Texto 1
Educação ambiental, cidadania e sustentabilidade
A reflexão sobre as práticas sociais, em um contexto
marcado pela degradação permanente do meio
ambiente e do seu ecossistema, envolve uma articulação com a educação ambiental, numa perspectiva
interdisciplinar. Nesse sentido, a produção de conhecimento deve necessariamente contemplar as inter-relações do meio natural com o social, priorizando um
novo perfil de desenvolvimento, com ênfase na sustentabilidade socioambiental. Leff (2001) fala sobre a
impossibilidade de resolver os crescentes e complexos
problemas ambientais e reverter suas causas sem que
ocorra uma mudança radical nos sistemas de conhecimento, dos valores e dos comportamentos gerados
pela dinâmica de racionalidade existente, fundada no
aspecto econômico do desenvolvimento.
A realidade contemporânea exige uma reflexão cada
vez menos linear, e isso se produz na inter-relação
dos saberes e das práticas coletivas que criam identidades e valores comuns e ações solidárias diante da
reapropriação da natureza, com vistas a um desenvolvimento sustentável. A complexidade do processo de
transformação de um planeta, não apenas crescentemente ameaçado, mas também diretamente afetado
pelos riscos socioambientais e seus danos, é cada vez
mais notória. A concepção “sociedade de risco”, de
Beck (1992), amplia a compreensão de um cenário
marcado por nova lógica de distribuição dos riscos. Os
riscos atuais caracterizam-se por ter consequências,
em geral de alta gravidade, desconhecidas a longo
prazo e que não podem ser avaliadas com precisão,
como é o caso dos riscos ecológicos, químicos,
nucleares e genéticos.
O tema da sustentabilidade confronta-se com o paradigma da “sociedade de risco”. Isso implica a necessidade de se multiplicarem as práticas sociais baseadas
no fortalecimento do direito ao acesso à informação
e à educação ambiental em uma perspectiva integradora. E como se relaciona educação ambiental com
a cidadania? Cidadania tem a ver com a identidade
e o pertencimento a uma coletividade. A educação
ambiental como formação e exercício de cidadania
refere-se a uma nova forma de encarar a relação do
homem com a natureza, baseada numa nova ética,
que pressupõe outros valores morais e uma forma
diferente de ver o mundo e os homens. A educação ambiental deve ser vista como um processo de permanente aprendizagem que valoriza as diversas formas
de conhecimento e forma cidadãos com consciência
local e planetária.
O desafio político da sustentabilidade, apoiado no
potencial transformador das relações sociais que
representam o processo da Agenda 21 – plano abrangente de ação para o desenvolvimento sustentável no
século XXI –, encontra-se estreitamente vinculado ao
processo de fortalecimento da democracia e da construção da cidadania, baseado em valores éticos como
fundamentais para fortalecer a complexa interação
entre sociedade e natureza.
JACOBI, Pedro. Cadernos de Pesquisa, n. 118, p. 189-205, março/2003.
Disponível em:
Acesso em 18 de fevereiro de 2019. [Adaptado]
TEXTO 2
Entrevista: um dos maiores especialistas em sustentabilidade, Ricardo Young, comenta os benefícios
de incluir essa estratégia nos negócios da empresa
Na sua opinião, qual seria o balanço da discussão sobre
sustentabilidade nas empresas, na primeira década do
século XXI?
Ricardo Young A década de 2000 representou
um grande salto das empresas em relação à
Responsabilidade Social Empresarial, porque foi
quando se criaram os mecanismos para essa gestão,
com destaque para o GRI 4, o Global Compact, o ISO
26000 e indicadores Ethos. Além disso, tivemos um
salto de governança graças ao novo patamar de transparência criado pelo IBGC e pela Bolsa de Valores.
Quais serão, na sua visão, as megatendências da gestão
sustentável para os próximos anos?
Ricardo Young A precificação do carbono e a penalização das empresas que forem perdulárias no uso de
água e energia, uma vez que os recursos ficam mais
escassos. Outro desafio é a intensificação das pesquisas tecnológicas, na busca de novos materiais para
indústrias como a da informática, automobilística e
também da construção civil.
Em sua opinião, qual o papel das empresas na construção de uma sociedade melhor?
Ricardo Young As empresas são gestoras de recursos
e ao mesmo tempo supridoras de necessidades. As
empresas podem criar condições para a sociedade
caminhar na direção da sustentabilidade, conforme se
mostram capazes de entregar um produto com custo
ambiental cada vez menor, compensando sua pegada
ecológica com criação de serviços ambientais. A Política
de Resíduos Sólidos foi importante para isso, porque
nos obrigou a pensar o consumo do berço ao berço.
Qual conselho você deixaria aos novos “líderes sustentáveis” que estão começando agora?
Ricardo Young As melhores habilidades de um líder
sustentável são compreender para qual direção o
mundo está mudando e quais suas necessidades. O
pensar sistêmico, a gestão muktistakeholder, a ética e
transparência como balizadoras da melhor revelação
dos talentos de uma empresa, a mobilização da inteligência coletiva, o entendimento de processos caóticos
e, por fim, a capacidade de gerir planejamentos dinâmicos fazem parte dos requisitos que um líder deve ter.
O conceito de Bauman de que tudo se torna líquido
não é diferente para as empresas: elas precisam ser
fluidas. Sua resiliência não pode se dar na direção da
rigidez, mas justamente da fluidez. Afinal, diante de
cenários novos e desafiadores, é preciso ter capacidade de ajustes rápidos e com baixo impacto ambiental. Isso só pode acontecer com a mobilização da inteligência coletiva de equipes conectadas e engajadas.
SILVEIRA, Karen Pegorari. Disponível em: <https://www.fiesp.com. br/indices-pesquisas-e-publicacoes/entrevista-um-dos-maiores-especialistas-em-sustentabilidade-ricardo-young-comenta-os-beneficios-de-incluir-essa-estrategia-nos-negocios-da-empresa>. Acesso em 18 de fevereiro de 2019. [Adaptado]