Questões de Concurso Público Prefeitura de Santa Luzia - MG 2017 para Professor de Educação Básica III - Português

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Q1322587 Português
Das Vantagens de Ser Bobo

     O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo. O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando." 
     Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a ideia.
    O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não veem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os veem como simples pessoas humanas. O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski.
     Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era de que o aparelho estava tão estragado que o conserto seria caríssimo: mais valia comprar outro. Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e, portanto, estar tranquilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado. O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu.
     Aviso: não confundir bobos com burros. Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a célebre frase: "Até tu, Brutus?"
       Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!
     Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz.
      O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos. Ser bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os espertos não conseguem passar por bobos. Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos ganham a vida. Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam que saibam que eles sabem.
     Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro, com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem por não nascer em Minas!
      Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas. É quase impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo.

Clarice Lispector https://pensador.uol.com.br/cronicas_de_clarice_lispector/
Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os veem como simples pessoas humanas.
O pronome este funciona no período anterior como:
Alternativas
Q1322589 Português
Das Vantagens de Ser Bobo

     O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo. O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando." 
     Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a ideia.
    O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não veem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os veem como simples pessoas humanas. O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski.
     Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era de que o aparelho estava tão estragado que o conserto seria caríssimo: mais valia comprar outro. Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e, portanto, estar tranquilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado. O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu.
     Aviso: não confundir bobos com burros. Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a célebre frase: "Até tu, Brutus?"
       Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!
     Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz.
      O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos. Ser bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os espertos não conseguem passar por bobos. Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos ganham a vida. Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam que saibam que eles sabem.
     Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro, com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem por não nascer em Minas!
      Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas. É quase impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo.

Clarice Lispector https://pensador.uol.com.br/cronicas_de_clarice_lispector/
Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado.
Nessa frase, a palavra ludibriado pode ser substituída por:
Alternativas
Q1329302 Português
Em artigo sobre o espaço destinado à oralidade nos Livros Didáticos de Língua Portuguesa (LDP), Luiz Antônio Marcuschi (2006) afirma que

[...] o tema específico das observações que se seguem será: como se apresenta hoje a concepção e análise da língua falada nos LDP e quais as alternativas para a superação do problema? Essas observações iniciais apontam para um aspecto fundamental na concepção de ensino subjacente aos manuais didáticos. Trata-se da noção de língua adotada ou suposta, pois, sem exagero, pode-se postular que tudo dependerá da noção de língua que tiver em mente. Observando os LDP em geral, constata-se que poucos se preocupam em explicitar a noção de língua com que operam. Contudo, uma breve análise revela imediatamente qual o conceito subentendido. Com poucas exceções, a maioria dos LDP trabalha com regras (no estudo gramatical); identificam informações textuais (nos exercícios de compreensão) e produzem textos escritos (na atividade de redação). Há outras atividades, mas elas são incidentais no contexto geral do ensino de língua, o que não significa que não tomem um bom espaço (pelo menos gráfico).
Esta breve revoada na estrutura geral dos LDP permite identificar que a língua é tida por eles como: (a) um conjunto de regras gramaticais (ênfase no estudo da gramática); (b) um instrumento de comunicação (visão instrumental de língua) e (c) um meio de transmissão de informação (sugerindo a língua como código). 

MARCUSCHI, Luiz Antônio. Oralidade e ensino de língua: uma questão pouco “falada”. In: DIONÍSIO, Ângela P.; BEZERRA, Maria Auxiliadora. O livro didático de Português – múltiplos olhares. São Paulo: Lucerna, 2006, p.21-22 
De acordo com a crítica apresentada por Marcuschi, a concepção estrita de língua como um código / instrumento para comunicação, refletida por grande número de LDP, ignora características importantes da língua. Seguem asserções que apresentam corretamente essas características da língua que devem nortear o planejamento docente e o ensino de língua materna, EXCETO:
Alternativas
Q1329304 Português

INSTRUÇÃO: Considere o fragmento abaixo para responder a questão:


Abordando perspectivas de ensino gramatical de forma mais reflexiva, em “Gramática Ensino Plural”, Luiz Carlos Travaglia (citando pesquisa de Gisele Nunes, 2001), sobre o ensino do verbo na escola básica, afirma que 


“O estudo é predominantemente teórico e voltado quase exclusivamente para as formas (flexão, identificação e denominação), pois o trabalho com a significação é raro. Na verdade, a preocupação com a significação parece ocorrer só com uma coleção em atividades de gramática reflexiva […]. O fato de só uma coleção trabalhar o emprego de tempos e modos é revelador de que não se dá atenção ao uso do verbo, suas possibilidades significativas e sua adequação à produção de efeitos de sentido e às situações de uso, nem mesmo no que diz respeito ao já registrado nas gramáticas tradicionais e nos estudos de Estilística. 

[…] Dá-se muita atenção à metalinguagem voltada quase exclusivamente para a morfologia do verbo. Algumas categorias do verbo (como o aspecto e a modalidade, esta confundida com o modo), são ignoradas. Os aspectos sintáticos ficam restritos às recomendações da Gramática Normativa sobre regência e concordância (esta apenas do verbo com o sujeito, como se não houvesse outras formas de concordância)”.


TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática Ensino Plural. São Paulo: Cortez, 2003. Cap. 6, p.155-174

Avalie as afirmações que trazem o posicionamento de Travaglia (1ª coluna) e o respectivo comentário e exemplificação dados (2ª coluna). NÃO está correto o que se afirmar em:
Alternativas
Q1329309 Português
Para responder à questão, leia os excertos abaixo, retirados dos Parâmetros Curriculares Nacionais, 3º e 4º ciclos. Em seguida, leia a atividade retirada de livro didático.

“O tratamento do texto literário oral ou escrito envolve o exercício de reconhecimento de singularidades e propriedades que matizam um tipo particular de uso da linguagem. É possível afastar uma série de equívocos que costumam estar presentes na escola em relação aos textos literários, ou seja, tomá-los como pretexto para o tratamento de questões outras (valores morais, tópicos gramaticais) que não aquelas que contribuem para a formação de leitores capazes de reconhecer as sutilezas, as particularidades, os sentidos, a extensão e a profundidade das construções literárias”. (BRASIL, 1998, p. 27) 

“Quando se toma o texto como unidade de ensino, os aspectos a serem tematizados não se referem somente à dimensão gramatical. Há conteúdos relacionados às dimensões pragmática e semântica da linguagem, que, por serem inerentes à própria atividade discursiva, precisam, na escola, ser tratados de maneira articulada e simultânea no desenvolvimento das práticas de produção e recepção de textos. Quando se toma o texto como unidade de ensino, ainda que se considere a dimensão gramatical, não é possível adotar uma categorização preestabelecida. Os textos submetem-se às regularidades linguísticas dos gêneros em que se organizam e às especificidades de suas condições de produção: isto aponta para a necessidade de priorização de alguns conteúdos e não de outros. Os alunos, por sua vez, ao se relacionarem com este ou aquele texto, sempre o farão segundo suas possibilidades: isto aponta para a necessidade de trabalhar com alguns desses conteúdos e não com todos”. (BRASIL, 1998, p. 78-79)

Atividade retirada de um livro didático para a antiga 6ª série, editado no mesmo ano da publicação dos PCN.

ORION

A primeira namorada, tão alta
que o beijo não alcançava,
o pescoço não alcançava,
nem mesmo a voz a alcançava.
Eram quilômetros de silêncio.

Luzia na janela do sobradão.


(Carlos Drummond de Andrade. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1973. p. 392.)


1. O eu lírico do texto, isto é, a pessoa de que fala no poema, caracteriza a primeira namorada com um adjetivo.
a) Qual é esse adjetivo?
b) Como se classifica o grau desse adjetivo?

2. A primeira namorada é vista no poema como ser intocável, impossível de alcançar. O eu lírico tenta chegar até ela de várias formas, com o corpo e até com o som, mas tudo é inútil.
a) Que expressões demonstram a tentativa de atingir a mulher amada com o corpo?
b) Que expressão demonstra a tentativa de atingi-la pelo som?
c) Que verso resume o distanciamento de eu em relação à mulher amada?

3. O último verso do poema menciona o substantivo sobradão.
a) Em que grau está esse substantivo?
b) Esse grau de sobrado aumenta ou diminui ainda mais a distância entre o eu lírico e a mulher amada? Por quê? 

4. Orion é o nome de uma constelação. Duas das características das estrelas são a frieza (têm brilho próprio, mas emitem calor) e a distância.
a) Na verdade, a quem se refere a palavra Orion, que dá título ao poema?
b) Que semelhanças há entre a atitude dessa pessoa a as estrelas em geral?

5. Com base em todas as respostas anteriores, conclua:
a) Qual o sentido da palavra alta no poema?
b) De que forma, nesse poema, o grau do adjetivo e do substantivo contribui para construir a ideia central do poema, que é o distanciamento amoroso entre o eu lírico e a mulher amada?


CEREJA, W. R. & MAGALHÃES, T. C. Português: linguagens. São Paulo: Atual, 1998.
Tomando como referência trechos extraídos dos PCN para o ensino de Língua Portuguesa no ensino fundamental, pode-se dizer que, na atividade didática trazida, os aspectos linguísticos foram abordados tendo em vista as demandas impostas ao processo de produção de sentido do poema:
Alternativas
Respostas
6: A
7: B
8: A
9: D
10: D