Leia o texto a seguir para responder à questão.
Em 2016, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Alto Comissariado em Emprego em Saúde e
Crescimento Econômico criado pelo Secretário-Geral das Nações Unidas analisaram cuidadosamente o setor
de saúde global e concluíram que “negócios, como sempre, são insustentáveis”. Um forte posicionamento. A
epidemia de Ebola, em 2014-2015, na África Ocidental, estava fresca na mente dos membros do Comissariado;
ao analisá-la, observaram no relatório final: “vimos como a inação e o subinvestimento crônico podem
comprometer a saúde humana e também levar a sérios retrocessos econômicos e sociais. Investir nos
trabalhadores da saúde é uma parte de um objetivo mais amplo de fortalecimento dos sistemas de saúde e de
proteção social e constitui essencialmente a primeira linha de ação contra as crises sanitárias internacionais”.
Em 2030, escreveram os comissários, o mundo precisará de pelo menos mais 40 milhões de trabalhadores da
saúde e de serviço social; a projeção deles considerava um déficit de pelo menos 18 milhões de trabalhadores
da saúde – a maior parte nos países mais pobres. Isso anos antes do coronavírus ter, rapidamente, se
espalhado pelo mundo. Em fevereiro de 2018, um grupo de 30 microbiologistas, zoólogos e especialistas em
saúde pública se reuniram na sede da OMS, em Genebra. Eles criaram uma lista prioritária de vírus perigosos,
particularmente aqueles contra os quais não havia vacinas; a lista final continha SARS, MERS e uma chamada
Doença X. Peter Daszak, presidente do Fórum de Ameaças Microbianas das Academias Nacionais de Ciência,
Engenharia e Medicina, que estava na reunião, disse recentemente que A COVID-19 é semelhante ao que os
cientistas entenderam como a Doença X. Falando em prever a COVID-19, Daszak disse ao The New York
Times: “O problema não é que a prevenção fosse impossível. Foi muito possível. Mas nós não a fizemos. Os
governos acharam que era muito caro. As empresas farmacêuticas operam com fins lucrativos” [...]. O alerta
deles não foi levado em conta. Em 15 de fevereiro de 2020, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom
Ghebreyesus, fez um discurso apaixonado na Conferência de Segurança de Munique. “O mundo opera em um
ciclo de pânico e negligência. Colocamos dinheiro em um surto e, quando acaba, o esquecemos e não fazemos
nada para impedir o próximo. O mundo gasta bilhões de dólares se preparando para um ataque terrorista, mas
relativamente pouco se preparando para o ataque de um vírus, o que poderia ser muito mais mortal e muito
mais prejudicial econômica, política e socialmente”, disse. Em setembro de 2019, líderes mundiais se reuniram
na sede da ONU para assumir a promessa de uma assistência universal à saúde até 2030. Gro Brundtland, que
chefiava a OMS, disse que a assistência médica não poderia ser deixada nas mãos do livre mercado, pois
assim apenas os ricos teriam acesso à saúde e, devido ao seu custo, deixaria os pobres desassistidos ou
endividados. Há uma necessidade urgente de financiamento público. Cortar os recursos para a saúde é um
“grande erro”, disse Gro Brundtland na época. O atual chefe da OMS, Tedros, enfatizou que “a saúde é uma
escolha política”.
Fonte: TRICONTINENTAL. Saúde é uma escolha política. Dossiê n.º 29, de 9 de junho de 2020. Disponível em:
https://thetricontinental.org/pt-pt/dossie-29-saude/. Acesso em: 10 nov. 2023. Adaptado.