Questões de Concurso Público Prefeitura de Ji-Paraná - RO 2018 para Enfermeiro de Saúde Mental
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Como não ser feliz
Nós não nascemos pra ser felizes.
Isso é uma descoberta, um anseio recente
A moça aproximou-se após esperar alguns minutos na fila da tarde de autógrafos na livraria e disparou, com um sorriso entredentes, à queima-roupa:
– Você é feliz?
Respondi, afável mas secamente:
– Não!
– Jura? Não acredito!
A essa altura, começava a pensar, pelo teor da conversa, tratar-se de pura gozação. Mas vi que era a sério quando ela tascou: – Você passa a impressão de que é bem feliz… Pedi breve licença às pessoas na fila. E avancei no debate:
– Veja, nós não nascemos pra ser felizes. Isso é uma descoberta, um anseio recente… Há 200 anos, tudo que as pessoas queriam era sobreviver, chegar aos 30 anos... No começo dos tempos, você acha que o homem tinha tempo pra pensar em felicidade enquanto fugia dos dinossauros e outras ameaças? Ela ficou parada, certamente surpresa com argumento tão inusitado. Continuei:
– Quantas “pessoas felizes” você conhece?
– Não muitas – ela respondeu, já um tanto desolada.
– Eu não conheço nenhuma – sentenciei, quase amargo. Ela riu um riso sem graça.Aliviei um pouco.
– O que acontece é que algumas pessoas são bem resolvidas com seu trabalho, têm uma vida familiar relativamente tranquila… Essas pessoas talvez pareçam felizes, não demonstram amargura com a vida. E talvez eu seja uma delas. Prefiro acreditar nisso.
Ela balançou a cabeça, resignada. E eu, concluindo meu pensamento:
– “Ser feliz” hoje em dia tem mais a ver com poder financeiro, desejos de consumo sem-fim, que com qualquer outra coisa. Mas pense comigo: se você não vive desesperadamente pelo dinheiro, não tem sonhos impossíveis, fica mais fácil viver, mais fluente, mais tranquilo…
A essa altura eu já me sentia protagonista da palestra “Lair Ribeiro para jovens que sonham com a felicidade”. Só que às avessas, ensinando não como ser feliz, mas como não ser.
– Se você dedica mais tempo ao lúdico e vive menos pressionado pela corrida do ouro que virou nosso tempo, você terá mais tempo para o que importa… Isso, talvez, seja felicidade, vai saber.
– É, mas… e o dinheiro? – ela retrucou, mostrando não ser tão avoada assim.
– Se nos satisfizéssemos em ganhar apenas o necessário para viver bem, confortavelmente, sem sacrifícios, seria ótimo. Mas nossa natureza sempre pede mais… E isso torna as pessoas bastante infelizes, viram escravas do dinheiro…
A fila já chiava, por conta da espera, interrompida por esse debate misterioso, para o qual os demais não foram convidados. Ainda ilustrei rapidamente, para finalizar, com um filme argentino obscuro que o vi há algum tempo, uma espécie de comédia surreal e filosófica em que dois funcionários de uma companhia elétrica ou de esgotos vagam pela cidade, vivendo situações estranhas e mesmo delirantes. Em dado momento, um fala ao outro: “Preciso ir, tenho que dormir, estou muito cansado.” Ao que o outro diz: “Ok, nos encontramos às sete então?” E o primeiro diz: “Não, preciso dormir pelo menos oito horas, senão não descanso.” O outro contra-ataca: “Essa história de dormir oito horas por dia é uma invenção burguesa. Você acha que no tempo das guerras as pessoas pensavam nisso? Na Idade Média, você acha que alguém dormia oito horas por dia?” O outro fica sem palavras.
Para arrematar nossa conversa, disse-lhe:
– É a mesma coisa. Um guerreiro assírio não devia pensar em felicidade, apenas em sobreviver à próxima guerra. Assim é que deveríamos pensar, em sobreviver à próxima guerra. E só.
Sorri. Ela também sorriu.
– Fiquei muito feliz de ter você aqui nesta tarde
– ainda lhe disse (enfatizando a palavra feliz) à guisa de ironia, mas não sem verdade.
BALEIRO, Zeca. Como não ser feliz. IstoÉ, dez.2012. Disponível em http://istoe.com.br (Adaptado)
Sobre o texto pode-se afirmar que o narrador:
I. considera que o desejo de consumir cria necessidades sem-fim, de modo que as pessoas se tornam muito preocupadas com o que querem alcançar.
II. explica que é essencial fazer projeções sobre a felicidade para que se possa, verdadeiramente, ser feliz.
III. afirma que, certamente, para que se possa ser feliz, basta não demonstrar suas amarguras.
IV. recomenda, para se encontrar a felicidade, assistir palestras de Lair Ribeiro para jovens que sonham a felicidade.
Está correto apenas o que se afirma em:
Como não ser feliz
Nós não nascemos pra ser felizes.
Isso é uma descoberta, um anseio recente
A moça aproximou-se após esperar alguns minutos na fila da tarde de autógrafos na livraria e disparou, com um sorriso entredentes, à queima-roupa:
– Você é feliz?
Respondi, afável mas secamente:
– Não!
– Jura? Não acredito!
A essa altura, começava a pensar, pelo teor da conversa, tratar-se de pura gozação. Mas vi que era a sério quando ela tascou: – Você passa a impressão de que é bem feliz… Pedi breve licença às pessoas na fila. E avancei no debate:
– Veja, nós não nascemos pra ser felizes. Isso é uma descoberta, um anseio recente… Há 200 anos, tudo que as pessoas queriam era sobreviver, chegar aos 30 anos... No começo dos tempos, você acha que o homem tinha tempo pra pensar em felicidade enquanto fugia dos dinossauros e outras ameaças? Ela ficou parada, certamente surpresa com argumento tão inusitado. Continuei:
– Quantas “pessoas felizes” você conhece?
– Não muitas – ela respondeu, já um tanto desolada.
– Eu não conheço nenhuma – sentenciei, quase amargo. Ela riu um riso sem graça.Aliviei um pouco.
– O que acontece é que algumas pessoas são bem resolvidas com seu trabalho, têm uma vida familiar relativamente tranquila… Essas pessoas talvez pareçam felizes, não demonstram amargura com a vida. E talvez eu seja uma delas. Prefiro acreditar nisso.
Ela balançou a cabeça, resignada. E eu, concluindo meu pensamento:
– “Ser feliz” hoje em dia tem mais a ver com poder financeiro, desejos de consumo sem-fim, que com qualquer outra coisa. Mas pense comigo: se você não vive desesperadamente pelo dinheiro, não tem sonhos impossíveis, fica mais fácil viver, mais fluente, mais tranquilo…
A essa altura eu já me sentia protagonista da palestra “Lair Ribeiro para jovens que sonham com a felicidade”. Só que às avessas, ensinando não como ser feliz, mas como não ser.
– Se você dedica mais tempo ao lúdico e vive menos pressionado pela corrida do ouro que virou nosso tempo, você terá mais tempo para o que importa… Isso, talvez, seja felicidade, vai saber.
– É, mas… e o dinheiro? – ela retrucou, mostrando não ser tão avoada assim.
– Se nos satisfizéssemos em ganhar apenas o necessário para viver bem, confortavelmente, sem sacrifícios, seria ótimo. Mas nossa natureza sempre pede mais… E isso torna as pessoas bastante infelizes, viram escravas do dinheiro…
A fila já chiava, por conta da espera, interrompida por esse debate misterioso, para o qual os demais não foram convidados. Ainda ilustrei rapidamente, para finalizar, com um filme argentino obscuro que o vi há algum tempo, uma espécie de comédia surreal e filosófica em que dois funcionários de uma companhia elétrica ou de esgotos vagam pela cidade, vivendo situações estranhas e mesmo delirantes. Em dado momento, um fala ao outro: “Preciso ir, tenho que dormir, estou muito cansado.” Ao que o outro diz: “Ok, nos encontramos às sete então?” E o primeiro diz: “Não, preciso dormir pelo menos oito horas, senão não descanso.” O outro contra-ataca: “Essa história de dormir oito horas por dia é uma invenção burguesa. Você acha que no tempo das guerras as pessoas pensavam nisso? Na Idade Média, você acha que alguém dormia oito horas por dia?” O outro fica sem palavras.
Para arrematar nossa conversa, disse-lhe:
– É a mesma coisa. Um guerreiro assírio não devia pensar em felicidade, apenas em sobreviver à próxima guerra. Assim é que deveríamos pensar, em sobreviver à próxima guerra. E só.
Sorri. Ela também sorriu.
– Fiquei muito feliz de ter você aqui nesta tarde
– ainda lhe disse (enfatizando a palavra feliz) à guisa de ironia, mas não sem verdade.
BALEIRO, Zeca. Como não ser feliz. IstoÉ, dez.2012. Disponível em http://istoe.com.br (Adaptado)
Como não ser feliz
Nós não nascemos pra ser felizes.
Isso é uma descoberta, um anseio recente
A moça aproximou-se após esperar alguns minutos na fila da tarde de autógrafos na livraria e disparou, com um sorriso entredentes, à queima-roupa:
– Você é feliz?
Respondi, afável mas secamente:
– Não!
– Jura? Não acredito!
A essa altura, começava a pensar, pelo teor da conversa, tratar-se de pura gozação. Mas vi que era a sério quando ela tascou: – Você passa a impressão de que é bem feliz… Pedi breve licença às pessoas na fila. E avancei no debate:
– Veja, nós não nascemos pra ser felizes. Isso é uma descoberta, um anseio recente… Há 200 anos, tudo que as pessoas queriam era sobreviver, chegar aos 30 anos... No começo dos tempos, você acha que o homem tinha tempo pra pensar em felicidade enquanto fugia dos dinossauros e outras ameaças? Ela ficou parada, certamente surpresa com argumento tão inusitado. Continuei:
– Quantas “pessoas felizes” você conhece?
– Não muitas – ela respondeu, já um tanto desolada.
– Eu não conheço nenhuma – sentenciei, quase amargo. Ela riu um riso sem graça.Aliviei um pouco.
– O que acontece é que algumas pessoas são bem resolvidas com seu trabalho, têm uma vida familiar relativamente tranquila… Essas pessoas talvez pareçam felizes, não demonstram amargura com a vida. E talvez eu seja uma delas. Prefiro acreditar nisso.
Ela balançou a cabeça, resignada. E eu, concluindo meu pensamento:
– “Ser feliz” hoje em dia tem mais a ver com poder financeiro, desejos de consumo sem-fim, que com qualquer outra coisa. Mas pense comigo: se você não vive desesperadamente pelo dinheiro, não tem sonhos impossíveis, fica mais fácil viver, mais fluente, mais tranquilo…
A essa altura eu já me sentia protagonista da palestra “Lair Ribeiro para jovens que sonham com a felicidade”. Só que às avessas, ensinando não como ser feliz, mas como não ser.
– Se você dedica mais tempo ao lúdico e vive menos pressionado pela corrida do ouro que virou nosso tempo, você terá mais tempo para o que importa… Isso, talvez, seja felicidade, vai saber.
– É, mas… e o dinheiro? – ela retrucou, mostrando não ser tão avoada assim.
– Se nos satisfizéssemos em ganhar apenas o necessário para viver bem, confortavelmente, sem sacrifícios, seria ótimo. Mas nossa natureza sempre pede mais… E isso torna as pessoas bastante infelizes, viram escravas do dinheiro…
A fila já chiava, por conta da espera, interrompida por esse debate misterioso, para o qual os demais não foram convidados. Ainda ilustrei rapidamente, para finalizar, com um filme argentino obscuro que o vi há algum tempo, uma espécie de comédia surreal e filosófica em que dois funcionários de uma companhia elétrica ou de esgotos vagam pela cidade, vivendo situações estranhas e mesmo delirantes. Em dado momento, um fala ao outro: “Preciso ir, tenho que dormir, estou muito cansado.” Ao que o outro diz: “Ok, nos encontramos às sete então?” E o primeiro diz: “Não, preciso dormir pelo menos oito horas, senão não descanso.” O outro contra-ataca: “Essa história de dormir oito horas por dia é uma invenção burguesa. Você acha que no tempo das guerras as pessoas pensavam nisso? Na Idade Média, você acha que alguém dormia oito horas por dia?” O outro fica sem palavras.
Para arrematar nossa conversa, disse-lhe:
– É a mesma coisa. Um guerreiro assírio não devia pensar em felicidade, apenas em sobreviver à próxima guerra. Assim é que deveríamos pensar, em sobreviver à próxima guerra. E só.
Sorri. Ela também sorriu.
– Fiquei muito feliz de ter você aqui nesta tarde
– ainda lhe disse (enfatizando a palavra feliz) à guisa de ironia, mas não sem verdade.
BALEIRO, Zeca. Como não ser feliz. IstoÉ, dez.2012. Disponível em http://istoe.com.br (Adaptado)
Sobre os elementos destacados do fragmento “Há 200 anos, tudo que as pessoas queriam era sobreviver, chegar aos 30 anos....”, leia as afirmativas.
I. De acordo com o novo acordo ortográfico, palavras monossílabas terminadas em A não recebem mais acento, sendo assim, a flexão verbal HÁ foi grafada de modo indevido.
II. TUDO é um pronome substantivo indefinido.
III. QUE é uma conjunção subordinativa adverbial.
Está correto apenas o que se afirma em:
Como não ser feliz
Nós não nascemos pra ser felizes.
Isso é uma descoberta, um anseio recente
A moça aproximou-se após esperar alguns minutos na fila da tarde de autógrafos na livraria e disparou, com um sorriso entredentes, à queima-roupa:
– Você é feliz?
Respondi, afável mas secamente:
– Não!
– Jura? Não acredito!
A essa altura, começava a pensar, pelo teor da conversa, tratar-se de pura gozação. Mas vi que era a sério quando ela tascou: – Você passa a impressão de que é bem feliz… Pedi breve licença às pessoas na fila. E avancei no debate:
– Veja, nós não nascemos pra ser felizes. Isso é uma descoberta, um anseio recente… Há 200 anos, tudo que as pessoas queriam era sobreviver, chegar aos 30 anos... No começo dos tempos, você acha que o homem tinha tempo pra pensar em felicidade enquanto fugia dos dinossauros e outras ameaças? Ela ficou parada, certamente surpresa com argumento tão inusitado. Continuei:
– Quantas “pessoas felizes” você conhece?
– Não muitas – ela respondeu, já um tanto desolada.
– Eu não conheço nenhuma – sentenciei, quase amargo. Ela riu um riso sem graça.Aliviei um pouco.
– O que acontece é que algumas pessoas são bem resolvidas com seu trabalho, têm uma vida familiar relativamente tranquila… Essas pessoas talvez pareçam felizes, não demonstram amargura com a vida. E talvez eu seja uma delas. Prefiro acreditar nisso.
Ela balançou a cabeça, resignada. E eu, concluindo meu pensamento:
– “Ser feliz” hoje em dia tem mais a ver com poder financeiro, desejos de consumo sem-fim, que com qualquer outra coisa. Mas pense comigo: se você não vive desesperadamente pelo dinheiro, não tem sonhos impossíveis, fica mais fácil viver, mais fluente, mais tranquilo…
A essa altura eu já me sentia protagonista da palestra “Lair Ribeiro para jovens que sonham com a felicidade”. Só que às avessas, ensinando não como ser feliz, mas como não ser.
– Se você dedica mais tempo ao lúdico e vive menos pressionado pela corrida do ouro que virou nosso tempo, você terá mais tempo para o que importa… Isso, talvez, seja felicidade, vai saber.
– É, mas… e o dinheiro? – ela retrucou, mostrando não ser tão avoada assim.
– Se nos satisfizéssemos em ganhar apenas o necessário para viver bem, confortavelmente, sem sacrifícios, seria ótimo. Mas nossa natureza sempre pede mais… E isso torna as pessoas bastante infelizes, viram escravas do dinheiro…
A fila já chiava, por conta da espera, interrompida por esse debate misterioso, para o qual os demais não foram convidados. Ainda ilustrei rapidamente, para finalizar, com um filme argentino obscuro que o vi há algum tempo, uma espécie de comédia surreal e filosófica em que dois funcionários de uma companhia elétrica ou de esgotos vagam pela cidade, vivendo situações estranhas e mesmo delirantes. Em dado momento, um fala ao outro: “Preciso ir, tenho que dormir, estou muito cansado.” Ao que o outro diz: “Ok, nos encontramos às sete então?” E o primeiro diz: “Não, preciso dormir pelo menos oito horas, senão não descanso.” O outro contra-ataca: “Essa história de dormir oito horas por dia é uma invenção burguesa. Você acha que no tempo das guerras as pessoas pensavam nisso? Na Idade Média, você acha que alguém dormia oito horas por dia?” O outro fica sem palavras.
Para arrematar nossa conversa, disse-lhe:
– É a mesma coisa. Um guerreiro assírio não devia pensar em felicidade, apenas em sobreviver à próxima guerra. Assim é que deveríamos pensar, em sobreviver à próxima guerra. E só.
Sorri. Ela também sorriu.
– Fiquei muito feliz de ter você aqui nesta tarde
– ainda lhe disse (enfatizando a palavra feliz) à guisa de ironia, mas não sem verdade.
BALEIRO, Zeca. Como não ser feliz. IstoÉ, dez.2012. Disponível em http://istoe.com.br (Adaptado)
“ISSO é uma descoberta, um anseio recente.”
O uso da forma destacada do demonstrativo, no contexto, se justifica em razão de:
Como não ser feliz
Nós não nascemos pra ser felizes.
Isso é uma descoberta, um anseio recente
A moça aproximou-se após esperar alguns minutos na fila da tarde de autógrafos na livraria e disparou, com um sorriso entredentes, à queima-roupa:
– Você é feliz?
Respondi, afável mas secamente:
– Não!
– Jura? Não acredito!
A essa altura, começava a pensar, pelo teor da conversa, tratar-se de pura gozação. Mas vi que era a sério quando ela tascou: – Você passa a impressão de que é bem feliz… Pedi breve licença às pessoas na fila. E avancei no debate:
– Veja, nós não nascemos pra ser felizes. Isso é uma descoberta, um anseio recente… Há 200 anos, tudo que as pessoas queriam era sobreviver, chegar aos 30 anos... No começo dos tempos, você acha que o homem tinha tempo pra pensar em felicidade enquanto fugia dos dinossauros e outras ameaças? Ela ficou parada, certamente surpresa com argumento tão inusitado. Continuei:
– Quantas “pessoas felizes” você conhece?
– Não muitas – ela respondeu, já um tanto desolada.
– Eu não conheço nenhuma – sentenciei, quase amargo. Ela riu um riso sem graça.Aliviei um pouco.
– O que acontece é que algumas pessoas são bem resolvidas com seu trabalho, têm uma vida familiar relativamente tranquila… Essas pessoas talvez pareçam felizes, não demonstram amargura com a vida. E talvez eu seja uma delas. Prefiro acreditar nisso.
Ela balançou a cabeça, resignada. E eu, concluindo meu pensamento:
– “Ser feliz” hoje em dia tem mais a ver com poder financeiro, desejos de consumo sem-fim, que com qualquer outra coisa. Mas pense comigo: se você não vive desesperadamente pelo dinheiro, não tem sonhos impossíveis, fica mais fácil viver, mais fluente, mais tranquilo…
A essa altura eu já me sentia protagonista da palestra “Lair Ribeiro para jovens que sonham com a felicidade”. Só que às avessas, ensinando não como ser feliz, mas como não ser.
– Se você dedica mais tempo ao lúdico e vive menos pressionado pela corrida do ouro que virou nosso tempo, você terá mais tempo para o que importa… Isso, talvez, seja felicidade, vai saber.
– É, mas… e o dinheiro? – ela retrucou, mostrando não ser tão avoada assim.
– Se nos satisfizéssemos em ganhar apenas o necessário para viver bem, confortavelmente, sem sacrifícios, seria ótimo. Mas nossa natureza sempre pede mais… E isso torna as pessoas bastante infelizes, viram escravas do dinheiro…
A fila já chiava, por conta da espera, interrompida por esse debate misterioso, para o qual os demais não foram convidados. Ainda ilustrei rapidamente, para finalizar, com um filme argentino obscuro que o vi há algum tempo, uma espécie de comédia surreal e filosófica em que dois funcionários de uma companhia elétrica ou de esgotos vagam pela cidade, vivendo situações estranhas e mesmo delirantes. Em dado momento, um fala ao outro: “Preciso ir, tenho que dormir, estou muito cansado.” Ao que o outro diz: “Ok, nos encontramos às sete então?” E o primeiro diz: “Não, preciso dormir pelo menos oito horas, senão não descanso.” O outro contra-ataca: “Essa história de dormir oito horas por dia é uma invenção burguesa. Você acha que no tempo das guerras as pessoas pensavam nisso? Na Idade Média, você acha que alguém dormia oito horas por dia?” O outro fica sem palavras.
Para arrematar nossa conversa, disse-lhe:
– É a mesma coisa. Um guerreiro assírio não devia pensar em felicidade, apenas em sobreviver à próxima guerra. Assim é que deveríamos pensar, em sobreviver à próxima guerra. E só.
Sorri. Ela também sorriu.
– Fiquei muito feliz de ter você aqui nesta tarde
– ainda lhe disse (enfatizando a palavra feliz) à guisa de ironia, mas não sem verdade.
BALEIRO, Zeca. Como não ser feliz. IstoÉ, dez.2012. Disponível em http://istoe.com.br (Adaptado)
Como não ser feliz
Nós não nascemos pra ser felizes.
Isso é uma descoberta, um anseio recente
A moça aproximou-se após esperar alguns minutos na fila da tarde de autógrafos na livraria e disparou, com um sorriso entredentes, à queima-roupa:
– Você é feliz?
Respondi, afável mas secamente:
– Não!
– Jura? Não acredito!
A essa altura, começava a pensar, pelo teor da conversa, tratar-se de pura gozação. Mas vi que era a sério quando ela tascou: – Você passa a impressão de que é bem feliz… Pedi breve licença às pessoas na fila. E avancei no debate:
– Veja, nós não nascemos pra ser felizes. Isso é uma descoberta, um anseio recente… Há 200 anos, tudo que as pessoas queriam era sobreviver, chegar aos 30 anos... No começo dos tempos, você acha que o homem tinha tempo pra pensar em felicidade enquanto fugia dos dinossauros e outras ameaças? Ela ficou parada, certamente surpresa com argumento tão inusitado. Continuei:
– Quantas “pessoas felizes” você conhece?
– Não muitas – ela respondeu, já um tanto desolada.
– Eu não conheço nenhuma – sentenciei, quase amargo. Ela riu um riso sem graça.Aliviei um pouco.
– O que acontece é que algumas pessoas são bem resolvidas com seu trabalho, têm uma vida familiar relativamente tranquila… Essas pessoas talvez pareçam felizes, não demonstram amargura com a vida. E talvez eu seja uma delas. Prefiro acreditar nisso.
Ela balançou a cabeça, resignada. E eu, concluindo meu pensamento:
– “Ser feliz” hoje em dia tem mais a ver com poder financeiro, desejos de consumo sem-fim, que com qualquer outra coisa. Mas pense comigo: se você não vive desesperadamente pelo dinheiro, não tem sonhos impossíveis, fica mais fácil viver, mais fluente, mais tranquilo…
A essa altura eu já me sentia protagonista da palestra “Lair Ribeiro para jovens que sonham com a felicidade”. Só que às avessas, ensinando não como ser feliz, mas como não ser.
– Se você dedica mais tempo ao lúdico e vive menos pressionado pela corrida do ouro que virou nosso tempo, você terá mais tempo para o que importa… Isso, talvez, seja felicidade, vai saber.
– É, mas… e o dinheiro? – ela retrucou, mostrando não ser tão avoada assim.
– Se nos satisfizéssemos em ganhar apenas o necessário para viver bem, confortavelmente, sem sacrifícios, seria ótimo. Mas nossa natureza sempre pede mais… E isso torna as pessoas bastante infelizes, viram escravas do dinheiro…
A fila já chiava, por conta da espera, interrompida por esse debate misterioso, para o qual os demais não foram convidados. Ainda ilustrei rapidamente, para finalizar, com um filme argentino obscuro que o vi há algum tempo, uma espécie de comédia surreal e filosófica em que dois funcionários de uma companhia elétrica ou de esgotos vagam pela cidade, vivendo situações estranhas e mesmo delirantes. Em dado momento, um fala ao outro: “Preciso ir, tenho que dormir, estou muito cansado.” Ao que o outro diz: “Ok, nos encontramos às sete então?” E o primeiro diz: “Não, preciso dormir pelo menos oito horas, senão não descanso.” O outro contra-ataca: “Essa história de dormir oito horas por dia é uma invenção burguesa. Você acha que no tempo das guerras as pessoas pensavam nisso? Na Idade Média, você acha que alguém dormia oito horas por dia?” O outro fica sem palavras.
Para arrematar nossa conversa, disse-lhe:
– É a mesma coisa. Um guerreiro assírio não devia pensar em felicidade, apenas em sobreviver à próxima guerra. Assim é que deveríamos pensar, em sobreviver à próxima guerra. E só.
Sorri. Ela também sorriu.
– Fiquei muito feliz de ter você aqui nesta tarde
– ainda lhe disse (enfatizando a palavra feliz) à guisa de ironia, mas não sem verdade.
BALEIRO, Zeca. Como não ser feliz. IstoÉ, dez.2012. Disponível em http://istoe.com.br (Adaptado)
Como não ser feliz
Nós não nascemos pra ser felizes.
Isso é uma descoberta, um anseio recente
A moça aproximou-se após esperar alguns minutos na fila da tarde de autógrafos na livraria e disparou, com um sorriso entredentes, à queima-roupa:
– Você é feliz?
Respondi, afável mas secamente:
– Não!
– Jura? Não acredito!
A essa altura, começava a pensar, pelo teor da conversa, tratar-se de pura gozação. Mas vi que era a sério quando ela tascou: – Você passa a impressão de que é bem feliz… Pedi breve licença às pessoas na fila. E avancei no debate:
– Veja, nós não nascemos pra ser felizes. Isso é uma descoberta, um anseio recente… Há 200 anos, tudo que as pessoas queriam era sobreviver, chegar aos 30 anos... No começo dos tempos, você acha que o homem tinha tempo pra pensar em felicidade enquanto fugia dos dinossauros e outras ameaças? Ela ficou parada, certamente surpresa com argumento tão inusitado. Continuei:
– Quantas “pessoas felizes” você conhece?
– Não muitas – ela respondeu, já um tanto desolada.
– Eu não conheço nenhuma – sentenciei, quase amargo. Ela riu um riso sem graça.Aliviei um pouco.
– O que acontece é que algumas pessoas são bem resolvidas com seu trabalho, têm uma vida familiar relativamente tranquila… Essas pessoas talvez pareçam felizes, não demonstram amargura com a vida. E talvez eu seja uma delas. Prefiro acreditar nisso.
Ela balançou a cabeça, resignada. E eu, concluindo meu pensamento:
– “Ser feliz” hoje em dia tem mais a ver com poder financeiro, desejos de consumo sem-fim, que com qualquer outra coisa. Mas pense comigo: se você não vive desesperadamente pelo dinheiro, não tem sonhos impossíveis, fica mais fácil viver, mais fluente, mais tranquilo…
A essa altura eu já me sentia protagonista da palestra “Lair Ribeiro para jovens que sonham com a felicidade”. Só que às avessas, ensinando não como ser feliz, mas como não ser.
– Se você dedica mais tempo ao lúdico e vive menos pressionado pela corrida do ouro que virou nosso tempo, você terá mais tempo para o que importa… Isso, talvez, seja felicidade, vai saber.
– É, mas… e o dinheiro? – ela retrucou, mostrando não ser tão avoada assim.
– Se nos satisfizéssemos em ganhar apenas o necessário para viver bem, confortavelmente, sem sacrifícios, seria ótimo. Mas nossa natureza sempre pede mais… E isso torna as pessoas bastante infelizes, viram escravas do dinheiro…
A fila já chiava, por conta da espera, interrompida por esse debate misterioso, para o qual os demais não foram convidados. Ainda ilustrei rapidamente, para finalizar, com um filme argentino obscuro que o vi há algum tempo, uma espécie de comédia surreal e filosófica em que dois funcionários de uma companhia elétrica ou de esgotos vagam pela cidade, vivendo situações estranhas e mesmo delirantes. Em dado momento, um fala ao outro: “Preciso ir, tenho que dormir, estou muito cansado.” Ao que o outro diz: “Ok, nos encontramos às sete então?” E o primeiro diz: “Não, preciso dormir pelo menos oito horas, senão não descanso.” O outro contra-ataca: “Essa história de dormir oito horas por dia é uma invenção burguesa. Você acha que no tempo das guerras as pessoas pensavam nisso? Na Idade Média, você acha que alguém dormia oito horas por dia?” O outro fica sem palavras.
Para arrematar nossa conversa, disse-lhe:
– É a mesma coisa. Um guerreiro assírio não devia pensar em felicidade, apenas em sobreviver à próxima guerra. Assim é que deveríamos pensar, em sobreviver à próxima guerra. E só.
Sorri. Ela também sorriu.
– Fiquei muito feliz de ter você aqui nesta tarde
– ainda lhe disse (enfatizando a palavra feliz) à guisa de ironia, mas não sem verdade.
BALEIRO, Zeca. Como não ser feliz. IstoÉ, dez.2012. Disponível em http://istoe.com.br (Adaptado)
Como não ser feliz
Nós não nascemos pra ser felizes.
Isso é uma descoberta, um anseio recente
A moça aproximou-se após esperar alguns minutos na fila da tarde de autógrafos na livraria e disparou, com um sorriso entredentes, à queima-roupa:
– Você é feliz?
Respondi, afável mas secamente:
– Não!
– Jura? Não acredito!
A essa altura, começava a pensar, pelo teor da conversa, tratar-se de pura gozação. Mas vi que era a sério quando ela tascou: – Você passa a impressão de que é bem feliz… Pedi breve licença às pessoas na fila. E avancei no debate:
– Veja, nós não nascemos pra ser felizes. Isso é uma descoberta, um anseio recente… Há 200 anos, tudo que as pessoas queriam era sobreviver, chegar aos 30 anos... No começo dos tempos, você acha que o homem tinha tempo pra pensar em felicidade enquanto fugia dos dinossauros e outras ameaças? Ela ficou parada, certamente surpresa com argumento tão inusitado. Continuei:
– Quantas “pessoas felizes” você conhece?
– Não muitas – ela respondeu, já um tanto desolada.
– Eu não conheço nenhuma – sentenciei, quase amargo. Ela riu um riso sem graça.Aliviei um pouco.
– O que acontece é que algumas pessoas são bem resolvidas com seu trabalho, têm uma vida familiar relativamente tranquila… Essas pessoas talvez pareçam felizes, não demonstram amargura com a vida. E talvez eu seja uma delas. Prefiro acreditar nisso.
Ela balançou a cabeça, resignada. E eu, concluindo meu pensamento:
– “Ser feliz” hoje em dia tem mais a ver com poder financeiro, desejos de consumo sem-fim, que com qualquer outra coisa. Mas pense comigo: se você não vive desesperadamente pelo dinheiro, não tem sonhos impossíveis, fica mais fácil viver, mais fluente, mais tranquilo…
A essa altura eu já me sentia protagonista da palestra “Lair Ribeiro para jovens que sonham com a felicidade”. Só que às avessas, ensinando não como ser feliz, mas como não ser.
– Se você dedica mais tempo ao lúdico e vive menos pressionado pela corrida do ouro que virou nosso tempo, você terá mais tempo para o que importa… Isso, talvez, seja felicidade, vai saber.
– É, mas… e o dinheiro? – ela retrucou, mostrando não ser tão avoada assim.
– Se nos satisfizéssemos em ganhar apenas o necessário para viver bem, confortavelmente, sem sacrifícios, seria ótimo. Mas nossa natureza sempre pede mais… E isso torna as pessoas bastante infelizes, viram escravas do dinheiro…
A fila já chiava, por conta da espera, interrompida por esse debate misterioso, para o qual os demais não foram convidados. Ainda ilustrei rapidamente, para finalizar, com um filme argentino obscuro que o vi há algum tempo, uma espécie de comédia surreal e filosófica em que dois funcionários de uma companhia elétrica ou de esgotos vagam pela cidade, vivendo situações estranhas e mesmo delirantes. Em dado momento, um fala ao outro: “Preciso ir, tenho que dormir, estou muito cansado.” Ao que o outro diz: “Ok, nos encontramos às sete então?” E o primeiro diz: “Não, preciso dormir pelo menos oito horas, senão não descanso.” O outro contra-ataca: “Essa história de dormir oito horas por dia é uma invenção burguesa. Você acha que no tempo das guerras as pessoas pensavam nisso? Na Idade Média, você acha que alguém dormia oito horas por dia?” O outro fica sem palavras.
Para arrematar nossa conversa, disse-lhe:
– É a mesma coisa. Um guerreiro assírio não devia pensar em felicidade, apenas em sobreviver à próxima guerra. Assim é que deveríamos pensar, em sobreviver à próxima guerra. E só.
Sorri. Ela também sorriu.
– Fiquei muito feliz de ter você aqui nesta tarde
– ainda lhe disse (enfatizando a palavra feliz) à guisa de ironia, mas não sem verdade.
BALEIRO, Zeca. Como não ser feliz. IstoÉ, dez.2012. Disponível em http://istoe.com.br (Adaptado)
“No começo dos tempos, você acha que o homem tinha tempo pra pensar em felicidade enquanto fugia dos dinossauros e outras ameaças?” A respeito do trecho acima, quanto aos aspectos gramatical, sintático e semântico, analise as afirmativas a seguir.
I. A última oração poderia ser iniciada por AO MESMO TEMPO QUE.
II. QUE, no contexto, é um pronome relativo.
III. OUTRAS têm o mesmo valor significativo de ALGUMAS.
Está correto apenas o que se afirma em:
Como não ser feliz
Nós não nascemos pra ser felizes.
Isso é uma descoberta, um anseio recente
A moça aproximou-se após esperar alguns minutos na fila da tarde de autógrafos na livraria e disparou, com um sorriso entredentes, à queima-roupa:
– Você é feliz?
Respondi, afável mas secamente:
– Não!
– Jura? Não acredito!
A essa altura, começava a pensar, pelo teor da conversa, tratar-se de pura gozação. Mas vi que era a sério quando ela tascou: – Você passa a impressão de que é bem feliz… Pedi breve licença às pessoas na fila. E avancei no debate:
– Veja, nós não nascemos pra ser felizes. Isso é uma descoberta, um anseio recente… Há 200 anos, tudo que as pessoas queriam era sobreviver, chegar aos 30 anos... No começo dos tempos, você acha que o homem tinha tempo pra pensar em felicidade enquanto fugia dos dinossauros e outras ameaças? Ela ficou parada, certamente surpresa com argumento tão inusitado. Continuei:
– Quantas “pessoas felizes” você conhece?
– Não muitas – ela respondeu, já um tanto desolada.
– Eu não conheço nenhuma – sentenciei, quase amargo. Ela riu um riso sem graça.Aliviei um pouco.
– O que acontece é que algumas pessoas são bem resolvidas com seu trabalho, têm uma vida familiar relativamente tranquila… Essas pessoas talvez pareçam felizes, não demonstram amargura com a vida. E talvez eu seja uma delas. Prefiro acreditar nisso.
Ela balançou a cabeça, resignada. E eu, concluindo meu pensamento:
– “Ser feliz” hoje em dia tem mais a ver com poder financeiro, desejos de consumo sem-fim, que com qualquer outra coisa. Mas pense comigo: se você não vive desesperadamente pelo dinheiro, não tem sonhos impossíveis, fica mais fácil viver, mais fluente, mais tranquilo…
A essa altura eu já me sentia protagonista da palestra “Lair Ribeiro para jovens que sonham com a felicidade”. Só que às avessas, ensinando não como ser feliz, mas como não ser.
– Se você dedica mais tempo ao lúdico e vive menos pressionado pela corrida do ouro que virou nosso tempo, você terá mais tempo para o que importa… Isso, talvez, seja felicidade, vai saber.
– É, mas… e o dinheiro? – ela retrucou, mostrando não ser tão avoada assim.
– Se nos satisfizéssemos em ganhar apenas o necessário para viver bem, confortavelmente, sem sacrifícios, seria ótimo. Mas nossa natureza sempre pede mais… E isso torna as pessoas bastante infelizes, viram escravas do dinheiro…
A fila já chiava, por conta da espera, interrompida por esse debate misterioso, para o qual os demais não foram convidados. Ainda ilustrei rapidamente, para finalizar, com um filme argentino obscuro que o vi há algum tempo, uma espécie de comédia surreal e filosófica em que dois funcionários de uma companhia elétrica ou de esgotos vagam pela cidade, vivendo situações estranhas e mesmo delirantes. Em dado momento, um fala ao outro: “Preciso ir, tenho que dormir, estou muito cansado.” Ao que o outro diz: “Ok, nos encontramos às sete então?” E o primeiro diz: “Não, preciso dormir pelo menos oito horas, senão não descanso.” O outro contra-ataca: “Essa história de dormir oito horas por dia é uma invenção burguesa. Você acha que no tempo das guerras as pessoas pensavam nisso? Na Idade Média, você acha que alguém dormia oito horas por dia?” O outro fica sem palavras.
Para arrematar nossa conversa, disse-lhe:
– É a mesma coisa. Um guerreiro assírio não devia pensar em felicidade, apenas em sobreviver à próxima guerra. Assim é que deveríamos pensar, em sobreviver à próxima guerra. E só.
Sorri. Ela também sorriu.
– Fiquei muito feliz de ter você aqui nesta tarde
– ainda lhe disse (enfatizando a palavra feliz) à guisa de ironia, mas não sem verdade.
BALEIRO, Zeca. Como não ser feliz. IstoÉ, dez.2012. Disponível em http://istoe.com.br (Adaptado)
Como não ser feliz
Nós não nascemos pra ser felizes.
Isso é uma descoberta, um anseio recente
A moça aproximou-se após esperar alguns minutos na fila da tarde de autógrafos na livraria e disparou, com um sorriso entredentes, à queima-roupa:
– Você é feliz?
Respondi, afável mas secamente:
– Não!
– Jura? Não acredito!
A essa altura, começava a pensar, pelo teor da conversa, tratar-se de pura gozação. Mas vi que era a sério quando ela tascou: – Você passa a impressão de que é bem feliz… Pedi breve licença às pessoas na fila. E avancei no debate:
– Veja, nós não nascemos pra ser felizes. Isso é uma descoberta, um anseio recente… Há 200 anos, tudo que as pessoas queriam era sobreviver, chegar aos 30 anos... No começo dos tempos, você acha que o homem tinha tempo pra pensar em felicidade enquanto fugia dos dinossauros e outras ameaças? Ela ficou parada, certamente surpresa com argumento tão inusitado. Continuei:
– Quantas “pessoas felizes” você conhece?
– Não muitas – ela respondeu, já um tanto desolada.
– Eu não conheço nenhuma – sentenciei, quase amargo. Ela riu um riso sem graça.Aliviei um pouco.
– O que acontece é que algumas pessoas são bem resolvidas com seu trabalho, têm uma vida familiar relativamente tranquila… Essas pessoas talvez pareçam felizes, não demonstram amargura com a vida. E talvez eu seja uma delas. Prefiro acreditar nisso.
Ela balançou a cabeça, resignada. E eu, concluindo meu pensamento:
– “Ser feliz” hoje em dia tem mais a ver com poder financeiro, desejos de consumo sem-fim, que com qualquer outra coisa. Mas pense comigo: se você não vive desesperadamente pelo dinheiro, não tem sonhos impossíveis, fica mais fácil viver, mais fluente, mais tranquilo…
A essa altura eu já me sentia protagonista da palestra “Lair Ribeiro para jovens que sonham com a felicidade”. Só que às avessas, ensinando não como ser feliz, mas como não ser.
– Se você dedica mais tempo ao lúdico e vive menos pressionado pela corrida do ouro que virou nosso tempo, você terá mais tempo para o que importa… Isso, talvez, seja felicidade, vai saber.
– É, mas… e o dinheiro? – ela retrucou, mostrando não ser tão avoada assim.
– Se nos satisfizéssemos em ganhar apenas o necessário para viver bem, confortavelmente, sem sacrifícios, seria ótimo. Mas nossa natureza sempre pede mais… E isso torna as pessoas bastante infelizes, viram escravas do dinheiro…
A fila já chiava, por conta da espera, interrompida por esse debate misterioso, para o qual os demais não foram convidados. Ainda ilustrei rapidamente, para finalizar, com um filme argentino obscuro que o vi há algum tempo, uma espécie de comédia surreal e filosófica em que dois funcionários de uma companhia elétrica ou de esgotos vagam pela cidade, vivendo situações estranhas e mesmo delirantes. Em dado momento, um fala ao outro: “Preciso ir, tenho que dormir, estou muito cansado.” Ao que o outro diz: “Ok, nos encontramos às sete então?” E o primeiro diz: “Não, preciso dormir pelo menos oito horas, senão não descanso.” O outro contra-ataca: “Essa história de dormir oito horas por dia é uma invenção burguesa. Você acha que no tempo das guerras as pessoas pensavam nisso? Na Idade Média, você acha que alguém dormia oito horas por dia?” O outro fica sem palavras.
Para arrematar nossa conversa, disse-lhe:
– É a mesma coisa. Um guerreiro assírio não devia pensar em felicidade, apenas em sobreviver à próxima guerra. Assim é que deveríamos pensar, em sobreviver à próxima guerra. E só.
Sorri. Ela também sorriu.
– Fiquei muito feliz de ter você aqui nesta tarde
– ainda lhe disse (enfatizando a palavra feliz) à guisa de ironia, mas não sem verdade.
BALEIRO, Zeca. Como não ser feliz. IstoÉ, dez.2012. Disponível em http://istoe.com.br (Adaptado)
Como não ser feliz
Nós não nascemos pra ser felizes.
Isso é uma descoberta, um anseio recente
A moça aproximou-se após esperar alguns minutos na fila da tarde de autógrafos na livraria e disparou, com um sorriso entredentes, à queima-roupa:
– Você é feliz?
Respondi, afável mas secamente:
– Não!
– Jura? Não acredito!
A essa altura, começava a pensar, pelo teor da conversa, tratar-se de pura gozação. Mas vi que era a sério quando ela tascou: – Você passa a impressão de que é bem feliz… Pedi breve licença às pessoas na fila. E avancei no debate:
– Veja, nós não nascemos pra ser felizes. Isso é uma descoberta, um anseio recente… Há 200 anos, tudo que as pessoas queriam era sobreviver, chegar aos 30 anos... No começo dos tempos, você acha que o homem tinha tempo pra pensar em felicidade enquanto fugia dos dinossauros e outras ameaças? Ela ficou parada, certamente surpresa com argumento tão inusitado. Continuei:
– Quantas “pessoas felizes” você conhece?
– Não muitas – ela respondeu, já um tanto desolada.
– Eu não conheço nenhuma – sentenciei, quase amargo. Ela riu um riso sem graça.Aliviei um pouco.
– O que acontece é que algumas pessoas são bem resolvidas com seu trabalho, têm uma vida familiar relativamente tranquila… Essas pessoas talvez pareçam felizes, não demonstram amargura com a vida. E talvez eu seja uma delas. Prefiro acreditar nisso.
Ela balançou a cabeça, resignada. E eu, concluindo meu pensamento:
– “Ser feliz” hoje em dia tem mais a ver com poder financeiro, desejos de consumo sem-fim, que com qualquer outra coisa. Mas pense comigo: se você não vive desesperadamente pelo dinheiro, não tem sonhos impossíveis, fica mais fácil viver, mais fluente, mais tranquilo…
A essa altura eu já me sentia protagonista da palestra “Lair Ribeiro para jovens que sonham com a felicidade”. Só que às avessas, ensinando não como ser feliz, mas como não ser.
– Se você dedica mais tempo ao lúdico e vive menos pressionado pela corrida do ouro que virou nosso tempo, você terá mais tempo para o que importa… Isso, talvez, seja felicidade, vai saber.
– É, mas… e o dinheiro? – ela retrucou, mostrando não ser tão avoada assim.
– Se nos satisfizéssemos em ganhar apenas o necessário para viver bem, confortavelmente, sem sacrifícios, seria ótimo. Mas nossa natureza sempre pede mais… E isso torna as pessoas bastante infelizes, viram escravas do dinheiro…
A fila já chiava, por conta da espera, interrompida por esse debate misterioso, para o qual os demais não foram convidados. Ainda ilustrei rapidamente, para finalizar, com um filme argentino obscuro que o vi há algum tempo, uma espécie de comédia surreal e filosófica em que dois funcionários de uma companhia elétrica ou de esgotos vagam pela cidade, vivendo situações estranhas e mesmo delirantes. Em dado momento, um fala ao outro: “Preciso ir, tenho que dormir, estou muito cansado.” Ao que o outro diz: “Ok, nos encontramos às sete então?” E o primeiro diz: “Não, preciso dormir pelo menos oito horas, senão não descanso.” O outro contra-ataca: “Essa história de dormir oito horas por dia é uma invenção burguesa. Você acha que no tempo das guerras as pessoas pensavam nisso? Na Idade Média, você acha que alguém dormia oito horas por dia?” O outro fica sem palavras.
Para arrematar nossa conversa, disse-lhe:
– É a mesma coisa. Um guerreiro assírio não devia pensar em felicidade, apenas em sobreviver à próxima guerra. Assim é que deveríamos pensar, em sobreviver à próxima guerra. E só.
Sorri. Ela também sorriu.
– Fiquei muito feliz de ter você aqui nesta tarde
– ainda lhe disse (enfatizando a palavra feliz) à guisa de ironia, mas não sem verdade.
BALEIRO, Zeca. Como não ser feliz. IstoÉ, dez.2012. Disponível em http://istoe.com.br (Adaptado)
Como não ser feliz
Nós não nascemos pra ser felizes.
Isso é uma descoberta, um anseio recente
A moça aproximou-se após esperar alguns minutos na fila da tarde de autógrafos na livraria e disparou, com um sorriso entredentes, à queima-roupa:
– Você é feliz?
Respondi, afável mas secamente:
– Não!
– Jura? Não acredito!
A essa altura, começava a pensar, pelo teor da conversa, tratar-se de pura gozação. Mas vi que era a sério quando ela tascou: – Você passa a impressão de que é bem feliz… Pedi breve licença às pessoas na fila. E avancei no debate:
– Veja, nós não nascemos pra ser felizes. Isso é uma descoberta, um anseio recente… Há 200 anos, tudo que as pessoas queriam era sobreviver, chegar aos 30 anos... No começo dos tempos, você acha que o homem tinha tempo pra pensar em felicidade enquanto fugia dos dinossauros e outras ameaças? Ela ficou parada, certamente surpresa com argumento tão inusitado. Continuei:
– Quantas “pessoas felizes” você conhece?
– Não muitas – ela respondeu, já um tanto desolada.
– Eu não conheço nenhuma – sentenciei, quase amargo. Ela riu um riso sem graça.Aliviei um pouco.
– O que acontece é que algumas pessoas são bem resolvidas com seu trabalho, têm uma vida familiar relativamente tranquila… Essas pessoas talvez pareçam felizes, não demonstram amargura com a vida. E talvez eu seja uma delas. Prefiro acreditar nisso.
Ela balançou a cabeça, resignada. E eu, concluindo meu pensamento:
– “Ser feliz” hoje em dia tem mais a ver com poder financeiro, desejos de consumo sem-fim, que com qualquer outra coisa. Mas pense comigo: se você não vive desesperadamente pelo dinheiro, não tem sonhos impossíveis, fica mais fácil viver, mais fluente, mais tranquilo…
A essa altura eu já me sentia protagonista da palestra “Lair Ribeiro para jovens que sonham com a felicidade”. Só que às avessas, ensinando não como ser feliz, mas como não ser.
– Se você dedica mais tempo ao lúdico e vive menos pressionado pela corrida do ouro que virou nosso tempo, você terá mais tempo para o que importa… Isso, talvez, seja felicidade, vai saber.
– É, mas… e o dinheiro? – ela retrucou, mostrando não ser tão avoada assim.
– Se nos satisfizéssemos em ganhar apenas o necessário para viver bem, confortavelmente, sem sacrifícios, seria ótimo. Mas nossa natureza sempre pede mais… E isso torna as pessoas bastante infelizes, viram escravas do dinheiro…
A fila já chiava, por conta da espera, interrompida por esse debate misterioso, para o qual os demais não foram convidados. Ainda ilustrei rapidamente, para finalizar, com um filme argentino obscuro que o vi há algum tempo, uma espécie de comédia surreal e filosófica em que dois funcionários de uma companhia elétrica ou de esgotos vagam pela cidade, vivendo situações estranhas e mesmo delirantes. Em dado momento, um fala ao outro: “Preciso ir, tenho que dormir, estou muito cansado.” Ao que o outro diz: “Ok, nos encontramos às sete então?” E o primeiro diz: “Não, preciso dormir pelo menos oito horas, senão não descanso.” O outro contra-ataca: “Essa história de dormir oito horas por dia é uma invenção burguesa. Você acha que no tempo das guerras as pessoas pensavam nisso? Na Idade Média, você acha que alguém dormia oito horas por dia?” O outro fica sem palavras.
Para arrematar nossa conversa, disse-lhe:
– É a mesma coisa. Um guerreiro assírio não devia pensar em felicidade, apenas em sobreviver à próxima guerra. Assim é que deveríamos pensar, em sobreviver à próxima guerra. E só.
Sorri. Ela também sorriu.
– Fiquei muito feliz de ter você aqui nesta tarde
– ainda lhe disse (enfatizando a palavra feliz) à guisa de ironia, mas não sem verdade.
BALEIRO, Zeca. Como não ser feliz. IstoÉ, dez.2012. Disponível em http://istoe.com.br (Adaptado)
Como não ser feliz
Nós não nascemos pra ser felizes.
Isso é uma descoberta, um anseio recente
A moça aproximou-se após esperar alguns minutos na fila da tarde de autógrafos na livraria e disparou, com um sorriso entredentes, à queima-roupa:
– Você é feliz?
Respondi, afável mas secamente:
– Não!
– Jura? Não acredito!
A essa altura, começava a pensar, pelo teor da conversa, tratar-se de pura gozação. Mas vi que era a sério quando ela tascou: – Você passa a impressão de que é bem feliz… Pedi breve licença às pessoas na fila. E avancei no debate:
– Veja, nós não nascemos pra ser felizes. Isso é uma descoberta, um anseio recente… Há 200 anos, tudo que as pessoas queriam era sobreviver, chegar aos 30 anos... No começo dos tempos, você acha que o homem tinha tempo pra pensar em felicidade enquanto fugia dos dinossauros e outras ameaças? Ela ficou parada, certamente surpresa com argumento tão inusitado. Continuei:
– Quantas “pessoas felizes” você conhece?
– Não muitas – ela respondeu, já um tanto desolada.
– Eu não conheço nenhuma – sentenciei, quase amargo. Ela riu um riso sem graça.Aliviei um pouco.
– O que acontece é que algumas pessoas são bem resolvidas com seu trabalho, têm uma vida familiar relativamente tranquila… Essas pessoas talvez pareçam felizes, não demonstram amargura com a vida. E talvez eu seja uma delas. Prefiro acreditar nisso.
Ela balançou a cabeça, resignada. E eu, concluindo meu pensamento:
– “Ser feliz” hoje em dia tem mais a ver com poder financeiro, desejos de consumo sem-fim, que com qualquer outra coisa. Mas pense comigo: se você não vive desesperadamente pelo dinheiro, não tem sonhos impossíveis, fica mais fácil viver, mais fluente, mais tranquilo…
A essa altura eu já me sentia protagonista da palestra “Lair Ribeiro para jovens que sonham com a felicidade”. Só que às avessas, ensinando não como ser feliz, mas como não ser.
– Se você dedica mais tempo ao lúdico e vive menos pressionado pela corrida do ouro que virou nosso tempo, você terá mais tempo para o que importa… Isso, talvez, seja felicidade, vai saber.
– É, mas… e o dinheiro? – ela retrucou, mostrando não ser tão avoada assim.
– Se nos satisfizéssemos em ganhar apenas o necessário para viver bem, confortavelmente, sem sacrifícios, seria ótimo. Mas nossa natureza sempre pede mais… E isso torna as pessoas bastante infelizes, viram escravas do dinheiro…
A fila já chiava, por conta da espera, interrompida por esse debate misterioso, para o qual os demais não foram convidados. Ainda ilustrei rapidamente, para finalizar, com um filme argentino obscuro que o vi há algum tempo, uma espécie de comédia surreal e filosófica em que dois funcionários de uma companhia elétrica ou de esgotos vagam pela cidade, vivendo situações estranhas e mesmo delirantes. Em dado momento, um fala ao outro: “Preciso ir, tenho que dormir, estou muito cansado.” Ao que o outro diz: “Ok, nos encontramos às sete então?” E o primeiro diz: “Não, preciso dormir pelo menos oito horas, senão não descanso.” O outro contra-ataca: “Essa história de dormir oito horas por dia é uma invenção burguesa. Você acha que no tempo das guerras as pessoas pensavam nisso? Na Idade Média, você acha que alguém dormia oito horas por dia?” O outro fica sem palavras.
Para arrematar nossa conversa, disse-lhe:
– É a mesma coisa. Um guerreiro assírio não devia pensar em felicidade, apenas em sobreviver à próxima guerra. Assim é que deveríamos pensar, em sobreviver à próxima guerra. E só.
Sorri. Ela também sorriu.
– Fiquei muito feliz de ter você aqui nesta tarde
– ainda lhe disse (enfatizando a palavra feliz) à guisa de ironia, mas não sem verdade.
BALEIRO, Zeca. Como não ser feliz. IstoÉ, dez.2012. Disponível em http://istoe.com.br (Adaptado)
Como não ser feliz
Nós não nascemos pra ser felizes.
Isso é uma descoberta, um anseio recente
A moça aproximou-se após esperar alguns minutos na fila da tarde de autógrafos na livraria e disparou, com um sorriso entredentes, à queima-roupa:
– Você é feliz?
Respondi, afável mas secamente:
– Não!
– Jura? Não acredito!
A essa altura, começava a pensar, pelo teor da conversa, tratar-se de pura gozação. Mas vi que era a sério quando ela tascou: – Você passa a impressão de que é bem feliz… Pedi breve licença às pessoas na fila. E avancei no debate:
– Veja, nós não nascemos pra ser felizes. Isso é uma descoberta, um anseio recente… Há 200 anos, tudo que as pessoas queriam era sobreviver, chegar aos 30 anos... No começo dos tempos, você acha que o homem tinha tempo pra pensar em felicidade enquanto fugia dos dinossauros e outras ameaças? Ela ficou parada, certamente surpresa com argumento tão inusitado. Continuei:
– Quantas “pessoas felizes” você conhece?
– Não muitas – ela respondeu, já um tanto desolada.
– Eu não conheço nenhuma – sentenciei, quase amargo. Ela riu um riso sem graça.Aliviei um pouco.
– O que acontece é que algumas pessoas são bem resolvidas com seu trabalho, têm uma vida familiar relativamente tranquila… Essas pessoas talvez pareçam felizes, não demonstram amargura com a vida. E talvez eu seja uma delas. Prefiro acreditar nisso.
Ela balançou a cabeça, resignada. E eu, concluindo meu pensamento:
– “Ser feliz” hoje em dia tem mais a ver com poder financeiro, desejos de consumo sem-fim, que com qualquer outra coisa. Mas pense comigo: se você não vive desesperadamente pelo dinheiro, não tem sonhos impossíveis, fica mais fácil viver, mais fluente, mais tranquilo…
A essa altura eu já me sentia protagonista da palestra “Lair Ribeiro para jovens que sonham com a felicidade”. Só que às avessas, ensinando não como ser feliz, mas como não ser.
– Se você dedica mais tempo ao lúdico e vive menos pressionado pela corrida do ouro que virou nosso tempo, você terá mais tempo para o que importa… Isso, talvez, seja felicidade, vai saber.
– É, mas… e o dinheiro? – ela retrucou, mostrando não ser tão avoada assim.
– Se nos satisfizéssemos em ganhar apenas o necessário para viver bem, confortavelmente, sem sacrifícios, seria ótimo. Mas nossa natureza sempre pede mais… E isso torna as pessoas bastante infelizes, viram escravas do dinheiro…
A fila já chiava, por conta da espera, interrompida por esse debate misterioso, para o qual os demais não foram convidados. Ainda ilustrei rapidamente, para finalizar, com um filme argentino obscuro que o vi há algum tempo, uma espécie de comédia surreal e filosófica em que dois funcionários de uma companhia elétrica ou de esgotos vagam pela cidade, vivendo situações estranhas e mesmo delirantes. Em dado momento, um fala ao outro: “Preciso ir, tenho que dormir, estou muito cansado.” Ao que o outro diz: “Ok, nos encontramos às sete então?” E o primeiro diz: “Não, preciso dormir pelo menos oito horas, senão não descanso.” O outro contra-ataca: “Essa história de dormir oito horas por dia é uma invenção burguesa. Você acha que no tempo das guerras as pessoas pensavam nisso? Na Idade Média, você acha que alguém dormia oito horas por dia?” O outro fica sem palavras.
Para arrematar nossa conversa, disse-lhe:
– É a mesma coisa. Um guerreiro assírio não devia pensar em felicidade, apenas em sobreviver à próxima guerra. Assim é que deveríamos pensar, em sobreviver à próxima guerra. E só.
Sorri. Ela também sorriu.
– Fiquei muito feliz de ter você aqui nesta tarde
– ainda lhe disse (enfatizando a palavra feliz) à guisa de ironia, mas não sem verdade.
BALEIRO, Zeca. Como não ser feliz. IstoÉ, dez.2012. Disponível em http://istoe.com.br (Adaptado)
Considere as seguintes afirmações sobre aspectos da construção do texto:
I. Na frase “se você não vive desesperadamente pelo dinheiro, não tem sonhos impossíveis, fica mais fácil viver, mais fluente, mais tranquilo…”, FLUENTE E TRANQUILO concordam com a palavra SONHOS.
II. A preposição destacada em “Ser feliz” hoje em dia tem mais a ver COM poder financeiro” estabelece, no contexto, uma relação de consequência.
III. Na frase “Pedi breve licença ÀS PESSOAS na fila.”, o elemento destacado pode ser substituído por -LHES.
Está correto apenas o que se afirma em:
Como não ser feliz
Nós não nascemos pra ser felizes.
Isso é uma descoberta, um anseio recente
A moça aproximou-se após esperar alguns minutos na fila da tarde de autógrafos na livraria e disparou, com um sorriso entredentes, à queima-roupa:
– Você é feliz?
Respondi, afável mas secamente:
– Não!
– Jura? Não acredito!
A essa altura, começava a pensar, pelo teor da conversa, tratar-se de pura gozação. Mas vi que era a sério quando ela tascou: – Você passa a impressão de que é bem feliz… Pedi breve licença às pessoas na fila. E avancei no debate:
– Veja, nós não nascemos pra ser felizes. Isso é uma descoberta, um anseio recente… Há 200 anos, tudo que as pessoas queriam era sobreviver, chegar aos 30 anos... No começo dos tempos, você acha que o homem tinha tempo pra pensar em felicidade enquanto fugia dos dinossauros e outras ameaças? Ela ficou parada, certamente surpresa com argumento tão inusitado. Continuei:
– Quantas “pessoas felizes” você conhece?
– Não muitas – ela respondeu, já um tanto desolada.
– Eu não conheço nenhuma – sentenciei, quase amargo. Ela riu um riso sem graça.Aliviei um pouco.
– O que acontece é que algumas pessoas são bem resolvidas com seu trabalho, têm uma vida familiar relativamente tranquila… Essas pessoas talvez pareçam felizes, não demonstram amargura com a vida. E talvez eu seja uma delas. Prefiro acreditar nisso.
Ela balançou a cabeça, resignada. E eu, concluindo meu pensamento:
– “Ser feliz” hoje em dia tem mais a ver com poder financeiro, desejos de consumo sem-fim, que com qualquer outra coisa. Mas pense comigo: se você não vive desesperadamente pelo dinheiro, não tem sonhos impossíveis, fica mais fácil viver, mais fluente, mais tranquilo…
A essa altura eu já me sentia protagonista da palestra “Lair Ribeiro para jovens que sonham com a felicidade”. Só que às avessas, ensinando não como ser feliz, mas como não ser.
– Se você dedica mais tempo ao lúdico e vive menos pressionado pela corrida do ouro que virou nosso tempo, você terá mais tempo para o que importa… Isso, talvez, seja felicidade, vai saber.
– É, mas… e o dinheiro? – ela retrucou, mostrando não ser tão avoada assim.
– Se nos satisfizéssemos em ganhar apenas o necessário para viver bem, confortavelmente, sem sacrifícios, seria ótimo. Mas nossa natureza sempre pede mais… E isso torna as pessoas bastante infelizes, viram escravas do dinheiro…
A fila já chiava, por conta da espera, interrompida por esse debate misterioso, para o qual os demais não foram convidados. Ainda ilustrei rapidamente, para finalizar, com um filme argentino obscuro que o vi há algum tempo, uma espécie de comédia surreal e filosófica em que dois funcionários de uma companhia elétrica ou de esgotos vagam pela cidade, vivendo situações estranhas e mesmo delirantes. Em dado momento, um fala ao outro: “Preciso ir, tenho que dormir, estou muito cansado.” Ao que o outro diz: “Ok, nos encontramos às sete então?” E o primeiro diz: “Não, preciso dormir pelo menos oito horas, senão não descanso.” O outro contra-ataca: “Essa história de dormir oito horas por dia é uma invenção burguesa. Você acha que no tempo das guerras as pessoas pensavam nisso? Na Idade Média, você acha que alguém dormia oito horas por dia?” O outro fica sem palavras.
Para arrematar nossa conversa, disse-lhe:
– É a mesma coisa. Um guerreiro assírio não devia pensar em felicidade, apenas em sobreviver à próxima guerra. Assim é que deveríamos pensar, em sobreviver à próxima guerra. E só.
Sorri. Ela também sorriu.
– Fiquei muito feliz de ter você aqui nesta tarde
– ainda lhe disse (enfatizando a palavra feliz) à guisa de ironia, mas não sem verdade.
BALEIRO, Zeca. Como não ser feliz. IstoÉ, dez.2012. Disponível em http://istoe.com.br (Adaptado)