Questões de Concurso
Sobre uso das aspas em português
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Ilha Comprida, no litoral sul de São Paulo, pode perceber uma
paisagem peculiar. Em meio às dunas da restinga, onde deveria
existir apenas vegetação rasteira, grandes pinheiros brotam por
toda parte. A sombra das árvores é um bem-vindo refresco para
os moradores da região, mas a verdade ecológica é que elas
não deveriam estar ali - assim como os pombos não deveriam
estar nas praças das cidades, nem as tilápias nas águas dos
rios, nem o mosquito da dengue picando pessoas dentro de
casa ou as moscas varejeiras rondando raspas de frutas nas
feiras.
São todas espécies exóticas invasoras, originárias de
outros países e de outros ambientes, mas que chegaram ao
Brasil e aqui encontraram espaço para proliferar. Algumas são
exóticas também no sentido de "diferentes" ou "esquisitas", mas
muitas já se tornaram tão comuns que parecem fazer parte da
paisagem nacional tanto quanto um pau-brasil ou um tucano.
Outros exemplos, apontados pelo Programa Global de Espécies
Invasoras e por cientistas brasileiros, incluem o pinus, o dendezeiro,
as acácias, a mamona, a abelha-africana, o pardal, o
barbeiro, a carpa, o búfalo, o javali e várias espécies de
gramíneas usadas em pastos, além de bactérias e vírus
responsáveis por doenças importantes como leptospirose e
cólera.
Nenhuma delas é nativa do Brasil. Dependendo das
circunstâncias, podem ser meras "imigrantes" inofensivas ou
invasoras altamente nocivas. Dentro do sistema produtivo, por
exemplo, o búfalo e o pinus são apenas espécies exóticas.
Quando escapam para a natureza, entretanto, muitas vezes
tornam-se organismos nocivos aos ecossistemas "naturais".
Espécies invasoras não têm predadores naturais e se multiplicam
rapidamente. São fortes, tipicamente agressivas e
controlam o ambiente que ocupam, roubando espaço das
espécies silvestres e competindo com elas por alimento - ou se
alimentando delas diretamente.
Por sua capacidade de sobrepujar espécies nativas, as
espécies invasoras são consideradas a segunda maior ameaça
à biodiversidade no mundo - atrás apenas da destruição dos
hábitats. Ao assumirem o papel de pragas e vetores de doenças,
elas também causam impactos significativos na agricultura
e na saúde humana.
(Adaptado de Herton Escobar. O Estado de S. Paulo, Vida&,
23 de julho de 2006, A25)
inteiras é inquietante: tsunamis, terremotos, secas e inundações
devastadoras, destruição da camada de ozônio, degelo
das calotas polares, aumento dos oceanos, aquecimento do planeta,
envenenamento de mananciais, desmatamentos, ocupação
irresponsável do solo, impermeabilização abusiva nas grandes
cidades. Alguns desses fenômenos não estão diretamente
vinculados à conduta humana. Outros, porém, são uma consequência
direta de nossas maneiras de sentir, pensar e agir.
É aqui que avulta o exemplo de Hans Jonas.
Em 1979 ele publicou O Princípio Responsabilidade. A
obra mostra que as éticas tradicionais - antropocêntricas e
baseadas numa concepção instrumental da tecnologia - não
estavam à altura das consequências danosas do progresso
tecnológico sobre as condições de vida humana na Terra e o
futuro das novas gerações. Jonas propõe uma ética para a
civilização tecnológica, capaz de reconhecer para a natureza
um direito próprio. O filósofo detectou a propensão de nossa
civilização para degenerar de maneira desmesurada, em virtude
das forças econômicas e de outra índole que aceleram o curso
do desenvolvimento tecnológico, subtraindo o processo de
nosso controle.
Tudo se passa como se a aquisição de novas competências
tecnológicas gerasse uma compulsão a seu aproveitamento
industrial, de modo que a sobrevivência de nossas sociedades
depende da atualização do potencial tecnológico, sendo
as tecnociências suas principais forças produtivas. Funcionando
de modo autônomo, essa dinâmica tende a se reproduzir
coercitivamente e a se impor como único meio de resolução dos
problemas sociais surgidos na esteira do desenvolvimento. O
paradoxo consiste em que o progresso converte o sonho de
felicidade em pesadelo apocalíptico - profecia macabra que tem
hoje a figura da catástrofe ecológica. [...]
Jonas percebeu o simples: para que um "basta" derradeiro
não seja imposto pela catástrofe, é preciso uma nova
conscientização, que não advém do saber oficial nem da
conduta privada, mas de um novo sentimento coletivo de
responsabilidade e temor. Tornar-se inventivo no medo, não só
reagir com a esperteza de "poupar a galinha dos ovos de ouro",
mas ensaiar novos estilos de vida, comprometidos com o futuro
das próximas gerações.
(Adaptado de Oswaldo Giacoia Junior. O Estado de S. Paulo,
A2 Espaço Aberto, 3 de abril de 2010)
I. Os dois-pontos, no 1º parágrafo, introduzem enumeração de fatos que exemplificam desastres naturais.
II. Os travessões isolam, no 3º parágrafo, um comentário explicativo da expressão imediatamente anterior a esse segmento.
III. O travessão único, no final do 4º parágrafo, pode ser corretamente substituído por uma vírgula, sem alteração do sentido original.
IV. As aspas colocadas na frase do final do texto "poupar a galinha dos ovos de ouro" têm por objetivo assinalar a ideia principal do texto.
Está correto o que consta APENAS em
As aspas em "heróis" assinalam
I. O emprego de aspas indica tratar-se de reprodução exata de palavras alheias, introduzidas no texto.
II. Trata-se de um argumento que pode justificar a inclusão de figuras ficcionais ao lado de pessoas reais na mostra sobre os heróis.
III. Tem seu sentido contestado pelo exemplo do menino de Santa Catarina cuja atitude demonstrou que a realidade ainda supera a ficção.
Está correto o que se afirma SOMENTE em
O emprego do sinal de pontuação está corretamente justificado em:
Plano Nacional de Mudanças Climáticas com metas para a
redução do desmatamento da Amazônia e, por consequência,
das emissões de gases do efeito estufa. O documento, porém,
deixa uma lacuna em relação às adaptações aos danos que
devem ser provocados pelo aquecimento global, mesmo se as
emissões fossem zeradas hoje. A opinião é de ambientalistas e
cientistas envolvidos com a questão.
Isso é reflexo de um problema fundamental: o Brasil
pouco conhece sua vulnerabilidade às alterações do clima. Com
base em uma série de estudos sabe-se, por exemplo, quanto a
temperatura deve subir em cada região, que a Amazônia pode
sofrer um processo de savanização e que a elevação do nível
do mar pode pôr em risco a cidade do Recife. Pesquisas
mostram também que várias culturas agrícolas devem ser
afetadas no país, em especial a de soja, e que a região Nordeste
será a mais afetada, com intensificação do processo de
desertificação e perdas significativas no PIB.
Mas ainda faltam dados regionalizados que possam
servir de instrumento para a criação de políticas de adaptação.
Item pouco estudado é o da precipitação de chuvas, necessário
para identificar a vulnerabilidade das cidades. Só com esses
dados será possível prever enchentes e seu impacto na infraestrutura
dos municípios, em sua economia e na saúde da
população. A secretária de Mudanças Climáticas do Ministério
do Meio Ambiente admite a falha. "A verdade é que, por muito
tempo, houve uma resistência em todo o mundo: discutir
adaptação era como jogar a toalha. Como se, ao admitir que vai
esquentar mesmo, estaríamos desistindo de atuar em mitigação.
Hoje não se pensa mais assim. Mitigação e adaptação são
complementares, mas isso é muito complexo quando não se
sabe direito o que vai ocorrer e onde. É um item mais fraco no
plano, porque o conhecimento das vulnerabilidades é menor."
(Adaptado de Marcio Silva. O Estado de S. Paulo, Especial H4,
5 de dezembro de 2008)
O emprego das aspas indica que se trata
define de maneira singular o atual momento em que se dá a
evolução da tecnologia. "Vivemos em estado permanente de
inovação, e não é possível detê-la."
Discípulo do filósofo Marshall McLuhan, famoso por ter
lançado o conceito de aldeia global, Kerckhove explica seu raciocínio
mostrando que, entre a aquisição da linguagem humana
e o surgimento da escrita, houve um intervalo de 1.400 gerações.
Da escrita ao desenvolvimento da imprensa, esse prazo
sofreu uma brutal redução: passaram-se 265 gerações. Já
revoluções recentes, que disseminaram a televisão, o computador
e a internet, ocorrem em intervalos de poucos anos. E
todas têm sido vivenciadas por uma ou duas gerações. É um
ritmo estonteante de novidades.
Kerckhove define que o meio é a base para esse salto
da inovação. As sociedades orais eram mais conservadoras,
porque tinham no corpo seu limite para a difusão da linguagem.
Guardavam na memória tudo o que fosse necessário para o
bom funcionamento do grupo. Com a escrita, o aprendizado
tornou-se mais fácil. O homem pôde inovar, usando os registros
históricos. O surgimento da impressão trouxe um novo
paradigma. Outra importante etapa na escalada da evolução
tecnológica deu-se com a eletricidade. Como meio, ela passou
a transportar a linguagem - pelo telégrafo, pelo rádio e pela
televisão - e ajudou a vencer qualquer distância. Depois,
associou-se à digitalização. "Assim nasceram as condições para
o atual estado de inovação permanente", diz ele.
(Adaptado de Ana Paula Baltazar. Veja Especial Tecnologia.
setembro de 2008, p. 52)
"O início das comunidades sedentárias é o início da necessidade de administrar suprimentos de água doce", diz o arqueólogo inglês Steve Mithen. "Esse é um ponto de partida para o grande dilema moderno. De preocupação de indivíduos, passou para cidades, nações e hoje é um tema global."
A Organização das Nações Unidas (ONU) calcula que cerca de um bilhão de pessoas não têm acesso à água potável e pelo menos dois bilhões não conseguem água adequada para beber, lavar-se e comer. Viver com escassez de água é uma condição associada a milhões de mortes ao ano, causadas por doenças, má nutrição, fome crônica. Ao afastar meninos e meninas da escola, ela impede que as crianças e seus parentes e amigos tenham acesso a informações que lhes darão uma vida melhor.
O crescimento populacional e a necessidade de abastecer as pessoas com água ? incluindo aí uma atividade crucial, a agricultura - são fatores essenciais na questão, que o aquecimento global vem agravar. Só para atender à produção de alimentos, o Banco Mundial estima que o consumo de água aumentará 50% por volta de 2030. Especialistas anteveem que, se nada for feito, bilhões de indivíduos se juntarão aos que já sofrem com sua falta. As decorrências disso serão doenças, fome, migrações e conflitos pela posse de água.
A má gestão da água tem reduzido os estoques aproveitáveis. Fator importante é a crença da maioria das pessoas de que a água é um bem comum, que não pertence a ninguém em especial. Há, também, uma evidente desproporção entre o que é extraído e o volume de reposição disponível, sobretudo a partir do século passado.
(Adaptado de Eduardo Araia. Planeta, março de 2009, p. 44-49)
O emprego das aspas identifica
"O início das comunidades sedentárias é o início da necessidade de administrar suprimentos de água doce", diz o arqueólogo inglês Steve Mithen. "Esse é um ponto de partida para o grande dilema moderno. De preocupação de indivíduos, passou para cidades, nações e hoje é um tema global."
A Organização das Nações Unidas (ONU) calcula que cerca de um bilhão de pessoas não têm acesso à água potável e pelo menos dois bilhões não conseguem água adequada para beber, lavar-se e comer. Viver com escassez de água é uma condição associada a milhões de mortes ao ano, causadas por doenças, má nutrição, fome crônica. Ao afastar meninos e meninas da escola, ela impede que as crianças e seus parentes e amigos tenham acesso a informações que lhes darão uma vida melhor.
O crescimento populacional e a necessidade de abastecer as pessoas com água ? incluindo aí uma atividade crucial, a agricultura - são fatores essenciais na questão, que o aquecimento global vem agravar. Só para atender à produção de alimentos, o Banco Mundial estima que o consumo de água aumentará 50% por volta de 2030. Especialistas anteveem que, se nada for feito, bilhões de indivíduos se juntarão aos que já sofrem com sua falta. As decorrências disso serão doenças, fome, migrações e conflitos pela posse de água.
A má gestão da água tem reduzido os estoques aproveitáveis. Fator importante é a crença da maioria das pessoas de que a água é um bem comum, que não pertence a ninguém em especial. Há, também, uma evidente desproporção entre o que é extraído e o volume de reposição disponível, sobretudo a partir do século passado.
(Adaptado de Eduardo Araia. Planeta, março de 2009, p. 44-49)
O emprego das aspas identifica
Quando Edward Said morreu, em setembro de 2003, após batalhar por uma década contra a leucemia, era provavelmente o intelectual mais conhecido do mundo. Orientalismo, seu controvertido relato da apropriação do Oriente pela literatura e pelo pensamento europeu moderno, gerou uma subdisciplina acadêmica por conta própria: um quarto de século após sua publicação, a obra continua a provocar irritação, veneração e imitação. Mesmo que seu autor não tivesse feito mais nada, restringindo-se a lecionar na Universidade Columbia, em Nova York - onde trabalhou de 1963 até sua morte ?, ele ainda teria sido um dos acadêmicos mais influentes do final do século XX.
(Adaptado de Tony Judt. "O cosmopolita desenraizado". Piauí, n. 41, fevereiro/2010, p. 40-43)
tratássemos com um ente volitivo, dotado de desejos, paixões e esperanças. Como uma criança mimada, se a sua vontade é contrariada, o seu mau humor imediatamente se manifesta, expressando-se na queda das bolsas, no aumento
da cotação do dólar e do dito risco Brasil.
Não se trata, evidentemente, de negar que o mercado tenha regras que devem ser obedecidas, sob pena de uma disfunção total do corpo social e econômico. Seguir
regras faz parte de qualquer comportamento, sem que daí se infira necessariamente que obedecer a um conjunto de regras torna esse conjunto um ser dotado de vontade. Se sigo regras de trânsito, daí não se segue que essas regras "queiram" tal ou qual coisa, senão no sentido derivado de que seres volitivos impuseram a si mesmos esse conjunto de regras. (...)
No domínio econômico observamos dois tipos de processos, de essência diferente, que tendem a ser identificados, sobretudo na vida política e, mais
especificamente, eleitoral. Se um determinado governo, seguindo certas políticas, não segue regras econômicas básicas, ele certamente produzirá um descalabro completo das contas públicas e uma desorganização total das relações
socioeconômicas. As experiências socialistas e comunistas do século XX são plenas de ensinamento nesse sentido, pois, ao serem conduzidas contra o mercado, produziram regimes totalitários com milhões de mortos. A supressão das liberdades democráticas foi a sua primeira manifestação mais visível.
Não se pode, contudo, dizer que o mercado não comporte um leque muito variado de políticas, algumas muito distantes entre si. (...)
Quem quer determinadas políticas, e não outras, são os agentes econômicos, sociais e políticos que, dependendo das orientações seguidas, não "querem" a sua implementação. Como não se assumem diretamente, apresentam os seus interesses sob uma forma impessoal, como se uma entidade coletiva e mirabolante não quisesse certas ações. Toda política favorece determinados interesses e contraria outros, sem que se possa dizer que exista uma política de custo zero que beneficiaria todos os agentes envolvidos. Uma política que favoreça as exportações e a substituição de importações, por exemplo, irá contrariar outros interesses que são hoje satisfeitos. Uma política de redistribuição de renda necessariamente tirará de alguns para favorecer os mais carentes.
A especulação que temos observado no mercado financeiro obedece precisamente a esse jogo de interesses contrariados ou favorecidos, em que simples rumores de subida ou de descida de determinados candidatos nas
pesquisas de opinião produzem lucros para alguns e prejuízos para outros. Em alguns casos, os rumores relativos a essas pesquisas nem se confirmam, porém lucros e perdas não cessam de ser produzidos. E o que é pior: os prejuízos dizem respeito a todo o País.
(Denis Lerrer Rosenfeld, O Estado de S. Paulo, agosto
de 2002)
O uso das aspas nas frases acima, retiradas do texto,
Esse tipo de organização era mais conhecido na trajetória dos presídios do Rio de Janeiro. Parece que agora age com mais desenvoltura em São Paulo. Para o Secretário Estadual da Segurança Pública, Marco Vinício Petreluzzi, esse fenômeno não causa surpresa. "Não me espanta que em qualquer cadeia haja tentativa de organização por parte dos presos, porque, afinal, estamos tratando com criminosos", disse o Secretário.
Pode causar espécie o ceticismo de Petreluzzi, até mesmo pela responsabilidade do cargo que ocupa, mas ele contém um ponto que merece reflexão. De fato, a concentração de criminosos facilita a formação dessas organizações que passam a fazer dos presídios uma espécie de quartel-general do crime, de onde se comandam "operações" internas e externas.
Mas características específicas do sistema prisional brasileiro também contribuem para formar o caldo de cultura propício às organizações criminosas. Podem ser citados, nesse sentido, fatores como superlotação, baixa inteligência na administração de presídios, corrupção e reunião de presos que não poderiam conviver no mesmo recinto.
O Governo do Estado toma algumas providências para combater esse tipo de organização. Mas é preciso mais para que as assombrosas siglas dessas gangues de presídios não venham a fazer parte de uma triste rotina contra a qual nada se pode fazer. Que não se propague o temível exemplo de motim rganizado, apresentado por esse tal PCC.
Folha de S. Paulo, 19 fevereiro 2001