Leia o texto, para responder à questão.
Especialistas deveriam se impor pela competência,
não pelo lobby*
Nesta semana eu quase recobrei minha fé na humanidade.
Com a retomada das aulas presenciais, perguntei a meu
filho David, que cursa duas faculdades, como ele faria com a
educação física. O menino me olhou como se eu viesse de
Saturno e me explicou, para minha surpresa, que a educação
física não é mais disciplina obrigatória no ensino superior. Ao
contrário do que acontecia no meu tempo, a molecada não
precisa mais submeter-se às aulas de Educação Física para
obter seu diploma.
Não me entendam mal. Sou um entusiasta da atividade
física. Há mais de 20 anos corro quase que diariamente. E
recomendo a todos que se mexam, se possível sob a orientação de um profissional. Mas sou veementemente contrário ao
hábito corporativista, tão disseminado por aqui, de sequestrar
o poder do Estado para criar reservas de mercado.
Acredito em ciência e estudo. Vale a pena procurar um
especialista. Mas fazê-lo deve ser uma escolha, não uma
obrigatoriedade. Numa sociedade funcional, você recorre aos
serviços de um profissional, seja o educador físico, o advogado ou qualquer outro, porque ele oferece um saber e uma
experiência que lhe interessam, não porque a lei o obriga a
fazê-lo. Em outras palavras, os especialistas deveriam se impor por sua competência, não por seus lobbies.
O leitor atento deve ter percebido que enfiei um “quase”
ali no começo do texto. Embora tenha ficado feliz ao descobrir que a educação física não é mais requisito para um diploma universitário, ao investigar melhor como isso aconteceu,
fiquei com a impressão de que a desobrigatoriedade não veio
porque legisladores e conselheiros ficaram mais sábios, mas
porque o lobby dos donos de faculdade é mais forte que o
dos professores de educação física.
*Lobby: atividade de pressão de um grupo organizado sobre políticos e poderes públicos, que visa exercer sobre estes qualquer
influência ao seu alcance.
(Hélio Schwartsman. https://www1.folha.uol.com.br/colunas/
helioschwartsman/2022/03/especialistas-deveriam-se-impor-pelacompetencia-nao-pelo-lobby.shtml. 18.03.2022. Adaptado)