudo, as formações rochosas plásticas foram encontradas em uma região de recifes e ninhos de tartaruga-verde em uma área natural chamada de “Amazônia Azul”, que apenas o Brasil pode explorar.
       “Identificamos diferentes formas de detritos plásticos, distintos em composição e aparência. Os depósitos plásticos na plataforma litorânea recobriam rochas vulcânicas; sedimentos da atual praia compostos por cascalhos e areias; e rochas praiais com superfície irregular devido à erosão hidrodinâmica”, explicou a pesquisadora Fernanda Avelar Santos, doutoranda do Programa de PósGraduação em Geologia da UFPR, que descobriu as “rochas” plásticas durante atividades de mapeamento geológico na ilha. O local é habitat de aves marinhas e tem um ecossistema frágil com espécies endêmicas de peixes e recifes.
         Plastiglomerados como os encontrados na Ilha da Trindade foram descobertos pela primeira vez no Havaí, em 2014: por aqui também foram documentados casos de plastistone, formação similar às rochas vulcânicas, mas com composição majoritariamente plástica. “Ao longo do tempo geológico, os principais agentes transformadores dos registros da Terra eram naturais. Por exemplo, processos tectônicos e mudanças climáticas. No entanto, a ação humana nos tempos atuais está tão penetrante que está modificando o planeta de forma mais acelerada do que os processos naturais”, afirmou Fernanda, em matéria publicada no Portal Ciência da UFPR.

(Fonte: Hypeness — adaptado.)
Considerando-se as passagens do texto:

• [...] a partir do material plástico despejado nos oceanos (1º parágrafo). • Os dados levantados sugerem a incidência de rochas idênticas (1º parágrafo). • [...] mas com composição majoritariamente plástica (4º parágrafo).

Os termos sublinhados significam, CORRETA e respectivamente:
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Q2301286 Português
         A publicidade e o consumo parecem ser aspectos estruturantes da prática do culto ao corpo. A primeira, por tornar presente diariamente na vida dos indivíduos temáticas acerca do corpo, seja pelas mais avançadas tecnologias ou pelo mais recente chá descoberto, ditando cotidianamente estilos e tendências. A segunda, pelo horizonte que torna o corpo um objeto passível de consumo. A lógica do consumo se faz imperiosa nos modos de relação que estabelecemos com o nosso corpo. Somos permeados pela crença de que podemos consumir desde receitas até próteses perfeitas. O nosso corpo tornou-se extensão do mercado e os produtos de beleza suas valiosas mercadorias.
       Em nosso horizonte histórico percebemos o culto exacerbado do corpo e a perseguição de modelos estéticos estabelecidos socialmente. Falamos de um ideal vinculado pelo social que vende a saúde e a beleza como conjunto de curvas perfeitas, pele sedosa, cabelos lisos e, sobretudo, a magreza. O corpo como mensageiro da saúde e da beleza torna-se um imperativo tão poderoso que conduz à ideia de obrigação. Ser feliz e pleno na atualidade corresponde a conquista de medidas perfeitas, bem como a pele e o cabelo mais reluzente. O corpo ganhou uma posição de valor supremo, seu bem-estar parece ser um grande objetivo de qualquer busca existencial na atualidade.
          As representações sociais do corpo e de sua boa forma aparecem como elementos que reforçam a autoestima e dependem em grande parte da força de vontade, pois, quem quer pode ter um corpo magro, belo e saudável. A aparência de um corpo bem definido e torneado indicaria saúde, revelando o poder que a exaltação e a exibição do corpo assumiram no mundo contemporâneo. A mídia de um modo geral tornou-se, assim, uma importante forma de divulgação e capitalização do que estamos chamando de culto ao corpo.
        Entendemos que os cuidados com o corpo são importantes e essenciais não apenas no que se refere à saúde, mas também ao que se refere ao viver em sociedade. O problema reside na propagação de um ideal inatingível, na culpabilização do indivíduo por não atingir este ideal, no fato de tornarmos as mudanças naturais do corpo, objetos estéticos da medicina, o fato de não entendermos ou ouvirmos as verdadeiras necessidades corporais que temos. Como bem nos diz Sant'Anna (2001, p. 79): não se trata, portanto, de negar os avanços da tecnociência, nem de condená-la em bloco. Mas de reconhecer que o corpo não cessa de ser redescoberto, ao mesmo tempo em que nunca é totalmente revelado.

(DANTAS, Jurema Barros. Um ensaio sobre o culto ao corpo na contemporaneidade. Adaptado. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/ index.php/revispsi/article/view/8342/6136.)
Considerando os aspectos semânticos do texto, assim como o contexto em que as palavras e expressões foram empregadas, assinale a afirmativa correta. 
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Q2301227 Português
O mato


          Veio o vento frio, e depois o temporal noturno, e depois da lenta chuva que passou toda a manhã caindo e ainda voltou algumas vezes durante o dia, a cidade entardeceu em brumas. Então o homem esqueceu o trabalho e as promissórias, esqueceu a condução e o telefone e o asfalto, e saiu andando lentamente por aquele morro coberto de um mato viçoso, perto de sua casa. O capim cheio de água molhava seu sapato e as pernas da calça; o mato escurecia sem vaga-lumes nem grilos.
         Pôs a mão no tronco de uma árvore pequena, sacudiu um pouco, e recebeu nos cabelos e na cara as gotas de água como se fosse uma bênção. Ali perto mesmo a cidade murmurava, estava com seus ruídos vespertinos, ranger de bondes, buzinar impaciente de carros, vozes indistintas; mas ele via apenas algumas árvores, um canto de mato, uma pedra escura. Ali perto, dentro de uma casa fechada, um telefone batia, silenciava, batia outra vez, interminável, paciente, melancólico. Alguém, com certeza já sem esperança, insistia em querer falar com alguém.
        Por um instante o homem voltou seu pensamento para a cidade e sua vida. Aquele telefone tocando em vão era um dos milhões de atos falhados da vida urbana. Pensou no desgaste nervoso dessa vida, nos desencontros, nas incertezas, no jogo de ambições e vaidades, na procura de amor e de importância, na caça ao dinheiro e aos prazeres. Ainda bem que de todas as grandes cidades do mundo o Rio é a única a permitir a evasão fácil para o mar e a floresta. Ele estava ali num desses limites entre a cidade dos homens e a natureza pura; ainda pensava em seus problemas urbanos – mas um camaleão correu de súbito, um passarinho piou triste em algum ramo, e o homem ficou atento àquela humilde vida animal e também à vida silenciosa e úmida das árvores, e à pedra escura, com sua pele de musgo e seu misterioso coração mineral.

(ARRIGUCCI, Jr. Os melhores contos de Rubem Braga. São Paulo: Editora Global Ltda., 1985.) 
Considerando o significado contextual das palavras, é possível afirmar que a expressão “evasão”, no 3º§ do texto, apresenta o antônimo de: 
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Q2301222 Português
O mato


          Veio o vento frio, e depois o temporal noturno, e depois da lenta chuva que passou toda a manhã caindo e ainda voltou algumas vezes durante o dia, a cidade entardeceu em brumas. Então o homem esqueceu o trabalho e as promissórias, esqueceu a condução e o telefone e o asfalto, e saiu andando lentamente por aquele morro coberto de um mato viçoso, perto de sua casa. O capim cheio de água molhava seu sapato e as pernas da calça; o mato escurecia sem vaga-lumes nem grilos.
         Pôs a mão no tronco de uma árvore pequena, sacudiu um pouco, e recebeu nos cabelos e na cara as gotas de água como se fosse uma bênção. Ali perto mesmo a cidade murmurava, estava com seus ruídos vespertinos, ranger de bondes, buzinar impaciente de carros, vozes indistintas; mas ele via apenas algumas árvores, um canto de mato, uma pedra escura. Ali perto, dentro de uma casa fechada, um telefone batia, silenciava, batia outra vez, interminável, paciente, melancólico. Alguém, com certeza já sem esperança, insistia em querer falar com alguém.
        Por um instante o homem voltou seu pensamento para a cidade e sua vida. Aquele telefone tocando em vão era um dos milhões de atos falhados da vida urbana. Pensou no desgaste nervoso dessa vida, nos desencontros, nas incertezas, no jogo de ambições e vaidades, na procura de amor e de importância, na caça ao dinheiro e aos prazeres. Ainda bem que de todas as grandes cidades do mundo o Rio é a única a permitir a evasão fácil para o mar e a floresta. Ele estava ali num desses limites entre a cidade dos homens e a natureza pura; ainda pensava em seus problemas urbanos – mas um camaleão correu de súbito, um passarinho piou triste em algum ramo, e o homem ficou atento àquela humilde vida animal e também à vida silenciosa e úmida das árvores, e à pedra escura, com sua pele de musgo e seu misterioso coração mineral.

(ARRIGUCCI, Jr. Os melhores contos de Rubem Braga. São Paulo: Editora Global Ltda., 1985.) 
A substituição da palavra destacada pelo sinônimo sugerido implica prejuízo semântico em: 
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Q2300952 Português
Dever de casa


      Um fiapo de gente e um feixe de problemas. Agora é uma perguntação que não tem mais fim. Papai, o plural de segunda- -feira? Tira os óculos, para de ler a revista. Daqui a pouco é hora do telejornal. Dia cansativo, mas pai é pai. Segunda-feira, segunda-feira. Murmurinha, como se procurasse na memória algo que não sabe o que é. Segunda-feira, pai. Ah, sim. O plural dos nomes compostos. Ao menos isto não terá mudado.
       Mudam tudo neste país. Depois querem ter jurisprudência. Ainda hoje andou lendo um acórdão. Ementa malfeita. Segunda-feira no plural. Não tem mais o que inventar. Segundas-feiras. Variam os dois elementos. Fácil, óbvio. Entendeu?
       Nem tinha retomado a leitura e lá vem outra perguntinha. Quarta-feira é abstrato ou concreto? Essa, agora. Primeiro vamos saber se é mesmo substantivo. Nenhuma dúvida. É substantivo. Abstrato?
         Concreto. A professora disse que é concreto. Pai é pai. Põe tudo de lado e sai sem bater a porta. Concreto, está lá no Celso Cunha, é o substantivo que designa um ser propriamente dito. Nomes de pessoas, de lugares, de instituições etc. Quarta-feira. Vamos raciocinar. Nome de um dia. Abstrato designa noção, ação, estado e qualidade. Desde que considerados como seres. Quarta-feira é um ser? Se é um dia, é um ser. Mas concreto? Abstrato. Deve ser abstrato.
         Um dia de matar, o trânsito engarrafado. A dorzinha de cabeça já se instalou. Quarta-feira, papai. Afinal? Outro dia era o aliás. Até que teve sua graça. Que é aliás? Bom, como categoria gramatical, me parece que. Pausa. Mudaram a nomenclatura gramatical toda. A educação tem de ser mesmo um desastre. País de analfabetos. Doutores analfabetos. Aliás, advérbio não é. Ou melhor, é controvertido. Vem do latim. Quer dizer quer dizer, como disse o outro. Será advérbio?
         Esses meninos de hoje, francamente. Gramática ninguém estuda mais. A língua andrajosa, um monte de solecismos. Mas quarta-feira é substantivo abstrato? Concreto, disse a professora. Ora, pinoia. Está começando o telejornal. Mais um fantasma. Mandado de segurança. Mandado e não mandato. Preste atenção, meu filho. Aliás, só faltava essa. Meter o Supremo nessa enrascada. Querem atear fogo no país. Fantasma é concreto? Eta Brasil complicado! Aliás, hoje é quarta-feira. Abstrata? Uma vergonha!


(RESENDE, Otto Lara. Folha de S. Paulo. Instituto Moreira Salles. Em: 13/09/1992.)
Considere o termo “murmurinha”, utilizado pelo autor no 1º§ do texto. A partir da contextualização e com base no emprego de classes de palavras, é correto afirmar que se trata do
Alternativas
Respostas
2061: C
2062: D
2063: C
2064: D
2065: B
2066: B
2067: D
2068: D
2069: C
2070: C
2071: C
2072: D
2073: A
2074: B
2075: C
2076: D
2077: A
2078: C
2079: A
2080: D