O Discípulo
Quando Narciso morreu, o lago de seu prazer mudou de uma taça de águas doces para uma
taça de lágrimas salgadas, e as oréades vieram chorando pela mata com a esperança de cantar e dar
conforto ao lago.
E quando elas viram que o lago havia mudado de uma taça de águas doces para uma taça de
lágrimas salgadas, elas soltaram as verdes tranças de seus cabelos e clamaram: "Nós entendemos
você chorar assim por Narciso, tão belo ele era."
"E Narciso era belo?", disse o lago.
"Quem pode sabê-lo melhor que você?", responderam as oréades. "Por nós ele mal passava,
mas você ele procurava, e deitava em suas margens, e olhava para você, e, no espelho de suas
águas, ele refletia sua própria beleza."
E o lago respondeu: "Mas eu amava Narciso, porque, quando ele deitava em minhas
margens e olhava para mim, no espelho de seus olhos, eu via minha própria beleza refletida”.
(Oscar Wilde https://www.culturagenial.com/contos-curtos. Acesso em out/2022)