Questões de Concurso Público SEJUDH - MT 2017 para Advogado
Foram encontradas 60 questões
Q785394
Português
Texto associado
Texto para responder às questões.
TE
De todas as coisas pequenas, estava ali a
menor de todas que eu já tinha visto. Não porque ela
sofresse dessas severas desnutrições africanas -
embora passasse fome mas pelo que eu saberia
dela depois.
Teria uns 4 anos de idade, estava inteiramente
nua e suja, o nariz catarrento, o cabelo desgrenhado
numa massa disforme, liso e sujo. Chorava alto,
sentada no chão da sala escura. A casa de taipa tinha
três cômodos pequenos.
Isso que chamei de sala não
passava de um espaço de 2 m por 2 m, sem janelas.
Apenas a porta, aberta na parte de cima, jogava
alguma luz no ambiente de teto baixo e chão batido.
Isso aconteceu na semana passada, num
distrito de Sertânia, cidade a 350 km de Recife, no
sertão de Pernambuco. A mãe e os outros seis filhos
ficaram na porta a nos espreitar, os visitantes
estranhos. O marido, carregador de estrume,
ganhava R$ 20 por semana, o que somava R$ 80 por
mês. Essa a renda do casal analfabeto. Nenhum dos
sete filhos frequentava a escola. Não havia água
encanada. Compravam a R$ 4 o tambor de 24 litros.
O choro da menina seguia atrapalhando a conversa.
- Ei, por que você está chorando? perguntei,
enfiando a cabeça no vão da porta. A menina não
ouviu, largada no chão.
- Ei! Vem cá, eu vou te dar um presente -
repeti. Ela olhou para mim pela primeira vez. Mas não
se mexeu, ainda chorando.
- Como é o nome dela? - perguntei à mulher.
-A gente chama ela de Te-disse, banguela.
-Te? Mas qual o nome dela? - insisti.
- Agente chama ela de Te, que ela ainda não
foi batizada não.
- Como assim? Ela não tem nome? Não foi
registrada no cartório?
- Não, porque eu ainda não fui atrás de fazer.
Te. Olhei de novo para a menina. Era a menor
coisa do mundo, uma pessoa sem nome. Um nada.
“Te” era antes da sílaba - era apenas um fonema, um
murmúrio, um gemido. Entendi o choro, o soluço, o
grito ininterrupto no meio da sala. A falta de nome
impressionava mais do que a falta de todo o resto.
Te chorava de uma dor, de uma falta
avassaladora. Só podia ser. Chorava de solidão,
dessa solidão dos abandonados, dos que não
contam para nada, dos que mal existem. Ela era o
resultado concreto das políticas civilizadas (as
econômicas, as sociais) e de todo o nosso
comportamento animal: o de ir fazendo sexo e filhos
como os bichos egoístas que somos, enfim.
Era como se aquele agrupamento humano
(uma família?) vivesse num estágio qualquer pré-
linguagem, em que nomear as coisas e as pessoas
pouco importava. Rousseau diz que o homem
pré-histórico não precisava falar para se alimentar.
Não foi por causa da comida que surgiu a linguagem.
“O fruto não desaparece de nossas mãos”, explica.
Por isso não era necessário denominá-lo.
As primeiras palavras foram pronunciadas
para exprimir o que não vemos, os sentimentos, as
paixões, o amor, o ódio, a raiva, a comiseração.
“Só chamamos as coisas por seus verdadeiros
nomes quando as vemos em suas form as
verdadeiras.” Só quando Te viu a coisa na minha mão
se calou.
- Ei, Te, olha o que eu tenho para te dar!
Ela virou-se na minha direção. Fez-se um
silêncio na sala. Era uma bala enrolada num papel
verde, com letras vermelhas. Então ela se levantou,
veio até a porta e pegou o doce, voltou para o mesmo
lugar e recomeçou seu lamento.
Nem a bala serviu de consolo. Era tudo
amargura. Só restava chorar, chorar e chorar por
essa morte em vida, por essa falta de nome, essa
desolação.
FELINTO, Marilene. Te. Folha de S. Paulo, São Paulo, 30 jan.
2001. Brasil, Cotidiano, p. C2.
Sobre o texto leia as afirmativas a seguir.
I. A autora denuncia o resultado de políticas
civilizadoras, que, na realidade, criam formas
não civilizadas de convivência.
II. A pequenez da menina era provocada pela
severa desnutrição, só comparada à fome
africana, pela qual passava.
III. Para a ficcionista, a linguagem é instrumento de
construção de identidade emocional.
IV. Além de retratar a situação de pessoas que
existem fisicamente e ao mesmo tempo
oficialmente não, mostram-se momentos de
afetos os mais diversos.
Está correto o que se afirma apenas em:
Q785395
Português
Texto associado
Texto para responder às questões.
TE
De todas as coisas pequenas, estava ali a
menor de todas que eu já tinha visto. Não porque ela
sofresse dessas severas desnutrições africanas -
embora passasse fome mas pelo que eu saberia
dela depois.
Teria uns 4 anos de idade, estava inteiramente
nua e suja, o nariz catarrento, o cabelo desgrenhado
numa massa disforme, liso e sujo. Chorava alto,
sentada no chão da sala escura. A casa de taipa tinha
três cômodos pequenos.
Isso que chamei de sala não
passava de um espaço de 2 m por 2 m, sem janelas.
Apenas a porta, aberta na parte de cima, jogava
alguma luz no ambiente de teto baixo e chão batido.
Isso aconteceu na semana passada, num
distrito de Sertânia, cidade a 350 km de Recife, no
sertão de Pernambuco. A mãe e os outros seis filhos
ficaram na porta a nos espreitar, os visitantes
estranhos. O marido, carregador de estrume,
ganhava R$ 20 por semana, o que somava R$ 80 por
mês. Essa a renda do casal analfabeto. Nenhum dos
sete filhos frequentava a escola. Não havia água
encanada. Compravam a R$ 4 o tambor de 24 litros.
O choro da menina seguia atrapalhando a conversa.
- Ei, por que você está chorando? perguntei,
enfiando a cabeça no vão da porta. A menina não
ouviu, largada no chão.
- Ei! Vem cá, eu vou te dar um presente -
repeti. Ela olhou para mim pela primeira vez. Mas não
se mexeu, ainda chorando.
- Como é o nome dela? - perguntei à mulher.
-A gente chama ela de Te-disse, banguela.
-Te? Mas qual o nome dela? - insisti.
- Agente chama ela de Te, que ela ainda não
foi batizada não.
- Como assim? Ela não tem nome? Não foi
registrada no cartório?
- Não, porque eu ainda não fui atrás de fazer.
Te. Olhei de novo para a menina. Era a menor
coisa do mundo, uma pessoa sem nome. Um nada.
“Te” era antes da sílaba - era apenas um fonema, um
murmúrio, um gemido. Entendi o choro, o soluço, o
grito ininterrupto no meio da sala. A falta de nome
impressionava mais do que a falta de todo o resto.
Te chorava de uma dor, de uma falta
avassaladora. Só podia ser. Chorava de solidão,
dessa solidão dos abandonados, dos que não
contam para nada, dos que mal existem. Ela era o
resultado concreto das políticas civilizadas (as
econômicas, as sociais) e de todo o nosso
comportamento animal: o de ir fazendo sexo e filhos
como os bichos egoístas que somos, enfim.
Era como se aquele agrupamento humano
(uma família?) vivesse num estágio qualquer pré-
linguagem, em que nomear as coisas e as pessoas
pouco importava. Rousseau diz que o homem
pré-histórico não precisava falar para se alimentar.
Não foi por causa da comida que surgiu a linguagem.
“O fruto não desaparece de nossas mãos”, explica.
Por isso não era necessário denominá-lo.
As primeiras palavras foram pronunciadas
para exprimir o que não vemos, os sentimentos, as
paixões, o amor, o ódio, a raiva, a comiseração.
“Só chamamos as coisas por seus verdadeiros
nomes quando as vemos em suas form as
verdadeiras.” Só quando Te viu a coisa na minha mão
se calou.
- Ei, Te, olha o que eu tenho para te dar!
Ela virou-se na minha direção. Fez-se um
silêncio na sala. Era uma bala enrolada num papel
verde, com letras vermelhas. Então ela se levantou,
veio até a porta e pegou o doce, voltou para o mesmo
lugar e recomeçou seu lamento.
Nem a bala serviu de consolo. Era tudo
amargura. Só restava chorar, chorar e chorar por
essa morte em vida, por essa falta de nome, essa
desolação.
FELINTO, Marilene. Te. Folha de S. Paulo, São Paulo, 30 jan.
2001. Brasil, Cotidiano, p. C2.
O desenvolvimento do tema da narrativa é
atravessado pela experiência tanto coletiva quanto
particular do narrador. Essa característica particular,
no texto de Marilene Felinto, é irrefutável em:
Q785397
Português
Texto associado
Texto para responder às questões.
TE
De todas as coisas pequenas, estava ali a
menor de todas que eu já tinha visto. Não porque ela
sofresse dessas severas desnutrições africanas -
embora passasse fome mas pelo que eu saberia
dela depois.
Teria uns 4 anos de idade, estava inteiramente
nua e suja, o nariz catarrento, o cabelo desgrenhado
numa massa disforme, liso e sujo. Chorava alto,
sentada no chão da sala escura. A casa de taipa tinha
três cômodos pequenos.
Isso que chamei de sala não
passava de um espaço de 2 m por 2 m, sem janelas.
Apenas a porta, aberta na parte de cima, jogava
alguma luz no ambiente de teto baixo e chão batido.
Isso aconteceu na semana passada, num
distrito de Sertânia, cidade a 350 km de Recife, no
sertão de Pernambuco. A mãe e os outros seis filhos
ficaram na porta a nos espreitar, os visitantes
estranhos. O marido, carregador de estrume,
ganhava R$ 20 por semana, o que somava R$ 80 por
mês. Essa a renda do casal analfabeto. Nenhum dos
sete filhos frequentava a escola. Não havia água
encanada. Compravam a R$ 4 o tambor de 24 litros.
O choro da menina seguia atrapalhando a conversa.
- Ei, por que você está chorando? perguntei,
enfiando a cabeça no vão da porta. A menina não
ouviu, largada no chão.
- Ei! Vem cá, eu vou te dar um presente -
repeti. Ela olhou para mim pela primeira vez. Mas não
se mexeu, ainda chorando.
- Como é o nome dela? - perguntei à mulher.
-A gente chama ela de Te-disse, banguela.
-Te? Mas qual o nome dela? - insisti.
- Agente chama ela de Te, que ela ainda não
foi batizada não.
- Como assim? Ela não tem nome? Não foi
registrada no cartório?
- Não, porque eu ainda não fui atrás de fazer.
Te. Olhei de novo para a menina. Era a menor
coisa do mundo, uma pessoa sem nome. Um nada.
“Te” era antes da sílaba - era apenas um fonema, um
murmúrio, um gemido. Entendi o choro, o soluço, o
grito ininterrupto no meio da sala. A falta de nome
impressionava mais do que a falta de todo o resto.
Te chorava de uma dor, de uma falta
avassaladora. Só podia ser. Chorava de solidão,
dessa solidão dos abandonados, dos que não
contam para nada, dos que mal existem. Ela era o
resultado concreto das políticas civilizadas (as
econômicas, as sociais) e de todo o nosso
comportamento animal: o de ir fazendo sexo e filhos
como os bichos egoístas que somos, enfim.
Era como se aquele agrupamento humano
(uma família?) vivesse num estágio qualquer pré-
linguagem, em que nomear as coisas e as pessoas
pouco importava. Rousseau diz que o homem
pré-histórico não precisava falar para se alimentar.
Não foi por causa da comida que surgiu a linguagem.
“O fruto não desaparece de nossas mãos”, explica.
Por isso não era necessário denominá-lo.
As primeiras palavras foram pronunciadas
para exprimir o que não vemos, os sentimentos, as
paixões, o amor, o ódio, a raiva, a comiseração.
“Só chamamos as coisas por seus verdadeiros
nomes quando as vemos em suas form as
verdadeiras.” Só quando Te viu a coisa na minha mão
se calou.
- Ei, Te, olha o que eu tenho para te dar!
Ela virou-se na minha direção. Fez-se um
silêncio na sala. Era uma bala enrolada num papel
verde, com letras vermelhas. Então ela se levantou,
veio até a porta e pegou o doce, voltou para o mesmo
lugar e recomeçou seu lamento.
Nem a bala serviu de consolo. Era tudo
amargura. Só restava chorar, chorar e chorar por
essa morte em vida, por essa falta de nome, essa
desolação.
FELINTO, Marilene. Te. Folha de S. Paulo, São Paulo, 30 jan.
2001. Brasil, Cotidiano, p. C2.
Sobre a oração destacada em “As primeiras palavras
foram pronunciadas para exprimir o QUE NÃO
VEMOS” é correto afirmar que:
Q785398
Português
Texto associado
Texto para responder às questões.
TE
De todas as coisas pequenas, estava ali a
menor de todas que eu já tinha visto. Não porque ela
sofresse dessas severas desnutrições africanas -
embora passasse fome mas pelo que eu saberia
dela depois.
Teria uns 4 anos de idade, estava inteiramente
nua e suja, o nariz catarrento, o cabelo desgrenhado
numa massa disforme, liso e sujo. Chorava alto,
sentada no chão da sala escura. A casa de taipa tinha
três cômodos pequenos.
Isso que chamei de sala não
passava de um espaço de 2 m por 2 m, sem janelas.
Apenas a porta, aberta na parte de cima, jogava
alguma luz no ambiente de teto baixo e chão batido.
Isso aconteceu na semana passada, num
distrito de Sertânia, cidade a 350 km de Recife, no
sertão de Pernambuco. A mãe e os outros seis filhos
ficaram na porta a nos espreitar, os visitantes
estranhos. O marido, carregador de estrume,
ganhava R$ 20 por semana, o que somava R$ 80 por
mês. Essa a renda do casal analfabeto. Nenhum dos
sete filhos frequentava a escola. Não havia água
encanada. Compravam a R$ 4 o tambor de 24 litros.
O choro da menina seguia atrapalhando a conversa.
- Ei, por que você está chorando? perguntei,
enfiando a cabeça no vão da porta. A menina não
ouviu, largada no chão.
- Ei! Vem cá, eu vou te dar um presente -
repeti. Ela olhou para mim pela primeira vez. Mas não
se mexeu, ainda chorando.
- Como é o nome dela? - perguntei à mulher.
-A gente chama ela de Te-disse, banguela.
-Te? Mas qual o nome dela? - insisti.
- Agente chama ela de Te, que ela ainda não
foi batizada não.
- Como assim? Ela não tem nome? Não foi
registrada no cartório?
- Não, porque eu ainda não fui atrás de fazer.
Te. Olhei de novo para a menina. Era a menor
coisa do mundo, uma pessoa sem nome. Um nada.
“Te” era antes da sílaba - era apenas um fonema, um
murmúrio, um gemido. Entendi o choro, o soluço, o
grito ininterrupto no meio da sala. A falta de nome
impressionava mais do que a falta de todo o resto.
Te chorava de uma dor, de uma falta
avassaladora. Só podia ser. Chorava de solidão,
dessa solidão dos abandonados, dos que não
contam para nada, dos que mal existem. Ela era o
resultado concreto das políticas civilizadas (as
econômicas, as sociais) e de todo o nosso
comportamento animal: o de ir fazendo sexo e filhos
como os bichos egoístas que somos, enfim.
Era como se aquele agrupamento humano
(uma família?) vivesse num estágio qualquer pré-
linguagem, em que nomear as coisas e as pessoas
pouco importava. Rousseau diz que o homem
pré-histórico não precisava falar para se alimentar.
Não foi por causa da comida que surgiu a linguagem.
“O fruto não desaparece de nossas mãos”, explica.
Por isso não era necessário denominá-lo.
As primeiras palavras foram pronunciadas
para exprimir o que não vemos, os sentimentos, as
paixões, o amor, o ódio, a raiva, a comiseração.
“Só chamamos as coisas por seus verdadeiros
nomes quando as vemos em suas form as
verdadeiras.” Só quando Te viu a coisa na minha mão
se calou.
- Ei, Te, olha o que eu tenho para te dar!
Ela virou-se na minha direção. Fez-se um
silêncio na sala. Era uma bala enrolada num papel
verde, com letras vermelhas. Então ela se levantou,
veio até a porta e pegou o doce, voltou para o mesmo
lugar e recomeçou seu lamento.
Nem a bala serviu de consolo. Era tudo
amargura. Só restava chorar, chorar e chorar por
essa morte em vida, por essa falta de nome, essa
desolação.
FELINTO, Marilene. Te. Folha de S. Paulo, São Paulo, 30 jan.
2001. Brasil, Cotidiano, p. C2.
Pode-se identificar o uso conotativo da linguagem
em:
Q785399
Português
Texto associado
Texto para responder às questões.
TE
De todas as coisas pequenas, estava ali a
menor de todas que eu já tinha visto. Não porque ela
sofresse dessas severas desnutrições africanas -
embora passasse fome mas pelo que eu saberia
dela depois.
Teria uns 4 anos de idade, estava inteiramente
nua e suja, o nariz catarrento, o cabelo desgrenhado
numa massa disforme, liso e sujo. Chorava alto,
sentada no chão da sala escura. A casa de taipa tinha
três cômodos pequenos.
Isso que chamei de sala não
passava de um espaço de 2 m por 2 m, sem janelas.
Apenas a porta, aberta na parte de cima, jogava
alguma luz no ambiente de teto baixo e chão batido.
Isso aconteceu na semana passada, num
distrito de Sertânia, cidade a 350 km de Recife, no
sertão de Pernambuco. A mãe e os outros seis filhos
ficaram na porta a nos espreitar, os visitantes
estranhos. O marido, carregador de estrume,
ganhava R$ 20 por semana, o que somava R$ 80 por
mês. Essa a renda do casal analfabeto. Nenhum dos
sete filhos frequentava a escola. Não havia água
encanada. Compravam a R$ 4 o tambor de 24 litros.
O choro da menina seguia atrapalhando a conversa.
- Ei, por que você está chorando? perguntei,
enfiando a cabeça no vão da porta. A menina não
ouviu, largada no chão.
- Ei! Vem cá, eu vou te dar um presente -
repeti. Ela olhou para mim pela primeira vez. Mas não
se mexeu, ainda chorando.
- Como é o nome dela? - perguntei à mulher.
-A gente chama ela de Te-disse, banguela.
-Te? Mas qual o nome dela? - insisti.
- Agente chama ela de Te, que ela ainda não
foi batizada não.
- Como assim? Ela não tem nome? Não foi
registrada no cartório?
- Não, porque eu ainda não fui atrás de fazer.
Te. Olhei de novo para a menina. Era a menor
coisa do mundo, uma pessoa sem nome. Um nada.
“Te” era antes da sílaba - era apenas um fonema, um
murmúrio, um gemido. Entendi o choro, o soluço, o
grito ininterrupto no meio da sala. A falta de nome
impressionava mais do que a falta de todo o resto.
Te chorava de uma dor, de uma falta
avassaladora. Só podia ser. Chorava de solidão,
dessa solidão dos abandonados, dos que não
contam para nada, dos que mal existem. Ela era o
resultado concreto das políticas civilizadas (as
econômicas, as sociais) e de todo o nosso
comportamento animal: o de ir fazendo sexo e filhos
como os bichos egoístas que somos, enfim.
Era como se aquele agrupamento humano
(uma família?) vivesse num estágio qualquer pré-
linguagem, em que nomear as coisas e as pessoas
pouco importava. Rousseau diz que o homem
pré-histórico não precisava falar para se alimentar.
Não foi por causa da comida que surgiu a linguagem.
“O fruto não desaparece de nossas mãos”, explica.
Por isso não era necessário denominá-lo.
As primeiras palavras foram pronunciadas
para exprimir o que não vemos, os sentimentos, as
paixões, o amor, o ódio, a raiva, a comiseração.
“Só chamamos as coisas por seus verdadeiros
nomes quando as vemos em suas form as
verdadeiras.” Só quando Te viu a coisa na minha mão
se calou.
- Ei, Te, olha o que eu tenho para te dar!
Ela virou-se na minha direção. Fez-se um
silêncio na sala. Era uma bala enrolada num papel
verde, com letras vermelhas. Então ela se levantou,
veio até a porta e pegou o doce, voltou para o mesmo
lugar e recomeçou seu lamento.
Nem a bala serviu de consolo. Era tudo
amargura. Só restava chorar, chorar e chorar por
essa morte em vida, por essa falta de nome, essa
desolação.
FELINTO, Marilene. Te. Folha de S. Paulo, São Paulo, 30 jan.
2001. Brasil, Cotidiano, p. C2.
A palavra, em destaque, empregado para fazer
referência a elemento que se encontra fora do texto é:
Q785401
Português
Texto associado
Texto para responder às questões.
TE
De todas as coisas pequenas, estava ali a
menor de todas que eu já tinha visto. Não porque ela
sofresse dessas severas desnutrições africanas -
embora passasse fome mas pelo que eu saberia
dela depois.
Teria uns 4 anos de idade, estava inteiramente
nua e suja, o nariz catarrento, o cabelo desgrenhado
numa massa disforme, liso e sujo. Chorava alto,
sentada no chão da sala escura. A casa de taipa tinha
três cômodos pequenos.
Isso que chamei de sala não
passava de um espaço de 2 m por 2 m, sem janelas.
Apenas a porta, aberta na parte de cima, jogava
alguma luz no ambiente de teto baixo e chão batido.
Isso aconteceu na semana passada, num
distrito de Sertânia, cidade a 350 km de Recife, no
sertão de Pernambuco. A mãe e os outros seis filhos
ficaram na porta a nos espreitar, os visitantes
estranhos. O marido, carregador de estrume,
ganhava R$ 20 por semana, o que somava R$ 80 por
mês. Essa a renda do casal analfabeto. Nenhum dos
sete filhos frequentava a escola. Não havia água
encanada. Compravam a R$ 4 o tambor de 24 litros.
O choro da menina seguia atrapalhando a conversa.
- Ei, por que você está chorando? perguntei,
enfiando a cabeça no vão da porta. A menina não
ouviu, largada no chão.
- Ei! Vem cá, eu vou te dar um presente -
repeti. Ela olhou para mim pela primeira vez. Mas não
se mexeu, ainda chorando.
- Como é o nome dela? - perguntei à mulher.
-A gente chama ela de Te-disse, banguela.
-Te? Mas qual o nome dela? - insisti.
- Agente chama ela de Te, que ela ainda não
foi batizada não.
- Como assim? Ela não tem nome? Não foi
registrada no cartório?
- Não, porque eu ainda não fui atrás de fazer.
Te. Olhei de novo para a menina. Era a menor
coisa do mundo, uma pessoa sem nome. Um nada.
“Te” era antes da sílaba - era apenas um fonema, um
murmúrio, um gemido. Entendi o choro, o soluço, o
grito ininterrupto no meio da sala. A falta de nome
impressionava mais do que a falta de todo o resto.
Te chorava de uma dor, de uma falta
avassaladora. Só podia ser. Chorava de solidão,
dessa solidão dos abandonados, dos que não
contam para nada, dos que mal existem. Ela era o
resultado concreto das políticas civilizadas (as
econômicas, as sociais) e de todo o nosso
comportamento animal: o de ir fazendo sexo e filhos
como os bichos egoístas que somos, enfim.
Era como se aquele agrupamento humano
(uma família?) vivesse num estágio qualquer pré-
linguagem, em que nomear as coisas e as pessoas
pouco importava. Rousseau diz que o homem
pré-histórico não precisava falar para se alimentar.
Não foi por causa da comida que surgiu a linguagem.
“O fruto não desaparece de nossas mãos”, explica.
Por isso não era necessário denominá-lo.
As primeiras palavras foram pronunciadas
para exprimir o que não vemos, os sentimentos, as
paixões, o amor, o ódio, a raiva, a comiseração.
“Só chamamos as coisas por seus verdadeiros
nomes quando as vemos em suas form as
verdadeiras.” Só quando Te viu a coisa na minha mão
se calou.
- Ei, Te, olha o que eu tenho para te dar!
Ela virou-se na minha direção. Fez-se um
silêncio na sala. Era uma bala enrolada num papel
verde, com letras vermelhas. Então ela se levantou,
veio até a porta e pegou o doce, voltou para o mesmo
lugar e recomeçou seu lamento.
Nem a bala serviu de consolo. Era tudo
amargura. Só restava chorar, chorar e chorar por
essa morte em vida, por essa falta de nome, essa
desolação.
FELINTO, Marilene. Te. Folha de S. Paulo, São Paulo, 30 jan.
2001. Brasil, Cotidiano, p. C2.
Sintaticamente, o segmento destacado está
corretamente analisado em:
Ano: 2017
Banca:
IBADE
Órgão:
SEJUDH - MT
Provas:
IBADE - 2017 - SEJUDH - MT - Advogado
|
IBADE - 2017 - SEJUDH - MT - Agente Penitenciário - Masculino/Feminino |
IBADE - 2017 - SEJUDH - MT - Assistente Social |
Q785402
Geografia
O Estado do Mato Grosso é reconhecido
nacionalmente como um importante produtor
agrícola, sendo que a soja e o milho, nas últimas
décadas, possuem grande destaque. Todavia, outras
culturas, permanentes ou temporárias possuem
elevada produção no estado. Assinale a alternativa
que apresenta a cultura temporária que, no último ano
com dados divulgados (2015) possuiu a maior área
colhida.
Q785403
História e Geografia de Estados e Municípios
Entre os políticos a seguir, assinale o que foi o
primeiro governador a ter dois mandatos
consecutivos por partidos diferentes.
Q785404
História e Geografia de Estados e Municípios
A Rusga destaca-se como um importante episódio da
história de Mato Grosso, sendo reflexo de
acontecimentos e disputas nacionais. A polarização
foi uma marca da disputa pelo poder que colocou
frente a frente as denominadas “Sociedade dos
Zelosos da Independência " e “ Sociedade
Filantrópica”. Entre as alternativas a seguir, assinale
a que mais se relaciona com a composição da
denominada Sociedade Filantrópica.
Q785405
História e Geografia de Estados e Municípios
O Brasil é um país com grande extensão territorial
que determina diferenças entre os horários das
unidades da federação. Sendo assim, não
considerando o período do horário de verão, quando
for cinco horas da tarde (17:00) no Mato Grosso será,
respectivamente, os seguintes horários no Distrito
Federal, Pará e Rondônia:
Ano: 2017
Banca:
IBADE
Órgão:
SEJUDH - MT
Provas:
IBADE - 2017 - SEJUDH - MT - Advogado
|
IBADE - 2017 - SEJUDH - MT - Agente Penitenciário - Masculino/Feminino |
Q785406
Filosofia
O filósofo considerado pai da "filosofia grega”,
afirmando que a água seria o elemento primordial
(a arché) de tudo o que existe, denomina-se:
Q785408
Filosofia
Corrente filosófica que enfatiza o papel da razão
como fundamento do modo de conhecer a realidade.
Nesta perspectiva, a razão vai possibilitar a
apreensão e a justificação do conhecimento sem o
recurso sensorial interferindo no processo do
conhecimento. Tal conceito refere-se à(ao):
Q785409
Direito Administrativo
De acordo com a Lei n° 8.492/1992, em relação
taxativa, constitui ato de improbidade administrativa
que atenta contra os princípios da administração
pública qualquer ação ou omissão que viole os
deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade,
e lealdade às instituições. Nesse sentido, algumas
das ações a seguir listadas traduzem atos de
improbidade administrativa que atentam contra os
princípios da administração pública. Observe as
situações a seguir.
I. Praticar ato visando fim proibido em lei ou
regulamento ou diverso daquele previsto, na
regra de competência.
II. Retardar ou deixar de praticar, indevidamente,
ato de ofício.
III. Permitir ou facilitar a aquisição, permuta ou
locação de bem ou serviço por preço superior ao
de mercado.
A alternativa que contém as situações que se
enquadram na condição apresentada no enunciado é:
Q785410
Direito Administrativo
Para aquisição de bens e serviços comuns, poderá
ser adotada a licitação na modalidade de pregão, que
será regida pela Lei n° 10.520/2002. Consideram-se
bens e serviços comuns aqueles cujos padrões de
desempenho e qualidade possam ser objetivamente
definidos pelo edital, por meio de especificações
usuais no mercado. Assinale a alternativa que
contém uma regra relativa à fase externa do pregão.
Q785411
Direito Administrativo
De acordo com a Lei de Licitações, o Projeto Básico
constitui o conjunto de elementos necessários e
suficientes, com nível de precisão adequado, para
caracterizar a obra ou serviço, ou complexo de obras
ou serviços objeto da licitação, elaborado com base
nas indicações dos estudos técnicos preliminares,
que assegurem a viabilidade técnica e o
adequado tratamento do impacto ambiental do
empreendimento, e que possibilite a avaliação do
custo da obra e a definição dos métodos e do prazo
de execução. Analise os aspectos apresentados.
I. Desenvolvimento da solução escolhida de forma
a fornecer visão global da obra e identificar todos
os seus elementos constitutivos com clareza.
II. Soluções técnicas globais e localizadas,
suficientemente detalhadas, de form a a
maximizar a necessidade de reformulação ou de
variantes durante as fases de elaboração do
projeto executivo e de realização das obras e
montagem.
III. Identificação dos tipos de serviços a executar e
de materiais e equipamentos a incorporar à obra,
bem como suas especificações que assegurem
os melhores resultados para o empreendimento,
sem frustrar o caráter competitivo para a sua
execução.
É(são) elementos(s) constitutivo(s) do projeto básico:
Q785412
Legislação Federal
A Lei n° 12.527/2011 dispõe sobre os procedimentos
a serem observados pela União, Estados, Distrito
Federal e Municípios, com o fim de garantir o acesso
a informações, assegurando o direito fundamental de
acesso por parte dos cidadãos. Nesse sentido, com
relação aos procedimentos a serem observados para
o acesso à informação, analise as assertivas
apresentadas.
I. Utilização de meios de comunicação viabilizados
pela tecnologia da informação.
II. Fomento ao desenvolvimento da cultura de
inteligência na administração pública.
III. Observância da publicidade como exceção e do
sigilo como preceito geral.
Corresponde(m) às diretrizes que orientam os
procedimentos enunciados:
Q785413
Direito Constitucional
A Lei n° 1.079/1950 estabelece que são crimes de
responsabilidade os atos do Presidente da República
que atentarem contra a Constituição Federal, e,
especialmente, contra o livre exercício do Poder
Legislativo, do Poder Judiciário e dos poderes
constitucionais dos Estados. Assim, com relação aos
crimes de responsabilidade contra o livre exercício
dos poderes legislativo e judiciário e dos poderes
constitucionais dos Estados, analise as assertivas
apresentadas.
I. Permitir o Presidente da República, durante as
sessões legislativas e sem autorização do
Congresso Nacional, que forças estrangeiras
transitem pelo território do país, ou, por motivo de
guerra, nele permaneçam temporariamente.
II. Intervir em negócios peculiares aos Estados ou
aos Municípios com desobediência às normas
constitucionais.
III. Permitir que força estrangeira transite pelo
território do país ou nele permaneça quando a
isso se oponha o Congresso Nacional.
Corresponde(m) aos crimes citados no enunciado:
Q785414
Direito Constitucional
Constituem crimes de responsabilidade dos
governadores dos Estados ou dos seus Secretários,
quando por eles praticados, os atos definidos como
crimes na Lei n° 1.079/1950. Assim, com relação à
denúncia, à acusação e ao julgamento dos crimes de
responsabilidade dos governadores dos Estados ou
dos seus Secretários, analise as afirmativas.
I. É permitido a todo cidadão denunciar o
Governador perante a Assembléia Legislativa,
por crime de responsabilidade. II. Apresentada a denúncia e julgada objeto de
deliberação, se a Assembléia Legislativa por
maioria absoluta, decretar a procedência da
acusação, será o Governador imediatamente
suspenso de suas funções.
III. Não será recebida a denúncia depois que o
Governador, por qualquer motivo, houver
deixado definitivamente o cargo.
Está correto o que se afirma em:
Q785415
Direito Penal
Com relação aos crimes praticados por funcionário
público contra a administração em geral, o ato de
exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente,
ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas
em razão dela, vantagem indevida, constitui o tipo
penal denominado:
Q785416
Direito Penal
Com relação aos crimes praticados por funcionário
público contra a administração em geral, o ato de
retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de
ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei,
para satisfazer interesse ou sentimento pessoal,
constitui o tipo penal denominado: